domingo, 27 de setembro de 2015

PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS ( XI )

PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS (XI)




A religião só serve para espalhar a ignorância na face da Terra.
Sob o título acima, estamos analisando as “provas” da existência de Deus apresentadas pelo pastor evangélico Jefferson Magno Costa, em seu livro intitulado “Provas da Existência de Deus”, lançado pela Editora Vida.
Já fizemos a análise de 10 dessas “provas”, nos trabalhos anteriores. Neste trabalho, veremos a 11ª “prova” da existência de Deus. Ei-la:

“ (...) Para provar a existência de Deus, Aristóteles criou o argumento do motor. Diz ele que tudo o que está em movimento é movido por outra coisa. Tomemos o Sol como exemplo. Ele está em movimento: portanto, outra coisa o movimenta. Essa coisa que move o Sol, ou está também em movimento ou está imóvel. Se está imóvel, o argumento de Aristóteles fica demonstrado, ou seja: que é necessário afirmar a existência de algo que tudo move e que não é movido por nada: Deus! Porém, se o que move o Sol está também em movimento, isto significa que ele está sendo movido também por outra força. Aristóteles mostra que é impossível continuarmos recuando até o infinito. Faz-se, portanto, necessário afirmar a existência do causador de todos esses movimentos, que não é outra pessoa senão Deus. Ele é o motor que movimenta tudo.” (Página 84)

Mais uma vez, o pastor evangélico Jefferson Magno Costa escorrega em casca de banana. Esse argumento do filósofo grego Aristóteles (384 – 322 a.C) também foi usado pela Igreja Católica Apostólica Romana, principalmente por Tomás de Aquino.
Tomás de Aquino (1225 – 1274), cuja biografia já foi objeto de um trabalho nosso, apoiando-se nesse argumento de Aristóteles, afirmou o seguinte:

“ (...) Efetivamente, observamos que tudo quanto se move é movido por outros. Assim, os seres inferiores são movidos pelos superiores, da mesma forma como os elementos são movidos pelos corpos celestes. Ora, é impossível que este processo se prolongue até ao infinito. (...) Em consequência, é indispensável que haja uma primeira causa motora, superior a todas as outras. A esta causa motora denominamos Deus.” (Os Pensadores – Tomás de Aquino, Editora Nova Cultural ltda, 1ª edição, 2000, página 154.

Bem. O pastor evangélico Jefferson Magno Costa e o teólogo católico Tomás de Aquino tem uma coisa em comum: a deturpação! Ambos adulteram o pensamento filosófico de Aristóteles. Ora, Aristóteles era filósofo, e não teólogo. O motor imóvel imaginado por Aristóteles não era um ser espiritual, no sentido teológico, criador de todas as coisas, inteligentíssimo, único, infinitamente bom, inimigo de Satanás, habitante do Céu etc. Não era nada disso! Os dois cristãos citados acima pegaram falsamente carona nessa ideia de Aristóteles. Só para ilustrar, vejamos o que diz a doutora em teologia Karen Armstrong, uma das mais respeitadas atualmente, com vários livros publicados em todo o mundo, em seu livro “Uma história de Deus”, Editora Companhia das Letras, 1994, 1ª edição, páginas 48 e 49:

“ (...) A idéia de Deus de Aristóteles teve imensa influência sobre monoteístas posteriores, sobretudo cristãos do mundo ocidental. Em sua Física, ele examinou a natureza da realidade e a estrutura e substância do universo. Desenvolveu o que equivalia a uma versão filosófica das antigas versões emanacionistas da criação: havia uma hierarquia de existências, cada uma das quais transmitia forma e mudança para a outra abaixo dela; mas, ao contrário dos velhos mitos, na teoria de Aristóteles as emanações iam se tornando mais fracas quanto mais longe estivessem de sua fonte. No topo dessa hierarquia estava o Motor Imóvel, que Aristóteles identificava com Deus (...) Apesar da importante posição do Motor Imóvel em seu sistema, o Deus de Aristóteles tinha pouca relevância religiosa. Ele não criou o mundo, pois isso teria envolvido mudança imprópria e atividade temporal. Embora tudo anseie por ele, esse Deus permanece bastante indiferente à existência do universo, pois não pode contemplar nada inferior a ele. Certamente não dirige nem orienta o mundo, e não pode fazer diferença em nossas vidas, de uma maneira ou de outra. É uma questão em aberto se Deus ao menos sabe da existência do cosmo, que emanou dele como um efeito necessário de sua existência”

Parabéns à doutora Karen Armstrong! Essa é a verdade. O Deus de Aristóteles nada tem a ver com o Deus dos cristãos. De forma irresponsável, o pastor evangélico afirma que “para provar a existência de Deus, Aristóteles criou o argumento do motor”. Ora, Aristóteles jamais imaginou um Deus criador do mundo, infinitamente bom, inimigo de Satanás, presente nas relações humanas, que mora no Céu etc.
Aristóteles era um filósofo. Um pensador. Formulou essa ideia do motor imóvel numa época marcada por profundo obscurantismo. Se ele fosse vivo hoje, ano 2009, com todas as descobertas científicas, com certeza iria passar uma borracha em sua teoria do motor imóvel. Para chegar ao motor imóvel, Aristóteles via o movimento de todas as coisas. Se as coisas estão em movimento, ou seja, são móveis, então deve haver algo que as põe em movimento. E esse algo que as põe em movimento não deve ser da mesma natureza, ou seja, não deve ser móvel, mas imóvel. E esse algo imóvel, para Aristóteles, é Deus. Isso foi apenas uma ideia, uma especulação imaginativa criada pela mente de Aristóteles. Outros filósofos contemporâneos de Aristóteles criaram também suas teorias. Todas elas diferentes e contraditórias.
Aristóteles, apesar de sua grande fama na época, defendia coisas que hoje estão totalmente ultrapassadas. Cometeu grandes erros. Roger Bacon (1214 – 1294) encontrou tantos erros em Aristóteles que afirmou:

“Se eu pudesse, queimaria todos os livros de Aristóteles, pois o estudo deles pode constituir perda de tempo, causar erro e aumentar a ignorância” (Gigantes da Ciência, Editora Tecnoprint S/A, 1ª edição, 1959, página 27)

Aristóteles, por exemplo, acreditava que o homem escravo era uma “ferramenta animada”, ou seja, um mero instrumento de trabalho que se locomovia por si só. O escravo não tinha a “alma noética”. Para Aristóteles, a alma noética era a parte da alma capaz de fazer ciência e filosofia. Dessa forma, segundo o pensamento de Aristóteles, o homem escravo jamais teria inteligência para ser um cientista ou filósofo.
Aristóteles cometeu, também, muitos erros na Física. Um dos mais clássicos foi sua defesa da lei da queda dos corpos livres. Para ele, em queda livre, os corpos mais pesados chegavam mais rapidamente ao solo do que os corpos leves. Puro engano! Os corpos pesados e leves chegam ao solo ao mesmo tempo.
Aristóteles defendia também o sistema geocêntrico. Para ele, a Terra era imóvel. Foi por isso que a Igreja Católica Apostólica Romana gostava tanto dele. Puro engano! O sistema heliocêntrico, com a Terra em movimento, derrubou o sistema geocêntrico.
Engraçado! Aristóteles via a Terra imóvel. Assim também, um Motor Imóvel (Deus). Na verdade, a Terra não é imóvel. Assim também, o Motor não é Imóvel.
Tudo se move.

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