PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS (VII)
A religião só serve para espalhar a ignorância na face da Terra.
Sob o título acima, estamos analisando as “provas” da existência de Deus apresentadas pelo pastor evangélico Jefferson Magno Costa, em seu livro intitulado “Provas da Existência de Deus”, lançado pela Editora Vida.
Já fizemos a análise de 6 dessas “provas”, nos trabalhos anteriores. Neste trabalho, veremos a 7ª “prova” da existência de Deus. Ei-la:
“O próprio escritor francês Voltaire (1694 – 1786), apesar de ter passado para a história como ateu e perseguidor do evangelho, escreveu certa vez em uma de suas cartas ao imperador da Prússia, Frederico II (1712 – 1786): “A razão me diz que Deus existe, mas também me diz que nunca poderemos saber quem é. ” ” (Página 30)
Mais uma vez, estamos diante de uma “prova” completamente idiota. A frase acima não é uma prova. Não é um argumento. Segundo o raciocínio do pastor evangélico Jefferson Magno Costa, Deus existe simplesmente porque o filósofo Voltaire afirmou isso. Que conclusão idiota! Ora, o que diria o missionário evangélico diante das afirmações dos filósofos ateus (Friedrick Nietzsche, Karl Marx, Friedrick Engels e muitos outros)? Se o pastor evangélico afirma que Deus existe porque o filósofo Voltaire afirmou isso, então ele forçosamente deve afirmar que Deus não existe porque o filósofo Friedrick Nietzsche afirmou isso.
A “prova” da existência de Deus apresentada acima contém 4 erros. Isso é natural. Livros católicos e evangélicos sempre vem recheados de erros. Isso acontece porque os autores forçosamente desviam os fatos históricos a fim de adaptá-los aos dogmas religiosos. Para pegá-los na mentira, basta fazermos uma pesquisa sobre o assunto em tela. No caso em exame, basta estudarmos a biografia do filósofo francês Voltaire. Ora, Voltaire nunca foi ateu e muito menos perseguidor do evangelho, como afirma o pastor evangélico. Antes de abordarmos os 4 erros contidos na “prova” acima, vejamos o que diz uma das mais respeitadas teólogas da atualidade, a drª Karen Armstrong, em seu livro “Uma História de Deus”, editora Companhia das Letras, 1ª edição, 1994, pág. 312:
“ (...) Mas os filósofos do Iluminismo não rejeitavam a idéia de Deus. Rejeitavam o Deus cruel dos ortodoxos, que ameaçava a humanidade com fogo eterno (...) Voltaire equiparava ateísmo à superstição e fanatismo que os filósofos tanto ansiavam por erradicar...”
Muito bem! O pastor evangélico Jefferson Magno Costa diz que Voltaire era ateu. Já a teóloga inglesa Karen Armstrong diz que Voltaire não era ateu. Um dos dois está mentindo? Quem mente? Ora, a resposta a essa indagação só pode ser encontrada na biografia do filósofo francês Voltaire. De fato, mais uma vez, quem mente é o pastor evangélico. O filósofo francês François-Marie Arouet (1694 – 1778), conhecido pelo pseudônimo Voltaire, não era ateu. Eis o 1º erro contido na frase do pastor evangélico. Voltaire era um deísta. Ele acreditava na existência de Deus. Só que esse Deus não era o dos ortodoxos, o Deus da Bíblia. O Deus de Voltaire era o Deus criador que não ameaçava a humanidade com o fogo eterno e que não interferia nas relações humanas. Voltaire, ao contrário do que afirma o pastor evangélico, combatia o ateísmo.
O 2º erro presente na frase apresentada pelo pastor evangélico se refere à afirmação de que Voltaire era um perseguidor do evangelho. Esse termo “perseguidor” é muito forte e possui muitas conotações. Voltaire nunca foi um perseguidor do evangelho. A perseguição vem acompanhada de atos de intolerância. Na verdade, foram as religiões as grandes perseguidoras. Voltaire foi um crítico ácido dos dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana. Voltaire foi um crítico ácido da Bíblia. Mas não perseguidor. Ele é que foi vítima de perseguição por pensar de forma diferente. Voltaire, por causa de suas idéias, foi exilado do seu país de origem. Ele não era um fanático religioso. Via com clareza que o Deus da Bíblia era um Deus terrível, profundamente irracional. O Deus de Voltaire era o Deus criador que não interferia nas relações humanas, que não ameaçava a humanidade com o fogo eterno, que não tinha o Satanás como inimigo, que não possuía um exército de anjinhos bons etc. Ao contrário do que afirma o pastor evangélico, Voltaire era um perseguidor da intolerância religiosa. Ele defendia que todas as pessoas eram livres para escolher suas crenças. No tempo de Voltaire, era gritante e desumana a imposição da fé cristã, representada pela Igreja Católica Apostólica Romana.
O 3º erro está no fato de o pastor evangélico ter buscado na afirmação de Voltaire apoio para defender a existência de Deus. Ora, como já afirmamos, o Deus de Voltaire não era o mesmo Deus adorado pelos cristãos. O Deus dos cristãos é o Deus da Bíblia, o Deus criado pelo povo hebreu. O Deus da Bíblia é espiritual, parcial, assassino, guerreiro e injusto. O Deus de Voltaire criou o mundo, mas não interfere nas relações humanas, não é guerreiro, não é espiritual, não é parcial, não é assassino e não é injusto.
O 4º erro é irrelevante. Voltaire faleceu em 1778, e não em 1786, como frisou o pastor evangélico.
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