quinta-feira, 6 de junho de 2019

UM TUBERCULOSO EM SOBRAL




                                                    Eustáquio


                  Distinto leitor,

             Nas fotos abaixo, eu, Eustáquio, em dois momentos distintos de minha jornada. À esquerda, em 1973, quando estava com 17 anos de idade, em Sobral, minha terra natal. E, à direita, em 1989, quando contava com 33 anos de idade, na cidade de Sobradinho, no Distrito Federal. Na foto em preto e branco, estou com 4 amigos, na areia do rio Acaraú que banha a cidade de Sobral. Da esquerda para a direita: eu, Marcelo, Neto, Maurício e Edilson. Marcelo e Maurício são irmãos. Hoje, os dois moram em Fortaleza. Marcelo mora perto do Colégio Estadual Liceu do Ceará, onde cursei o 2º Grau. E o Maurício, não sei onde mora, mas ele tem uma banca de jornal defronte para o “North Shopping”, ao lado de uma agência do Banco do Brasil, na Avenida Bezerra de Menezes. Todas as vezes que estou em Fortaleza, visito várias vezes o Maurício. Saio de casa a pé, perto do Supermercado Frangolândia, situado na Avenida Sargento Hermínio Sampaio, e fico na banca dele, conversando horas a fio. O Maurício sempre pergunta pelo meu sobrinho Roger Lins que mora perto da banca, mas nunca apareceu por lá. Já o Neto, que aparece também na foto, mora hoje em Fortaleza. Sobrou o Edilson, que mora num sítio perto de Sobral e que é irmão do Raimundo Alves Pereira.
               Muito bem! É bastante comum o povo do Ceará relacionar magreza a doenças. Segundo a visão de grande parte dos cearenses, uma pessoa gorda é sadia, já uma pessoa magra é doente. O Jô Soares, com certeza, deve adorar os cearenses. Quando eu morava em Sobral, era excessivamente magro. A foto abaixo confirma essa verdade. Até as minhas costelas são visíveis nessa foto. Quando minha turma de amigos estava jogando bola num campinho na Praça do Abrigo, hoje, Praça Quirino Rodrigues, defronte para o antigo Colégio Sobralense, próximo ao Arco de Nossa Senhora de Fátima, eu era tão magro, que alguns (não todos) diziam assim:


             --- Joga a bola, tuberculoso! Cruza a bola, tuberculoso!


             Ora, eu nunca sofri de tuberculose, uma doença que emagrece seus portadores. Apesar de ter sido extremamente magro, sempre gozei de boa saúde. Meu cunhado Edvan Santos Dumont, que morava em Fortaleza, foi vítima dessa doença terrível, mas conseguiu vencê-la. Morreu depois em consequência de outros problemas. Na foto abaixo, eu estava com 17 anos de idade. Meu maior sonho era fazer musculação para ficar musculoso. Só que havia dois problemas: eu não tinha um tostão no bolso, e em Sobral não havia sequer 1 academia de musculação. Nessa época, eu e minha família estávamos morando na Rua Maria Tomásia, perto da casa do Manéis, numa casa alugada. Minha irmã Graça Lins era manicura, ou seja, fazia estética nas unhas dos pés e das mãos de muitas mulheres. Nos sábados, a sala da casa ficava lotada de mulheres. Haja fofocas! Minha irmã Graça gostava de ler as revistas “Sétimo Céu” e “Contigo”. Duas porcarias! Eram revistas que só traziam fofocas entre cantores, atores e atrizes. Mesmo assim, eu pegava aquelas duas porcarias e lia. Nessas revistas, apareciam propagandas de cursos a distância, por meio dos Correios e Telégrafos. E lá estava o curso do fisiculturista canadense Joe Weider que faleceu em 2013. Eu via nas revistas a foto dele, uma montanha de músculos. Como eu invejava o físico do Weider! Eu não tinha dinheiro para comprar as lições do curso e também para fazer os pesos com ferro e cimento. Então, tudo ficou só no desejo, e nada mais. Eu teria que suportar minha magreza excessiva durante mais alguns anos. Em dezembro de 1975, quando eu estava com 19 anos de idade, minha família foi morar em Fortaleza. E eu fui junto. Assim que cheguei a capital, meu cunhado Edvan Santos Dumont me arranjou um emprego numa indústria chamada CIBRESME (Companhia Brasileira de Estruturas Metálicas). Eu era um apontador, ou seja, ficava apenas anotando a produção das pesadas máquinas. Ganhava apenas 1 salário mínimo por mês. Fiquei lá por apenas 3 meses. Pedi exoneração porque não gostei do serviço. Dois meses depois, minha irmã Graça Lins conseguiu um emprego para mim na COELCE (Companhia de Eletricidade do Ceará), onde ela trabalhava como telefonista. Era um emprego terceirizado. O salário também era o mínimo. Fiquei lá durante dois anos e meio. Nessa época, eu morava na Rua Naturalista Feijó, no Bairro Ellery. A COELCE ficava na Rua Dr. João Moreira, ao lado do Quartel da 10ª Região Militar, defronte para a Praça dos Mártires (Passeio Público), frequentada hoje por prostitutas e drogados. Para chegar à COELCE, eu pegava um ônibus defronte minha casa e descia na Praça José de Alencar. De lá, ia a pé, passando pela Rua Guilherme Rocha e pela Praça do Ferreira. Quando eu recebi o primeiro salário, 1 salário mínimo, comecei a procurar uma academia de musculação. Estava louco para começar a fazer musculação para acabar com minha magreza excessiva. E encontrei facilmente. Que maravilha! Num sábado maravilhoso, peguei o ônibus defronte minha casa e desci na Praça José de Alencar. E saí caminhando à procura de uma academia. Eu estava na calçada do Teatro José de Alencar. Ao virar à direita, entrando na Rua General Sampaio, vi uma placa com os seguintes dizeres:


              “Academia de musculação. Seja invejado pelos homens e admirado pelas mulheres”


            Como fiquei feliz! Eu disse para mim mesmo: chegou a hora de ficar musculoso, igual ao Joe Weider. Entrei rapidamente no edifício. O edifício ainda está lá hoje. Ali funciona atualmente, no térreo, a loja “Fort Couro”. A academia funcionava no 3º andar. Subi rapidamente pelas escadas. Chegando à academia, vi logo 3 homens muito fortes, fazendo exercícios. O instrutor, chamado Renato, responsável pela academia, veio ao meu encontro. Ele era mais baixo que eu, negro e usava apenas uma sunga apertadíssima. Quando vi aquele cabra, invejei logo o corpo dele. Que físico lindo! Uma montanha de músculos! Ele me levou à sua mesa. Passou todas as informações para mim. Fiz minha inscrição e já comecei a cair pesado nos exercícios no dia seguinte. Como eu adorava todos os aparelhos! Meus dias de exercícios eram às segundas, quartas e sextas-feiras. Em apenas 6 meses, meu corpo já era outro. Aquele magrinho “tuberculoso” de Sobral não existia mais. Como eu já estava um pouco musculoso, só andava com camisas sem manga para que as pessoas vissem meu corpo. Eu percebia que as pessoas já me olhavam diferente, principalmente as garotinhas com minha idade. Quando eu entrava no ônibus, percebia facilmente garotas olhando para mim fixamente e os rapazes também. Aí eu me lembrava dos dizeres do cartaz da academia:


           “Seja invejado pelos homens e admirado pelas mulheres”


           Não deu outra! Comecei então minha aventura com algumas jovens. Fiquei na querida academia até 1984 quando resolvi morar em Brasília. Como eu já estava com um físico bom, não voltei à musculação. Parei. Perdi uma parte considerável do que adquiri, mas não perdi tudo. Na foto abaixo, à direita, eu já vivia em Brasília há 5 anos, ou seja, 5 anos sem praticar musculação. Porém, dá para ver o progresso de meu corpo, comparando-se com aquele da foto de Sobral. Nessa foto colorida, eu estava morando numa casa em Sobradinho, aqui, no Distrito Federal, sentado sobre uma mesa de supino que eu comprei juntamente com algumas barras. Ou seja, não deixei definitivamente a musculação. Continuava praticando um pouquinho em minha própria casa. Atualmente, não pratico mais! Mesmo assim, pessoas do meu convívio olham para mim e dizem:


         “Você fez musculação, não fez?”


         --- Fiz sim, há muito tempo! --- respondo eu.

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