Eustáquio
Caro leitor,
Na foto abaixo, o Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, um órgão do Poder Judiciário Federal,
situado na Praça do Buriti, em Brasília. Trabalhei aí a partir de 11 de abril
de 1994 a 29 de dezembro de 2016, quando me aposentei. Foram, portanto, 22 anos
e 8 meses de trabalho. Você, leitor, vê 4 prédios: 2 edifícios, à direita, mais
altos, cada um com 9 andares, um ao lado do outro; à esquerda, mais 2
edifícios. Todos do Tribunal. Eu trabalhava no edifício à direita onde, na
foto, aparecem inúmeras janelas e os longos vidros que parecem varandas. Eu
ficava no 4º andar. São 9 andares. Os elevadores enormes e luxuosos vão até o
8º. Para chegar ao 9º andar, é preciso subir por uma escada. Neste andar, estão
até hoje o maravilhoso restaurante, a biblioteca e um auditório.
Muito bem! Em 2015, não sei
precisar o mês, presenciei uma coisa horrível cuja lembrança ficou gravada em
meu cérebro. Nessa época, eu trabalhava à noite. Chegava ao Tribunal às 18h e
saía à 1h. Num certo dia, por volta das 20h30, horário do início do Jornal
Nacional, da Rede Globo de Televisão, resolvi sair da minha seção para ir a uma
das máquinas eletrônicas do Banco do Brasil a fim de pagar uma conta de energia
e para sacar um dinheirinho. Peguei um dos elevadores e cheguei ao térreo do
prédio. Silêncio total. Eu era o único ser humano que estava ali. Havia 2
máquinas à minha disposição, e ainda hoje estão lá. Escolhi a máquina que
ficava ao lado da porta do banheiro masculino. Com certeza, a outra máquina
ficou com ciúmes porque eu não a escolhi. Problema dela! Paguei a conta de
energia. Quando eu estava pegando o dinheiro que havia solicitado, ouvi um
barulho extremamente forte que veio da janela que ficava à minha esquerda, ao
lado do banheiro feminino. Naquele momento, já que o prédio estava sob reforma,
eu pensei que aquele barulho forte tivesse sido causado por algum saco de
cimento que havia caído de algum andar superior. Bastante curioso, coloquei o
dinheiro no bolso, aproximando-me da janela. Ela estava fechada. Girei a
maçaneta no sentido anti-horário, empurrei a janela e levei um grande susto. A
apenas uma distância equivalente a um braço meu, um cadáver de uma mulher
bonita, cabelos longos, bem vestida, pés descalços, olhos direcionados para
mim, cotovelo deslocado do braço em razão da queda e uma poça de sangue. Durante
aproximadamente 30 segundos, fiquei ali, olhando para aquele cadáver,
petrificado. Caminhei rapidamente em direção à entrada principal do prédio,
onde ficavam os vigilantes. Comuniquei o ocorrido a eles. Dois deles foram
comigo ao local da desgraça. Um deles, com ar muito triste, reconheceu aquela
mulher. Era uma das defensoras públicas que trabalhava ali, uma especialista em
Direito. Um dos vigilantes retornou à entrada do prédio, entrando em contato
telefônico com alguém que trabalhava na Defensoria Pública. Já o outro
vigilante entrou no elevador comigo com o objetivo de encontrar o lugar de onde
a mulher se jogou. Eu acionei o elevador para o 8º andar. Se ela não tivesse se
jogado do 8º, desceríamos pelo 7º, pelo 6º etc. No banheiro do 8º andar, nada
de estranho. Descemos para o 7º andar pela escada. Neste andar, na entrada do
banheiro feminino, eu e o vigilante vimos o par de sapatos com salto alto. A
jovem mulher deixou ali seus calçados, antes de dar o salto mortal pela janela.
A tampa do vaso sanitário estava abaixada e sobre ela a bolsa, uma carteira e
as chaves do carro. Um quadro muito triste para se ver. Depois disso, retornei
à minha seção. Meus amigos foram ver o cadáver. À 1h da madrugada, saindo do
trabalho, falei com os vigilantes. Os médicos legistas já haviam levado o corpo
para os exames necessários. O irmão dela, um procurador federal, havia também
aparecido e levara o carro dela. Ele disse aos vigilantes que a irmã era
evangélica e que por 2 vezes já havia tentado o suicídio em razão de uma forte
depressão. Na 3ª vez, ela conseguiu.
No dia seguinte, entrei no elevador
para chegar à minha seção. Dentro do elevador, uma jovem que trabalhava na
limpeza, com um rodo na mão direita, virou-se para mim, dizendo:
--- Foi você que
viu a doutora morta?
--- Sim, minha
amiga, eu mesmo! Uma pena! Uma jovem bonita, inteligente, com uma carreira
brilhante, de família rica! Realmente uma pena! --- respondi eu.
E ela disse:
--- Como é que pode, uma mulher rica, que ganhava tão bem, faz isso?
Respondi novamente:
--- Pois fique sabendo, minha amiga,
que o maior índice de suicídio em todo o mundo se verifica nas classes média e
rica. Regra geral, o pobre não se suicida.
E ela, olhando para mim, espantada:
--- O quê? O quê?
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