sábado, 15 de junho de 2019

O CEARENSE WILLIAM E A VELHA NOJENTA





Eustáquio



             Distinto leitor,


        Na foto abaixo, o advogado William Fonseca Guimarães e sua esposa Sílvia Eglê.
            Em outro artigo, já deixei registrado que conheci o William, no início de 1995, quando eu fui trabalhar na 1ª Vara Criminal da cidade do Gama, aqui, no Distrito Federal. O William trabalhava no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), no cargo de analista processual, nível superior. Ele havia chegado recentemente de Fortaleza, onde deixara temporariamente sua esposa e seus 3 filhos: Getúlio, Pedro Henrique e Leonardo. Naquela época, o MPDFT não tinha sede própria na cidade do Gama, razão pela qual ocupava algumas salas do fórum, onde eu trabalhava. Por isso mesmo, via todos os dias o amigo William. Chegando a Brasília para assumir o cargo no MPDFT, por meio de concurso público, William alugou um barraco de fundos bem perto do local de trabalho. Nessa época, o dinheiro estava curto porque ele já há alguns meses estava desempregado em Fortaleza. Eu morava num edifício residencial defronte para o fórum, em um apartamento com 2 quartos.
                     Num sábado qualquer de 1995, fui conhecer o barraco de fundos em que o William morava. Aqui, no Distrito Federal, é muito comum pessoas construírem, no fundo da casa, barracos com o objetivo de alugá-los. Os barracos são pequenos, geralmente apenas 1 quarto, 1 sala, cozinha e 1 banheiro. E o barraco em que meu amigo William residia era pior ainda. A proprietária era uma velha pobre, sem estudo e antipática. Sua casa já era deteriorada, imagine o barraco que ela alugou para o William. Que barraco desgraçado! Não havia nem 1 quarto sequer. Era apenas 1 sala e 1 banheiro miserável. A cozinha, que não era uma cozinha, ficava na sala. E o William dormia numa cama não menos miserável bem no centro da sala. Não possuía televisor e refrigerador. Nada! Ele almoçava todos os dias no melhor restaurante da cidade, o Tavares, que ainda hoje está em pleno funcionamento.
                  Pois bem, caro leitor! O William entrava no trabalho às 13h e saía às 19h. Quando chegava ao barraco, à noite, sentava-se numa cadeira de plástico e abria livros de Direito. E ficava estudando até às 23h. Numa certa noite, por volta das 21h, a velha nojenta, dona do barraco, que não gostava de ler, muito menos de estudar, saiu da casa da frente, onde morava, para atrapalhar o estudo do William. Bateu na porta do barraco. William abriu a porta, e também a boca, dizendo:


                     --- Boa-noite, Senhora!


                     E a velha nojenta:


                     --- Boa-noite, seu minino! Seu minino, eu vim aqui pro mode o sinhô apagá a luiz proquê a conta tá vindo muito cara! --- afirmou a infeliz velha.


                    Com bastante educação, William explicou:


                   --- Senhora, eu sou um especialista em Direito e preciso estudar muito para exercer meu trabalho. Não tenho televisor, não tenho refrigerador, não tenho máquina de lavar etc. Portanto, minha despesa com energia elétrica é quase zero, apenas 2 lâmpadas e nada mais. Além do mais, o aluguel que eu pago já cobre essa despesa, não é mesmo?


                A velha nojenta, com certeza, recebeu um educado e gentil sermão de um homem inteligente e culto. Sem nada dizer, ela se retirou. No dia seguinte, nenhuma alteração. No terceiro dia, William novamente em sua leitura à noite, com uma lâmpada ligada. E lá vem a velha novamente para infernizar a vida de um homem lutador, que deixou sua família em Fortaleza para desvendar novos horizontes na capital federal. William novamente abre a porta, dizendo:


                  --- Boa-noite, Senhora!


                  E a velha nojenta e ignorante:


                 --- Seu minino, eu já vim aqui pidi pro sinhô apagá a luiz.


                  William olhou fixamente para o rosto da velha. Controlou a raiva oriunda de seus neurônios. Seu rosto ficou avermelhado. Respirou profundamente uma vez, pela segunda vez, e disse:


                   --- Senhora, vou lhe dizer duas coisas. Primeiro, meu nome não é “SEU MININO”. Meu nome é William; e a segunda coisa: nunca mais venha aqui para pedir que eu desligue a lâmpada. Olhe bem! Sou um homem totalmente desequilibrado, que facilmente perde o controle. Só para a Senhora ter uma ideia, eu saí fugido de Fortaleza porque matei duas pessoas lá que me enchiam o saco todos os dias. Portanto, não sou responsável pelos meus atos. Não venha mais aqui para tirar minha paciência!


            Após ouvir o desabafo brincalhão do William, a velha nojenta e ignorante acreditou mesmo que ele estava dizendo a verdade. Arregalou os olhos, e saiu em disparada. William ficou no barraco por mais 2 semanas, e a velha nojenta, com medo, nunca mais o importunou.


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