Eustáquio
Distinto
leitor,
Na foto abaixo,
o advogado William Fonseca Guimarães e sua esposa Sílvia Eglê.
Em
outro artigo, já deixei registrado que conheci o William, no início de 1995,
quando eu fui trabalhar na 1ª Vara Criminal da cidade do Gama, aqui, no
Distrito Federal. O William trabalhava no Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios (MPDFT), no cargo de analista processual, nível superior.
Ele havia chegado recentemente de Fortaleza, onde deixara temporariamente sua
esposa e seus 3 filhos: Getúlio, Pedro Henrique e Leonardo. Naquela época, o
MPDFT não tinha sede própria na cidade do Gama, razão pela qual ocupava algumas
salas do fórum, onde eu trabalhava. Por isso mesmo, via todos os dias o amigo
William. Chegando a Brasília para assumir o cargo no MPDFT, por meio de
concurso público, William alugou um barraco de fundos bem perto do local de trabalho.
Nessa época, o dinheiro estava curto porque ele já há alguns meses estava
desempregado em Fortaleza. Eu morava num edifício residencial defronte para o
fórum, em um apartamento com 2 quartos.
Num
sábado qualquer de 1995, fui conhecer o barraco de fundos em que o William
morava. Aqui, no Distrito Federal, é muito comum pessoas construírem, no fundo
da casa, barracos com o objetivo de alugá-los. Os barracos são pequenos,
geralmente apenas 1 quarto, 1 sala, cozinha e 1 banheiro. E o barraco em que
meu amigo William residia era pior ainda. A proprietária era uma velha pobre,
sem estudo e antipática. Sua casa já era deteriorada, imagine o barraco que ela
alugou para o William. Que barraco desgraçado! Não havia nem 1 quarto sequer. Era
apenas 1 sala e 1 banheiro miserável. A cozinha, que não era uma cozinha,
ficava na sala. E o William dormia numa cama não menos miserável bem no centro
da sala. Não possuía televisor e refrigerador. Nada! Ele almoçava todos os dias
no melhor restaurante da cidade, o Tavares, que ainda hoje está em pleno
funcionamento.
Pois
bem, caro leitor! O William entrava no trabalho às 13h e saía às 19h. Quando
chegava ao barraco, à noite, sentava-se numa cadeira de plástico e abria livros
de Direito. E ficava estudando até às 23h. Numa certa noite, por volta das 21h,
a velha nojenta, dona do barraco, que não gostava de ler, muito menos de
estudar, saiu da casa da frente, onde morava, para atrapalhar o estudo do
William. Bateu na porta do barraco. William abriu a porta, e também a boca,
dizendo:
---
Boa-noite, Senhora!
E
a velha nojenta:
---
Boa-noite, seu minino! Seu minino, eu vim aqui pro mode o sinhô apagá a luiz
proquê a conta tá vindo muito cara! --- afirmou a infeliz velha.
Com
bastante educação, William explicou:
---
Senhora, eu sou um especialista em Direito e preciso estudar muito para exercer
meu trabalho. Não tenho televisor, não tenho refrigerador, não tenho máquina de
lavar etc. Portanto, minha despesa com energia elétrica é quase zero, apenas 2
lâmpadas e nada mais. Além do mais, o aluguel que eu pago já cobre essa
despesa, não é mesmo?
A
velha nojenta, com certeza, recebeu um educado e gentil sermão de um homem
inteligente e culto. Sem nada dizer, ela se retirou. No dia seguinte, nenhuma alteração.
No terceiro dia, William novamente em sua leitura à noite, com uma lâmpada
ligada. E lá vem a velha novamente para infernizar a vida de um homem lutador,
que deixou sua família em Fortaleza para desvendar novos horizontes na capital
federal. William novamente abre a porta, dizendo:
---
Boa-noite, Senhora!
E
a velha nojenta e ignorante:
---
Seu minino, eu já vim aqui pidi pro sinhô apagá a luiz.
William
olhou fixamente para o rosto da velha. Controlou a raiva oriunda de seus
neurônios. Seu rosto ficou avermelhado. Respirou profundamente uma vez, pela
segunda vez, e disse:
---
Senhora, vou lhe dizer duas coisas. Primeiro, meu nome não é “SEU MININO”. Meu
nome é William; e a segunda coisa: nunca mais venha aqui para pedir que eu
desligue a lâmpada. Olhe bem! Sou um homem totalmente desequilibrado, que
facilmente perde o controle. Só para a Senhora ter uma ideia, eu saí fugido de
Fortaleza porque matei duas pessoas lá que me enchiam o saco todos os dias.
Portanto, não sou responsável pelos meus atos. Não venha mais aqui para tirar
minha paciência!
Após
ouvir o desabafo brincalhão do William, a velha nojenta e ignorante acreditou
mesmo que ele estava dizendo a verdade. Arregalou os olhos, e saiu em
disparada. William ficou no barraco por mais 2 semanas, e a velha nojenta, com
medo, nunca mais o importunou.
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