Eustáquio
Caro leitor,
Na foto abaixo, uma bosta humana anônima, ou seja, alguém cagou, mas eu
não sei quem foi.
Precisamente no dia 27 de novembro de 1985, quando eu estava com 29 anos
de idade, por meio de concurso público, ingressei no quadro da Polícia Civil do
Distrito Federal, lotado na maior penitenciária, o Centro de Internamento e
Reeducação (CIR), conhecido popularmente por Papuda. Trabalhei ali durante 5
anos, saindo em dezembro de 1990. Vivenciei ali muitos fatos que estou
mostrando por aqui. Narrarei mais um.
Até hoje, existe na penitenciária o Centro de Observação (CO). Ali ficam
os presos com problemas mentais. Em minha época, um desses presos era o “Da
Mala”, simplesmente um apelido, em razão de o preso ter assassinado sua esposa
com golpes de machado e, depois, ter esquartejado o corpo, colocando os membros
dentro de uma mala.
O “Da Mala” era baixinho, musculoso, nascido em Belém, no Pará. O
problema mental dele era pequeno porque conversava normalmente com as pessoas,
apesar de tomar remédios controlados. Pois fique sabendo, caro leitor, que ele
adorava merda, bosta. Quando ia cagar, “Da Mala” levava consigo um recipiente
de margarina vazio, tipo uma vasilha de margarina delícia ou qualy. De cócoras,
“Da Mala” cagava, e a bosta caía diretamente no recipiente de margarina. Com a
merda ainda quente e muito fedorenta, “Da Mala”, com o auxílio de uma colher,
comia aquele sólido humano. E não só comia, como também espalhava a bosta pelos
cabelos, camisa, calça e sandália.
Quando eu estava de plantão, pela manhã, “Da Mala” sempre parava para
conversar comigo. O engraçado é que ele se aproximava de mim, estendendo sua
mão direita para que eu o cumprimentasse. Eu lhe dizia logo:
--- “Da Mala”, sou seu amigo, mas, por favor, fique um pouco distante de
mim porque não estou aguentando a catinga de sua bosta. Estou vendo, em sua mão
esquerda, um pote de margarina lotado de bosta. Você já comeu merda, hoje?”
“Da Mala”, rindo, pegou uma colher do bolso, afundou-a na merda, e a
levou à boca. Quando ele mastigava a bosta, pelos cantos da boca escorria um
líquido de cor amarelada. Eu sentia uma ânsia de vômito. Os cabelos do “Da
Mala” eram duros por causa da merda. Nunca tinha visto um ser humano que comia
merda. Pois ali estava um. O interessante é que a saúde física do “Da Mala” era
uma coisa impressionante. Vi, por muitas vezes, o “Da Mala” levar, nos braços
fortes, outros presos doentes mentais, com destino à enfermaria da
penitenciária. Nunca o vi sequer com uma gripe. Diante daquela saúde estupenda
do “Da Mala”, eu perguntava a mim mesmo:
--- Será que comer bosta é bom para a saúde?
Em dezembro de 1990, saí da penitenciária, deixando lá o “Da Mala”.
Retornei ali depois de 6 meses para visitar meus amigos. Almocei na
penitenciária com eles, ocasião em que perguntei sobre o destino do comedor de
merda. Soube então que “Da Mala” havia adquirido a liberdade e que havia
morrido em consequência de um atropelamento.
Ou seja, a merda não fez mal algum ao “Da Mala”, porém um automóvel,
sim!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLições aprendidas:
ResponderExcluir1. Fique fora da cadeia - siga a lei.
2. Nunca lê nada no almoço.