Eustáquio
Prezado leitor,
Na foto abaixo, um computador (CPU), um
monitor, um teclado, um “mouse” e um aparelho de som.
Leitor, por favor, responda à seguinte
pergunta: se você doasse seu computador usado a alguém, teria a coragem de,
depois de 9 dias, pedir de volta esse aparelho? Eu creio, leitor, que você
jamais faria isso, não é mesmo? Se você concorda comigo, então leia este artigo
que lhe causará uma surpresa. Mais um fato real que ocorreu com um amigo aqui,
em Brasília, precisamente na cidade do Gama.
Em 1994, quando eu estava com 38 anos
de idade, encontrava-me trabalhando na 1ª Vara Criminal do Gama, uma das cidades
do Distrito Federal, distante do centro de Brasília 37 quilômetros. Nessa Vara,
havia 8 servidores, além do juiz de Direito. O juiz tinha a minha idade. Hoje,
ele está aposentado, morando em sua terra natal, Florianópolis, capital de
Santa Catarina. Não citarei o nome dele porque, caso venha a ler este artigo,
não ficará com raiva de mim. Porém, citarei o nome do meu colega de Trabalho,
Waldir Cruz, também aposentado, que passou por uma situação extremamente
constrangedora.
O Waldir exercia o cargo de técnico
judiciário, nível de 2º Grau, e, além disso, era o secretário do juiz. O
secretário do juiz é aquele servidor que fica à esquerda do juiz, nas
audiências, digitando no computador o que o juiz, as partes e os advogados
dizem. Waldir morava na cidade de Valparaíso, em Goiás, bem pertinho do Gama,
apenas a 16 quilômetros. Era casado e tinha 2 filhas. Pois bem!
Num final de tarde de uma
sexta-feira, o juiz chamou o Waldir à sua sala, dizendo-lhe:
--- Waldir, eu gostaria de saber se
você tem interesse em um computador. Semana passada, comprei um computador
novo, com monitor, teclado e “mouse”. Meu computador usado é maravilhoso e
completo. Se você quiser, ele será seu.
Meu amigo Waldir ficou muito feliz.
Quase chorou diante da solidariedade do juiz. E, com um sorriso nos lábios, foi
logo dizendo:
--- Doutor, claro que quero ficar com o
computador! Não tenho nem palavras para agradecer ao Senhor. Doutor, até hoje
não consegui comprar um computador lá para casa porque estou um pouco
endividado. É o sonho de minhas 2 filhas.
Após ouvir essas palavras do Waldir, o
juiz lhe disse:
--- Então, Waldir, amanhã, sábado, pela
manhã, vá ao meu apartamento para pegar os aparelhos!
Waldir anotou o endereço do apartamento
do juiz. Chegando à sua casa, à noite, comentou tudo com sua esposa e com as 2
filhas. Todos ficaram muito felizes. No sábado, pela manhã, por volta das 9h,
Waldir, de carro, sai de sua casa com destino ao apartamento do juiz,
percorrendo uma distância de 40 quilômetros. Ao entrar no apartamento, o juiz
lhe diz:
--- Waldir, desculpe a bagunça! Estou
sozinho aqui. Minha esposa e meu filho estão passando uma temporada em
Florianópolis, na casa de minha sogra. Vou ajudar você a levar os aparelhos até
seu carro.
O Waldir segurou o computador (CPU) e o
monitor. O juiz, o “mouse”, o teclado e dois aparelhos pequenos de som. Os dois
desceram pelo elevador, colocando tudo no carro do Waldir. Ao chegar à sua
casa, foi aquela festa. Suas 2 filhinhas pulavam de alegria. Waldir fez a
instalação, ligando os aparelhos. Vários jogos estavam instalados no
computador, o que foi uma maravilha para as 2 irmãs. As 2 criancinhas não saíam
do computador. Waldir, na mesma hora, ligou para uma empresa a fim de instalar
a “internet”. Na segunda-feira, pela manhã, foi feita a instalação.
Na mesma segunda-feira, à tarde, ao
chegar ao trabalho, Waldir estava na sala do juiz para os preparativos da
audiência. E, na oportunidade, o juiz lhe perguntou:
--- E aí, Waldir, está feliz com o
computador?
E o Waldir bastante alegre:
--- Doutor, o Senhor nem imagina a
felicidade de minhas filhas quando viram o computador! Nada paga o que o Senhor
fez, Doutor!
E o juiz completou:
--- Não há o que agradecer, Waldir!
Você merece!
Tudo bem! Passou-se a segunda-feira, a
terça, a quarta, a quinta, a sexta, o sábado e o domingo. Na casa do Waldir, só
alegria! Computador ligado e “internet” instalada. Suas filhinhas esqueceram
até as bonecas. Passavam o dia grudadas no computador. Pois, na segunda-feira,
9 dias depois de o Waldir ter ganho o computador, o juiz, no finalzinho da
tarde, o chama à sua sala, dizendo-lhe:
--- Waldir, quero lhe comunicar uma
coisa que não é agradável. Minha esposa chegou ontem, domingo, e ficou feliz
com o novo computador. Só que ela me fez a seguinte pergunta: “Amor, cadê o
outro computador?”. E aí, Waldir, eu disse a ela que havia dado para você os
aparelhos. Você nem imagina o aborrecimento que ela me causou, Waldir. Bastante
nervosa, ela me disse:
--- Nada disso, amor! Amanhã,
segunda-feira, você vai pedir de volta ao seu amigo o computador. Quero esse
computador aqui, amanhã, sem falta!
Após ouvir o juiz, uma tristeza
profunda invadiu meu amigo Waldir. Abaixou a cabeça muito triste, dizendo ao
doutor:
--- Sem problema, doutor! Eu entendo!
Amanhã mesmo, terça-feira, pela manhã, levarei os aparelhos ao seu
apartamento.
Chegando à sua casa, Waldir comunicou o
ocorrido à sua esposa e às 2 criancinhas. As meninas correram para o quarto,
chorando muito. Waldir estava num labirinto. Já havia até instalado a
“internet”, mas era obrigado a devolver o que ganhara como doação. Na cozinha,
sua esposa, indignada, desabafou:
--- Waldir, sinto muito em lhe dizer,
mas esse juiz não tem moral. Onde já se viu isso, dar uma coisa e depois pedir
de volta! Esse aí é mais um mandado pela mulher!
Waldir ficou calado. Na terça-feira,
pela manhã, percorreu novamente 40 quilômetros até ao apartamento do juiz. A
esposa dele não estava lá. O juiz desceu para ajudar o Waldir a conduzir os
aparelhos.
E ponto final!
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