segunda-feira, 10 de junho de 2019

O MÉDICO SALOMÃO DE FORTALEZA





Eustáquio



               Prezado leitor,


              Na foto abaixo, uma vista parcial da longa avenida Dr. Guarani, a mais alegre, movimentada e iluminada de Sobral, no Ceará, minha terra natal. Esse trecho da avenida é o cartão-postal e a sala de visita da cidade. Cartão-postal porque se localiza aí o monumento mais famoso, o Arco de Nossa Senhora de Fátima. E sala de visita porque é a principal entrada da cidade. No centro da foto, você, caro leitor, vê o Arco. À direita, aparecem dois prédios. E você vê, também, uma longa calçada central pela qual caminha um homem. Essa é a Sobral de hoje, mas não a de minha época. Em 1965, quando eu estava com 9 anos de idade, minha família morava justamente aí, numa casa alugada. O Arco existia, mas não havia os dois edifícios e nem a longa calçada central. Tanto à direita, quanto à esquerda da avenida, só existiam casas. E havia um posto de gasolina ocupando uma parte do calçadão, justamente no lugar em que se encontra o rapaz na foto.
                    Muito bem! Colocar cadeiras na calçada é um costume nordestino. Sobral é uma cidade nordestina, logo, é comum pessoas se sentarem em cadeiras para uma boa conversa ao longo das calçadas. Além das fofocas diárias, aparece o cafezinho acompanhado pelas tapiocas. Lembro-me bem de meu pai (João Lopes Lins), de minha mãe (Gerarda Alves Lins) e de meus irmãos (Aleuda, Graça, Liduína, Nonato, Deca, João e Elcias) sentados em cadeiras espalhadas ao longa da calçada, defronte para o posto de gasolina, observando o movimento dos carros que passavam, inclusive os ônibus da “Expresso de Luxo” que chegavam de Fortaleza. Minha irmã Célia já morava na capital.
                  Em dezembro de 1975, quando eu estava com 19 anos de idade, minha família se mudou para Fortaleza. Fomos morar na Rua Naturalista Feijó. E obviamente continuaram as cadeiras na calçada. Minha irmã Célia morava na Rua Mário Studart, bem próxima de minha casa. E lá também cadeiras na calçada. Em abril de 1984, com 27 anos de idade, eu, sozinho, fui morar em Brasília. Aqui, nada de cadeiras em calçada. Se um morador do centro de Brasília colocar uma cadeira em sua calçada, com certeza será levado imediatamente a um hospital psiquiátrico porque irão pensar que ele enlouqueceu. Como se vê, o povo de Brasília não tem ideia do que está perdendo. Por isso mesmo, é um povo de cara fechada, antipática, não dado a amizades.
                       Em fevereiro deste ano (2019), encontrava-me eu, mais uma vez, em Fortaleza, sentado numa cadeira sobre a calçada da casa de minha irmã Célia que mora atualmente na Rua Conrado Cabral. Ao meu lado, Célia e suas duas filhas, Mônica e Márcia. Conversa vai, conversa vem, eis que aparece uma das vizinhas de Célia, uma mulher morena e extremamente simpática, cujo nome me foge da memória neste momento. Ela me contou que trabalhou durante muitos anos como auxiliar de enfermagem, em vários hospitais da capital. E me disse também que, de todos os médicos com os quais trabalhou, o dr. Salomão se sobressaiu, se destacou, em razão de sua inteligência, solidariedade e criatividade. Infelizmente, o médico Salomão falecera no final do ano passado (2018). Como eu gostaria de tê-lo conhecido, de bater um papo prolongado com ele para absorver sua alegria e criatividade! Pois bem, caro leitor! Contar-lhe-ei agora um fato real ocorrido com o médico Salomão, que me foi passado pela vizinha feliz da Célia.
                   Num certo dia, dr. Salomão estava num hospital público de Fortaleza, atuando como clínico geral. O corredor estava lotado, com pacientes muito pobres acometidos pelas mais diversas enfermidades. Entra, no consultório do dr. Salomão, um homenzinho baixo e musculoso, morador do interior, que trabalha na agricultura. Após os cumprimentos iniciais, dr. Salomão lhe pergunta:


           --- Meu amigo, você trabalha na agricultura?


           --- Isso mesmo, dotô. Trabaio de sol a sol, na enxada, capinando, plantando, colhendo, jogando veneno. --- disse o humilde agricultor.


                   E o dr. Salomão:


                  --- E você mora sozinho?


           --- Não, dotô. Moro com minha muié e com meus fi. --- respondeu o agricultor com orgulho.


                     E o dr. Salomão pergunta novamente:


                  --- E você tem quantos filhos?


                  --- 12, dotô. --- afirmou o agricultor.


                  Dr. Salomão abriu um leve sorriso, dizendo:


                  --- Ah, meu amigo, agora entendi tudo! Você tem 12 filhos e é um agricultor! Agora entendi! Então, com você, a coisa é assim: de dia, na agricultura; de noite, NA CRIATURA!!!!


                        Que gênio, o dr. Salomão!

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