Eustáquio
Prezado
leitor,
Na
foto abaixo, minha irmã Célia Lins, em agosto passado (2018), passeando de
barco nas águas de Mundaú, um município de Trairi, a 140 quilômetros de
Fortaleza, no Ceará.
Célia
Lins está com exatos 80 anos de idade. Mora na rua Conrado Cabral, em
Fortaleza, numa casa espaçosa, assobradada (dois pisos) e própria. É viúva,
pois seu esposo Edvan Santos Dumont (que não tem parentesco algum com o famoso
aviador brasileiro) faleceu há muitos anos. Edvan deixou para Célia apenas uma
mísera pensão no valor de um salário mínimo. Obviamente, ninguém consegue
comprar uma casa simples, e muito menos com um sobrado, com essa quantia. Célia
adquiriu essa casa por meio de um seguro de vida cujas prestações eram pagas
por seu filho Roger Lins. Com a morte do esposo, Célia finalmente realizou um
sonho antigo: uma casa própria! Na casa, moram ela, suas duas filhas (Mônica e
Márcia) e o genro Camilo, esposo de Márcia.
Em
fevereiro deste ano (2019), eu estava em Fortaleza para mais um mês de
diversão. Quando estou na capital, fico num apartamento bem simples com minha
irmã Liduína, situado na Avenida Sargento Hermínio Sampaio, bem próximo da casa
da Célia, razão pela qual todos os dias vou à residência dela para colocar as
fofocas em dia. Num certo dia desse mês, eu, Célia e Mônica estávamos
conversando na calçada da casa, sentados em cadeiras. Célia estava muito
preocupada. Antes, seu sonho era ter uma casa própria. Foi realizado. Só que
agora ela virou o disco. Seu sonho agora é se mudar para um apartamento. Na
ocasião, ela me disse que iria trocar a casa por um apartamento pequeno, de 3
quartos, na Vila Cisne, defronte para a padaria “Gourmet”, na Avenida Sargento
Hermínio. Não achei boa aquela ideia, e fui franco:
---
Célia, pense bem! É bobagem trocar essa casa tão espaçosa, com sobrado, por um
apartamento na Vila Cisne. E pior: a Mônica me disse que o condomínio está no
valor de R$ 350,00 ( trezentos e cinquenta) reais. Ora, Célia, você ganha
mensalmente apenas R$ 950,00 (novecentos e cinquenta) reais. Como é que você
vai tirar todos os meses o dinheiro para pagar o condomínio, além disso, o
valor do condomínio sobe a cada ano. Célia me respondeu assim.
---
Eustáquio, você não tem ideia da minha tristeza nessa casa. A Mônica, a Márcia
e o Camilo dormem lá em cima. Eu já estou velha, não tenho condições de subir
por aquela infeliz escada. Sofro de depressão, e o pior momento é à noite.
Sinto-me muito triste principalmente na escuridão da madrugada.
---
Célia, não fique preocupada com a escuridão da noite. Alma não existe,
lobisomem não existe e muito menos o Conde Drácula. O que pode aparecer em sua
casa durante à noite, e realmente aparecem, são baratas e ratos. -- disse eu.
Célia
soltou um sorriso. Nisso, entra a Mônica:
---
Eustáquio, você nem imagina a dor de cabeça da gente por causa dessa maldita
venda da casa. O diabo do processo até hoje está parado no cartório ladrão por
causa de um erro na metragem do terreno. O desgraçado do cartório errou, mas é
a gente que paga. Mamãe já gastou R$ 480,00 (quatrocentos e oitenta) reais com
taxas. Que cartório infame! E o outro ladrão, o tal de Régis, só liga para
encher o saco.
---
Quem é esse Régis, Mônica? Será que é o filho do Manéis de Sobral? ---
perguntei eu, brincando.
---
Não, esse Régis é um corretor de imóveis. O infeliz não resolve nada. Já disse
até para a mamãe que desista de tudo. Vamos ficar aqui mesmo na casa e ponto
final. Só aparece ladrão para pegar dinheiro. Outro dia, foi o miserável do
engenheiro. Ele apareceu aqui, em casa, sozinho, sem um ajudante, com uma trena
na mão para medir as dependências da casa. O desgraçado ainda pediu que eu segurasse
a ponta da trena para que ele pudesse fazer a medida. Não gastou nem 10
minutos. No final, abriu a mão, e a mamãe pagou-lhe R$ 800,00 (oitocentos)
reais. Mamãe já está devendo a um agiota quase R$ 1.000,00 (mil) reais. Num sei
não, viu, haja dinheiro!
Eu
olhei para a Célia e disse:
---
Célia, desista disso! Vamos amanhã ao cartório para cancelar o processo. Até
agora, você já gastou R$ 1.280,00 (mil duzentos e oitenta) reais, e com certeza
gastará mais. Vamos amanhã ao cartório, a gente cancela tudo e o cartório lhe
devolverá os R$ 480,00. Quanto ao dinheiro pago ao engenheiro, pode esquecer.
Já era.
No
dia seguinte, peguei a Célia e fomos no meu carro ao cartório, situado no
bairro Aldeota. Chegando lá, eu disse a um serventuário que minha irmã havia
desistido de tudo. Ele chamou outro empregado que veio com a pasta do processo.
Célia lhe disse que estava ali para cancelar tudo e pegar o dinheiro que havia
torrado em taxas. O rapaz do cartório, bastante educado, disse à Célia que não
desistisse porque o processo já estava quase no final a fim de regularizar a
escritura da casa. Célia não aceitou suas explicações, estava decidida a pôr um
ponto final em tudo. O empregado então pediu que ela esperasse porque ele iria
buscar o formulário de desistência. Célia e eu ficamos aguardando. Nisso, um
homem que estava sentado ao lado da Célia, começou a conversar com ela, e eu só
ouvindo. O homem dizia a ela que não desistisse do processo porque já estava
quase no final. E eu só ouvindo! O homem colocou tanta abobrinha na cabeça da
Célia que ela realmente desistiu de desistir. Virou o disco. Quando o
serventuário do cartório voltou, com o termo de desistência nas mãos, eu disse
a ele que a Célia havia mudado de opinião, que ela queria a continuação do
processo. O serventuário abriu um sorriso de felicidade, parabenizando a Célia
pela inteligente decisão. Ele, nesse momento, mostrou à Celia 3 editais,
dizendo:
---
Muito bem, Senhora Célia, meus parabéns por não ter desistido! Agora, a coisa é
bem simples. A Senhora vai levar esses 3 editais para providenciar a publicação
em qualquer jornal de grande circulação em Fortaleza. Os editais devem ser
publicados em dias diferentes, não no mesmo dia. Quando forem publicados, a
Senhora destaca as 3 publicações e traz para o cartório. Certinho?
A
Célia, já fechando um pouco a cara diante do procedimento relativo aos
editais, perguntou ao serventuário:
----
Sim, moço, e quanto eu vou gastar com esses editais, hein?
---
A Senhora deve gastar com os 3 editais, mais ou menos R$ 1.600,00 (mil e
seiscentos) reais. --- respondeu o homem.
Quando
a Célia ouviu aquilo, quase desmaia. Parecia até que um terremoto estava
destruindo Fortaleza. Célia ficou branca de tanta raiva. Devolvendo rapidamente
os 3 editais ao serventuário, disse-lhe:
---
Moço, tome essas porcarias! Pode rasgar tudo! Não quero mais nem saber disso!
Por favor, desisto de tudo agora mesmo! Isso é um absurdo, moço, uma viúva que
recebe apenas 1 salário miserável por mês, como é que vai ter dinheiro para
essas publicações miseráveis?
E
Célia assinou o termo de desistência, no que fez muito bem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário