domingo, 16 de junho de 2019

UM HOMOSSEXUAL IDOSO EM MEU CAMINHO


                   


Eustáquio



                                                       Distinto leitor,


                 Na foto abaixo, a Praça do Ferreira, a mais famosa de Fortaleza, capital do Ceará. À esquerda, no canto superior, o inesquecível Cine São Luiz.

                      Eu e minha família deixamos Sobral, em dezembro de 1975, para morar em Fortaleza numa casa alugada pela minha irmã Graça Lins, situada na Rua Naturalista Feijó. Em Fortaleza, concluí os 3 anos do 2º Grau no meu querido Colégio Estadual Liceu do Ceará. 3 anos depois, em 1980, entrei na Universidade Federal do Ceará (UFC) para cursar Letras. Naquela época, eu trabalhava na Rent, uma empresa terceirizada que prestava serviço para a COELCE (Companhia de Eletricidade do Ceará), onde minha irmã Graça Lins trabalhava como telefonista. Foi a Graça que conseguiu aquele emprego para mim. Eu trabalhava durante o dia todo, com intervalo de 2 horas para o almoço, e ganhava apenas 1 salário mínimo por mês, mas, para quem nada tinha, já era alguma coisa. Quando eu obtive aprovação no vestibular da UFC, fui obrigado a deixar o emprego porque as aulas eram pela manhã. Obviamente, dei preferência aos estudos. E hoje posso comprovar que foi a melhor coisa que eu fiz. Em fevereiro de 1980, começaram as aulas, no prédio que fica ao lado da Reitoria, na Avenida da Universidade, no bairro Benfica. Eu estava muito feliz, apesar de não ter um tostão no bolso. No início de 1981, ou seja, no 3º semestre do curso de Letras, surgiu na universidade um concurso interno para o cargo temporário de monitor. A função do monitor era auxiliar os professores na aprendizagem dos alunos. O monitor ficava numa sala, no mesmo prédio, por 4 horas, durante 3 dias na semana a fim de eliminar as dúvidas do alunos. O salário era apenas a metade do salário mínimo, porém, para quem nada tinha, já era alguma coisa. Só havia 3 vagas. 11 pessoas se inscreveram, mas apenas 3 foram aprovadas. Eu obtive a primeira colocação. A prova foi muito fácil: apenas uma dissertação e uma entrevista com 3 doutores em língua portuguesa: José Rebouças Macambira (o mestre dos mestres), Tarcísio Cavalcante e Teoberto Landim. No final do curso de Letras, o doutor Teoberto Landim me deu um presente maravilhoso que depois narrarei em outro artigo. Como sinto saudades dos meus notáveis professores de língua portuguesa!
                                  Pois bem, caro leitor! Num certo sábado de 1981, quando eu ganhava meio salário mínimo por mês como monitor de língua portuguesa da UFC, resolvi assistir a um filme no meu querido e inesquecível Cine São Luiz, localizado na Praça do Ferreira. Não me lembro do nome do filme. Naquela época, eu já estava bem musculoso porque praticava musculação numa academia que ficava ao lado do Teatro José de Alencar, na Rua General Sampaio. Eu estava com uma camisa sem mangas (só para mostrar os braços fortes) e uma calça ustop que comprei na loja Ocapana para pagar em 4 vezes, já que meu dinheiro era muito pequeno, menor que o falecido cantor Nelson Ned. E, desde que cheguei a Fortaleza, ouvia dizer que a Praça do Ferreira estava lotada de homossexuais, de viados. Por volta das 17h, já um pouco escuro em Fortaleza, eu saí do cinema pela esquerda para pegar a Rua Liberato Barroso. Eu a pé, óbvio, porque meu salário não dava nem para comprar um carrinho de mão, imagine um carro a gasolina. Quando dou duas passadas, ouvi um assovio bem forte por trás de mim:


                            --- Psiu! Psiu! Psiu! Psiu!


                            Parei, virei-me e vi um Senhor bastante idoso, talvez com a idade de 74 anos. Ele caminhava lentamente e estava com um chapéu sobre a cabeça. Eu tinha apenas 25 anos de idade. Ao ver aquele velhinho muito fraquinho, sem força até para andar, eu jamais pensei que se tratava de um homossexual, de um viado. Jamais! Com muita educação, minha marca característica, disse a ele:


                          --- Boa-noite, Senhor! Em que posso ajudá-lo?


                          E o velhinho derrubado, mais fraco do que suco de pitomba, falou:


                          --- Meu jovem, você é muito bonito! Que braços fortes e você ainda tem olhos verdes! Um gato! A gente pode conversar um pouco naquele banquinho ali?


                               Somente aí, caro leitor, é que percebi que estava diante de um idoso homossexual. Com muita educação, coloquei minha mão direita sobre o ombro esquerdo do velhinho e disse:


                               --- Meu amigo, estou muito apressado. Vamos fazer o seguinte: amanhã, nesse mesmo horário, passarei aqui de novo e aí a gente vai fazer um programa maravilhoso. Eu cobro por programa 2 salários mínimos. E, para penetrar em seu ânus, meu pênis estará vestido com uma camisinha de vênus. O Senhor topa?


                                    --- Claro, meu filho! --- disse ele, todo feliz!


                                    Fui embora! Passei quase 6 meses sem passar pela Praça do Ferreira. Não posso dizer que o velhinho até hoje está me esperando porque, em razão da idade dele já avançada em 1981, atualmente seus restos mortais devem estar no cemitério São João Batista, localizado na Avenida Filomeno Gomes, defronte para o “Fashion Moda Feminina”.
                           


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