Eustáquio
Distinto
leitor,
Na
foto abaixo, a Praça do Ferreira, a mais famosa de Fortaleza, capital do Ceará.
À esquerda, no canto superior, o inesquecível Cine São Luiz.
Eu e minha família deixamos
Sobral, em dezembro de 1975, para morar em Fortaleza numa casa alugada pela
minha irmã Graça Lins, situada na Rua Naturalista Feijó. Em Fortaleza, concluí
os 3 anos do 2º Grau no meu querido Colégio Estadual Liceu do Ceará. 3 anos
depois, em 1980, entrei na Universidade Federal do Ceará (UFC) para cursar
Letras. Naquela época, eu trabalhava na Rent, uma empresa terceirizada que
prestava serviço para a COELCE (Companhia de Eletricidade do Ceará), onde minha
irmã Graça Lins trabalhava como telefonista. Foi a Graça que conseguiu aquele
emprego para mim. Eu trabalhava durante o dia todo, com intervalo de 2 horas
para o almoço, e ganhava apenas 1 salário mínimo por mês, mas, para quem nada
tinha, já era alguma coisa. Quando eu obtive aprovação no vestibular da UFC,
fui obrigado a deixar o emprego porque as aulas eram pela manhã. Obviamente,
dei preferência aos estudos. E hoje posso comprovar que foi a melhor coisa que
eu fiz. Em fevereiro de 1980, começaram as aulas, no prédio que fica ao lado da
Reitoria, na Avenida da Universidade, no bairro Benfica. Eu estava muito feliz,
apesar de não ter um tostão no bolso. No início de 1981, ou seja, no 3º
semestre do curso de Letras, surgiu na universidade um concurso interno para o
cargo temporário de monitor. A função do monitor era auxiliar os professores na
aprendizagem dos alunos. O monitor ficava numa sala, no mesmo prédio, por 4
horas, durante 3 dias na semana a fim de eliminar as dúvidas do alunos. O
salário era apenas a metade do salário mínimo, porém, para quem nada tinha, já
era alguma coisa. Só havia 3 vagas. 11 pessoas se inscreveram, mas apenas 3
foram aprovadas. Eu obtive a primeira colocação. A prova foi muito fácil:
apenas uma dissertação e uma entrevista com 3 doutores em língua portuguesa:
José Rebouças Macambira (o mestre dos mestres), Tarcísio Cavalcante e Teoberto
Landim. No final do curso de Letras, o doutor Teoberto Landim me deu um
presente maravilhoso que depois narrarei em outro artigo. Como sinto saudades
dos meus notáveis professores de língua portuguesa!
Pois
bem, caro leitor! Num certo sábado de 1981, quando eu ganhava meio salário
mínimo por mês como monitor de língua portuguesa da UFC, resolvi assistir a um
filme no meu querido e inesquecível Cine São Luiz, localizado na Praça do
Ferreira. Não me lembro do nome do filme. Naquela época, eu já estava bem
musculoso porque praticava musculação numa academia que ficava ao lado do
Teatro José de Alencar, na Rua General Sampaio. Eu estava com uma camisa sem
mangas (só para mostrar os braços fortes) e uma calça ustop que comprei na loja
Ocapana para pagar em 4 vezes, já que meu dinheiro era muito pequeno, menor que
o falecido cantor Nelson Ned. E, desde que cheguei a Fortaleza, ouvia dizer que
a Praça do Ferreira estava lotada de homossexuais, de viados. Por volta das
17h, já um pouco escuro em Fortaleza, eu saí do cinema pela esquerda para pegar
a Rua Liberato Barroso. Eu a pé, óbvio, porque meu salário não dava nem para
comprar um carrinho de mão, imagine um carro a gasolina. Quando dou duas
passadas, ouvi um assovio bem forte por trás de mim:
---
Psiu! Psiu! Psiu! Psiu!
Parei,
virei-me e vi um Senhor bastante idoso, talvez com a idade de 74 anos. Ele
caminhava lentamente e estava com um chapéu sobre a cabeça. Eu tinha apenas 25
anos de idade. Ao ver aquele velhinho muito fraquinho, sem força até para
andar, eu jamais pensei que se tratava de um homossexual, de um viado. Jamais!
Com muita educação, minha marca característica, disse a ele:
---
Boa-noite, Senhor! Em que posso ajudá-lo?
E
o velhinho derrubado, mais fraco do que suco de pitomba, falou:
---
Meu jovem, você é muito bonito! Que braços fortes e você ainda tem olhos
verdes! Um gato! A gente pode conversar um pouco naquele banquinho ali?
Somente
aí, caro leitor, é que percebi que estava diante de um idoso homossexual. Com
muita educação, coloquei minha mão direita sobre o ombro esquerdo do velhinho e
disse:
---
Meu amigo, estou muito apressado. Vamos fazer o seguinte: amanhã, nesse mesmo
horário, passarei aqui de novo e aí a gente vai fazer um programa maravilhoso.
Eu cobro por programa 2 salários mínimos. E, para penetrar em seu ânus, meu
pênis estará vestido com uma camisinha de vênus. O Senhor topa?
---
Claro, meu filho! --- disse ele, todo feliz!
Fui
embora! Passei quase 6 meses sem passar pela Praça do Ferreira. Não posso dizer
que o velhinho até hoje está me esperando porque, em razão da idade dele já
avançada em 1981, atualmente seus restos mortais devem estar no cemitério São
João Batista, localizado na Avenida Filomeno Gomes, defronte para o “Fashion
Moda Feminina”.
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