O jornal Correio Braziliense, sábado, dia 1º, na página 38, aborda o fenômeno óptico conhecido como halo, que ocorreu sexta-feira passada, dia 31 de setembro, no céu de Brasília. Nessa matéria jornalística, há algumas imperfeições dignas de comentário, principalmente as fantasias religiosas.
Sexta-feira, dia 31, por volta das 10h, ao olharem para o céu, brasilienses avistaram um grande círculo luminoso, com bordas coloridas nos tons do arco-íris. Eu, amigo leitor, perdi esse lindo espetáculo da natureza, porém o vi pela televisão. Não é, claro, a mesma coisa.
O fenômeno óptico observado pelo brasiliense naquela manhã chama-se halo. Como ele ocorre? Ocorre da seguinte forma: a luz emitida pelo Sol atravessa algumas nuvens carregadas com cristais de gelo, produzindo o fenômeno óptico, ou seja, um fenômeno percebido pelo olho humano. O halo é apenas isso, e nada mais.
O jornal supracitado dá à reportagem o seguinte título:
GELO DÁ UM COLORIDO AO SOL
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No fundo, amigo leitor, essa afirmação não é propriamente exata. Ora, o gelo presente naquele momento nas nuvens do céu de Brasília, obviamente, não deram um colorido ao Sol porque essa estrela fantástica está a 150 milhões de quilômetros da Terra. Ou seja, o gelo estava nas nuvens que, por sua vez, estavam no céu de Brasília. Já o Sol não se encontra no céu de Brasília, mas no espaço, onde não há gelo e nuvens, a uma distância astronômica. Não é o Sol que se encontra com o gelo e as nuvens, mas somente os seus raios solares. A luz emitida pelo Sol percorre uma longa distância, gastando 8 minutos para chegar ao planeta Terra. É, pois, essa luz que se encontra com os cristais de gelo presentes nas nuvens. Assim, no fundo, é errado dizer que o Sol está no céu. Ele, obviamente, não está no céu, mas no espaço, onde não há gelo e nuvens. Por conseguinte, o gelo não dá um colorido ao Sol, mas apenas um colorido aos raios solares. Se o halo ocorresse no Sol, os habitantes da Terra teriam visto ao mesmo tempo o fenômeno. Porém, só os de Brasília é que o presenciaram porque ele ocorreu apenas no céu da capital brasileira.
O mais engraçado de tudo, caro leitor, são sem dúvida alguma as fantasias das pessoas religiosas diante desse fenômeno óptico. Em certo trecho da matéria, o jornal diz:
“Nas ruas, todos olhavam para cima. Muita gente saiu do trabalho para ver. Fotografavam e filmavam o céu. Queriam entender. Sem informação, surgiram rumores. Houve quem suspeitasse que se tratava do fim do mundo.”
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A ignorância do povo brasileiro é marca característica de sua formação. Diante de qualquer fenômeno físico, já diz que o fim do mundo está próximo. E não é só o povo brasileiro não! Esse negócio de fim do mundo é colocado na cabeça das pessoas pelas várias religiões. Não passa de mera superstição, de mera fantasia.
Mais à frente, o jornal registra:
“O auxiliar de escritório Luiz Andrade, 35 anos, e a mulher dele Telma Moreira, 33, moradores de Luziânia, gravaram tudo, debaixo de uma árvore, perto do Conic. “São sinais do fim dos tempos, em forma de aliança”, disse Luiz. Telma também ficou impressionada. “Todo mundo está impressionado. Com certeza vão relacionar isso à meteorologia. Mas a Bíblia fala de avisos como esse. Espero que Jesus volte logo”, afirmou Telma. Os dois são evangélicos.”
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Veja, amigo leitor, o estrago que a religião causa a um cérebro humano. Luiz Andrade, morador de Luziânia, tem 35 anos de idade. Não é, pois, uma criança. Trata-se de uma pessoa adulta. E sua esposa Telma Moreira, também. Ela está com 33 anos de idade. Porém, os dois pensam como uma criança. Quando eu ouço ou leio coisas desse tipo, fico triste, com dó dessas pessoas. No fundo, elas estão sendo manipuladas por estelionatários religiosos.
Segundo a reportagem, Luiz Andrade, evangélico, ao ver o halo, associou-o a um sinal do fim do mundo. Para ele, Deus está mandando avisos ao planeta Terra com a finalidade de que a humanidade se prepare para o fim do mundo que está bem próximo. Pobre Luiz Andrade! Ele não tem a menor noção de que o halo existe desde que o planeta Terra surgiu no Universo. Ele nem imagina que o halo existe há 4 bilhões de anos.
Telma Moreira, esposa de Luiz Andrade, também evangélica, aproveitou a oportunidade para desconfiar dos cientistas. Ela disse ao repórter do jornal que os cientistas iriam dizer que aquilo (o halo) era uma coisa associada à meteorologia. Segundo ela, pura mentira. Na verdade, era um sinal enviado por Deus, avisando a todos que o fim do mundo se aproxima. Pobre Telma Moreira! Ela diz também que a Bíblia fala de vários sinais, inclusive do halo. E deseja ardentemente que Jesus Cristo volte logo ao planeta Terra. Pobre Telma Moreira! Que estrago os estelionatários religiosos fazem com o cérebro dela! Com o olho nos dízimos, nas ofertas e nas doações, os mercadores da fé dizem que o fim do mundo está próximo e que Jesus retornará para alegria e felicidade dos cristãos. Enquanto o Homem de Nazaré, e não de Belém, não vem, os mercadores religiosos vivem no luxo. Já os pobres e miseráveis religiosos devem aguardar o fim do mundo para se livrarem da fome, da pobreza e do sofrimento.
Luiz Andrade e Telma Moreira não conhecem a Bíblia. Se a conhecessem profundamente, com certeza não seriam vítimas dos espertalhões da fé. Qualquer estudioso bíblico sério, qualquer teólogo sério, sabe muito bem que a Bíblia não é a palavra de Deus. Quando eu afirmo isso, não estou querendo menosprezar a fé de alguém. Estou apenas afirmando uma verdade. A própria Teologia afirma isso. Quem estuda a fundo o cristianismo, a formação da Bíblia, a escolha dos livros, desde os manuscritos mais antigos, desde as línguas originais (hebraico (Velho Testamento), e grego (Novo Testamento), analisando as cópias adulteradas ao longo do tempo, encontra facilmente a verdade. A Bíblia não é, como dizem, um conjunto de livros que foi dirigido para o futuro. De Gênesis ao Apocalipse, ela está repleta de lendas, mitos, alegorias, metáforas, hipérboles, contradições, erros históricos, erros geográficos, erros científicos etc. Tudo isso pode ser facilmente comprovado em qualquer livro sério de Teologia.
Telma espera que Jesus volte logo. Ora, não há Jesus algum para retornar ao planeta Terra. Jesus morreu há 2 mil anos. Não ressuscitou, ou seja, não voltou a viver depois de morto. E, logicamente, não subiu literalmente ao céu, de forma vertical, como sobe um helicóptero. Tudo isso é fantasia. Jesus morreu em mãos de soldados romanos, e não em mãos de judeus. Ele próprio, sendo judeu, coitado, pensava que era o Messias, aquele homem esperado pelo povo judeu para pôr um fim ao domínio dos romanos. Na época, os judeus estavam sob o jugo romano. Jesus apareceu, pregando ser o Messias, o Salvador. Não deu outra. Ao começar o seu ministério aos 30 anos de idade, já adulto, sem força alguma diante do poder romano, foi crucificado no madeiro por volta dos 33 anos de idade. Ou seja, pregou apenas por 3 anos. Foi rapidamente aniquilado, eliminado, pelos romanos. A pobre Telma, em um dia qualquer, vai morrer, e não terá o prazer de ver Jesus retornando ao planeta Terra.
E o jornal continua:
“O servidor público José Régis Marques, 50 anos, morador do Lago Sul, reuniu a família para rezar, quando percebeu a alteração do sol. “Esse vermelho em volta do sol representa a negritude dos pecados dos ladrões, corruptos. Desse halo, vão sair capetas para destruir os corruptos”, afirmou, enquanto rezava ajoelhado na grama.”
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José Régis Marques, com 50 anos de idade, costuma reunir a família para rezar. Não quero ofender a ninguém, mas para que servem as rezas? Elas curam males? Curam hemorroidas? Cânceres? Tuberculoses? Diabetes? Pneumonias? Depressões? Lepras? Dores de cabeça? Eliminam cálculos renais? A resposta, amigo leitor, é uma só: rezas nada curam. Se uma pessoa, por exemplo, está com crise de cálculo renal, com dores insuportáveis, se ficar apenas rezando, vai morrer rapidamente. Se, ao contrário, for a um hospital, livrar-se-á rapidamente da dor. O que estou afirmando é uma verdade incontestável. José Marques mora no Lago Sul, o bairro mais chique de Brasília. Ele deve ter uma boa formação cultural, mas mesmo assim não deixa de lado as fantasias. E também não deixa de ser um tremendo gozador, ao afirmar que o vermelho do halo significa a negritude dos pecados dos ladrões, corruptos. O substantivo “negritude” não soa bem porque alguém pode associar a preconceito em relação à cor. Negritude vem de negro! Ele diz que os capetas vão sair do halo para destruir os corruptos brasileiros. José Marques vai quebrar a cara porque do céu nada vem contra os corruptos.
E em outro trecho o jornal diz:
“A office girl Gracinete Martins, 40 anos, fez uma pausa no trabalho para observar o céu. “Não sei o que é isso, mas é lindo demais e vem de Deus, ele quer nos dizer alguma coisa”, disse, enquanto fotografava.”
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Gracinete Martins parou na rua para observar o halo. Ela não sabia o que diabo era aquilo, mas tinha uma certeza: era uma coisa criada por Deus. Por ser uma coisa linda, com certeza foi Deus que fez. Deus, em vez de falar diretamente com os humanos, prefere ficar calado, enviando sinais lindos e maravilhosos. Pobre Gracinete! Imagine se ela visse um furacão, aquela coisa feia e destruidora. Com certeza, diria que era coisa do Satanás ou, então, de Deus para punir os pecadores.
E, terminando a reportagem, o jornal entrevistou a meteorologista Maria das Dores Azevedo. Até que enfim, uma afirmação racional, lógica e verdadeira:
“As condições climáticas, como umidade em altos níveis, formam esse tipo de nebulosidade. Há uma frente fria vindo do Sul do país que pode trazer as chuvas.”
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De fato, amigo leitor, hoje, segunda-feira, neste momento, está chovendo aqui, em Brasília.
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