Josuelina Carneiro, moradora da Asa Sul, escreveu o pequeno artigo publicado no Correio Braziliense, sábado passado, dia 26, na página 26:
“Tão importante quanto salvar vidas é respeitar normas como o tombamento de Brasília. Construir muretas dividindo pistas no Eixão reduz o impacto de batidas entre veículos; porém, não vai acabar com os acidentes. Por que no Brasil tudo tem que ser assim, do jeito mais fácil? Por que não copiar exemplos de fora, em que construções antigas permanecem intactas, em respeito ao passado, e tudo funciona satisfatoriamente? Surte mais resultado educar, punir, multar os inconseqüentes, mal-educados que não têm apreço à vida, muito menos à do próximo. A maioria dos brasileiros, para andar na linha, só mesmo debaixo de chicote.”
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Josuelina Carneiro é contra a construção de muretas ao longo do Eixão. Ela assim inicia a sua defesa:
“Tão importante quanto salvar vidas é respeitar normas como o tombamento de Brasília.”
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Veja, amigo leitor! Josuelina equipara vida humana ao tombamento de Brasília. Ela própria diz que a vida humana e o tombamento de Brasília são igualmente importantes. Ou seja, estão no mesmo patamar, no mesmo nível. Essa afirmação é verdadeira, caro leitor? É verdadeira? Claro que não! Na verdade, trata-se de uma afirmação falsa.
Ora, a vida humana é o maior patrimônio de uma pessoa. O maior! Nenhum outro se equipara! A liberdade de uma pessoa também é um grande patrimônio, mas é infinitamente inferior à vida. Excluindo os potencialmente suicidas, nenhum ser humano quer morrer. Nenhum! O ser humano até aceita perder sua liberdade, mas não quer perder a própria vida. Eis, amigo leitor, a prova de que a vida é o maior patrimônio de uma pessoa.
E o tombamento de Brasília? Será que eu posso afirmar que o tombamento de Brasília é também um patrimônio por excelência, equiparando-se à própria vida humana? Claro que não, caro leitor! O tombamento de Brasília ou de qualquer lugar é um nada diante de uma vida humana. A vida humana está a milhões de anos-luz de um tombamento qualquer.
Veja, leitor, um exemplo. Os dois edifícios que compõem o Congresso Nacional estão protegidos pelo tombamento. Se, num domingo chuvoso, raios fortíssimos atingissem os prédios, destruindo-os por completo, qual seria a pessoa que preferiria que os raios tivessem atingido 1 ser humano qualquer que estivesse caminhando pela Esplanada dos Ministérios? Ninguém, não é mesmo? Ninguém desejaria que os raios tivessem matado 1 ser humano. Quanto aos edifícios, paciência! São apenas esqueletos compostos de cimento, areia, ferro, cerâmica, madeira etc. Portanto, eis um exemplo claro e cristalino de que a vida humana não pode ser equiparada a um mero tombamento. A vida humana é uma coisa natural. O tombamento é simplesmente uma coisa convencional, ou seja, inventada pelo homem. Não há como colocá-las no mesmo patamar, no mesmo andar. A vida humana, pois, está no andar superior.
Josuelina, moradora de Brasília, escorregou numa casca de banana. Mais à frente, ela diz:
“Construir muretas dividindo pistas no Eixão reduz o impacto de batidas entre veículos; porém, não vai acabar com os acidentes.”
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Josuelina, amigo leitor, volta a escorregar em outra casca de banana. Ela botou na cabeça uma conclusão que não foi afirmada por ninguém. Josuelina diz que as muretas não vão acabar com os acidentes. Ora, meu amigo, os defensores da construção de muretas ao longo do Eixão nunca afirmaram que os acidentes não irão mais acontecer. Jamais! Essa conclusão falsa é da própria Josuelina.
Acidentes no Eixão e em outros lugares sempre irão ocorrer, com muretas ou não. Os acidentes ocorrem porque os carros estão em movimento. Só existe uma única fórmula no mundo capaz de evitar qualquer acidente automobilístico: basta parar todos os carros. Se todos os carros estiverem parados, sem movimento algum, aí sim. Porém, isso jamais irá acontecer. Carros são feitos para se movimentarem.
As muretas, no Eixão, vão reduzir drasticamente o número de acidentes e, consequentemente, o número de vítimas. Hoje, o que acontece lá é o seguinte: motoristas perdem o controle do carro e avançam a via contrária. Como vêm inúmeros carros em sentido contrário, as batidas são inevitáveis. Vários carros são atingidos e várias pessoas morrem ou ficam feridas ao mesmo tempo. E qual seria a situação se houvesse uma mureta, separando as vias? Ora, caro leitor, a situação seria completamente outra. Quando um motorista qualquer perdesse o controle de seu carro, poderia se chocar contra a mureta, morrendo sozinho. Não atingiria, pois, os veículos que trafegassem pela via contrária. O que é pior? A morte de 1 pessoa, ou a de 5, 10 ou 15?
O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) já dizia:
“No meio do caminho tinha uma pedra,
Tinha uma pedra no meio do caminho.
Tinha uma pedra,
No meio do caminho tinha uma pedra.”
Em sua homenagem, o governo deve colocar muretas no Eixão para que o povo possa saborear os seguintes versos:
No meio do Eixão há uma mureta,
Há uma mureta no meio do Eixão.
Há uma mureta,
No meio do Eixão há uma mureta.
Pessoas que trabalham no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) são contra as muretas. É óbvio! Eles querem reduzir a velocidade no Eixão, como se isso fosse dar resultados maravilhosos. De 80km para 60km. Eu acho, amigo leitor, que o pessoal do IPHAN adora o Rubinho Barrichello. Só pode ser! Esse pessoal quer que os carros de Brasília andem como tartarugas: um passo aqui, outro ali, outro acolá... Ora, milhares de carros passam pelo Eixão todos os dias. Milhares. E o Eixão é uma via larga e comprida que alivia os eixinhos. Reduzir a velocidade para 60km vai gerar um caos. E quem disse que os carros desenvolverão 60km por hora? Ora, hoje a velocidade é de 80km por hora, mas os carros vão a 90, 100 e 120km, só reduzindo quando se aproximam dos chamados “pardais”. E, além do mais, dois carros se chocando frontalmente a uma velocidade de 60km por hora causam também verdadeiras desgraças. Portanto, o pessoal do IPHAN escorrega também em casca de banana.
O homem é uma desgraça! Rapidamente faz um muro para separar as pessoas (Muro de Berlim) e também para dividir povos irmãos (muro existente nas fronteiras de Jerusalém), porém se recusa a fazer um muro para salvar vidas.
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