quarta-feira, 4 de abril de 2012

O CHORO DE UM VELHINHO

Alcibides Sampaio da Silva! Eis o meu nome! Na verdade, não deveria ser Alcibides, mas Alcebíades. O problema é que meu pai era analfabeto de pai e mãe. Quando eu nasci, ele foi ao cartório para fazer o registro do meu nascimento. Em vez de Alcebíades, ele pronunciou Alcibides. O rapaz do cartório, profundamente imbecil, não percebeu o espírito da coisa, e tacou Alcibides. Desgraçado! Eu é que tive que sofrer por isso durante toda a minha vida.
Tenho hoje 85 anos de idade. Sou casado com Esmeraldina de Alencar Rolla. A família Rolla é de tradição na minha cidade, apesar de ser pobre. Pois bem! Estou com 85 anos de idade, e minha esposa, 80. Temos 4 filhos, todos casados. Aqui, em casa, vivem apenas eu e minha esposa.
A velhice é a coisa mais escrota da vida! Dizem por aí que é a terceira idade. Terceira idade, o cacete! Trabalhei toda a minha vida, manhã e tarde, de segunda a sábado. Hoje, recebo do INSS apenas 1 salário mínimo por mês. Ou seja, lasquei-me na vida para ganhar um salário-bosta desse. E ainda dizem por aí que o trabalho enriquece o homem. Que safados! A bem da verdade, o trabalho enriquece o patrão. Trabalhei durante toda a minha vida para o Hamilton de Aguiar, o meu único patrão na vida. Graças ao meu trabalho e ao dos outros empregados, o safado está muito rico. Mora numa mansão que ocupa todo o quarteirão. Seus 3 filhos moram também em mansões. E, além disso, o Hamilton tem imóveis alugados por toda a cidade. E eu, que realmente trabalhei, nada tenho, a não ser a desgraçada da velhice que me acompanha.
É triste ser velho! E, pior ainda, ser velho e pobre! Você, que está sentado na frente do computador, lendo este artigo, já imaginou o que é viver com 1 salário mínimo por mês? 545,00 reais por mês? Um absurdo, não é mesmo? Pois é com esse miserável salário que eu vivo. Vivo não, sobrevivo! Não sou um cristão fervoroso, mas, por causa do salário, faço jejum sem querer. Aqui, em casa, eu e Esmeraldina fazemos o máximo de economia possível. Papel higiênico, por exemplo, ninguém usa mais. José Brandão, meu vizinho, é assinante do jornal Correio Braziliense. Quando ele acaba de ler, passa o jornal para mim. E, com esse jornal, eu e Esmeraldina limpamos a bunda. Já me disseram que limpar a bunda com papel de jornal faz mal. Na verdade, o que faz mal é receber 1 salário mínimo por mês. O Brandão também me dá outras coisas. É um homem abençoado por Deus. Todos os dias, ele traz alguma coisinha para a minha casa. Ontem, por exemplo, ele trouxe laranjas e limões. Só assim eu e Esmeraldina tomamos sucos.
O miserável salário que recebo vai embora nos remédios. Quando a gente fica velho, aparece a família ITE: artrite, bronquite, sinusite, otite, bursite, gastrite, tendinite, labirintite e outras desgraças mais. Eu e Esmeraldina somos portadores das desgraças citadas acima. O meu salário, quase todo, fica na farmácia do Benedito. Não sobra quase nada. Os meus 4 filhos? Ora, eles não ajudam em nada. Tive o maior carinho com a educação deles, e em troca nada recebo. Machado de Assis (1839 – 1908) estava totalmente certo quando escreveu “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”. E também estava certo o poeta Vinícius de Morais quando disse: “Filhos? Melhor não tê-los”.
Apesar de meu salário já ser uma miséria, insuficiente para pagar as minhas despesas, num certo dia, Maria de Fátima, minha vizinha, me convidou para ir à igreja que ela frequentava. Trata-se da Igreja Universal do Reino de Deus. Como eu estava muito triste com a minha vida, fui. Depois me arrependi amargamente. Quando eu entrei na igreja, era aquela animação. Igreja lotada e todo mundo cantando. Minutos depois, 3 pastores começaram a falar no microfone. Enquanto eles berravam, vários obreiros passavam entre as cadeiras, com sacos imensos, pedindo dinheiro. E o negócio era tão avançado que alguns conduziam máquinas para leitura de cartões de crédito. A tecnologia chegou facilmente às igrejas. Maria de Fátima jogou no saco uma nota de 50 reais. O obreiro olhou e ficou feliz, abrindo um grande sorriso e dizendo: “Jesus te ama, irmã”. Ao colocar o imenso saco quase na minha cara, eu lhe disse que não tinha um tostão. Ele fechou a cara, me olhou esquisito e se retirou rapidamente. Ao terminar o culto, Maria de Fátima me apresentou ao pastor chefe. Era um homem muito alto, negro e forte. Ele perguntou acerca de meus problemas. Disse tudo a ele, mas eu já estava meio desconfiado. Ao ouvir os meus lamentos sobre minhas doenças e meus problemas financeiros, ele colocou a mão direita sobre a minha cabeça, dizendo que tudo aquilo era causado por Satanás. Segundo o pastor, Satanás se apoderou de mim e de minha esposa, trazendo as mais variadas desgraças. E ainda afirmou que eu deveria quebrar aquela maldição. Disse-me que Deus queria me ajudar. Perguntei-lhe o que eu deveria fazer para obter a ajuda de Deus. E ele me disse que eu deveria entrar na Corrente dos Desesperados. Pedi a ele para colocar o meu nome na corrente a fim de que os pastores orassem por mim. Foi aí que eu tive uma grande decepção. O pastor alto e negro me pediu 3 mil reais. Aquele dinheiro não seria para ele, e sim para Deus. Ou seja, Deus queria me ajudar, mas, para isso, eu teria que entregar a Ele 3 mil reais. Rapidamente, disse ao pastor que eu não tinha dinheiro, já que ganhava apenas 1 salário mínimo. E ele me disse que eu poderia conseguir o dinheiro fazendo um empréstimo consignado em qualquer agência para idosos. Calei-me e fui embora para nunca mais voltar. A pobre Maria de Fátima, um ano depois, perdeu tudo o que tinha em prol da igreja. Até sua casa foi vendida, e o dinheiro entregue à igreja. Hoje, ela vive de favor na casa de seu único filho. E não quer nem saber de igreja alguma. Diz a todos que está farta de ladrões.
A velhice é triste. Velho não vai para canto algum. Quando sai de casa, é só para ir a farmácias. E vive totalmente isolado do mundo. Ninguém quer sair com os velhos. Nem os filhos. E há filhos que, para se livrarem dos pais velhos, colocam-nos em lares para velhinhos. Isto é, passam o problema para outras pessoas. E ainda dizem que lá os pais estão sendo bem tratados. Na verdade, os filhos é que estão livres do problema. Quando se é jovem, a vida é outra coisa, completamente diferente. Quando eu tinha, por exemplo, 18 anos de idade, não sabia nem que diabo era remédio e farmácia. Juro por Deus. Só vivia me divertindo em festas, feijoadas e aniversários. A minha vida sexual era muito ativa. Havia semanas em que eu transava com 3 garotas diferentes. Hoje, com 85 anos de idade, não tenho força nem para levantar o pau de uma vassoura, imagine o meu.
Não saio de casa. Vivo trancado. Não posso nem passear pela pracinha que fica aqui perto. Os meus rins não servem para mais nada. Urino a cada 15 minutos. Para fazer este artigo, já me levantei várias vezes para ir ao banheiro. Puta que pariu! Já estou com vontade de mijar de novo. Um momento, caro leitor, que já volto...
Estou de volta! Dei uma senhora mijada no banheiro. Uma grande quantidade de urina caiu no chão. Velho é assim mesmo. Quando mija, sai jogando urina por todo canto. O banheiro está fedendo demais, e a minha pobre esposa não tem mais força e saúde para fazer uma limpeza decente. Como a velhice é triste e hedionda!
Você, que está aí, sentado diante do computador, lendo este artigo, talvez rindo da minha desgraça, prepare-se para o futuro. Se não morrer antes, vai também ficar velho. E vai passar pelos mesmos problemas que eu enfrento hoje. Se você acha que, por ter dinheiro, a sua velhice vai ser menos terrível, é aí, meu amigo, que você se engana. Quanto mais dinheiro você tiver, é aí que seus filhos querem que você “parta” logo para que eles possam dividir o patrimônio. Você deve ter tomado conhecimento dos homicídios do casal Villela, em Brasília. Viu aí, como é a coisa? A velhice ataca a todos, pobres e ricos.
Neste momento, enquanto escrevo este artigo, alguém está batendo à porta. Um momento, caro leitor, que vou ver quem é. Um momento...
Sabe quem estava batendo à porta? 2 jovens desgraçados mórmons, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, fundada pelo louco Joseph Smith (1805 – 1844). Eu tenho dó desses jovens. Em vez de aproveitarem a vida, que é passageira, ficam pulando de casa em casa, aborrecendo os outros, para enriquecerem financeiramente o ministério, apoiando-se nas ideias imbecis de um lunático que foi assassinado à bala e a cassetadas dentro de uma cadeia, nos EUA, em 1844.
Vou encerrando este artigo. Prometo brevemente continuar com meus desabafos. Ai, já estou com vontade de mijar de novo. Putos rins! Ai, ai, ai...

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