A INTERFERÊNCIA DE DEUS NOS ACIDENTES DE CARRO‏

Por que ocorrem acidentes de carro? Por que pessoas morrem em acidentes de carro? Por que pessoas ficam paralíticas em acidentes de carro?

Eu, caro leitor, até hoje nunca me envolvi em acidentes de carro. Nem uma leve batida. Sequer um simples arranhão. Dirijo desde 1987. Portanto, sou motorista há 24 anos. E ando de carro bastante. Só para você, leitor, ter uma vaga ideia, quase todos os meses do ano vou a Caldas Novas. Adoro as águas quentes daquela cidade. De Brasília a Caldas, são exatos 290 quilômetros, passando por Luziânia, Vianópolis, São Miguel do Passa Quatro, Cristianópolis e, enfim, Caldas Novas. A estrada é maravilhosa, com um excelente asfalto. E, por ser maravilhosa, é também muito perigosa. Os motoristas, em sua quase totalidade, abusam da velocidade e desrespeitam as normas de segurança do trânsito. Vejo, com frequência, acidentes terríveis, e carros totalmente destruídos estacionados no posto da Polícia Rodoviária Federal situado na entrada de Caldas Novas.

Sábado próximo, dia 26, irei novamente a Caldas. Eu e minha esposa. E já fomos lá mês passado. Sábado passado, dia 19, anteontem, eu e minha esposa fizemos uma gostosa viagem. Fomos a Cezarina, uma pequena cidade que fica a 66 quilômetros de Goiânia, capital de Goiás. De Brasília até lá, são exatos 256 quilômetros. Retornamos ontem, domingo, pela manhã. Almoçamos na estrada, no Restaurante Jerivá. Que passeio maravilhoso! Que viagem gostosa! O asfalto de Brasília a Goiânia é simplesmente fantástico! Estou indo a Cezarina, uma vez por mês, para visitar o meu sobrinho Francisco Marcelo Lins e sua esposa, já que ele está trabalhando temporariamente naquela cidade. E eu também vejo acidentes terríveis naquele trajeto.

Por que, caro leitor, ocorrem acidentes de carro? Por que pessoas morrem em acidentes de carro? Por que pessoas ficam paralíticas em acidentes de carro?

A resposta é simples, muito simples. Mas o que dizem as religiões? Ora, as religiões dizem que os acidentes de carro ocorrem porque Deus assim o quer. Assim, por trás de todas as desgraças que acontecem no asfalto, a mão de Deus está lá, causando as catástrofes. E não são apenas as desgraças que ocorrem no asfalto, não! Segundo as religiões, nada acontece no mundo sem que Deus não permita. Essa estupidez é pregada todos os dias nas igrejas e nos templos religiosos. E os fiéis passam a acreditar realmente, como se isso fosse uma verdade. Eis um pequeno exemplo de por que eu sempre afirmo que a religião só serve para espalhar a ignorância na face da Terra. Trata-se, apenas, de uma tola superstição.

Dou um exemplo bem recente. Semana passada, aconteceu um trágico acidente de carro que vitimou fatalmente 10 pessoas, inclusive inocentes crianças, e causou ferimentos graves em inúmeras outras. Todas as vítimas eram romeiros católicos, fervorosos, que foram à cidade de Aparecida, situada no estado de São Paulo. Tratava-se, pois, de um passeio turístico exclusivamente religioso. Em artigo recente, já comentei sobre esse trágico caso. Pois bem, amigo leitor. Uma pobre mulher sobrevivente, católica fervorosa, chamada Anatália Maria Franca, 56 anos, desabafou ao jornal Correio Braziliense:

“A viagem foi tranquila. Um grupo de senhoras fazia canto religioso à noite e quem viajava no andar inferior contava graças alcançadas com Nossa Senhora de Aparecida. Nunca imaginei que esse tipo de tragédia pudesse ocorrer com quem se sacrifica em nome de uma causa religiosa. Uma amiga que dedicou a vida toda à caridade foi a primeira a ser cuspida para fora quando o ônibus virou. Zilda Arns morreu assim também, né? Eu acho que Deus sabe o que faz. Não havia pessoas más na excursão. Todo mundo amava Nossa Senhora. Tenho certeza de que o Nosso Senhor sabe o que fez. Eu estou viva graças a Ele e ao cinto de segurança, que não desamarrei em nenhum momento.” (Correio Braziliense, 17/11/2011, página 35.)

Quando eu li o depoimento de Anatália, fiquei triste. Essa pobre mulher pensa, coitada, que Deus causou aquela desgraça. Ela disse ao jornal que suas amiguinhas católicas conversavam sobre as “graças” obtidas pela intercessão da “Virgem” Maria. Afirmou também que uma de suas melhores amigas, a mais caridosa de todas, foi a primeira a ser “cuspida” para fora do ônibus. E diz que todas as pessoas que estavam no ônibus amavam Nossa Senhora. E afirma também que não entende por que uma desgraça dessa atinge pessoas que se sacrificam em nome de uma causa religiosa. E termina dizendo: “Tenho certeza de que o Nosso Senhor sabe o que fez”.

Pobre Anatália! Eu, caro leitor, confesso que fiquei com dó dessa mulher. Estou sendo sincero ao afirmar isso. A religião colocou no seu cérebro que Deus está por trás de todas as coisas que ocorrem no mundo. A única solução é que os seres humanos se conformem com as decisões de Deus. Que loucura!

Gostaria imensamente de conhecer pessoalmente a Anatália Maria Franca. Ela mora em Santo Antônio do Descoberto. Não é difícil, pois, encontrá-la. Gostaria de dizer a ela a verdade. Acima de tudo, a verdade! Por ser excessivamente religiosa, ela até poderia ficar com raiva de mim. Mas, mesmo assim, eu não desistiria do meu objetivo. Mostraria a ela que o que está escrito na Bíblia não é a palavra de Deus, coisíssima alguma. E mostrar-lhe-ia algumas armadilhas bíblicas. E o mais importante de tudo: provaria facilmente a ela que Deus algum é responsável pelos acidentes de trânsito que matam milhares de pessoas no Brasil. A minha defesa seria, mais ou menos, assim:

“Senhora Anatália,

Não fique zangada comigo, mas eu tenho que lhe dizer algumas coisas.

O trágico acidente que aconteceu com vocês, católicos fervorosos, na estrada, não foi causado por Deus algum. Deus algum abriu a boca e deu uma cuspida forte, jogando a sua amiga para fora do ônibus, ceifando-lhe a vida. Não, Anatália! Deus algum provocou uma desgraça desse quilate. Deus algum, Anatália, resolveu tirar a vida tragicamente de 10 pessoas excessivamente católicas. Deus algum resolveu matar 3 crianças inocentes, que foram totalmente massacradas pelas ferragens do ônibus. Deus louco algum faria uma desgraça dessa. A sua igreja, Anatália, coloca essa idiotice em sua cabeça apenas para que você se conforme com tudo. Mas a vida não é assim, querida Anatália. Não é assim. O ser humano, Anatália, não deve se apegar a superstições apenas por causa do conformismo. O ser humano pode ser conformista fazendo uso da razão. A razão, Anatália, acima de tudo! Deus algum, Anatália, matou 10 pessoas, deixando feridas inúmeras outras. Deus nada tem a ver com o que aconteceu naquele trecho da Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, no estado de São Paulo. A sua igreja coloca minhocas em seu cérebro. Deus não matou seus 10 amigos, como também não cometeu as barbaridades praticadas pelo povo hebreu que estão registradas na Bíblia. Deus algum jamais matou a humanidade com um dilúvio. Deus algum jamais mandou o povo hebreu matar e roubar os moradores de Canaã. Deus algum jamais mandou o povo hebreu estuprar as jovens dos povos vizinhos. Deus algum jamais fez sacrifício algum envolvendo animais irracionais e até seres humanos. E todas essas loucuras, Anatália, você encontra na Bíblia. Mas Deus algum praticou tantas maldades.

Veja, Anatália, eu estou fazendo a defesa de Deus. Estou no papel de advogado Dele. Vou explicar a você, agora mesmo, quem são os verdadeiros responsáveis por aquele desastre.

Por que, Anatália, o motorista do ônibus perdeu o controle, jogando o veículo contra a mureta, capotando-o sobre vários passageiros? Por quê? Foi a mão de Deus que deu uma porrada no braço do motorista? Não, Anatália, não foi a mão de Deus algum. Deus algum estava ali. Ora, o motorista disse que, antes de perder o controle do veículo, ouviu um barulho esquisito, como se alguma engrenagem do ônibus tivesse se quebrado. Se ele não estiver mentindo, com certeza o defeito em alguma peça do ônibus deve ter sido a causa de o motorista ter perdido o controle do veículo. Isso, só a perícia irá dizer.

E se não foi a peça? Então, foi Deus? Não, Anatália, não foi Deus algum! Há possibilidade da ocorrência de várias causas. Se não foi uma peça do veículo, o problema deve ter sido humano, ou seja, causado pelo motorista. A quase totalidade dos acidentes de carro é causada, Anatália, por imprudência dos motoristas. Dificilmente, um carro se envolve em acidentes por defeito mecânico. É muito difícil! A culpa, quase sempre, é do motorista. No caso, o motorista deve ter cochilado, naquele momento, por questão de segundos. Basta apenas, Anatália, um segundo sequer para que o acidente ocorra. Se o motorista não cochilou, então devia estar em velocidade acima da permitida para aquela via. O excesso de velocidade, Anatália, é a causa maior dos desastres que ocorrem nas estradas. Os motoristas correm como loucos, desenvolvendo 130, 140, 160 e 190 quilômetros por hora. A essa velocidade, Anatália, qualquer carro perde a estabilidade, os pneus não aderem com eficiência ao asfalto. Se o ônibus vinha com a velocidade permitida, então o motorista deve ter desviado bruscamente a direção, o que causou a batida com a mureta. É preciso ver também, Anatália, as condições dos pneus do ônibus. Os motoristas, com miserabilidade, andam com pneus carecas. Principalmente os donos dos ônibus. Esses empresários só pensam em lucro. Não querem gastar dinheiro com pneus. Percebeu, Anatália, que Deus algum causou uma desgraça dessa magnitude? Que Deus algum matou aquelas 10 pessoas porque queria que elas fossem morar no “Céu” ao lado Dele e dos anjinhos?

Os verdadeiros culpados por esse acidente, Anatália, podem ser o motorista ou o dono da empresa. Deus jamais! Você acha, Anatália, que Deus iria matar 10 pessoas inocentes e ferir outras, deixando impunes os verdadeiros culpados? Claro que não, não é mesmo? Pois bem, Anatália! O motorista e o dono da empresa nem se feriram. O ônibus foi fiscalizado pela Polícia Rodoviária Federal antes de seguir viagem. Não tinha licença para fazer a viagem. A Polícia pediu ao motorista que retornasse, que não seguisse viagem. Quando o motorista estava retornando, recebeu ligação de seu patrão para que continuasse a viagem. Ele, obviamente, não queria ter prejuízo financeiro com a desistência. O motorista tinha que fazer, de qualquer jeito, aquela viagem. O motorista deve estar mentindo quando diz que a ordem partiu do dono da empresa de turismo. E a briga agora é essa: quem mandou o motorista seguir viagem, o dono do ônibus ou o dono da empresa de turismo? Viu, Anatália, como Deus algum nada tem a ver com essa desgraça? Não foi Deus, portanto, que mandou o desgraçado do motorista seguir viagem.

Veja, Anatália, acidentes de carro ocorrem todos os dias em todo o Brasil, e no mundo em geral. A ocorrência de acidentes de carro é uma coisa normal. Por que “normal”? Ora, porque o carro é um dos meios de transporte mais perigoso do mundo. Os carros andam pelo asfalto, e as vias são estreitas. Milhões e milhões de carros dividem as vias, numa velocidade gritante. Logo, é normal que eles batam em outros, em postes, em paredes etc. Os motoristas não respeitam as sinalizações de trânsito. Fazem ultrapassagens perigosas e em locais proibidos, desenvolvem velocidade excessiva e não a reduzem em curvas e pontes. E, além do mais, muitos dirigem sob efeito de álcool. Percebeu, Anatália, que Deus algum tem relação alguma com acidentes de carro?

As pessoas inocentes que morrem em acidentes de trânsito não são chamadas por Deus para morarem com ele no “Céu”. Tudo isso é superstição, Anatália! Não há Deus algum por trás dessa loucura. Quando você, Anatália, diz que Deus chamou as vítimas de acidentes de trânsito, está dizendo por outro lado que os verdadeiros causadores dos acidentes não devem ser punidos porque eles simplesmente fizeram a vontade de Deus. Percebeu, Anatália, a loucura? Dessa forma, nem o motorista, nem o dono do ônibus e nem o dono da empresa de turismo devem ser processados e punidos porque eles fizeram a vontade de Deus. Viu, Anatália, a idiotice?”