quarta-feira, 4 de abril de 2012

O "CERTO" E O "ERRADO"

O homem é um ser social. Por quê? Porque vive em sociedade, em agrupamentos humanos. O homem não vive sozinho, afastado de seus semelhantes. Já pensou, caro leitor, um homem fofoqueiro, ou uma mulher fofoqueira, numa ilha deserta, sem ninguém para conversar! O ramo da Ciência que estuda o comportamento do homem dentro de uma sociedade é a Sociologia.
Pois bem! São inúmeras as sociedades humanas na história do homem. Hoje, temos, por exemplo, a sociedade brasileira, a norte-americana, a argentina, a boliviana, a iraquiana, a iraniana, a israelense, a francesa, a italiana, a alemã, a inglesa, a portuguesa, a indígena e assim por diante. Cada país tem a sua sociedade humana.
As sociedades humanas são iguais? A sociedade brasileira é igual à sociedade norte-americana? A sociedade italiana é igual à sociedade indígena? Claro que não! As sociedades humanas são diferentes, distintas, pois. Cada sociedade cria sua própria língua, suas religiões com seus deuses, ritos e dogmas, seu vestuário, sua moradia, sua educação, seu lazer etc.
Veja, amigo leitor, por exemplo, o Brasil e os EUA. Os dois países formam sociedades diferentes. Há inúmeras diferenças entre elas. O que é normal. A alimentação já é diferente. Nem tudo o que se come no Brasil, come-se nos EUA. E vice-versa. No campo do Direito, também as diferenças são inúmeras. No Brasil, por exemplo, não há prisão perpétua, e a pena de morte só existe em caso de guerra, como está previsto na Constituição. Já nos EUA existe a prisão perpétua, e a pena de morte para vários crimes também existe em alguns estados norte-americanos. A língua oficial falada no Brasil é a portuguesa. Nos EUA, a inglesa. E um número quase infinito de diferenças segue.
E as diferenças são mais gritantes ainda, caro leitor, quando se compara a sociedade brasileira com a iraniana. No Brasil, a língua oficial é a portuguesa. No Irã, é a língua persa. O sistema político no Brasil não está preso a religião alguma. Já no Irã a conversa é bem diferente. A política está amarrada à religião islâmica. No Brasil, não existe mais religião oficial. No Irã, o islamismo é a religião oficial. Por ser o Irã um país rigidamente religioso, a situação da mulher iraniana é triste, profundamente caótica. Já a mulher brasileira tem conquistado grandes vitórias nos mais diferentes ramos. No Irã, existe a pena de morte e é largamente aplicada. E as diferenças continuam na alimentação, educação, vestuário etc.
Os exemplos acima mostram, de forma clara e cristalina, que as sociedades humanas não são iguais. Ao contrário, são muito diferentes. Todos os sociólogos, todos, dizem que as sociedades devem ser vistas sob a sua ótica. Ou seja, deve-se analisar cada sociedade separadamente, sob uma visão própria.
Essa orientação dos sociólogos não é percebida por uma pessoa comum do povo por pura ignorância sociológica. Regra geral, uma pessoa comum compara, por exemplo, duas sociedades, menosprezando uma delas, o que é um grande erro. Para esclarecer, dou um exemplo. No Brasil, o vestuário feminino é uma beleza. As mulheres andam quase nuas. Na Arábia Saudita, a situação é completamente diferente. As mulheres andam completamente vestidas. Não é possível nem ver seus olhos. E o que dizem os brasileiros acerca do vestuário feminino utilizado na Arábia Saudita? Ora, eles dizem que aquilo é um absurdo, uma loucura. É aqui, amigo leitor, que está o erro. Os brasileiros erram porque julgam outra sociedade, tendo como ponto de referência os seus costumes. Aí esta o grande erro! Ninguém deve analisar outra sociedade, pensando que os seus costumes estão certos, e que os outros estão errados. Por quê? Porque o “certo” e o “errado” são relativos. A sociedade brasileira diz que é um absurdo as mulheres da Arábia Saudita andarem com o corpo totalmente coberto. Ora, a sociedade da Arábia Saudita diz também que é um absurdo as mulheres brasileiras andarem com o corpo praticamente à mostra. Percebeu, amigo leitor, como o “certo” e o “errado” são relativos? Assim, para a sociedade brasileira, o certo é que as mulheres andem com o corpo à mostra. Já, para a sociedade da Arábia Saudita, o certo é que as mulheres andem com o corpo totalmente coberto. Isto é, cada macaco no seu galho. O que é “normal” para uma determinada sociedade, não o é para outra. E vice-versa.
A sociedade brasileira diz que os chineses são muito parecidos fisicamente por causa dos olhinhos apertados. Só que os chineses dizem também que os brasileiros são muito parecidos entre si. E é verdade! Os chineses veem os ocidentais sob essa mesma ótica. No Brasil, a direção dos veículos está localizada no lado esquerdo do motorista. Em muitos países, ela está localizada no lado direito do motorista. E os brasileiros dizem que é uma idiotice colocar a direção no lado direito do motorista. Só que os ingleses, por exemplo, dizem também que os brasileiros são bobos quando colocam a direção do lado esquerdo do motorista. Cada sociedade pensa que o “certo” é aquilo que ela pratica. Só que esse pensamento é totalmente errado. Muitos brasileiros que vão a Portugal ficam rindo de alguns costumes do povo português. Só que os portugueses quando vêm ao Brasil também ficam rindo de alguns costumes do povo brasileiro. Esse erro ocorre porque eles não percebem que o “certo” e o “errado” são relativos, e não absolutos. Variam conforme as sociedades.
Assim, cada sociedade tem suas particularidades: língua, vestuário, religião, governo, lazer, educação, esporte etc. E essas particularidades são “normais” dentro de um determinado território, dentro de uma determinada sociedade. Porém, em outras sociedades, o “normal” deixa de ser normal. Ou seja, tudo é relativo.
Veja, leitor, a religião. Qual é a religião correta? A religião normal? A religião verdadeira? Ela existe? Pergunte, caro leitor, a um cristão. Qual vai ser a resposta dele? Ora, ele vai dizer que a religião correta e verdadeira é o cristianismo. Agora, pergunte a um adepto do islamismo. Será que ele vai dizer que a religião correta e verdadeira é o cristianismo? Claro que não, não é mesmo? Ele dirá que a religião correta e verdadeira é o islamismo. E se a pergunta for feita a um judeu? Ora, ele responderá que a religião correta e verdadeira é o judaísmo. Pergunte a um hindu. Ele vai dizer que a religião correta e verdadeira é o hinduísmo, com uma multiplicidade de deuses. Percebeu, amigo leitor? Cada um vai dizer que a sua religião é que é a correta e a verdadeira. Pergunte a um cristão qual é o livro verdadeiramente sagrado? Ele responderá que é a Bíblia. Agora pergunte a um judeu. Ele dirá que o livro verdadeiramente sagrado é a Torá. E o que dirá o fiel do Islamismo? Ora, ele dirá que o livro sagrado é o Alcorão. Pergunte a um cristão quem é o iluminado? Ele vai dizer que é Jesus Cristo. Pergunte também a um adepto do islamismo. Ele vai dizer que o iluminado é Maomé. Agora pergunte a um judeu. Ele dirá que o iluminado foi Moisés. Percebeu, caro leitor? Cada pessoa acha verdadeiro e válido apenas aquilo que faz parte de sua cultura. O que pertence à cultura de outros povos não é verdadeiro. E vice-versa.
Bem. Mostrei acima que as sociedades são diferentes. Cada uma tem a sua língua, sua religião, seus deuses, seus ritos e dogmas religiosos, sua alimentação, seu lazer, seu esporte etc. Agora seja sincero, amigo leitor! Você já viu alguma sociedade declarar guerra à outra com o objetivo de forçá-la a mudar a língua falada? Já pensou, num caso hipotético, o Brasil declarar guerra ao Irã para que a língua portuguesa seja falada por lá? Um absurdo, não é mesmo? Pois é! País algum declara guerra a outro para mudar a língua, a alimentação e o lazer. Ou seja, cada sociedade se contenta com sua língua, sua alimentação e seu lazer sem prejudicar outras sociedades que têm padrões diferentes.
Mas, será que ocorre a mesma coisa em relação à religião? Será que uma sociedade se contenta com sua religião, respeitando o direito de crença de outros povos? A resposta é encontrada nos livros de história. E a história das religiões mostra que o fanatismo e a intolerância são características intrínsecas do fenômeno religioso. A religião, caro leitor, é a responsável por quase todas as guerras já existentes na história do homem. Essa afirmação foi feita pelo professor de História da Unb, Antônio José Barbosa, num programa televisivo.
Já que a religião tem forte carga de fanatismo e intolerância, o homem religioso pensa que só a sua religião é a verdadeira. Já a religião dos outros povos é falsa, razão por que devem ser combatidos e eliminados. E esse foi o combustível que sempre moveu as religiões ao longo dos tempos. Assim, o cristianismo, por exemplo, matou mais seres humanos do que o famigerado Adolf Hitler. Também a religião hebraica matou mais gente do que supõe a vã filosofia. E, do mesmo modo, o judaísmo e o islamismo. E assim também as demais religiões.
A Bíblia, caro leitor, é um exemplo de que uma sociedade não suporta que outra possua uma religião diferente, deuses diferentes. É preciso, pois, matar ao fio da espada povos que adoram deuses diversos. A história da civilização hebraica, recheada de lendas e mitos, se encontra na Bíblia. E ali está um mar de sangue, de barbárie e de maldade sem fim. Os líderes religiosos enganam os fiéis que não percebem o que está escrito no próprio livro “sagrado”.
Por força do contato com o Egito, o povo hebreu era politeísta, ou seja, acreditava em vários deuses. Com o passar dos tempos, passou a acreditar num deus único, Jeová. O próprio povo hebreu demorou a aceitar o monoteísmo. É óbvio. Em sua grande parte, era politeísta. E uma parte considerável desse povo, por acreditar em outros deuses, foi torturada e assassinada a golpes de espada, num autêntico mar de sangue. E não só hebreus foram assassinados, mas outros povos que moravam em Canaã. Assassinados apenas porque não acreditavam no mesmo Deus invocado pelo povo hebreu.
A Bíblia, de Gênesis ao Apocalipse, mostra o politeísmo que reinava dentro de uma crença monoteísta. Um exemplo bem claro se encontra na lenda bíblica que está no capítulo 32 de Êxodo. No artigo de ontem, comentei essa lenda. E volto a fazê-lo. Eis, de forma resumida, o que está escrito ali:
Moisés, o líder lendário do povo hebreu, subiu ao Monte Sinai para conversar com Deus. O povo ficou no pé do monte. Havia ali mulheres, crianças, velhos e guerreiros. Como Moisés estava demorando a descer do monte, uma grande parte do povo resolveu fazer um deus para adorar. Eis aqui, caro leitor, o politeísmo que dominava o povo hebreu. Pois bem! O deus, numa forma de bezerro de ouro, foi fabricado. E o povo começou a adorá-lo. Enquanto o povo hebreu adorava outro deus, Deus, o Jeová, ficou irado, com muita raiva. Ele queria que o povo adorasse somente a Ele. Deus, então, pediu que Moisés O deixasse sozinho porque desejava matar aquelas pessoas (versículo 10). Moisés, percebendo que Deus estava puto de raiva, pediu-lhe que tivesse calma, muita calma naquela hora. Deus ficou tranquilo e disse que não iria mais matar aquelas pessoas. Moisés, então, desceu do monte. Quando chegou lá embaixo, vendo o povo adorando outro deus, Moisés convocou alguns homens guerreiros, pedindo que cada um pegasse sua espada a fim de matar alguns de seus conterrâneos (versículo 27). Aí a carnificina humana foi grande. A espada desceu na cabeça das mulheres, das crianças, dos velhinhos e de homens fortes. Foram assassinadas, mais ou menos, 3 mil pessoas (versículo 28). Veja, caro leitor. Essa carnificina, em maldade, é bilhões de vezes pior do que as carnificinas que infestam o mundo de hoje. Moisés e seus comparsas foram os autores da barbaridade. E Deus? O que fez? Bem. No dia seguinte, Moisés disse a Deus que havia matado 3 mil pessoas porque estavam adorando a outro deus. Ao ouvir Moisés, Deus resolveu terminar o terrível serviço. Matou mais pessoas (versículo 35). E, amigo leitor, não se assuste quando escutar dos cristãos que Deus é justo e misericordioso!
Percebe-se, com facilidade, que a sociedade hebraica, o povo da Bíblia, não admitia que ninguém adorasse deuses diferentes de Jeová. O deus verdadeiro era aquele em que ela acreditava. Portanto, morte a todos os outros povos. Eis, portanto, um exemplo de fanatismo e intolerância. E a Bíblia está lotada de casos semelhantes.
Ora, matar 1 pessoa sequer por causa de religião já é uma barbárie, imagine eliminar 3 mil. Ninguém deve ser morto por ter crença diferente. Isso é uma barbárie, uma violência sem precedentes. Cada pessoa deve ser respeitada em sua crença, assim como deve ser respeitada por gostar de carne de porco, de usar brinco na orelha, de se vestir por completo, de fazer uso de uma língua, de andar de carro com a direção do lado direito, de andar de carro com a direção do lado esquerdo, etc.
O povo hebreu, de fato, matava mesmo. Só que, por trás dessas maldades, não havia Deus algum.

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