Olá, leitor, tudo bem?
Sou o Alcibides! Alcibides Sampaio da Silva! Isso mesmo! Sou aquele velhinho com 85 anos de idade nos couros. Pois bem! Volto a escrever agora mesmo por causa do jornal televisivo local DFTV, transmitido pela Rede Globo de Televisão.
Agorinha, agorinha, eu estava almoçando à mesa, assistindo ao DFTV, que começa exatamente às 12h15. O meu almoço, leitor amigo, está muito aquém das calorias necessárias a um bom funcionamento do organismo. Como você já sabe, ganho apenas um salário mínimo por mês. Um amigo meu, advogado, me disse que, de acordo com a Constituição, o salário que eu recebo é suficiente para atender minhas necessidades básicas, tais como: alimentação, moradia, lazer, vestuário, higiene etc. Quando eu ouvi aquilo, fique puto de raiva. Peguei a minha bengala e dei uma cacetada na cabeça daquele amigo safado. E, quando ele foi saindo da minha casa, gritei-lhe: enfia essa porra de Constituição no cu. Nunca mais, amigo leitor, o desgraçado apareceu aqui em casa. Ele só podia pensar que eu era um otário para acreditar num troço desse. Ora, o meu salário mal dá para comprar meus remédios e ainda à prestação. Imagine para manter as outras coisas. Por exemplo, há mais de 5 anos que eu não sei o que é carne. O meu salário não dá para comprar sequer um quilo de carne por mês. Eu só sinto o gosto de carne quando, de vez em quando, mordo a língua. Nesse momento, sinto saudade da carne de boi e da de porco. Pois bem! O meu almoço de hoje continha apenas arroz, feijão e alguns legumes. Mas, na verdade, estou escrevendo não para tratar da minha alimentação, e sim para comentar o que acabei de ver no jornal DFTV, hoje, dia 24.
Ri muito! Há muito tempo que eu não dou risadas. De fato, um velho de 85 anos não tem realmente motivos para rir. E, pior ainda, se recebe um salário mínimo por mês. Pois bem! Apareceu hoje, no DFTV, o INRI CRISTO, aquele velhinho que diz ser Jesus Cristo. Confesso que ele é muito engraçado.
A reportagem jornalística mostrou a chácara onde o INRI mora atualmente. Localiza-se no Gama, no Distrito Federal. O Gama realmente é uma cidade abençoada. Deve orgulhar-se por acomodar o INRI CRISTO, o “Filho” do Homem. O lugar é simplesmente lindo. Vários jardins bem cuidados e belos. E o INRI mora lá com suas 12 discípulas. Como se vê, Jesus mudou muito. Antes só andava com machos (12 discípulos). Hoje, com 12 discípulas. E, diga-se de passagem, algumas delas são jovens e muito bonitas.
A repórter perguntou ao INRI por que ele escolheu o Gama como moradia. Respondeu dizendo que, em 1980, quando estava hospedado no Hotel das Américas, ao abrir a janela do apartamento pela manhã, Deus, seu Pai, disse-lhe:
--- Filho, eis que aqui é a Nova Jerusalém do Apocalipse 21! Aqui será sediado o meu reino!
Ao ouvir a voz de Deus, INRI se ajoelhou num gesto de respeito. E Deus sumiu do apartamento. Até hoje, os seguranças do hotel não sabem como é que Ele entrou lá. Saindo também dali, INRI foi conhecer o Gama. E, chegando ali, uma força espiritual o invadiu por inteiro. Finalmente, havia encontrado o lugar sagrado, onde será instalada a Nova Jerusalém.
Eu, caro leitor, não sei a razão por que a repórter estava com um arzinho de riso diante do INRI. Será que ela não estava acreditando que ele é realmente Jesus, o Cristo? Ora, Jesus também foi tratado assim pelos judeus de sua época. Segundo o Novo Testamento, os judeus chamavam Jesus de lunático, doido, porque se dizia ser o Messias. E a mesma coisa ocorre com o INRI. É tachado também de lunático e doido.
Leitor, eu quero pedir desculpas a você porque, agora mesmo, preciso me levantar para ir ao banheiro. Vou fazer xixi! Os meus rins já foram para o espaço. A cada 10 minutos tenho que urinar. Volto já...
Porra, que mijada gostosa! Agora sim, estou aliviado! Pois bem, caro leitor. Voltando ao INRI, ele não tem nada de doido. Ao contrário, é muito inteligente! Ora, um homem que vive com 12 mulheres é doido? Um homem que mora num lugar paradisíaco sem necessidade de trabalhar é doido? Um homem que come bem, em todos os sentidos, é doido? Um homem cujas discípulas o mantêm com fundos financeiros e outros fundos é doido? Nada disso, não é mesmo, caro leitor?
Na verdade, doido mesmo sou eu. Eu, caro leitor, é que sou doido! Trabalhei feito um jumento durante toda a minha vida. Desde a adolescência. Aposentei-me com 70 anos de idade. O meu salário sempre foi uma miséria. E hoje, aposentado, vivo com apenas um salário mínimo por mês. O INRI nunca levantou sequer uma barra de sabão. Levantou outras coisas, mas barra de sabão, jamais! Ele come carne todos os dias. Os mais diferentes tipos de carne, inclusive a carne... Eu só como carne quando mordo a minha própria língua. Quando o INRI adoece, apesar de ser o “filho” do Homem, é logo encaminhado a um hospital privado. Como se vê, ele próprio não confia muito em rezas e orações. Para se curar, procura, pois, a Ciência, um hospital. Eu, ao contrário, tenho que procurar um hospital público. E quase sempre volto para casa sem atendimento porque não há médicos nos hospitais. Quando o INRI está no hospital privado, em cima de uma cama, suas 12 discípulas ficam acariciando-o, confortando-o. Quando o hospitalizado sou eu, as próprias atendentes de enfermagem ficam distantes de mim, só aparecendo na hora de ministrar os remédios. Percebeu, amigo leitor, como o doido sou eu, e não o INRI?
O INRI é muito esperto e inteligente! Quando sai de sua chácara, vai de carro. Eu, ao contrário, tenho que utilizar os ônibus públicos. Não pago passagem por causa de minha idade, porém isso não é privilégio algum. Os ônibus são verdadeiras latas de sardinha. Não há lugar nem para um mosquito. Quando eu entro neles, vejo sempre alguém sentado na cadeira destinada preferencialmente aos velhos. Num dia desses, quase que eu apanho de um jovem porque pedi que ele saísse da cadeira. E o desgraçado do trocador só fez ri.
O INRI vive com 12 mulheres, suas discípulas. Eu, ao contrário, só tive uma mulher na vida, a minha esposa. Percebeu, amigo leitor, como o doido na verdade sou eu?
O INRI disse à repórter que ama o Gama. Ela até brincou com ele, dizendo o lema: “quem ama mora no Gama”. E o INRI disse também a ela que ama o Gama porque aquela cidade é o berço da Nova Jerusalém. O INRI é muito engraçado!
Confesso, caro leitor, que eu não conheço o Gama. Todavia, depois de ver essa reportagem acerca do INRI, despertou-me em mim uma vontade forte e irresistível de conhecer essa cidade satélite. E vou visitar o INRI. Quero conversar com ele sobre o que aconteceu há 2 mil anos na Palestina. Um amigo meu, o Astrolábio, tem um Fiat 147, todo enferrujado, mas eu acho que ele consegue chegar até o Gama. Vou pedir a ele que me leve lá na próxima semana. E quero conhecer também as 12 discípulas do INRI. Não, amigo leitor, não há interesse sexual algum nisso. Sexo morreu para mim. Com 85 anos de idade, não levanto mais nem o mastro da bandeira, imagine o...
Na reportagem do INRI, ele aparece passeando pelos belos jardins da chácara em cima de uma pequena motocicleta. Ele não para de ri, com tanta felicidade. A repórter, com ar de gozação, rindo, diz que ele progrediu muito porque há 2 mil anos só andava de jumento. E o INRI caiu na gargalhada. Disse à repórter que só andava de jumento porque naquela época não havia motocicletas. O INRI, de fato, é muito engraçado!
No final da reportagem, o INRI fez um pedido ao governo do Distrito Federal. Pediu que fosse colocado asfalto na rua onde fica a chácara. Eu acho que o INRI se cansou de fazer milagres porque bastaria ordenar a si mesmo que o asfalto cobrisse a rua por completo. E o asfalto, na hora, atenderia o seu pedido.
O INRI disse que o Gama é o berço da Nova Jerusalém! Com toda sinceridade, eu espero que essa afirmação não seja verdadeira. Eu não desejo tamanha desgraça a essa cidade do Distrito Federal. O Gama não merece isso! O mundo já não aguenta uma Jerusalém, que fica no Oriente Médio, imagine mais uma aqui no Distrito Federal! É dose pra leão! O divertimento de judeus e árabes é ver a miséria, o ódio, a intolerância e o derramamento de sangue dos outros. Não, amigo leitor, não desejo essas desgraças para a cidade do Gama. Espero que o INRI esteja redondamente enganado! O Gama vai continuar sendo o Gama para sempre! Tranquilo, amoroso, fraterno e receptivo!
Enquanto o INRI passeava de motocicleta pela rua sem asfalto, a repórter mostrou a placa identificadora da chácara. Nela, aparece um desenho da famosa Arca de Noé, um símbolo que representa uma lenda bíblica, a do Dilúvio Universal. Abaixo do desenho da Arca, o seguinte letreiro:
“RECEPÇÃO
(61) 3404 01 34
www.inricristo.org.br
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Vê-se, pois, que o INRI tem até página na internet.
E eu, amigo leitor, nem computador tenho!
Quem é o doido, mesmo?
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