terça-feira, 30 de abril de 2019

TEÓLOGO NORMAN GEISLER E A ONISCIÊNCIA DE JESUS



Eustáquio



                       Desde as eras patriarcais, o homem cria deuses a rodo, projetando neles características humanas (ciúme, inveja, intolerância, preconceito, violência etc.) e não humanas (onisciência, onipotência e onipresença). Como estamos analisando o Deus dos cristãos, criado pelo povo hebreu, essa entidade também absorveu as características desse povo. Além disso, foram-lhe atribuídas a onisciência, a onipresença e a onipotência. Como tudo não passa de ilusão, ao longo da Bíblia, de Gênesis ao Apocalipse, o Deus hebreu perde sua onisciência, sua onipotência e sua onipresença. Neste artigo, mostraremos a perda da onisciência de Jesus.
                        O norte-americano Bart D. Ehrman (teólogo, historiador, escritor, graduado em grego e hebraico, professor de cristianismo, ex-pastor evangélico), em seu livro “Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?”, 2010, editora Ediouro, na página 31, escreve:



                   “(...) a fé na Bíblia como se ela fosse algo historicamente inequívoco e a Palavra inspirada por Deus não se sustentam à luz do que nós, como historiadores, sabemos sobre a Bíblia.”



                  Bart D. Ehrman, como historiador e teólogo sério, sabe muito bem que a Bíblia está repleta de lendas, mitos, alegorias, anacronismos, contradições, discrepâncias e erros. E isso ocorre porque é, como qualquer outro, um livro humano, isto é, escrito por homens sem a inspiração de uma divindade “espiritual”. Neste artigo, mais uma contradição bíblica. Façamos a seguinte pergunta a um cristão qualquer:



                 Nos relatos bíblicos, Jesus é um ser onisciente?



                 Com certeza, o cristão dirá que sim porque essa mensagem foi passada para ele por seus pais desde o berço e hoje é realimentada por padres e pastores evangélicos. E esse mesmo cristão poderá até recorrer aos 4 evangelhos que estão no Novo Testamento a fim de mostrar as passagens que comprovam ser Jesus um ser onisciente, por exemplo, a passagem que está no livro de Mateus, capítulo 10, versículo 30:



                “E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados.”



              Essa passagem comprova que Jesus realmente é um ser onisciente, com um poder tão grande que sabe até quantos cabelos estão na cabeça de qualquer pessoa. De fato, adivinhar quantos cabelos havia na cabeça do nosso querido e inesquecível Ricardo Boechat (1952 – 2019) é uma tarefa fácil: nenhum cabelo. Mas, saber quantos cabelos existem na cabeça da cantora Ivete Sangalo, só mesmo Jesus. E o mesmo cristão poderia até mostrar outras passagens, mas, para evitar um artigo imenso, fiquemos com esse exemplo. E, como se sentiria esse mesmo cristão, ao ler o que está no mesmo livro de Mateus, capítulo 21, versículos 18 e 19?:



              “18 Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve fome:

             19 e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente.”


               Essa passagem bíblica está em contradição com a passagem analisada anteriormente. Naquela, Jesus é onisciente, sabendo até quantos cabelos existem na cabeça de 7 bilhões de pessoas, segundo a crença do cristão. Só que nesta passagem Jesus perde totalmente sua onisciência. Jesus vem caminhando com seus discípulos. Todos estão com muita fome. De longe, Jesus avista uma árvore, uma figueira. Jesus ficou alegre porque iria matar sua fome, comendo figos. Só que, ao se aproximar da árvore, somente aí, é que percebeu que só havia folhas, e não figos. E Jesus ficou tão irado que amaldiçoou a pobre árvore (por favor, não ria!” Como se vê, Jesus perde completamente sua onisciência, daí a contradição bíblica. E se esse mesmo cristão lesse também o que está no livro de João, capítulo 11, versículo 34:


               “E perguntou: Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem e vê.”


               Essa passagem bíblica traz a lenda sobre a ressurreição de Lázaro, um dos grandes amigos de Jesus. Jesus soube que Lázaro havia morrido há 4 dias. O corpo já estava em adiantado estado de putrefação. Quando Jesus chegou ao local, diante de Maria, irmã do falecido Lázaro, perguntou-lhe: “Onde o sepultastes?” Mais uma vez, Jesus perde totalmente sua onisciência. Não tem a menor ideia do lugar onde o corpo de Lázaro foi sepultado, por isso mesmo fez a pergunta. E se esse mesmo cristão lesse o que está no livro de Mateus, capítulo 24, versículo 36:



               “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai.”



                 Jesus afirma aqui que ele próprio não é onisciente porque não sabe o dia e a hora da vinda do Messias. Nem ele, nem os anjinhos celestiais. Fizemos referência, no início do artigo, a um doutor em teologia e historiador sério: Bart D. Ehrman! Ele sabe que a Bíblia não foi inspirada por divindade alguma e que está repleta de lendas, mitos, contradições etc. E mostramos facilmente as contradições. Vejamos, agora, novamente, o teólogo cristão fundamentalista Norman Geisler, que faz sucesso no mundo evangélico aqui, no Brasil, e principalmente nos EUA. Geisler, obviamente, não faz parte do rol dos teólogos sérios porque é um fundamentalista. O objetivo dele é propagar a ilusão cristã. Portador dessa finalidade, ele, diante das contradições bíblicas e erros, deturpa os textos bíblicos de uma forma tão contundente que leva os leitores sérios ao riso, e os leitores ingênuos ao erro. Diante dessas contradições bíblicas apresentadas acima, qual é a posição do Norman Geisler? Como é que ele vai sair desse labirinto? A resposta, caro leitor, você verá agora, mas, antes, pegue um lenço para enxugar suas lágrimas porque você vai rir muito. Em seu livro “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘contradições” da Bíblia”, 1999, 4ª edição, editora Mundo Cristão, na página 382, Geisler explica:



               “SOLUÇÃO: Temos de distinguir o que Jesus sabia como Deus (tudo) daquilo que ele sabia como homem. Como Deus, Jesus era onisciente (conhecedor de todas as coisas), mas como homem era limitado em seu conhecimento.”



                 Você, leitor, na primeira leitura, já começou a rir, não é mesmo? Com certeza, pode até ser que você já esteja pensando que o Norman Geisler está brincando com sua inteligência, não é mesmo? Geisler está dizendo que Jesus é onisciente. Ele diz que é preciso separar o Jesus (homem) do Jesus (Deus). Por favor, caro leitor, pare de rir porque suas risadas estão atrapalhando minha concentração aqui. Pois bem! Geisler está dizendo que, quando Jesus aparece nos evangelhos como HOMEM, então é limitado, perde a onisciência. Já quando aparece como DEUS, aí ele é onisciente. Por favor, leitor, pare de rir. Você está rindo de um doutor em teologia fundamentalista que precisou de 40 anos para escrever o que está nesse livro. Então, fica assim: para Norman Geisler, quando Jesus sabe quantos cabelos uma pessoa tem, aí Jesus aparece como DEUS, é onisciente. Porém, quando Jesus se enganou diante da figueira, então ele aparece como HOMEM, não é onisciente. Quando Jesus não sabia onde o corpo de Lázaro estava sepultado, ele agiu como HOMEM também, não onisciente.
               Por favor, parem o ônibus que eu quero descer!

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