Eustáquio
Desde as eras
patriarcais, o homem cria deuses a rodo, projetando neles características
humanas (ciúme, inveja, intolerância, preconceito, violência etc.) e não
humanas (onisciência, onipotência e onipresença). Como estamos analisando o
Deus dos cristãos, criado pelo povo hebreu, essa entidade também absorveu as
características desse povo. Além disso, foram-lhe atribuídas a onisciência, a
onipresença e a onipotência. Como tudo não passa de ilusão, ao longo da Bíblia,
de Gênesis ao Apocalipse, o Deus hebreu perde sua onisciência, sua onipotência
e sua onipresença. Neste artigo, mostraremos a perda da onisciência de Jesus.
O norte-americano
Bart D. Ehrman (teólogo, historiador, escritor, graduado em grego e hebraico,
professor de cristianismo, ex-pastor evangélico), em seu livro “Quem Jesus
foi? Quem Jesus não foi?”, 2010, editora Ediouro, na página 31,
escreve:
“(...) a fé na Bíblia como se ela fosse algo historicamente inequívoco
e a Palavra inspirada por Deus não se sustentam à luz do que nós, como
historiadores, sabemos sobre a Bíblia.”
Bart D. Ehrman, como
historiador e teólogo sério, sabe muito bem que a Bíblia está repleta de
lendas, mitos, alegorias, anacronismos, contradições, discrepâncias e erros. E
isso ocorre porque é, como qualquer outro, um livro humano, isto é, escrito por
homens sem a inspiração de uma divindade “espiritual”. Neste artigo, mais uma
contradição bíblica. Façamos a seguinte pergunta a um cristão qualquer:
Nos relatos bíblicos, Jesus é um ser
onisciente?
Com certeza, o cristão dirá
que sim porque essa mensagem foi passada para ele por seus pais desde o berço e
hoje é realimentada por padres e pastores evangélicos. E esse mesmo cristão
poderá até recorrer aos 4 evangelhos que estão no Novo Testamento a fim de
mostrar as passagens que comprovam ser Jesus um ser onisciente, por exemplo, a
passagem que está no livro de Mateus, capítulo 10, versículo 30:
“E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados.”
Essa passagem comprova que Jesus
realmente é um ser onisciente, com um poder tão grande que sabe até quantos
cabelos estão na cabeça de qualquer pessoa. De fato, adivinhar quantos cabelos
havia na cabeça do nosso querido e inesquecível Ricardo Boechat (1952 – 2019) é
uma tarefa fácil: nenhum cabelo. Mas, saber quantos cabelos existem na cabeça
da cantora Ivete Sangalo, só mesmo Jesus. E o mesmo cristão poderia até mostrar
outras passagens, mas, para evitar um artigo imenso, fiquemos com esse exemplo.
E, como se sentiria esse mesmo cristão, ao ler o que está no mesmo livro de
Mateus, capítulo 21, versículos 18 e 19?:
“18 Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve fome:
19 e, vendo uma figueira à beira
do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe:
Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente.”
Essa passagem bíblica está em contradição
com a passagem analisada anteriormente. Naquela, Jesus é onisciente, sabendo
até quantos cabelos existem na cabeça de 7 bilhões de pessoas, segundo a crença
do cristão. Só que nesta passagem Jesus perde totalmente sua onisciência. Jesus
vem caminhando com seus discípulos. Todos estão com muita fome. De longe, Jesus
avista uma árvore, uma figueira. Jesus ficou alegre porque iria matar sua fome,
comendo figos. Só que, ao se aproximar da árvore, somente aí, é que percebeu
que só havia folhas, e não figos. E Jesus ficou tão irado que amaldiçoou a
pobre árvore (por favor, não ria!” Como se vê, Jesus perde completamente sua
onisciência, daí a contradição bíblica. E se esse mesmo cristão lesse também o
que está no livro de João, capítulo 11, versículo 34:
“E perguntou: Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem e
vê.”
Essa passagem
bíblica traz a lenda sobre a ressurreição de Lázaro, um dos grandes amigos de
Jesus. Jesus soube que Lázaro havia morrido há 4 dias. O corpo já estava em
adiantado estado de putrefação. Quando Jesus chegou ao local, diante de Maria,
irmã do falecido Lázaro, perguntou-lhe: “Onde o sepultastes?” Mais uma vez,
Jesus perde totalmente sua onisciência. Não tem a menor ideia do lugar onde o
corpo de Lázaro foi sepultado, por isso mesmo fez a pergunta. E se esse mesmo
cristão lesse o que está no livro de Mateus, capítulo 24, versículo 36:
“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus,
nem o Filho, senão o Pai.”
Jesus afirma aqui que ele próprio não é onisciente porque
não sabe o dia e a hora da vinda do Messias. Nem ele, nem os anjinhos
celestiais. Fizemos referência, no início do artigo, a um doutor em teologia e
historiador sério: Bart D. Ehrman! Ele sabe que a Bíblia não foi inspirada por
divindade alguma e que está repleta de lendas, mitos, contradições etc. E
mostramos facilmente as contradições. Vejamos, agora, novamente, o teólogo
cristão fundamentalista Norman Geisler, que faz sucesso no mundo evangélico
aqui, no Brasil, e principalmente nos EUA. Geisler, obviamente, não faz parte
do rol dos teólogos sérios porque é um fundamentalista. O objetivo dele é
propagar a ilusão cristã. Portador dessa finalidade, ele, diante das
contradições bíblicas e erros, deturpa os textos bíblicos de uma forma tão
contundente que leva os leitores sérios ao riso, e os leitores ingênuos ao
erro. Diante dessas contradições bíblicas apresentadas acima, qual é a posição
do Norman Geisler? Como é que ele vai sair desse labirinto? A resposta, caro
leitor, você verá agora, mas, antes, pegue um lenço para enxugar suas lágrimas
porque você vai rir muito. Em seu livro “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e
‘contradições” da Bíblia”, 1999, 4ª edição, editora Mundo Cristão, na
página 382, Geisler explica:
“SOLUÇÃO: Temos de distinguir o que Jesus sabia como Deus (tudo) daquilo
que ele sabia como homem. Como Deus, Jesus era onisciente (conhecedor de todas
as coisas), mas como homem era limitado em seu conhecimento.”
Você, leitor, na
primeira leitura, já começou a rir, não é mesmo? Com certeza, pode até ser que
você já esteja pensando que o Norman Geisler está brincando com sua
inteligência, não é mesmo? Geisler está dizendo que Jesus é onisciente. Ele diz
que é preciso separar o Jesus (homem) do Jesus (Deus). Por favor, caro leitor,
pare de rir porque suas risadas estão atrapalhando minha concentração aqui. Pois
bem! Geisler está dizendo que, quando Jesus aparece nos evangelhos como HOMEM,
então é limitado, perde a onisciência. Já quando aparece como DEUS, aí ele é
onisciente. Por favor, leitor, pare de rir. Você está rindo de um doutor em
teologia fundamentalista que precisou de 40 anos para escrever o que está nesse
livro. Então, fica assim: para Norman Geisler, quando Jesus sabe quantos
cabelos uma pessoa tem, aí Jesus aparece como DEUS, é onisciente. Porém, quando
Jesus se enganou diante da figueira, então ele aparece como HOMEM, não é
onisciente. Quando Jesus não sabia onde o corpo de Lázaro estava sepultado, ele
agiu como HOMEM também, não onisciente.
Por favor, parem o ônibus que eu
quero descer!
Boa tarde, Eustáquio! Muito bom os seus textos. Tá sumido do YOU TUBE!
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