Eustáquio
Bart D. Ehrman é um teólogo e
historiador norte-americano que merece os maiores aplausos. Era um cristão
evangélico fervoroso. Um fundamentalista, como ele mesmo afirma, que acreditava
veementemente ser a Bíblia a palavra de Deus, isenta de lendas, erros,
contradições, discrepâncias etc. Lia a Bíblia quase 24 horas por dia. Chegou a
decorar capítulos inteiros, e não apenas versículos. Graduou-se em grego apenas
para ler o Novo Testamento em sua língua original, e, em hebraico, para ler o
Velho Testamento. Quando foi fazer o doutorado em Teologia no Seminário
Teológico de Princeton, nos EUA, ao entrar no método histórico-crítico da
Bíblia, sua fé cristã desmoronou. Só aí percebeu que seu conceito anterior
acerca da Bíblia era completamente infantil e errado. Ehrman é o teólogo
norte-americano que possui mais livros traduzidos aqui, no Brasil. Atualmente
mora na Carolina do Norte, em Chapell Hill, onde é professor de cristianismo há
mais de 30 anos e diretor do departamento de cristianismo de uma universidade
renomada. Em seu livro “Quem Jesus foi?
Quem Jesus não foi?”, 2010,
editora Ediouro, nas páginas 17 e 18, ele escreve:
“A Bíblia está repleta de
discrepâncias, muitas delas contradições inconciliáveis (...) Os Evangelhos se
contradizem em muitos pontos e incluem material não histórico.”
O que
Bart diz acima é do conhecimento de qualquer teólogo sério, honesto. A Bíblia
não foi inspirada por divindade “espiritual” alguma e está lotada de lendas,
mitos, alegorias, fábulas, anacronismos, contradições, discrepâncias e erros de
toda espécie.
Coisa bem diferente são os teólogos cristãos evangélicos
fundamentalistas que teimam em pregar que a Bíblia é a palavra de Deus, não
contendo, pois, erro ou contradição alguma. Eles agem assim porque o objetivo é
outro, já que estão ligados a inúmeras igrejas. O que eles fazem diante das
lendas, mitos, contradições e erros presentes na Bíblia? Deturpam os textos
bíblicos de uma forma tão gritante que levam leitores sérios ao riso. E trago
aqui, como exemplo, o cristão Norman Geisler, doutor em Teologia, que faz
sucesso no mundo evangélico nos EUA e no Brasil. Em seu livro “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘contradições”
da Bíblia”, 1999, Editora Mundo
Cristão, na página 384, mais uma aberração bíblica. Em outro artigo, já
apresentei outra aberração na mesma página. Trata-se da visita das mulheres ao
túmulo de Jesus, nas lendas presentes nos 4 evangelhos do Novo Testamento. Ali,
um mundo de contradições e discrepâncias porque não se resume a fatos reais,
realmente ocorridos, mas a lendas transmitidas oralmente por um povo mergulhado
na pobreza e analfabetismo reinantes na época.
O autor
do evangelho de João escreveu que Maria Madalena foi sozinha ao túmulo de Jesus.
Quem escreveu o evangelho de Mateus já afirmou coisa diferente, ou seja, que
Maria Madalena foi acompanhada por outra Maria. Já o autor do evangelho de
Marcos deixou registrado que foram 3 mulheres, entre elas, Maria Madalena. E
quem escreveu o evangelho de Lucas, um exército de mulheres, entre as quais,
também Maria Madalena. Como se vê, cada evangelho apresenta inúmeras discrepâncias
e contradições. 1 mulher? 2 mulheres? 3 mulheres, ou um exército de mulheres? Por
que isso? Porque não se trata de um fato real, ocorrido realmente, com
testemunhas presentes. Os evangelistas eram copistas, copiavam textos de outros
e de outras fontes, daí a razão das discrepâncias e contradições. O evangelho
de Marcos foi o primeiro a surgir. Mateus e Lucas copiaram muita coisa de
Marcos, adulterando, omitindo. Além disso, buscaram outras fontes, daí as
diferenças. E o evangelho de João, pior ainda.
Diante dessas discrepâncias bíblicas incontestáveis, o que faz o cristão
fundamentalista Norman Geisler? Ora, mais uma vez, deturpa o sentido dos textos
que estão nos 4 evangelhos. Ele inventa uma coisa muito feia, mais feia do que
briga de foice no escuro. Como é impossível desfazer essas anomalias bíblicas,
Norman Geisler escreve que Maria Madalena pode ter feito 2 visitas ao túmulo de
Jesus entre a madrugada e o pôr do Sol. Pelas barbas do profeta!!! Que absurdo!
Parem o ônibus que eu quero descer! Norman Geisler brinca com a boa-fé daqueles
fiéis que se sentam em bancos de igrejas. É lastimável! Veja o que ele escreve
na página 384 do supracitado livro:
“Outra possibilidade é a que sustenta que
Maria veio sozinha primeiramente, quando ainda estava escuro, antes de o sol
nascer (Jo 20:1), e depois veio de novo, após o nascer do sol, com as outras
mulheres (Mc 16:1).”
Que
absurdo! Como é impossível Norman Geisler negar essas discrepâncias, ele
inventa 2 visitas de Maria Madalena ao túmulo, tentando unir os 4 evangelhos
como se isso fosse possível sem levar os leitores sérios ao riso. E a emenda
dele saiu pior que o soneto. Veja o triste quadro da lenda: Maria Madalena saiu
de sua casa, sozinha, em um domingo, de madrugada, sendo ainda escuro, em
direção ao túmulo onde estava o corpo morto de Jesus desde sexta-feira. O que
essa mulher maluca foi fazer ali? João não diz, mas Lucas afirma que muitas
mulheres levaram aromas para embalsamar o corpo morto e sepultado de Jesus. Já
aqui uma loucura da lenda. Nem naquele tempo, nem na época atual, alguém sai de
sua casa para jogar perfumes em cadáver em estado de putrefação já sepultado há
2 ou 3 dias. É fácil ver a ingenuidade da lenda. O embalsamamento de cadáver
era feito antes de o corpo ser sepultado. Quando essa maluca Maria Madalena
saiu de sua casa, ela, na lenda, esperava encontrar o cadáver de Jesus já em
avançado estado de putrefação. Que absurdo, não é mesmo? Segundo a criatividade
maluca do Norman Geisler, Maria Madalena saiu de sua casa e caminhou até o
túmulo. Chegando ali, deu uma paradinha, pensou bem, e resolveu voltar à sua
casa para pegar mais um grupo de mulheres completamente sem juízo. E, quando
chegaram novamente ao túmulo, já era cedo, com o Sol despontando na linha do
horizonte. É assim que o Norman Geisler explica essa maluca possibilidade de 2
visitas. Deturpa os evangelhos e leva leitores sérios ao riso. É o que dá
quando alguém tenta unir os evangelhos que são diferentes e contraditórios. E o
erro infantil do Norman Geisler é tão grande que, na 2ª visita inventada por
ele, Maria Madalena voltou ao túmulo acompanhada pelas outras 2 mulheres
citadas em Marcos, após o nascer do Sol. Ora, o evangelho de Lucas diz que
Maria Madalena e várias mulheres saíram na alta madrugada, e não após o nascer
do Sol, como insinua Geisler.
Resumindo: ninguém pode tentar reunir evangelhos. Se o fizer, vai parir
um monstro. E foi o que Norman Geisler fez. Cada evangelho deve ser visto
isoladamente, com seus erros, contradições e discrepâncias.
Na verdade, Jesus algum ressuscitou!
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