Eustáquio
Prezado
Ronin,
Com muita alegria e satisfação,
recebi ontem, domingo, dia 28 de abril do corrente ano (2019), seu comentário com
o seguinte teor:
“Valeu Eustáquio, ficaria sim muito honrado em receber um texto de uma
pessoa intelectual como você. Mas já de ante mão vou te dizer que sou
agnóstico. Já fui membro de igreja, já fui pastor de igreja, e conheço a
Bíblia. A maioria dos argumentos ateus eu conheço também. Pra ser sincero mesmo
contigo, eu não acredito, eu estou em dúvida. O que eu te mostrei em meus
textos foi que eu precisaria das ESCRITURAS ORIGINAIS pra saber o que realmente
está escrito. E essas escrituras não existem mais. Você citou um teólogo em um
de seus textos, onde ele teve acesso a uma dessas cópias antigas, e ele viu que
numa dessas cópias havia um texto incompleto em relação ao mesmo texto da cópia
posterior. Entendes? Você fala que Deus é violente, que concordava com
estupros, roubos, etc. É ai que mora o problema, onde não posso concordar com
isso, pois não sei se isso REALMENTE está escrito nos ORIGINAIS. Valeu mesmo
pela consideração Eustáquio, você é um cara humilde. Um abraço!”
Pegarei, de início, sua revelação que considero a mais importante:
“Já fui membro de igreja, já fui
pastor de igreja, e conheço a Bíblia”
Que maravilha, Ronin! Fico muito feliz por saber
que você é uma pessoa privilegiada porque foi membro de uma igreja evangélica,
alcançando o cargo de pastor, porém, conseguiu sair dessa ilusão religiosa. E
hoje você declara ser um agnóstico. Além disso, você diz que conhece a Bíblia.
Eis outra coisa rara, Ronin. São poucas as pessoas que podem afirmar que
conhecem a Bíblia. Na verdade, nada sabem acerca do livro que é considerado “sagrado”
para os cristãos. Você foi pastor e sabe muito bem que estou dizendo a verdade.
Aqueles fiéis que se sentam em bancos de igrejas apenas conduzem a Bíblia sob
as axilas, nem sequer a leem, muito menos a estudam. Nas igrejas, os líderes
apenas pedem aos fiéis que abram a Bíblia, no livro tal, capítulo X, e passam a
ler simplesmente, e, sobre aquilo, vem o sermão do dia. Injetam na cabeça dos
fiéis que a Bíblia é a palavra de Deus, e os fiéis passam mesmo a acreditar nessa
ingenuidade. Eis a realidade que pode ser comprovada por você mesmo, Ronin,
talvez em sua casa, em sua rua, em seu trabalho. E é a mesma realidade que eu,
Eustáquio, vejo nas famílias de meus irmãos, nas famílias vizinhas à minha. Meus
7 irmãos são cristãos católicos. Apenas 2 mulheres realmente frequentam missas
aos domingos. Nenhum deles lê a Bíblia, muito menos a conhecem. Eu sou a única
pessoa ateia da família, e justamente o ateu é que mostrou interesse em ler a
Bíblia, em estudá-la. Pegarei agora sua afirmação final que engloba por
completo seu comentário:
“Você fala que Deus é violente, que concordava com estupros,
roubos, etc. É ai que mora o problema, onde não posso concordar com isso, pois
não sei se isso REALMENTE está escrito nos ORIGINAIS.”
Ronin, eu escrevi a você afirmando que o Deus da Bíblia é uma entidade
imaginária que carrega consigo as características do povo hebreu há 6 mil anos.
Por isso mesmo, o Deus bíblico é uma entidade tribal, guerreira, intolerante,
vingativa, preconceituosa, incentivadora de crimes etc. Por que o Deus bíblico
é assim mesmo? Simplesmente porque é o homem que cria deuses conforme sua
cultura. O povo hebreu, que viveu há 6 mil anos ao lado de outros povos, num
mundo completamente diferente do nosso atual, era um povo nômade, guerreiro,
violento, intolerante etc. Ao criar seu Deus Javé, entre outros deuses,
transferiu para esse Deus suas características. Portanto, é fácil provar que é
o homem que cria deuses em conformidade com sua cultura. E foi assim com os
hebreus, os egípcios, os fenícios, os hititas, os gregos, os maias, os astecas,
os hindus, os indígenas etc. Todos criaram deuses diferentes em consonância com
as características próprias de cada povo. Não existe um deus universal, caro
Ronin. O Deus da Bíblia é o deus dos hebreus. Exclusivo dos hebreus. Em todo o
Velho Testamento, que não é velho para os judeus, Javé é o deus exclusivo dos
hebreus, e de ninguém mais. É óbvio porque esse Deus foi criado por esse povo. Os
egípcios da época também criaram deuses muito diferentes do Javé. Da mesma
forma, os deuses egípcios eram exclusivos do povo egípcio. O Deus Javé, caro
Ronin, era tão exclusivo do povo hebreu que não queria que seu povo se
misturasse a outros. Um Deus extremamente preconceituoso. Preconceituoso porque
o povo que o criou era preconceituoso. Foram alguns cristãos, no Novo
Testamento, que deturparam o próprio Deus hebreu, tornando-o um Deus universal,
para todos. Que absurdo, caro Ronin!
Muito bem, Ronin! Afirmei que o Deus bíblico, nos textos bíblicos, é
violento e um grande incentivador de estupros, homicídios, genocídios etc. E
você diz que não pode concordar comigo porque precisaria confirmar as maldades
do Deus Javé nos textos originais bíblicos. Segundo seu ponto de vista, já que
não existem os textos bíblicos originais, apenas cópias e mais cópias, então
você, Ronin, não pode confirmar o que vê na Bíblia hoje. Já que você diz ser um
conhecedor da Bíblia, então vê claramente as maldades comandadas pelo Deus
hebreu, só que, para confirmá-las, você necessitaria dos textos originais, que
não existem. Um fato importantíssimo: ainda bem que você vê as maldades do Deus
hebreu nos textos bíblicos atuais. Isso é fato, é real. Você necessitaria
apenas confirmar essas maldades nos textos originais, que não existem. Ora,
caro Ronin! Se você sente a necessidade de ver os textos originais bíblicos,
que não existem, para confirmar alguma passagem bíblica, então você não deveria
ler a Bíblia de Gênesis ao Apocalipse. Não existem textos originais hoje, nem
do Velho e nem do Novo Testamento. Além do mais, não houve grandes rupturas nos
textos que estão na Bíblia hoje. A essência é aquela mesma que está presente na
Bíblia atualmente. Os textos bíblicos estão repletos de lendas, mitos,
alegorias, fábulas, anacronismos, contradições, discrepâncias e erros porque
tudo isso fazia parte da técnica narrativa da época. No fundo, os escritores
hebreus não estavam interessados em narrar sua história propriamente dita sob a
direção do Deus hebreu. É por isso que a Bíblia é uma mistura de fatos reais
com lendas e mitos. E o Deus Javé só entra nas narrações das lendas e mitos.
Não está na história propriamente dita dos hebreus. Para evitar um artigo muito
extenso, mostro-lhe, caro Ronin, um exemplo. Veja a lenda acerca da escravidão
do povo hebreu no Egito, que está em Êxodo. Aquilo não é história propriamente
dita. Nunca o povo hebreu em geral foi escravo dos egípcios durante 430 anos. E
quando entra a figura do Deus Javé aí é que os relatos são ingênuos,
profundamente infantis. Ora, é dito que, somente depois de 430 anos de
sofrimento do povo hebreu no Egito, é que o Deus Javé se lembrou. Deus havia
esquecido seu próprio povo. Alguém poderia dizer: uma entidade inteligente e
forte não permitiria que seu povo ficasse escravo sequer durante 1 dia, imagine
durante quase 5 séculos. E, na lenda bíblica, o que Deus fez? Deus procurou um
homem hebreu chamado Moisés para ser o intermediário junto ao Faraó egípcio
para deixar o povo hebreu sair da escravidão. Alguém inteligente poderia
perguntar: por que Deus procurou um homem, por que não destruiu o Faraó e seus
auxiliares apenas com um toque de dedo, por que deixou o povo dele na
escravidão durante quase 5 séculos? A resposta é simples: Deus algum existe,
deus algum livra alguém de alguma coisa. Na lenda do Êxodo, Deus procurou
Moisés, um homem, porque somente o homem é capaz de fazer alguma coisa. Deus
algum faz alguma coisa sem a obra humana. É a mesma coisa que ocorre quando um
terrorista islâmico comete um atentado com bombas, matando várias pessoas
inocentes. Antes de detonar a bomba, ele deixa gravado que está cumprindo ordem
de seu deus, o Alá. Na verdade, deus algum existe. Se o terrorista não tivesse
acionado a bomba, jamais o deus Alá teria agido. É fácil ver que os deuses
sempre recorrem ao homem porque não existem, nada podem fazer sozinhos contra
ou a favor de alguém.
Um abraço!
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