segunda-feira, 15 de abril de 2019

MARIA MADALENA É INTERROGADA SOBRE A RESSURREIÇÃO DE JESUS


Eustáquio



                 O juiz de Direito da 9ª Vara Criminal da Circunscrição Judiciária de Sobral, dr. Kennedy Martins, entra na sala de audiências que se encontra lotada, em razão da oitiva da Srª Maria Madalena, uma das discípulas de Jesus. Após os cumprimentos, o juiz Kennedy, dirigindo-se à Maria Madalena, diz:

                  --- Senhora Maria Madalena, logo de início, quero deixar bem claro que a Senhora pode se manter em silêncio, não havendo obrigação de responder às minhas perguntas, sem prejuízo algum para sua defesa. Por outro lado, esse é o momento ideal para que a Senhora se defenda a fim de esclarecer com precisão os fatos. A Senhora vai falar ou prefere ficar calada?


                  --- Vou falar, Senhor juiz! Até porque quem não deve não teme!


                  --- Muito bem, então, Senhora Maria Madalena. Senhora Maria Madalena, esse processo aqui é sobre a ressurreição de Jesus. Os 4 evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João) apresentam relatos contraditórios e divergentes sobre a ressurreição de Jesus, inclusive em relação a Senhora. Vou tratar aqui, especificamente, sobre aquilo que diz respeito a Senhora. Entendida?


             --- Entendida, Senhor juiz!



            --- Muito bem! Diga-me uma coisa: numa madrugada de domingo, com profunda escuridão, a Senhora saiu de sua casa para ir ao túmulo de Jesus, cujo corpo estava ali sepultado desde a sexta-feira?



             --- Senhor juiz, eu jamais fiz isso! Isso é invenção desses quatro evangelistas malucos. Tanto é invenção que os relatos deles são diferentes e contraditórios entre si. É fácil ver, Senhor juiz, que eles estão inventando.


              --- Sim, Senhora Maria Madalena, mas eu estou aqui com a finalidade de chegar à verdade dos fatos. A mim interessa somente a verdade, e nada mais. Então a Senhora não saiu de sua casa com destino ao túmulo de Jesus, naquela madrugada de domingo?



               --- Não, Senhor juiz!



               --- Veja, Senhora Maria Madalena. O evangelista Mateus diz que a Senhora foi ao túmulo juntamente com outra mulher chamada de Maria. Isso tem fundamento?


               --- Claro que não, Senhor juiz! Eu nunca saí de minha casa, principalmente de madrugada, na escuridão, para visitar um corpo sepultado há dois dias, já em estado de putrefação. Só mesmo se eu estivesse louca!


               --- Então, a Senhora não foi ao sepulcro de Jesus acompanhada pela outra Maria?



                --- Jamais, Senhor juiz! Os 4 evangelistas mentem muito. Veja, Senhor juiz: Mateus diz que eu fui com outra mulher de nome Maria. Já o evangelista Marcos afirma que eu fui com a Maria, mãe de Tiago, e acrescentou outra mulher, a Salomé. E pior ainda o evangelista Lucas que coloca várias mulheres indo ao túmulo. E o evangelista João diz que eu fui sozinha. É fácil ver, Senhor juiz, que eles estão mentindo, não dizem a verdade.


                 --- Senhora Maria Madalena, o evangelista Marcos diz que a Senhora, a Maria, mãe de Tiago, e a Senhora Salomé foram, naquela madrugada, ao túmulo de Jesus para embalsamar o corpo já em estado de decomposição, jogando sobre ele perfumes que as Senhoras haviam comprado. Isso é verdade?


                 --- Que absurdo, Senhor juiz! Essa mentira do evangelista Marcos é gritante e repugnante! Senhor juiz, sou uma mulher mentalmente sadia, não sou doida, maluca. Eu seria louca se tivesse feito uma insanidade dessa. Imagine, eu, Maria Madalena comprar perfumes para jogar num corpo humano em putrefação! O corpo morto de Jesus já estava lá há dois dias. Qual é o ser humano que sai de sua casa para fazer uma loucura desse quilate, Senhor juiz? Perfume, Senhor juiz, a gente coloca quando um cadáver ainda está numa rede ou num caixão, quando ainda não foi sepultado. Da mesma forma, o processo de embalsamamento, não é mesmo?


             ... Entendo, Senhora Maria Madalena, mas, na minha posição de juiz, tenho que fazer as perguntas formuladas pelas partes envolvidas no processo. Certo?



             --- Certo, Senhor juiz! Mas, repito: Jesus jamais ressuscitou, e eu jamais iria sair de minha casa, sozinha ou não, de madrugada, para jogar perfume em corpo humano em avançado estado de putrefação. Isso é uma loucura, Senhor juiz! Eu tenho medo até de barata, Senhor juiz, imagine ficar diante de um cadáver em estado de decomposição há mais de dois dias, e ainda numa madrugada! É muita loucura desse evangelista Marcos!


              --- Senhora Maria Madalena, então a Senhora afirma que Jesus não ressuscitou?



              --- Não ressuscitou! Senhor juiz, essa fantasia da ressurreição era comum no meu tempo, há 2 mil anos. O Senhor acha que a ressurreição foi coisa nova, que surgiu com os cristãos? Não, Senhor juiz! No meu tempo, os cristãos liam as escrituras hebraicas e eram escritos separados. Essas escrituras hoje estão no Velho Testamento, que não é velho para os judeus. Pois bem, Senhor juiz! No Velho Testamento, o Senhor encontra casos lendários de ressurreição de mortos. Lendo essas lendas, os cristãos aplicaram também essa ressurreição em Jesus. É simples entender o sistema, Senhor juiz! Sobre a lenda ressurreição de mortos, o Senhor deveria ouvir os judeus saduceus.

                 --- Eles ainda serão ouvidos, Senhora Maria Madalena.


                 --- Pois é, Senhor juiz! Na minha época, os saduceus já diziam que não havia ressurreição de mortos, nem anjinhos. Só que os cristãos eram muito ignorantes, não aceitavam a verdade. O pior cego, Senhor juiz, é aquele que não quer ver!


                 --- Muito bem, Senhora Maria Madalena! Ainda preciso que a Senhora me esclareça outros relatos sobre ressurreição. Marcarei outra data para ouvi-la novamente. Passe na secretaria desta Vara e atualize seu endereço para futuras intimações. E obrigado pela contribuição.


                  --- Muito obrigado, Senhor juiz!

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