Eustáquio
O
irlandês John Dominic Crossan (teólogo, arqueólogo bíblico, especialista em
Novo Testamento), em seu livro “Quem Matou Jesus?”, 1955, editora Imago, na página 30, escreve:
“Mateus usou Marcos
como uma das duas maiores fontes na composição de seu evangelho. (...) Se você
ler Mateus e Marcos com colunas paralelas como os estudiosos fazem, pode ver
facilmente como Mateus omite, muda e acrescenta a sua fonte de Marcos.”
A afirmação acima de
Crossan é do conhecimento de qualquer estudioso sério da Bíblia. Ele diz que o
evangelho de Marcos, o primeiro a aparecer, serviu como fonte para quem
escreveu o evangelho de Mateus. Para ser mais simples, quem escreveu o evangelho
de Mateus estava olhando as cópias de Marcos. E diz também Crossan que, quem
escreveu o evangelho de Mateus, omitiu, mudou e acrescentou em seu texto
trechos do evangelho de Marcos. Isso explica as contradições, as discrepâncias
e os erros que estão nos 4 evangelhos do Novo Testamento.
Na mesma linha de Crossan, o
norte-americano Bart D. Ehrman (teólogo, historiador, graduado em grego e
hebraico, especialista em Novo Testamento, professor de cristianismo), em seu
livro “Quem
Jesus foi? Quem Jesus não foi?”, 2010, editora Ediouro, nas páginas 17 e 18,
escreve:
“A Bíblia está repleta
de discrepâncias, muitas delas contradições inconciliáveis (...) Os Evangelhos
se contradizem em muitos pontos e incluem material não histórico.”
Bart Ehrman, como é um
estudioso sério da Bíblia, afirma também que os 4 evangelhos que estão no Novo
Testamento são repletos de contradições, discrepâncias, lendas e erros.
Apresentei dois doutores em
teologia sérios, que estudam a Bíblia com seriedade, com responsabilidade.
Coisa bem diferente são os teólogos cristãos evangélicos e protestantes. Esses
são fundamentalistas porque não fazem um estudo sério acerca da Bíblia. Eles
veem a Bíblia como a palavra de Deus, sem contradições, discrepâncias, erros
etc. Em seus livros, deturpam os textos bíblicos de maneira tão infantil que
levam leitores sérios ao riso, e leitores ingênuos ao erro. Trago, mais uma
vez, um teólogo representante dessa classe, muito famoso no mundo evangélico
nos EUA e no Brasil: Norman Geisler. Em seu livro “Manual Popular de
Dúvidas, Enigmas e ‘contradições” da Bíblia”, 1999, 4ª edição, editora Mundo Cristão, Geisler
faz, inutilmente, um esforço gigantesco para comunicar que a Bíblia não
apresenta erros e contradições porque foi inspirada por Deus. Ao tentar essa
tarefa impossível, Geisler deturpa os textos bíblicos, criando verdadeiros
monstros que levam pessoas sérias ao riso. E, neste artigo, apresentarei mais
um exemplo. Nas páginas 363 e 364, ele escreve:
“PROBLEMA: Mateus coloca a maldição da
figueira depois da purificação do templo. Entretanto, Marcos a coloca antes
desse evento. Mas essas duas colocações não podem ser ambas verdadeiras. Será
que um dos evangelistas cometeu um erro?”
Norman Geisler analisa
em seu livro mais uma discrepância bíblica. E ele, inutilmente, tenta dizer que
não se trata de um erro. Em Mateus, na lenda da árvore figueira, Jesus
amaldiçoou uma árvore somente depois de ter purificado o templo, expulsando
dali os comerciantes. Ou seja, em Mateus, primeiramente, Jesus purificou o
templo em Jerusalém. Expulsou os comerciantes. Depois, saiu de Jerusalém e foi
para Betânia, onde dormiu. Cedo de manhã, ao voltar para Jerusalém, no meio do
caminho, amaldiçoou uma árvore, a figueira. Ou seja, a maldição de Jesus a uma
árvore ocorreu depois de ele ter purificado o templo. Certinho, caro leitor? O
problema é que o evangelho de Marcos diz coisa diferente de Mateus, daí a
discrepância, o que é do conhecimento de qualquer teólogo que estuda a Bíblia
com seriedade. É impossível dizer que não há discrepância só porque alguém acha
que a Bíblia é a palavra de Deus. Em Marcos, primeiramente, Jesus amaldiçoa a
árvore figueira. Depois disso, quando chega a Jerusalém é que purifica o
templo, expulsando os comerciantes.
Antes de apresentar as
explicações de Norman Geisler, que levarão você, leitor, ao riso, mostro mais
uma fantasia dele. Os teólogos evangélicos vivem tanto no mundo da lua que o
Norman Geisler vê uma lenda bíblica e diz que não é lenda, mas um fato real. E aqui
está uma lenda em que Jesus amaldiçoa uma árvore. Essa maldição a uma árvore
foi apenas uma invenção ingênua para mostrar ao povo ignorante da época que
Jesus era poderoso. Ninguém pode levar essa lenda a sério, mas o Norman Geisler
assim o faz. Quando Geisler diz que isso realmente ocorreu, ele, sem saber,
está destruindo o próprio Jesus. Imagine, um ser humano ficar com raiva de uma
árvore a ponto de amaldiçoá-la. Que maluquice, não é mesmo, leitor? Além disso,
essa lenda boba derruba a onisciência de Jesus. Ele pensava que havia frutos na
árvore porque estava com muita fome. Quando chegou perto dela, só aí é que
percebeu que não havia frutos. E, com raiva, Jesus a amaldiçoou. Sem querer,
pois, Geisler insinua que Jesus era maluco e não onisciente. Veja, agora,
leitor, as explicações de Norman Geisler, nas páginas citadas acima:
“SOLUÇÃO: Na verdade Jesus amaldiçoou a
figueira quando ia para o templo, como Marcos disse, mas isso não significa que
o relato de Mateus esteja errado. Cristo foi ao templo duas vezes, e ele
amaldiçoou a figueira na segunda ida.”
Você, leitor, está vendo
o início das explicações de Norman Geisler. Ele está afirmando que
primeiramente Jesus amaldiçoou a figueira e, depois, purificou o templo, de
acordo com o evangelho de Marcos. E ele diz que esse relato não quer dizer que
o relato de Mateus esteja errado. Que maluquice! Ora, o evangelho de Mateus diz
o contrário. E ainda o Geisler tem a coragem de dizer que um não anula o outro.
E continua o Geisler na página 364:
“Marcos 11:11 diz que Cristo entrou no templo
no dia da sua entrada triunfal. O evangelista não mencionou que Jesus tenha
feito alguma proclamação contra qualquer coisa errada, ao entrar no templo. O
versículo 12 usa a expressão ‘No dia seguinte” referindo-se à jornada até o
templo, quando passaram pela figueira, no segundo dia. Foi nesse momento que
expulsou os que compravam e vendiam no templo.”
Eis a segunda parte das
explicações de Norman Geisler. Ele faz referência a Marcos 11: 11 e 12:
“11 E, quando entrou em Jerusalém, no templo, tendo
observado tudo, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze.
12 No dia seguinte, quando saíram de Betânia,
teve fome.”
É fácil perceber que
Norman Geisler escreve, escreve, escreve e não sai do lugar. Não consegue,
claro, sair da discrepância bíblica. Ele mesmo diz que Jesus, em Marcos, entrou
no templo duas vezes. Na primeira entrada de Jesus, não expulsou ninguém, não purificou
o templo. Saiu de Jerusalém e foi para Betânia, onde dormiu. No dia seguinte,
Jesus, sai de Betânia, retornando a Jerusalém. No meio do caminho, amaldiçoa a
árvore. E, após, chegando a Jerusalém, entra no tempo e o purifica, expulsando
os comerciantes. Percebeu, leitor, como o Norman Geisler escreve, escreve,
escreve e não sai do lugar? Ele mesmo está afirmando que Jesus, após amaldiçoar
uma árvore, expulsou os comerciantes do templo na segunda visita. Só que Mateus
diz coisa diferente: primeiro Jesus purificou o templo, só depois é que
amaldiçoou a árvore. Para ficar mais claro ainda: Em Mateus, Jesus
primeiramente purifica o templo. Depois sai de Jerusalém e vai para Betânia. No
dia seguinte, ao retornar para Jerusalém, no meio do caminho, amaldiçoa uma
árvore. Já em Marcos, Jesus primeiramente amaldiçoa uma árvore no meio do
caminho. Ao chegar a Jerusalém, entra no templo, e o purifica. Norman Geisler,
portanto, escreve, escreve, escreve e morre na praia. E Geisler termina suas
explicações assim:
“Mateus, entretanto, refere-se às duas idas
de Cristo ao templo como se fossem só evento, e relata em seguida a maldição
sobre a figueira. (...) O relato de Marcos, portanto, nos fornece mais detalhes
desses eventos, revelando que realmente foram duas idas ao templo.”
Mais uma vez, Norman
Geisler escreve, escreve, escreve e morre na praia, ou seja, não sai do lugar. Ele,
para confundir o leitor bobo, mostra as duas idas de Jesus ao templo que está
em Marcos. Essas duas idas de Jesus nada alteram. O próprio Norman Geisler
escreve que Jesus expulsou os comerciantes do templo em Jerusalém quando
retornava de Betânia, tendo, no meio do caminho, amaldiçoado a árvore. Ou seja:
Primeiramente: a maldição da árvore
(no caminho)
Depois: Purificação do templo (em Jerusalém)
Em Mateus, a diferença:
Primeiramente: a purificação do templo
Depois: a maldição da árvore
Resumindo: em Mateus,
quando Jesus purifica o templo, vai para Betânia. E ainda não amaldiçoou a
árvore. Em Marcos, Jesus só purifica o templo quando está retornando de
Betânia, após ter amaldiçoado a árvore.
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