segunda-feira, 22 de abril de 2019

ONISCIÊNCIA DE DEUS E LIVRE-ARBÍTRIO




Eustáquio

                   

                        Já que o tema tratado aqui é de caráter religioso, nunca é cansativo repetir a afirmação do lunático cristão protestante Martinho Lutero (1483 – 1546):


                       A razão é a cortesã do Diabo. Deveria ser destruída em todos os cristãos. Ela é o maior inimigo da fé.”


                              Como se vê, os cristãos não fazem uso da razão, da racionalidade. No dizer de Lutero, ela é o maior inimigo da fé cristã. Isso explica os absurdos cometidos por líderes religiosos e seus seguidores. No vídeo “A onisciência de deus X livre-arbítrio” publicado pelo Léo, ontem, domingo, dia 21 de abril do corrente ano (2019), em seu canal “LeoAdventures”, com duração de 10 minutos e 19 segundos, surge mais uma prova de que a crença religiosa é equiparada a um estado de demência, como bem afirmou, há quase um século, Sigmund Freud (1856 – 1939).
                        Para quem tem juízo, o vídeo é extremamente cômico, engraçado. Ri tanto que, por várias vezes, levei minha mão direita aos meus dois olhos esverdeados para que as lágrimas não escorressem ao longo de meu rosto. O Léo, que é um ateu gaiato, no finalzinho do vídeo, ainda colocou imagens de um vídeo meu. Adorei! Nesse vídeo, Léo mostra trechos de um vídeo em que o pastor cristão Leandro Quadros explica que não existe atrito, choque, contradição entre a onisciência do Deus bíblico e o livre-arbítrio. A Rede Globo de Televisão não tem a menor ideia do que está perdendo. Com a morte do inesquecível cearense Chico Anysio (1931 – 2012), acabaram-se os bons programas de humor. A Globo deveria contratar esses líderes cristãos para que o humor voltasse com carga total. No início do vídeo, antes de mostrar os trechos do vídeo do pastor, no tempo de 1 minuto e 27 segundos, Léo, com maestria, deixa claro o choque entre onisciência de Deus e livre-arbítrio:


                 “Porque, se Deus sabe de todas as coisas, então eu não tenho livre-arbítrio. Entendeu! Nada do que faça, irá surpreender Deus porque ele já sabe o que vai acontecer.”


               
               Como afirmei acima, o Léo hoje é um ateu. Porém, durante longos anos foi um cristão evangélico fervoroso. Graças à razão, conseguiu desvencilhar-se desse mundo ilusório que aliena e explora suas vítimas. Por ser hoje ateu, Léo trabalha com o Deus da Bíblia apenas de forma hipotética a fim de anular as afirmações de religiosos cristãos. Na verdade, o Deus da Bíblia, criado pelos hebreus, em toda a narrativa bíblica perde a onisciência. Mas, já que os cristãos pregam que seu deus é onisciente, então o Léo resolve trabalhar com essa afirmação. E aí surge o atrito, o choque, a contradição. Onisciência de Deus e livre-arbítrio do ser humano são coisas que se chocam, que se anulam. Veja bem o que Léo diz:


               “Nada do que faça, irá surpreender Deus porque ele já sabe o que vai acontecer.”

              
                Perfeito, o Léo! Vamos tornar isso mais claro com um exemplo bem simples. Peguemos o Deus hebreu na época do lendário Abraão. Por volta de 6 mil anos. Vamos colocar a onisciência nesse deus. Portanto, há 6 mil anos, Deus já sabia que, no dia 20 de abril de 1889, nasceria na Áustria um menino que se chamaria Adolf Hitler e que, na fase adulta, iria mandar matar mais de 6 milhões de judeus, seu povo. Deus sabia, ou não sabia? Claro que sabia! Se Deus sabia que Adolf Hitler iria cometer aquelas atrocidades, Hitler não teria a menor condição de evitar esse caminho porque, na mente de Deus, esse caminho já estava traçado. Ou seja, Hitler não teve o livre-arbítrio diante da onisciência do Deus. Para ficar mais claro ainda, Deus traçou, em sua mente, o caminho de Adolf Hitler: nascimento na Áustria, juventude em Viena, vida adulta na Alemanha, ingresso em partido político, ascensão no Nazismo e extermínio de judeus, comunistas, Testemunhas de Jeová e ciganos. Tudo isso estava registrado na mente de Deus. E aí apareceu Hitler para tão-somente cumprir aquele caminho que já estava traçado na mente de Deus. Simples assim! Quem não entender isso, deve ser hospitalizado numa clínica psiquiátrica. Como disse o Léo, “Deus já sabe o que vai acontecer”. Se Deus já sabe o que vai acontecer, nenhum ser humano poderá agir de forma diferente, nada de livre-arbítrio, de vontade livre e própria.
                  Vamos agora ver as explicações do pastor Leandro Quadros. Aconselho que você, leitor, pegue um lenço para sugar suas lágrimas porque você rirá muito, como também eu o fiz. No tempo de 5 minutos e 47 segundos, o pastor diz:


                “Realmente, meu irmão, é muito pra nós tentarmos compreender os atributos divinos, como onisciência, onipresença e onipotência. Os atributos divinos realmente são misteriosos pra nós. E, por mais que tentemos explicar, nós não conseguimos.”


                Ri muito com esse discurso do pastor Leandro Quadros. E estou rindo muito neste momento. Como tudo não passa de bobagens religiosas, o pastor já vem logo afirmando que a coisa é complexa. Ora, ninguém tem culpa pelo fato de os hebreus criarem loucuras que a própria Bíblia revela. Na verdade, não se explicam loucuras, idiotices. Como é impossível defender loucuras religiosas, o pastor tenta sair pela tangente, dizendo que “os atributos divinos realmente são misteriosos pra nós.” Na verdade, nada existe de misterioso. É fácil explicar essa maluquices. O homem hebreu criou mais um deus, atribuindo a ele características próprias e características inerentes aos deuses. As inerentes aos deuses são: onisciência, onipresença e onipotência. Essas são as características dos deuses, e não só do Deus hebreu. Só que a Bíblia, de Gênesis ao Apocalipse, em seus relatos, anula essas características. Ou seja, o Deus hebreu perde a onisciência, a onipresença e a onipotência. O Deus hebreu não tem a menor ideia do que vai ocorrer daqui a um segundo, minuto, hora ou dia. Imagine anos e séculos. E a Bíblia, que é o melhor livro de ateísmo do mundo ocidental, está aí para provar essa verdade. Só para você ter uma ideia, caro leitor, vamos ao primeiro livro, Gênesis. Nessa lenda hebraica, Deus está sozinho, nada existe ainda, somente o Deus (não ria, por favor). Deus está só, e aí resolve criar todas as coisas. Cria a Terra, água, luz, estrelas, animais irracionais, o homem etc. E a Bíblia diz que Deus achou tudo muito bom. Só que, mais tarde, por causa da obra do homem, esse mesmo Deus se arrepende do que fez. Percebeu, leitor, como Deus perdeu sua onisciência. Vamos voltar ao início. Quando Deus estava sozinho, ele não sabia que, mais tarde, iria se arrepender de sua criação. Quando ele fez o homem, não sabia que o homem iria estragar tudo. Se soubesse, então teria preferido continuar vivendo sozinho. Não teria feito o homem! E a lenda hebraica é tão fraca e ingênua que ainda diz que Deus, apenas por causa da ação do homem, resolveu destruir plantas e animais irracionais. Ora, destruir plantas e matar animais irracionais porque o homem fez isso e aquilo, é maluquice total que nem Adolf Hitler foi capaz de fazer. Repito: em toda a Bíblia, o Deus hebreu perde todos os seus atributos. Para evitar um texto mais longo, veja outro exemplo bíblico em que Deus perde a onisciência, ou seja, não sabe o que vai ocorrer daqui a um minuto. Vamos à lenda que está em Êxodo, em que Deus conversa com Moisés. No capítulo 4, Deus concede poderes a Moisés para que os mostre ao Faraó para que ele deixe o povo hebreu partir do Egito. E são dois os poderes neste capítulo: a transformação do bordão em serpente e a mão que se torna leprosa. Deus pede que Moisés vá ao Faraó e lhe mostre esses sinais. Veja agora como Deus perde a onisciência nos versículos 8 e 9:


                 “8 Se eles te não crerem, nem atenderem à evidência do primeiro sinal, talvez crerão na evidência do segundo.
                  9 Se nem ainda crerem mediante estes dois sinais, nem te ouvirem a voz, tomarás das águas do rio e as derramarás na terra seca; e as águas que do rio tomares tornar-se-ão em sangue sobre a terra.”

                 
                  Deus perdeu totalmente a onisciência. Ele diz a Moisés que, se Faraó não acreditar no primeiro sinal, talvez acreditará no segundo. Ou seja, Deus não sabe qual será a atitude do Faraó. E ele diz também a Moisés que, se Faraó não acreditar nos dois sinais, aí partirá para outro sinal: a transformação das águas de rios em sangue. E continua o festival de fantasias infantis bíblicas. No tempo de 6 minutos e 23 segundos, o pastor Leandro diz:


                    “O irmão está vendo a onisciência de Deus como sendo causativa. Se a onisciência de Deus é causativa, ou seja, por ele saber as coisas acontecem, então realmente o livre-arbítrio não existiria. Não teria como.”


                   Como não há saída para o pastor Leandro Quadros, ele inventa uma tal de onisciência “causativa”! Causativa??? Que maluquice! Onisciência é conhecimento antecipado. Apenas prévio conhecimento e nada mais. Não existe esse negócio de prévio conhecimento que causa alguma coisa. Se o Deus bíblico sabia que Hitler iria cometer crimes, eliminou de Hitler o livre-arbítrio, já que este não podia ter agido de forma diferente. Hitler surgiu apenas para seguir os caminhos já traçados pelo desígnio de Deus. No tempo de 6 minutos e 44 segundos, o pastor deixa registrado:


                 “Agora, se entendermos que a onisciência de Deus não é causativa, aí não veremos incompatibilidade com a onisciência e o livre-arbítrio. Por quê? Porque as coisas acontecem, na nossa história, não por que Deus as prevê, mas Deus as prevê porque elas vão acontecer.”


                    Como é que é, pastor? Quer dizer, então, que as coisas ocorrem não por que Deus as prevê, mas as prevê porque elas vão ocorrer? Como afirmei acima, a Rede Globo de Televisão está perdendo um grande humorista! Diz o pastor que não há incompatibilidade entre a onisciência de Deus e o livre-arbítrio das pessoas porque Deus apenas prevê o que vai ocorrer. Estou rindo demasiadamente! Para explicar isso direitinho, voltemos ao exemplo com Hitler. Há 6 mil anos, o Deus hebreu já sabia que Adolf Hitler iria praticar atrocidades. O caminho a ser trilhado por Hitler já estava na mente de Deus. O que restava a Hitler? Ele poderia ter se desviado desse caminho? Como ele poderia se afastar desse desígnio, se já estava traçado na mente de Deus? Nessa maluquice religiosa, Hitler apareceu tão-somente para cumprir o que estava reservado a ele. Não se trata de Deus ser o responsável pela conduta de Hitler, mas de Hitler não ter alternativa alguma para sair dessa conduta. Simples assim! E, para piorar a situação, o pastor Leandro afirma, no tempo de 7 minutos e 57 segundos:


                 “Deus sabe o transcurso da história. Agora, Deus também sabe que ele tem poder suficiente para mudar o curso da história, se o pecador assim se arrepender.”


                  O pastor diz que o Deus dele tem poder suficiente para mudar o curso da história, ou seja, tem o poder para mudar o comportamento de qualquer pessoa, até mesmo de Adolf Hitler. Sem perceber, de forma indireta, o pastor está transferindo a responsabilidade das condutas das pessoas ao Deus hebreu! Está eliminando o livre-arbítrio das pessoas. Que absurdo! Se, como ele afirma, o Deus hebreu tem o poder suficiente para mudar o comportamento de um criminoso, e não o faz, a culpa é exclusiva dessa entidade. Assim, Hitler praticou as maldades porque o Deus hebreu não quis mudar esse curso. Para aumentar mais ainda o absurdo da afirmação do pastor, peguemos, como exemplo, uma pessoa com deficiência mental, completamente louca. Esse doente mental matou 10 pessoas e estuprou 30 mulheres. Por ser maluco, ele não pode ser responsabilizado por esses crimes. É recolhido para tratamento. A culpa, segundo a mentalidade do pastor Leandro, é do Deus bíblico porque poderia ter mudado o curso das condutas do maluco, e não o fez.

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