quarta-feira, 23 de outubro de 2019

JESUS E A NOVELA DA GLOBO




                                                                                                              Eustáquio


                 
                 O teólogo, psicanalista, escritor e ex-pastor protestante Rubem Alves, no livro “É uma pena não viver. Uma biografia de Rubem Alves”, de Gonçalo Junior, editora Planeta, 2015, na página 163, afirmou:



                    “Onde estava a minha inteligência? Tenho vergonha de haver acreditado no que acreditei. (...) Joguei minha vida inteira nas ideias doidas.”



                Rubem Alves reconhece que sua inteligência, sua capacidade intelectual, o abandonou a partir do momento em que se tornou um cristão. Ele mesmo afirma que as ideias cristãs são ideias doidas, completamente irracionais e notavelmente desumanas. Ele se arrependeu amargamente de ter acreditado na religião.
             Quando eu afirmo que a doutrina cristã é sem cérebro, exageradamente irracional, pode ser que alguns cristãos pensem que os odeio, ou coisa assim. De minha parte, não há ódio algum. Essa afirmação minha é decorrente de uma análise profunda nessa religião, já que é a dominante no Brasil. Lamentavelmente, os cristãos que frequentam igrejas desconhecem essa doutrina que está tão clara principalmente nos 4 evangelhos do Novo Testamento. O teólogo Rubem Alves, profundo conhecedor do cristianismo, abandonou essa religião, afirmando, entre outras coisas, que a doutrina cristã foi fundada sobre um edifício de absurdos. E uma novela nova da Rede Globo de Televisão, de forma indireta, mostra um dos absurdos do cristianismo.
                    No evangelho de Marcos, capítulo 10, versículos 11 e 12, está escrito:



                  “11 E ele lhes disse: Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério contra aquela.
                   12 E, se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério.”



                      Nessa passagem bíblica, Jesus diz aos discípulos que um casal deve se manter unido até à morte porque o que Deus ajuntou o homem não pode separar. Para ser mais claro, Jesus prega o casamento indissolúvel. Eis, aqui, mais uma aberração da doutrina cristã. Por essa e por outras, é que o teólogo Rubem Alves gritou:



                       “Onde estava a minha inteligência? Tenho vergonha de haver acreditado no que acreditei. (...) Joguei minha vida inteira nas ideias doidas.”



                      Hoje, em meu apartamento, à tarde, estava assistindo ao capítulo de hoje da novela “Éramos seis”. Trata-se de uma novela de época, e isso me atrai por mostrar um pedaço da história do Brasil. A novela é exibida no final da tarde, só que eu sou assinante da “Globoplay”, razão pela qual assisto antes. Pois bem! No capítulo de hoje, os personagens Argemiro de Almeida e Clotilde se encontram novamente. São namorados. O Argemiro tem um problema gravíssimo para revelar à sua namorada, mas está com bastante medo de perdê-la, após a revelação. E que problema é esse? Ora, ele já foi casado e, há muito tempo, está separado da esposa. Porém, por força da lei, continua casado até à morte, já que naquela época não havia o divórcio. O pobre do Argemiro está sofrendo muito, há vários dias não dorme por causa dessa situação. No capítulo de hoje, diante de sua amada Clotilde, ele tocou de leve no assunto, sem dizer que era o caso dele, só para ver a reação dela. E ela disse que era a favor do casamento eterno porque o que Deus uniu o homem não pode separar. O Argemiro ficou muito triste diante do ponto de vista cristão de Clotilde.
                     Pois bem! O Jesus das narrativas lendárias do Novo Testamento pregava a união matrimonial indissolúvel. O casamento até à morte, com a morte de um dos cônjuges. Ora, essa exigência é uma aberração terrível. É por isso que se diz que a doutrina cristã é contra a felicidade das pessoas. Ora, exigir que um casal permaneça unido até à morte é assinar um atestado de ignorância acerca da natureza humana. Quando duas pessoas se casam, é óbvio, desejam viver juntos até à hora de vestir o paletó de madeira. Só que a relação conjugal não é uma proposição matemática, não é, por exemplo, 2 mais 2= 4. Uma coisa é a fase de namoro. Coisa bem diferente é a vida a dois, sob o mesmo teto. É muito comum casais se separarem pelos mais variados motivos: incompatibilidade de gênios, dificuldades financeiras, insatisfação sexual, agressões verbais e físicas etc. Narro um caso real aqui. Quando eu morava na cidade do Gama, aqui mesmo, no Distrito Federal, minha vizinha chamada Lúcia, todos os dias, era espancada pelo marido. Numa madrugada, ouvi seus gritos de dor, e liguei para a polícia. Ela abriu a porta, e o marido foi levado preso. Depois, continuou apanhando em silêncio, com medo de que eu chamasse novamente a polícia. Já pensou que absurdo exigir que essa pobre esposa aguente o miserável do marido até que a morte os separe? Uma monstruosidade, não é mesmo? Não deu outra: de tanto apanhar, Lúcia saiu de casa, sem que ele soubesse, e pediu o divórcio. Hoje, ela está feliz em Fortaleza, ao lado de um homem que a ama. Ela merece ser feliz, não é mesmo? E são tantos os casos. Um amigo meu bastante rico se divorciou da esposa porque ela não gostava de fazer sexo. Além disso, ela vivia dentro de casa só reclamando da vida que levava, e era uma vida de luxo. Que esposo aguenta uma vida assim? Ele tem o direito de ser feliz, não é mesmo? Divorciou-se, e hoje vive muito feliz ao lado de outra mulher que o ama. Percebeu como é uma monstruosidade decretar que um casal é obrigado a viver junto até que a morte os separe? Quem cria uma lei maluca dessa desconhece totalmente a natureza humana.
              Na novela da Globo, o pobre Argemiro de Almeida está sofrendo demais porque, em sua época, não havia o divórcio. O medo dele é que sua querida namorada Clotilde o deixe, após saber que ele é um homem casado para sempre.
                   E, lamentavelmente, um universo de cristãos que frequentam igrejas nem percebem que estão contrariando a ordem absurda de Jesus. Todos os casais divorciados que eu conheço, todos, são cristãos, e muitos frequentam igrejas.

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