sexta-feira, 18 de outubro de 2019

AUGUSTO CURY E OS OUVINTES DE JESUS




                                                                                                              Eustáquio



               Em meu vídeo de ontem, num comentário, Edson Martins escreveu assim:



               Que me desculpem os que tem fé religiosa, mas os enxergo como verdadeiros "débeis mentais"



               A observação feita pelo Edson não é coisa nova. Sigmund Freud (1856 – 1939), o Pai da Psicanálise, judeu e ateu, há quase um século, já afirmava tal coisa. Em seu livro “O futuro de uma ilusão”, editora Pallotti, 2010, na página 110, acerca da religião, ele diz:



              “(...) ela contém um sistema de ilusões de desejo com recusa da realidade como apenas encontramos isolado na amência, uma confusão alucinatória radiante.”




               Assim, o homem religioso vive uma ilusão, recusa-se a ver a realidade e tem comportamento semelhante ao de uma pessoa com amência, demência. Antes de entrar no mérito do vídeo, você, que está assistindo a esse vídeo, pense na seguinte situação: você está numa área pública aberta juntamente com 200 pessoas. Silêncio total. Aí você começa a falar. Quantas pessoas ouvirão você? Com certeza, aquelas que estarão mais próximas de você, não é mesmo? Talvez, umas 50 pessoas. As pessoas mais afastadas, por mais que você grite, não o ouvirão. E veja que são apenas 200 pessoas. E suponha que sejam 10 mil pessoas. Imagine você, num campo aberto, em cima de um monte, falando para 10 mil pessoas. Quantas o ouvirão? Com certeza, apenas umas 10 pessoas ou 20. O restante, ou seja, a quase totalidade das 10 mil pessoas não o ouvirão. Isso é a realidade, isso é o óbvio. Para explicar melhor a situação, trago um exemplo vivenciado por mim. Em 1985, em Fortaleza, no Ceará, eu estava cursando Letras na Universidade Federal do Ceará. Estava no segundo ano do curso. Um cursinho preparatório para a Escola Técnica Federal do Ceará estava precisando de um professor de língua portuguesa. Apenas uma vaga. Inscreveram-se 7 candidatos. A prova foi apenas uma aula. Cada candidato ia ao quadro e dava sua aula. Nas cadeiras, o dono do cursinho, a secretária e alguns professores. Eu obtive a primeira colocação. Fui professor lá durante um ano. As salas eram enormes, com quase 100 alunos. Mesmo com as janelas fechadas e ar-condicionado, havia necessidade do uso de microfones para que todos os alunos ouvissem. Sem o microfone, jamais os alunos do fundo ouviriam o professor, isso numa sala fechada e silenciosa. Imagine numa área pública. Pior ainda. Pois bem! Agora que venha o mérito do vídeo!
                O psiquiatra Augusto Cury, ex-ateu, em seu livro “O Mestre Inesquecível”, editora Sextante, 2006, na página 83, entre outras coisas, escreve o seguinte sobre Jesus:



               “Seus discursos e sua didática magnetizavam as plateias. Era capaz de falar para milhares de pessoas ao mesmo tempo. (...) Imagine o que é falar para um público misto e sem microfone. Quase impossível! Mas Jesus falava com mestria para 10, mil ou 10 mil pessoas. Para isso procurava espaços abertos, sossegados e com boa capacidade de difusão sonora. Seus discursos encantavam as multidões.”



                 Por favor, não ria! Não ria! Augusto Cury diz que Jesus falava, sem microfone, para um público imenso, 5 mil pessoas, 10 mil etc. E que, para ser ouvido por todos, procurava lugares abertos, sossegados. É inacreditável que um psiquiatra tenha a coragem de afirmar tal coisa, não é mesmo? É inacreditável!!!
              Ora, ninguém pode levar a sério os 4 evangelhos que estão no Novo Testamento. São relatos lendários, recheados de ingenuidades de todas as espécies. E uma das ingenuidades é afirmar que Jesus falava para multidões e que todos conseguiam ouvi-lo. E uma dessas ingenuidades está no famoso sermão do monte, no evangelho de Mateus, capítulo 5. Veja o que diz o versículo 1:



            Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos;”



              Augusto Cury leu esse capítulo e chegou à conclusão de que Jesus realmente falou para uma multidão. Jesus, num monte, e a multidão lá embaixo. Na verdade, só quem o ouvia eram seus discípulos que estavam bem próximos dele. As multidões nada ouviam por causa da distância e dos ventos. É inacreditável que o psiquiatra tenha escrito que Jesus falava ao mesmo tempo para multidões, sem microfone, e que era ouvido. E também ter escrito que em lugares abertos a difusão sonora é melhor. Cury só pode estar brincando!
                   Já que estou tratando aqui dessa fantasia bíblica de que Jesus falava para multidões, lembrei-me de um filme fantástico que explora algumas fantasias em torno da figura de Jesus. O filme se chama “A Vida de Brian”. Um filme excelente! Numa cena, Jesus, num monte, está falando para uma multidão. O Brian se junta à multidão, está bem distante de Jesus. E, como é óbvio, nada escuta. E aí, nesse momento, ele grita bem alto para Jesus, dizendo, mais ou menos, assim: “Mestre, mestre, fale mais alto que não estou escutando nada!” Que filme inteligente, não é mesmo? Se o Augusto Cury tivesse assistido a esse filme, talvez não tivesse escrito o que escreveu.

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