Eustáquio
Em seu maravilhoso livro “O Mestre Inesquecível”,
editora Sextante, 2006, o psiquiatra Augusto Cury, ex-ateu, na página 49, entre
outras coisas, escreve:
“Nesse clima apareceu Jesus, sem
exércitos nem pompa, desafiando o poderoso Império Romano ao proclamar um outro
reino... (...) Nesse reino, ninguém jamais seria excluído, discriminado,
ofendido, rejeitado, incompreendido.”
Você, que está assistindo a esse vídeo nesse
momento, muito cuidado com o que você vê e lê. O Jesus das narrativas lendárias
do Novo Testamento jamais desafiou o Império Romano. Em sua época, os romanos
dominavam a Palestina, impondo regras e impostos exorbitantes. O povo judeu,
dominado por estranhos em sua própria terra, ansiava pela chegada do Messias
(Cristo, em grego). Esse Cristo seria obviamente um judeu que se tornaria rei
em Israel, como Davi o foi, e iria expulsar os romanos. Surgiram muitos judeus,
afirmando ser o Cristo, e todos foram presos, torturados e crucificados pelos
invasores romanos. E o mesmo fim teve o Jesus dos cristãos. Os romanos o
prenderam, torturaram-no e crucificaram-no.
Augusto Cury diz que Jesus proclamava
um outro reino. E, nesse reino, ninguém jamais seria excluído, discriminado,
ofendido, rejeitado, incompreendido. Em primeiro lugar, Jesus, como não tinha
força alguma para expulsar os romanos da Palestina (o maior sonho de seu povo),
pregava um reino fantasioso, uma nova Jerusalém, com a chegada do Messias
salvador, o Filho do Homem. E diz o Augusto Cury que, nesse reino de Jesus,
ninguém seria excluído, isto é, todas as pessoas seriam bem-vindas. Como é que é?
Como é que é?
Ora, vejamos o
que está no evangelho de Mateus, capítulo 20, versículo 23:
“Então, lhes disse: Bebereis
o meu cálice; mas o assentar-se à minha direita e à minha esquerda não me
compete concedê-lo; é, porém, para aqueles a quem está preparado por meu pai.”
Como é possível que o psiquiatra Augusto Cury tenha
escrito que, no reino proclamado por Jesus, ninguém será excluído? Ora, na
passagem bíblica acima, uma mulher, mãe de Tiago e João, seguidores de Jesus,
pede a este que, no futuro reino, um de seus filhos se assentem, um à direita,
e o outro, à esquerda. A resposta de Jesus é terrível. Ele diz que não compete
a ele conceder esse desejo porque o reino proclamado é somente para aqueles
escolhidos por seu pai, o deus hebreu. Como é que o Augusto Cury teve a coragem
de escrever que, no reino de Jesus, ninguém será excluído?
E no mesmo
evangelho de Mateus, capítulo 10, versículos 14 e 15, está escrito:
“14 Se alguém não vos receber, nem
ouvir as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o
pó dos vossos pés.
15 Em verdade vos digo que menos
rigor haverá para Sodoma e Gomorra, no Dia do Juízo, do que para aquela cidade.”
Jesus dá orientações aos 12 discípulos. Ele diz que
os discípulos devem ir a várias cidades, batendo de porta em porta. Se os
moradores, em sua casa, receberem os discípulos, tudo bem. Se não receberem,
Jesus diz que, no Dia do Juízo, com a volta do Messias, os moradores daquela
cidade serão destruídos, a exemplo dos moradores das lendárias cidades de
Sodoma e Gomorra. Como é que Augusto Cury afirma que, no reino de Jesus,
ninguém será excluído?
No evangelho de
Marcos, capítulo 16, versículo 16, está registrado:
“Quem crer e for batizado será salvo;
quem, porém, não crer será condenado.”
Jesus diz aqui que quem crer em sua doutrina e for
batizado será salvo, terá um lugar garantido no futuro reino pregado para
aquela época. Já os que não creem (a maioria) serão condenados. Isto é, mais
uma exclusão de seres humanos. Na ótica de Jesus, somente os cristãos batizados
morarão no reino anunciado por ele. Os demais (a maioria) serão excluídos. Na
verdade, Jesus morreu. Seus discípulos morreram. Os romanos continuaram
dominando a Palestina. E a volta do Messias para aquele tempo fracassou.
Como é possível
que o Augusto Cury tenha escrito que, no reino proclamado por Jesus, ninguém
seria excluído? Como é possível?
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