Eustáquio
Você, que está assistindo a
esse vídeo nesse momento, não se esqueça de uma coisa: em sua cabeça, existe um
órgão chamado cérebro. Ele não está lá para separar suas orelhas, mas para
fazer você raciocinar, pensar, analisar, comparar etc. Portanto, muito cuidado
com o que você vê e lê. Se não colocar o cérebro em funcionamento, você será
facilmente levado ao erro por espertalhões extremamente gulosos. Fique sabendo
que existe um universo de pessoas que ganha rios de dinheiro às custas de sua
ingênua crença religiosa. Portanto, todo cuidado ainda é pouco.
Em seu livro “O Mestre Inesquecível”,
editora Sextante, 2006, na página 16, o psiquiatra Augusto Cury, ex-ateu, entre
outras coisas, escreve o seguinte:
“(...) Era seu primo, mas tinham
crescido separados desde que Maria e José fugiram para o Egito e depois
voltaram para a cidade de Nazaré, na Galiléia (Mateus 2:14)”
Augusto Cury diz que João Batista era primo de
Jesus. E afirma ainda que os dois cresceram separadamente, já que Jesus, ainda
criança, foi levado por seus pais ao Egito para fugir da matança de crianças
determinada pelo rei Herodes. Em que texto bíblico Cury se apoiou para fazer
essa afirmação? A resposta é fácil: no relato lendário sobre o nascimento de
Jesus que está no evangelho de Mateus. Se o Augusto Cury, em vez de Mateus,
tivesse lido o relato lendário sobre o nascimento de Jesus que está no
evangelho de Lucas, com certeza, ele não teria escrito que a família de Jesus
foi ao Egito para fugir da ordem do rei Herodes. Ora, no Novo Testamento,
existem apenas 4 evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Dos quatro, apenas
dois (Mateus e Lucas) trazem os relatos sobre o nascimento de Jesus. E não são
relatos reais, históricos, que ocorreram de fato, mas lendas. Por isso mesmo,
são completamente diferentes e recheados de erros e ingenuidades. Os evangelhos
de Marcos e João nada dizem sobre o nascimento de Jesus porque não houve nada
de extraordinário nele. O Augusto Cury leu a lenda de Mateus, pensando que
estava lendo um fato histórico. E, mais uma vez, caiu do cavalo.
O teólogo, filósofo, especialista em
línguas semíticas, escritor e jornalista espanhol Juan Arias, em seu livro “A Bíblia e seus segredos”, editora Objetiva, 2004, na página
30, escreve:
“É lógico, portanto, que a Bíblia apresente
erros e contradições, exageros e mitos misturados com fatos reais.”
Diferentemente do Augusto Cury, Juan Árias é
especialista em Bíblia. E ele diz claramente que ela apresenta mitos misturados
com fatos reais. E os relatos sobre o nascimento de Jesus que estão em Mateus e
Lucas, são mitos, e não fatos reais. E essa verdade é do conhecimento de
estudiosos sérios da Bíblia.
Trago aqui um dos
maiores teólogos do mundo, de origem católica, o irlandês John Dominic Crossan.
Além de possuir doutorado em teologia, Crossan é arqueólogo bíblico,
participando efetivamente de escavações na terra da Bíblia. É também professor
de Estudos Bíblicos na universidade DePaul, em Chicago, nos EUA. Em seu livro “O Jesus histórico”, editora Imago, 1991, na página 30, entre
outras coisas, escreve assim:
“(...) Os evangelhos não são
nem narrativas históricas, nem biografias (mesmo dentro dos esquemas flexíveis
que guiavam estes dois gêneros na Antiguidade).
Percebeu o problema do Augusto Cury? Se ele
tivesse feito uma simples consulta a teólogos de confiança... Cury escreveu que
os pais de Jesus, José e Maria, levaram o menino para o Egito a fim de fugir da
matança de inocentes decretada pelo rei Herodes. Isso não é fato, mas lenda. O
rei Herodes nunca mandou matar crianças de 2 anos para baixo. Por que Mateus
inventou uma desgraça dessa a ponto de enganar o psiquiatra brasileiro Augusto
Cury? De onde Mateus tirou essa fantasia? A resposta é fácil. No evangelho de
Mateus, capítulo 1, versículos 14 e 15, está escrito:
“14 Dispondo-se ele, tomou de noite o menino
e sua mãe e partiu para o Egito;
15 e lá ficou até à morte de
Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do
profeta:
Do Egito chamei o meu
Filho.”
Veja que, na lenda de Mateus, José, de noite, pegou o menino Jesus e
sua mãe Maria, partindo para o Egito. E eles permaneceram lá até à morte do rei
Herodes. Sim, e por que isso? Ora, Mateus diz, Mateus explica por que isso
aconteceu assim. Veja a explicação dele:
“PARA QUE SE CUMPRISSE O QUE
FORA DITO PELO SENHOR, POR INTERMÉDIO DO PROFETA: DO EGITO CHAMEI MEU FILHO.”
Ora, quem escreveu o evangelho de Mateus está
dizendo que aquilo, que aconteceu, foi o cumprimento de uma profecia que estava
nas escrituras hebraicas. O objetivo de Mateus era mostrar a realização de uma
profecia, que uma profecia estava se cumprindo. Só que não estava se cumprindo
profecia alguma. Tudo invenção de Mateus. O evangelho de Mateus está repleto
dessas fantasias. O que ele fez? Criou uma história fantasiosa para adequá-la a
profecias que ele conhecia. E os cristãos da época pensavam que realmente era
um cumprimento de uma profecia. É o que os teólogos sérios chamam de “profecia
historicizada”. Você pega uma profecia antiga, e cria uma história fantasiosa
com base nessa profecia. E depois diz que essa história é o cumprimento de uma
profecia tal. Entendeu? É fácil ver que Mateus enganou muita gente, até mesmo o
Augusto Cury caiu em sua conversa fiada.
E o próprio
Mateus não estava nem preocupado se alguém iria desmenti-lo. Ora, ele mesmo diz
que a profecia dizia: DO EGITO CHAMEI O MEU FILHO. Essa “profecia” está no
livro de Oséias, capítulo 11, versículo 1:
“Quando Israel era menino, eu o
amei; e do Egito chamei o meu filho.”
Como se vê facilmente, o menino dessa profecia era Israel, que estava
sob escravidão no Egito. E, na lenda de Êxodo, o deus hebreu chamou seu filho,
Israel, do Egito. Isto é, o menino dessa profecia nada tem a ver com o menino
Jesus colocado por Mateus. Essa profecia foi escrita após o Êxodo, como
lembrança de Oséias. Ele está se referindo à saída do povo de Israel do Egito.
700 anos depois, Mateus pegou essa passagem bíblica e a colocou na sua lenda
sobre o nascimento de Jesus. Quando um cristão lê “Do Egito chamei o meu filho”,
ele pensa, coitado, que o “meu filho” se refere ao menino Jesus. Errado! Completamente errado! O “meu filho”
significa o povo de Israel. Entendeu agora o que é “profecia
historicizada”?
Por favor,
explique isso ao Augusto Cury!!!
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