quinta-feira, 17 de outubro de 2019

AUGUSTO CURY E A FAMÍLIA DE JESUS




                                                                                                              Eustáquio


                 Você, que está assistindo a esse vídeo nesse momento, não se esqueça de uma coisa: em sua cabeça, existe um órgão chamado cérebro. Ele não está lá para separar suas orelhas, mas para fazer você raciocinar, pensar, analisar, comparar etc. Portanto, muito cuidado com o que você vê e lê. Se não colocar o cérebro em funcionamento, você será facilmente levado ao erro por espertalhões extremamente gulosos. Fique sabendo que existe um universo de pessoas que ganha rios de dinheiro às custas de sua ingênua crença religiosa. Portanto, todo cuidado ainda é pouco.
                Em seu livro “O Mestre Inesquecível”, editora Sextante, 2006, na página 16, o psiquiatra Augusto Cury, ex-ateu, entre outras coisas, escreve o seguinte:



                “(...) Era seu primo, mas tinham crescido separados desde que Maria e José fugiram para o Egito e depois voltaram para a cidade de Nazaré, na Galiléia (Mateus 2:14)”



                Augusto Cury diz que João Batista era primo de Jesus. E afirma ainda que os dois cresceram separadamente, já que Jesus, ainda criança, foi levado por seus pais ao Egito para fugir da matança de crianças determinada pelo rei Herodes. Em que texto bíblico Cury se apoiou para fazer essa afirmação? A resposta é fácil: no relato lendário sobre o nascimento de Jesus que está no evangelho de Mateus. Se o Augusto Cury, em vez de Mateus, tivesse lido o relato lendário sobre o nascimento de Jesus que está no evangelho de Lucas, com certeza, ele não teria escrito que a família de Jesus foi ao Egito para fugir da ordem do rei Herodes. Ora, no Novo Testamento, existem apenas 4 evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Dos quatro, apenas dois (Mateus e Lucas) trazem os relatos sobre o nascimento de Jesus. E não são relatos reais, históricos, que ocorreram de fato, mas lendas. Por isso mesmo, são completamente diferentes e recheados de erros e ingenuidades. Os evangelhos de Marcos e João nada dizem sobre o nascimento de Jesus porque não houve nada de extraordinário nele. O Augusto Cury leu a lenda de Mateus, pensando que estava lendo um fato histórico. E, mais uma vez, caiu do cavalo.
                 O teólogo, filósofo, especialista em línguas semíticas, escritor e jornalista espanhol Juan Arias, em seu livro “A Bíblia e seus segredos”, editora Objetiva, 2004, na página 30, escreve:


             “É lógico, portanto, que a Bíblia apresente erros e contradições, exageros e mitos misturados com fatos reais.”

                      

                       Diferentemente do Augusto Cury, Juan Árias é especialista em Bíblia. E ele diz claramente que ela apresenta mitos misturados com fatos reais. E os relatos sobre o nascimento de Jesus que estão em Mateus e Lucas, são mitos, e não fatos reais. E essa verdade é do conhecimento de estudiosos sérios da Bíblia.

              
              Trago aqui um dos maiores teólogos do mundo, de origem católica, o irlandês John Dominic Crossan. Além de possuir doutorado em teologia, Crossan é arqueólogo bíblico, participando efetivamente de escavações na terra da Bíblia. É também professor de Estudos Bíblicos na universidade DePaul, em Chicago, nos EUA. Em seu livro “O Jesus histórico”, editora Imago, 1991, na página 30, entre outras coisas, escreve assim:


                “(...) Os evangelhos não são nem narrativas históricas, nem biografias (mesmo dentro dos esquemas flexíveis que guiavam estes dois gêneros na Antiguidade).

              
                 Percebeu o problema do Augusto Cury? Se ele tivesse feito uma simples consulta a teólogos de confiança... Cury escreveu que os pais de Jesus, José e Maria, levaram o menino para o Egito a fim de fugir da matança de inocentes decretada pelo rei Herodes. Isso não é fato, mas lenda. O rei Herodes nunca mandou matar crianças de 2 anos para baixo. Por que Mateus inventou uma desgraça dessa a ponto de enganar o psiquiatra brasileiro Augusto Cury? De onde Mateus tirou essa fantasia? A resposta é fácil. No evangelho de Mateus, capítulo 1, versículos 14 e 15, está escrito:


               “14 Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o Egito;
                 15 e lá ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta:
                      Do Egito chamei o meu Filho.”


                     
            Veja que, na lenda de Mateus, José, de noite, pegou o menino Jesus e sua mãe Maria, partindo para o Egito. E eles permaneceram lá até à morte do rei Herodes. Sim, e por que isso? Ora, Mateus diz, Mateus explica por que isso aconteceu assim. Veja a explicação dele:



               “PARA QUE SE CUMPRISSE O QUE FORA DITO PELO SENHOR, POR INTERMÉDIO DO PROFETA: DO EGITO CHAMEI MEU FILHO.”



                Ora, quem escreveu o evangelho de Mateus está dizendo que aquilo, que aconteceu, foi o cumprimento de uma profecia que estava nas escrituras hebraicas. O objetivo de Mateus era mostrar a realização de uma profecia, que uma profecia estava se cumprindo. Só que não estava se cumprindo profecia alguma. Tudo invenção de Mateus. O evangelho de Mateus está repleto dessas fantasias. O que ele fez? Criou uma história fantasiosa para adequá-la a profecias que ele conhecia. E os cristãos da época pensavam que realmente era um cumprimento de uma profecia. É o que os teólogos sérios chamam de “profecia historicizada”. Você pega uma profecia antiga, e cria uma história fantasiosa com base nessa profecia. E depois diz que essa história é o cumprimento de uma profecia tal. Entendeu? É fácil ver que Mateus enganou muita gente, até mesmo o Augusto Cury caiu em sua conversa fiada.
                      E o próprio Mateus não estava nem preocupado se alguém iria desmenti-lo. Ora, ele mesmo diz que a profecia dizia: DO EGITO CHAMEI O MEU FILHO. Essa “profecia” está no livro de Oséias, capítulo 11, versículo 1:


            “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho.”


            
            Como se vê facilmente, o menino dessa profecia era Israel, que estava sob escravidão no Egito. E, na lenda de Êxodo, o deus hebreu chamou seu filho, Israel, do Egito. Isto é, o menino dessa profecia nada tem a ver com o menino Jesus colocado por Mateus. Essa profecia foi escrita após o Êxodo, como lembrança de Oséias. Ele está se referindo à saída do povo de Israel do Egito. 700 anos depois, Mateus pegou essa passagem bíblica e a colocou na sua lenda sobre o nascimento de Jesus. Quando um cristão lê “Do Egito chamei o meu filho”, ele pensa, coitado, que o “meu filho” se refere ao menino Jesus. Errado! Completamente errado! O “meu filho” significa o povo de Israel. Entendeu agora o que é “profecia historicizada”?
                 Por favor, explique isso ao Augusto Cury!!!

                
                

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