terça-feira, 30 de abril de 2019

TEÓLOGO NORMAN GEISLER E A ONISCIÊNCIA DE JESUS



Eustáquio



                       Desde as eras patriarcais, o homem cria deuses a rodo, projetando neles características humanas (ciúme, inveja, intolerância, preconceito, violência etc.) e não humanas (onisciência, onipotência e onipresença). Como estamos analisando o Deus dos cristãos, criado pelo povo hebreu, essa entidade também absorveu as características desse povo. Além disso, foram-lhe atribuídas a onisciência, a onipresença e a onipotência. Como tudo não passa de ilusão, ao longo da Bíblia, de Gênesis ao Apocalipse, o Deus hebreu perde sua onisciência, sua onipotência e sua onipresença. Neste artigo, mostraremos a perda da onisciência de Jesus.
                        O norte-americano Bart D. Ehrman (teólogo, historiador, escritor, graduado em grego e hebraico, professor de cristianismo, ex-pastor evangélico), em seu livro “Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?”, 2010, editora Ediouro, na página 31, escreve:



                   “(...) a fé na Bíblia como se ela fosse algo historicamente inequívoco e a Palavra inspirada por Deus não se sustentam à luz do que nós, como historiadores, sabemos sobre a Bíblia.”



                  Bart D. Ehrman, como historiador e teólogo sério, sabe muito bem que a Bíblia está repleta de lendas, mitos, alegorias, anacronismos, contradições, discrepâncias e erros. E isso ocorre porque é, como qualquer outro, um livro humano, isto é, escrito por homens sem a inspiração de uma divindade “espiritual”. Neste artigo, mais uma contradição bíblica. Façamos a seguinte pergunta a um cristão qualquer:



                 Nos relatos bíblicos, Jesus é um ser onisciente?



                 Com certeza, o cristão dirá que sim porque essa mensagem foi passada para ele por seus pais desde o berço e hoje é realimentada por padres e pastores evangélicos. E esse mesmo cristão poderá até recorrer aos 4 evangelhos que estão no Novo Testamento a fim de mostrar as passagens que comprovam ser Jesus um ser onisciente, por exemplo, a passagem que está no livro de Mateus, capítulo 10, versículo 30:



                “E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados.”



              Essa passagem comprova que Jesus realmente é um ser onisciente, com um poder tão grande que sabe até quantos cabelos estão na cabeça de qualquer pessoa. De fato, adivinhar quantos cabelos havia na cabeça do nosso querido e inesquecível Ricardo Boechat (1952 – 2019) é uma tarefa fácil: nenhum cabelo. Mas, saber quantos cabelos existem na cabeça da cantora Ivete Sangalo, só mesmo Jesus. E o mesmo cristão poderia até mostrar outras passagens, mas, para evitar um artigo imenso, fiquemos com esse exemplo. E, como se sentiria esse mesmo cristão, ao ler o que está no mesmo livro de Mateus, capítulo 21, versículos 18 e 19?:



              “18 Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve fome:

             19 e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente.”


               Essa passagem bíblica está em contradição com a passagem analisada anteriormente. Naquela, Jesus é onisciente, sabendo até quantos cabelos existem na cabeça de 7 bilhões de pessoas, segundo a crença do cristão. Só que nesta passagem Jesus perde totalmente sua onisciência. Jesus vem caminhando com seus discípulos. Todos estão com muita fome. De longe, Jesus avista uma árvore, uma figueira. Jesus ficou alegre porque iria matar sua fome, comendo figos. Só que, ao se aproximar da árvore, somente aí, é que percebeu que só havia folhas, e não figos. E Jesus ficou tão irado que amaldiçoou a pobre árvore (por favor, não ria!” Como se vê, Jesus perde completamente sua onisciência, daí a contradição bíblica. E se esse mesmo cristão lesse também o que está no livro de João, capítulo 11, versículo 34:


               “E perguntou: Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem e vê.”


               Essa passagem bíblica traz a lenda sobre a ressurreição de Lázaro, um dos grandes amigos de Jesus. Jesus soube que Lázaro havia morrido há 4 dias. O corpo já estava em adiantado estado de putrefação. Quando Jesus chegou ao local, diante de Maria, irmã do falecido Lázaro, perguntou-lhe: “Onde o sepultastes?” Mais uma vez, Jesus perde totalmente sua onisciência. Não tem a menor ideia do lugar onde o corpo de Lázaro foi sepultado, por isso mesmo fez a pergunta. E se esse mesmo cristão lesse o que está no livro de Mateus, capítulo 24, versículo 36:



               “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai.”



                 Jesus afirma aqui que ele próprio não é onisciente porque não sabe o dia e a hora da vinda do Messias. Nem ele, nem os anjinhos celestiais. Fizemos referência, no início do artigo, a um doutor em teologia e historiador sério: Bart D. Ehrman! Ele sabe que a Bíblia não foi inspirada por divindade alguma e que está repleta de lendas, mitos, contradições etc. E mostramos facilmente as contradições. Vejamos, agora, novamente, o teólogo cristão fundamentalista Norman Geisler, que faz sucesso no mundo evangélico aqui, no Brasil, e principalmente nos EUA. Geisler, obviamente, não faz parte do rol dos teólogos sérios porque é um fundamentalista. O objetivo dele é propagar a ilusão cristã. Portador dessa finalidade, ele, diante das contradições bíblicas e erros, deturpa os textos bíblicos de uma forma tão contundente que leva os leitores sérios ao riso, e os leitores ingênuos ao erro. Diante dessas contradições bíblicas apresentadas acima, qual é a posição do Norman Geisler? Como é que ele vai sair desse labirinto? A resposta, caro leitor, você verá agora, mas, antes, pegue um lenço para enxugar suas lágrimas porque você vai rir muito. Em seu livro “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘contradições” da Bíblia”, 1999, 4ª edição, editora Mundo Cristão, na página 382, Geisler explica:



               “SOLUÇÃO: Temos de distinguir o que Jesus sabia como Deus (tudo) daquilo que ele sabia como homem. Como Deus, Jesus era onisciente (conhecedor de todas as coisas), mas como homem era limitado em seu conhecimento.”



                 Você, leitor, na primeira leitura, já começou a rir, não é mesmo? Com certeza, pode até ser que você já esteja pensando que o Norman Geisler está brincando com sua inteligência, não é mesmo? Geisler está dizendo que Jesus é onisciente. Ele diz que é preciso separar o Jesus (homem) do Jesus (Deus). Por favor, caro leitor, pare de rir porque suas risadas estão atrapalhando minha concentração aqui. Pois bem! Geisler está dizendo que, quando Jesus aparece nos evangelhos como HOMEM, então é limitado, perde a onisciência. Já quando aparece como DEUS, aí ele é onisciente. Por favor, leitor, pare de rir. Você está rindo de um doutor em teologia fundamentalista que precisou de 40 anos para escrever o que está nesse livro. Então, fica assim: para Norman Geisler, quando Jesus sabe quantos cabelos uma pessoa tem, aí Jesus aparece como DEUS, é onisciente. Porém, quando Jesus se enganou diante da figueira, então ele aparece como HOMEM, não é onisciente. Quando Jesus não sabia onde o corpo de Lázaro estava sepultado, ele agiu como HOMEM também, não onisciente.
               Por favor, parem o ônibus que eu quero descer!

segunda-feira, 29 de abril de 2019

CARTA DE UM ATEU AO EX-PASTOR RONIN




Eustáquio


                              Prezado Ronin,


                 Com muita alegria e satisfação, recebi ontem, domingo, dia 28 de abril do corrente ano (2019), seu comentário com o seguinte teor:



                            “Valeu Eustáquio, ficaria sim muito honrado em receber um texto de uma pessoa intelectual como você. Mas já de ante mão vou te dizer que sou agnóstico. Já fui membro de igreja, já fui pastor de igreja, e conheço a Bíblia. A maioria dos argumentos ateus eu conheço também. Pra ser sincero mesmo contigo, eu não acredito, eu estou em dúvida. O que eu te mostrei em meus textos foi que eu precisaria das ESCRITURAS ORIGINAIS pra saber o que realmente está escrito. E essas escrituras não existem mais. Você citou um teólogo em um de seus textos, onde ele teve acesso a uma dessas cópias antigas, e ele viu que numa dessas cópias havia um texto incompleto em relação ao mesmo texto da cópia posterior. Entendes? Você fala que Deus é violente, que concordava com estupros, roubos, etc. É ai que mora o problema, onde não posso concordar com isso, pois não sei se isso REALMENTE está escrito nos ORIGINAIS. Valeu mesmo pela consideração Eustáquio, você é um cara humilde. Um abraço!



                      Pegarei, de início, sua revelação que considero a mais importante:


                     Já fui membro de igreja, já fui pastor de igreja, e conheço a Bíblia”


                         Que maravilha, Ronin! Fico muito feliz por saber que você é uma pessoa privilegiada porque foi membro de uma igreja evangélica, alcançando o cargo de pastor, porém, conseguiu sair dessa ilusão religiosa. E hoje você declara ser um agnóstico. Além disso, você diz que conhece a Bíblia. Eis outra coisa rara, Ronin. São poucas as pessoas que podem afirmar que conhecem a Bíblia. Na verdade, nada sabem acerca do livro que é considerado “sagrado” para os cristãos. Você foi pastor e sabe muito bem que estou dizendo a verdade. Aqueles fiéis que se sentam em bancos de igrejas apenas conduzem a Bíblia sob as axilas, nem sequer a leem, muito menos a estudam. Nas igrejas, os líderes apenas pedem aos fiéis que abram a Bíblia, no livro tal, capítulo X, e passam a ler simplesmente, e, sobre aquilo, vem o sermão do dia. Injetam na cabeça dos fiéis que a Bíblia é a palavra de Deus, e os fiéis passam mesmo a acreditar nessa ingenuidade. Eis a realidade que pode ser comprovada por você mesmo, Ronin, talvez em sua casa, em sua rua, em seu trabalho. E é a mesma realidade que eu, Eustáquio, vejo nas famílias de meus irmãos, nas famílias vizinhas à minha. Meus 7 irmãos são cristãos católicos. Apenas 2 mulheres realmente frequentam missas aos domingos. Nenhum deles lê a Bíblia, muito menos a conhecem. Eu sou a única pessoa ateia da família, e justamente o ateu é que mostrou interesse em ler a Bíblia, em estudá-la. Pegarei agora sua afirmação final que engloba por completo seu comentário:


                   Você fala que Deus é violente, que concordava com estupros, roubos, etc. É ai que mora o problema, onde não posso concordar com isso, pois não sei se isso REALMENTE está escrito nos ORIGINAIS.”


                        Ronin, eu escrevi a você afirmando que o Deus da Bíblia é uma entidade imaginária que carrega consigo as características do povo hebreu há 6 mil anos. Por isso mesmo, o Deus bíblico é uma entidade tribal, guerreira, intolerante, vingativa, preconceituosa, incentivadora de crimes etc. Por que o Deus bíblico é assim mesmo? Simplesmente porque é o homem que cria deuses conforme sua cultura. O povo hebreu, que viveu há 6 mil anos ao lado de outros povos, num mundo completamente diferente do nosso atual, era um povo nômade, guerreiro, violento, intolerante etc. Ao criar seu Deus Javé, entre outros deuses, transferiu para esse Deus suas características. Portanto, é fácil provar que é o homem que cria deuses em conformidade com sua cultura. E foi assim com os hebreus, os egípcios, os fenícios, os hititas, os gregos, os maias, os astecas, os hindus, os indígenas etc. Todos criaram deuses diferentes em consonância com as características próprias de cada povo. Não existe um deus universal, caro Ronin. O Deus da Bíblia é o deus dos hebreus. Exclusivo dos hebreus. Em todo o Velho Testamento, que não é velho para os judeus, Javé é o deus exclusivo dos hebreus, e de ninguém mais. É óbvio porque esse Deus foi criado por esse povo. Os egípcios da época também criaram deuses muito diferentes do Javé. Da mesma forma, os deuses egípcios eram exclusivos do povo egípcio. O Deus Javé, caro Ronin, era tão exclusivo do povo hebreu que não queria que seu povo se misturasse a outros. Um Deus extremamente preconceituoso. Preconceituoso porque o povo que o criou era preconceituoso. Foram alguns cristãos, no Novo Testamento, que deturparam o próprio Deus hebreu, tornando-o um Deus universal, para todos. Que absurdo, caro Ronin!

                  Muito bem, Ronin! Afirmei que o Deus bíblico, nos textos bíblicos, é violento e um grande incentivador de estupros, homicídios, genocídios etc. E você diz que não pode concordar comigo porque precisaria confirmar as maldades do Deus Javé nos textos originais bíblicos. Segundo seu ponto de vista, já que não existem os textos bíblicos originais, apenas cópias e mais cópias, então você, Ronin, não pode confirmar o que vê na Bíblia hoje. Já que você diz ser um conhecedor da Bíblia, então vê claramente as maldades comandadas pelo Deus hebreu, só que, para confirmá-las, você necessitaria dos textos originais, que não existem. Um fato importantíssimo: ainda bem que você vê as maldades do Deus hebreu nos textos bíblicos atuais. Isso é fato, é real. Você necessitaria apenas confirmar essas maldades nos textos originais, que não existem. Ora, caro Ronin! Se você sente a necessidade de ver os textos originais bíblicos, que não existem, para confirmar alguma passagem bíblica, então você não deveria ler a Bíblia de Gênesis ao Apocalipse. Não existem textos originais hoje, nem do Velho e nem do Novo Testamento. Além do mais, não houve grandes rupturas nos textos que estão na Bíblia hoje. A essência é aquela mesma que está presente na Bíblia atualmente. Os textos bíblicos estão repletos de lendas, mitos, alegorias, fábulas, anacronismos, contradições, discrepâncias e erros porque tudo isso fazia parte da técnica narrativa da época. No fundo, os escritores hebreus não estavam interessados em narrar sua história propriamente dita sob a direção do Deus hebreu. É por isso que a Bíblia é uma mistura de fatos reais com lendas e mitos. E o Deus Javé só entra nas narrações das lendas e mitos. Não está na história propriamente dita dos hebreus. Para evitar um artigo muito extenso, mostro-lhe, caro Ronin, um exemplo. Veja a lenda acerca da escravidão do povo hebreu no Egito, que está em Êxodo. Aquilo não é história propriamente dita. Nunca o povo hebreu em geral foi escravo dos egípcios durante 430 anos. E quando entra a figura do Deus Javé aí é que os relatos são ingênuos, profundamente infantis. Ora, é dito que, somente depois de 430 anos de sofrimento do povo hebreu no Egito, é que o Deus Javé se lembrou. Deus havia esquecido seu próprio povo. Alguém poderia dizer: uma entidade inteligente e forte não permitiria que seu povo ficasse escravo sequer durante 1 dia, imagine durante quase 5 séculos. E, na lenda bíblica, o que Deus fez? Deus procurou um homem hebreu chamado Moisés para ser o intermediário junto ao Faraó egípcio para deixar o povo hebreu sair da escravidão. Alguém inteligente poderia perguntar: por que Deus procurou um homem, por que não destruiu o Faraó e seus auxiliares apenas com um toque de dedo, por que deixou o povo dele na escravidão durante quase 5 séculos? A resposta é simples: Deus algum existe, deus algum livra alguém de alguma coisa. Na lenda do Êxodo, Deus procurou Moisés, um homem, porque somente o homem é capaz de fazer alguma coisa. Deus algum faz alguma coisa sem a obra humana. É a mesma coisa que ocorre quando um terrorista islâmico comete um atentado com bombas, matando várias pessoas inocentes. Antes de detonar a bomba, ele deixa gravado que está cumprindo ordem de seu deus, o Alá. Na verdade, deus algum existe. Se o terrorista não tivesse acionado a bomba, jamais o deus Alá teria agido. É fácil ver que os deuses sempre recorrem ao homem porque não existem, nada podem fazer sozinhos contra ou a favor de alguém.
                  Um abraço!

domingo, 28 de abril de 2019

NORMAN GEISLER: JESUS E A PURIFICAÇÃO DO TEMPLO




Eustáquio




                    O irlandês John Dominic Crossan (teólogo, arqueólogo bíblico, especialista em Novo Testamento), em seu livro “Quem Matou Jesus?”, 1955, editora Imago, na página 30, escreve:


                   “Mateus usou Marcos como uma das duas maiores fontes na composição de seu evangelho. (...) Se você ler Mateus e Marcos com colunas paralelas como os estudiosos fazem, pode ver facilmente como Mateus omite, muda e acrescenta a sua fonte de Marcos.”


                      A afirmação acima de Crossan é do conhecimento de qualquer estudioso sério da Bíblia. Ele diz que o evangelho de Marcos, o primeiro a aparecer, serviu como fonte para quem escreveu o evangelho de Mateus. Para ser mais simples, quem escreveu o evangelho de Mateus estava olhando as cópias de Marcos. E diz também Crossan que, quem escreveu o evangelho de Mateus, omitiu, mudou e acrescentou em seu texto trechos do evangelho de Marcos. Isso explica as contradições, as discrepâncias e os erros que estão nos 4 evangelhos do Novo Testamento.
                  Na mesma linha de Crossan, o norte-americano Bart D. Ehrman (teólogo, historiador, graduado em grego e hebraico, especialista em Novo Testamento, professor de cristianismo), em seu livro “Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?”, 2010, editora Ediouro, nas páginas 17 e 18, escreve:


                    A Bíblia está repleta de discrepâncias, muitas delas contradições inconciliáveis (...) Os Evangelhos se contradizem em muitos pontos e incluem material não histórico.”


                        Bart Ehrman, como é um estudioso sério da Bíblia, afirma também que os 4 evangelhos que estão no Novo Testamento são repletos de contradições, discrepâncias, lendas e erros.
                    Apresentei dois doutores em teologia sérios, que estudam a Bíblia com seriedade, com responsabilidade. Coisa bem diferente são os teólogos cristãos evangélicos e protestantes. Esses são fundamentalistas porque não fazem um estudo sério acerca da Bíblia. Eles veem a Bíblia como a palavra de Deus, sem contradições, discrepâncias, erros etc. Em seus livros, deturpam os textos bíblicos de maneira tão infantil que levam leitores sérios ao riso, e leitores ingênuos ao erro. Trago, mais uma vez, um teólogo representante dessa classe, muito famoso no mundo evangélico nos EUA e no Brasil: Norman Geisler. Em seu livro “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘contradições” da Bíblia”, 1999, 4ª edição, editora Mundo Cristão, Geisler faz, inutilmente, um esforço gigantesco para comunicar que a Bíblia não apresenta erros e contradições porque foi inspirada por Deus. Ao tentar essa tarefa impossível, Geisler deturpa os textos bíblicos, criando verdadeiros monstros que levam pessoas sérias ao riso. E, neste artigo, apresentarei mais um exemplo. Nas páginas 363 e 364, ele escreve:


            “PROBLEMA: Mateus coloca a maldição da figueira depois da purificação do templo. Entretanto, Marcos a coloca antes desse evento. Mas essas duas colocações não podem ser ambas verdadeiras. Será que um dos evangelistas cometeu um erro?”


                 Norman Geisler analisa em seu livro mais uma discrepância bíblica. E ele, inutilmente, tenta dizer que não se trata de um erro. Em Mateus, na lenda da árvore figueira, Jesus amaldiçoou uma árvore somente depois de ter purificado o templo, expulsando dali os comerciantes. Ou seja, em Mateus, primeiramente, Jesus purificou o templo em Jerusalém. Expulsou os comerciantes. Depois, saiu de Jerusalém e foi para Betânia, onde dormiu. Cedo de manhã, ao voltar para Jerusalém, no meio do caminho, amaldiçoou uma árvore, a figueira. Ou seja, a maldição de Jesus a uma árvore ocorreu depois de ele ter purificado o templo. Certinho, caro leitor? O problema é que o evangelho de Marcos diz coisa diferente de Mateus, daí a discrepância, o que é do conhecimento de qualquer teólogo que estuda a Bíblia com seriedade. É impossível dizer que não há discrepância só porque alguém acha que a Bíblia é a palavra de Deus. Em Marcos, primeiramente, Jesus amaldiçoa a árvore figueira. Depois disso, quando chega a Jerusalém é que purifica o templo, expulsando os comerciantes.
                   Antes de apresentar as explicações de Norman Geisler, que levarão você, leitor, ao riso, mostro mais uma fantasia dele. Os teólogos evangélicos vivem tanto no mundo da lua que o Norman Geisler vê uma lenda bíblica e diz que não é lenda, mas um fato real. E aqui está uma lenda em que Jesus amaldiçoa uma árvore. Essa maldição a uma árvore foi apenas uma invenção ingênua para mostrar ao povo ignorante da época que Jesus era poderoso. Ninguém pode levar essa lenda a sério, mas o Norman Geisler assim o faz. Quando Geisler diz que isso realmente ocorreu, ele, sem saber, está destruindo o próprio Jesus. Imagine, um ser humano ficar com raiva de uma árvore a ponto de amaldiçoá-la. Que maluquice, não é mesmo, leitor? Além disso, essa lenda boba derruba a onisciência de Jesus. Ele pensava que havia frutos na árvore porque estava com muita fome. Quando chegou perto dela, só aí é que percebeu que não havia frutos. E, com raiva, Jesus a amaldiçoou. Sem querer, pois, Geisler insinua que Jesus era maluco e não onisciente. Veja, agora, leitor, as explicações de Norman Geisler, nas páginas citadas acima:


                
       “SOLUÇÃO: Na verdade Jesus amaldiçoou a figueira quando ia para o templo, como Marcos disse, mas isso não significa que o relato de Mateus esteja errado. Cristo foi ao templo duas vezes, e ele amaldiçoou a figueira na segunda ida.”



                Você, leitor, está vendo o início das explicações de Norman Geisler. Ele está afirmando que primeiramente Jesus amaldiçoou a figueira e, depois, purificou o templo, de acordo com o evangelho de Marcos. E ele diz que esse relato não quer dizer que o relato de Mateus esteja errado. Que maluquice! Ora, o evangelho de Mateus diz o contrário. E ainda o Geisler tem a coragem de dizer que um não anula o outro. E continua o Geisler na página 364:


              “Marcos 11:11 diz que Cristo entrou no templo no dia da sua entrada triunfal. O evangelista não mencionou que Jesus tenha feito alguma proclamação contra qualquer coisa errada, ao entrar no templo. O versículo 12 usa a expressão ‘No dia seguinte” referindo-se à jornada até o templo, quando passaram pela figueira, no segundo dia. Foi nesse momento que expulsou os que compravam e vendiam no templo.”


                 Eis a segunda parte das explicações de Norman Geisler. Ele faz referência a Marcos 11: 11 e 12:


                 “11 E, quando entrou em Jerusalém, no templo, tendo observado tudo, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze.
                      12   No dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome.”


                       É fácil perceber que Norman Geisler escreve, escreve, escreve e não sai do lugar. Não consegue, claro, sair da discrepância bíblica. Ele mesmo diz que Jesus, em Marcos, entrou no templo duas vezes. Na primeira entrada de Jesus, não expulsou ninguém, não purificou o templo. Saiu de Jerusalém e foi para Betânia, onde dormiu. No dia seguinte, Jesus, sai de Betânia, retornando a Jerusalém. No meio do caminho, amaldiçoa a árvore. E, após, chegando a Jerusalém, entra no tempo e o purifica, expulsando os comerciantes. Percebeu, leitor, como o Norman Geisler escreve, escreve, escreve e não sai do lugar? Ele mesmo está afirmando que Jesus, após amaldiçoar uma árvore, expulsou os comerciantes do templo na segunda visita. Só que Mateus diz coisa diferente: primeiro Jesus purificou o templo, só depois é que amaldiçoou a árvore. Para ficar mais claro ainda: Em Mateus, Jesus primeiramente purifica o templo. Depois sai de Jerusalém e vai para Betânia. No dia seguinte, ao retornar para Jerusalém, no meio do caminho, amaldiçoa uma árvore. Já em Marcos, Jesus primeiramente amaldiçoa uma árvore no meio do caminho. Ao chegar a Jerusalém, entra no templo, e o purifica. Norman Geisler, portanto, escreve, escreve, escreve e morre na praia. E Geisler termina suas explicações assim:


                   “Mateus, entretanto, refere-se às duas idas de Cristo ao templo como se fossem só evento, e relata em seguida a maldição sobre a figueira. (...) O relato de Marcos, portanto, nos fornece mais detalhes desses eventos, revelando que realmente foram duas idas ao templo.”


                 Mais uma vez, Norman Geisler escreve, escreve, escreve e morre na praia, ou seja, não sai do lugar. Ele, para confundir o leitor bobo, mostra as duas idas de Jesus ao templo que está em Marcos. Essas duas idas de Jesus nada alteram. O próprio Norman Geisler escreve que Jesus expulsou os comerciantes do templo em Jerusalém quando retornava de Betânia, tendo, no meio do caminho, amaldiçoado a árvore. Ou seja:

                         Primeiramente: a maldição da árvore (no caminho)
                            Depois:       Purificação do templo (em Jerusalém)

                   Em Mateus, a diferença:

                         Primeiramente: a purificação do templo

                               Depois:        a maldição da árvore 


                    Resumindo: em Mateus, quando Jesus purifica o templo, vai para Betânia. E ainda não amaldiçoou a árvore. Em Marcos, Jesus só purifica o templo quando está retornando de Betânia, após ter amaldiçoado a árvore.
                 
                       

sábado, 27 de abril de 2019

NORMAN GEISLER: A QUEM JESUS APARECEU PRIMEIRO?




Eustáquio



                    O espanhol Juan Arias (teólogo, psicólogo, filólogo, jornalista, escritor, graduado em línguas semíticas), em seu livro “A Bíblia e seus segredos”, 2004, editora Objetiva, na página 30, escreve:



                 “É lógico, portanto, que a Bíblia apresente erros e contradições, exageros e mitos misturados com fatos reais.”



                      No mesmo tom, o norte-americano Bart D. Ehrman (teólogo, historiador, escritor, graduado em grego e hebraico, professor de cristianismo, ex-pastor evangélico). Em seu livro “Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?”, 2010, editora Ediouro, nas páginas 17 e 18, ele escreve:


                       
                        “A Bíblia está repleta de discrepâncias, muitas delas contradições inconciliáveis (...) Os Evangelhos se contradizem em muitos pontos e incluem material não histórico.”



                    Quem estuda a Bíblia com seriedade e responsabilidade chegará a essa conclusão. Ela está repleta de lendas, mitos, alegorias, fábulas, anacronismos, contradições, discrepâncias e erros de toda espécie.  Isso ocorre porque é um conjunto de livros humano, feito por homens, sem a participação de divindades “espirituais”.
                  Por outro lado, existem teólogos cristãos que deturpam os textos bíblicos a fim de convencer seus leitores de que a Bíblia é a palavra de Deus, isenta de erros, discrepâncias, contradições etc. São os teólogos evangélicos fundamentalistas. Nessa tentativa inútil de deturpar a Bíblia, eles levam leitores sérios ao riso, e leitores ingênuos ao engano. Trago, como exemplo, o norte-americano Norman Geisler (teólogo, filósofo, escritor). Geisler faz sucesso no meio evangélico nos EUA e é muito admirado também aqui, no Brasil, por fiéis que frequentam igrejas. Em seu livro “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘contradições’ da Bíblia”, 1999, 4ª edição, Editora Mundo Cristão, Geisler, do início ao fim, pratica uma deturpação geral da Bíblia, levando, repito, leitores sérios ao riso. Ele deturpa tanto a Bíblia que muitos leitores podem até mesmo pensar que ele é um brincalhão ou coisa pior que isso. Vejamos mais um exemplo do que Geisler é capaz de fazer com os textos bíblicos. Na página 374 do supracitado livro, ele aborda um tópico sobre a lenda da ressurreição de Jesus. Ali, mais uma discrepância, só que Geisler tenta inutilmente afirmar que não é discrepância. E, ao explicar, leva leitores ao riso e ao erro. Sua explicação ingênua e errônea do texto bíblico cria um monstro digno de risos. Ele escreve assim:


                 “MATEUS 28:5 – A quem Cristo apareceu primeiro, às mulheres ou aos discípulos?”


                   Norman Geisler formula a pergunta para, depois, responder. Ele pergunta: após a ressurreição, Jesus apareceu primeiramente a quem? Às mulheres, ou aos discípulos? Vejamos agora a resposta dada por ele:


                   “SOLUÇÃO: Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, depois às outras mulheres, e então a Pedro (Cefas)”


                   Um estudioso sério da Bíblia, ao ler essa explicação de Geisler, com certeza cairá no riso, dada a tamanha ingenuidade. Geisler destrói os textos bíblicos com sua infantil mania de propagar que a Bíblia é a palavra de Deus isenta de erros. Ele afirma que Jesus apareceu primeiramente à Maria Madalena. Depois, apareceu às outras mulheres. E, por último, ao discípulo Pedro. Que absurdo! Vejamos a primeira parte da afirmação de Geisler:


                  “Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena”


                  No evangelho de Marcos, está escrito que Jesus apareceu primeiro à Maria Madalena. Só que esse evangelho não é o único do Novo Testamento. Um leitor bobo e ingênuo do Norman Geisler lê o evangelho de Marcos e constata que o Geisler é fera, tem toda razão. Ou seja, o leitor bobo foi levado ao erro pelo Norman Geisler. Se esse mesmo leitor bobinho abrir o evangelho de Mateus, vai quebrar a cara. Mateus diz coisa diferente do que o Marcos. Vejamos o capítulo 28, versículos 1 e 9:


               “No findar do sábado, ao entrar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro.
               9 E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram.”


            Como se vê facilmente, o evangelho de Mateus diz coisa diferente do evangelho de Marcos. Em Marcos, na lenda, Jesus apareceu primeiro à Maria Madalena. Já em Mateus, Jesus apareceu primeiro a 2 mulheres (Maria Madalena e a outra Maria). Jesus apareceu diante das duas mulheres, e não apenas diante de 1 mulher. Maria Madalena e a outra Maria, ao mesmo tempo, viram Jesus diante delas.
             E, para piorar a afirmação do Norman Geisler, no evangelho de Lucas, Jesus nem apareceu primeiro às mulheres. Na lenda de Lucas, Maria Madalena estava diante do túmulo com várias mulheres. Elas não viram Jesus. Jesus só apareceu primeiro a 2 discípulos no caminho de Emaús. Jesus apareceu primeiramente a dois machos, e não às mulheres. Resumindo:

                    
              Jesus apareceu primeiro à Maria Madalena  (Marcos)

              Jesus apareceu primeiro a 2 mulheres          (Mateus)

              Jesus apareceu primeiro a 2 machos             (Lucas )



              Não adianta alguém tentar deturpar a Bíblia para convencer pessoas bobas de que ela é a palavra de Deus isenta de contradições, erros, discrepâncias etc. É impossível fazer isso. Quem tentar fazê-lo cairá rapidamente do cavalo. Na verdade, tudo lenda, e nada mais. Jesus algum ressuscitou e não reapareceu para mulheres e machos.