terça-feira, 28 de maio de 2019

O TIRO DE GUERRA DE SOBRAL


                    


Eustáquio




                  Prezado leitor,

                Na foto abaixo, à esquerda, o Cemitério São José, e, à direita, a loja de compensados “O Tintão”, ambos situados na Rua Anaihd Andrade, no centro de Sobral, bem próximos do Mercado Municipal.
               Esse lugar me traz maravilhosas recordações. À sua direita, caro leitor, você vê hoje a loja “O Tintão”, frente a frente com a porta de entrada do cemitério. Em 1975, quando eu estava com 19 anos de idade, no lugar dessa loja, funcionava o Tiro de Guerra nº 10-011, uma unidade do Exército brasileiro destinada aos jovens que estavam prestando o serviço militar obrigatório. Comecei a cumprir ali o serviço militar no dia 6 de junho de 1975, terminando em 30 de novembro do mesmo ano.
                Eu desejava muito cumprir o serviço militar. Fiquei com bastante medo de ser dispensado, já que era muito magro. Porém, deu tudo certo. Naquele Tiro de Guerra, havia 4 sargentos: Alexandre, Passos, Eliel e Assis. Cada sargento ficava responsável por um determinado grupo de soldados. O responsável pelo meu grupo era o sargento Alexandre, homem de fino trato e muito amigo de meu irmão José Lins Neto, mais conhecido por Deca, que mora hoje na cidade de Imperatriz, no Maranhão. Na terceira semana de Tiro de Guerra, houve um concurso interno para o posto de cabo. Havia 4 vagas, ou seja, um cabo para cada sargento. 12 soldados concorreram, e eu fui um deles. A prova foi muito simples: uma redação sobre o serviço militar e conhecimentos gerais. Obtive o 1º lugar, e fui designado para trabalhar com o sargento Alexandre. Os 4 cabos e os soldados não recebiam remuneração, nem 1 centavo, nem 1 real. Uma pobreza danada. Todos os dias, de segunda a sexta, nós deveríamos estar na unidade às 5 horas da manhã. Eu morava com minha família na Rua Maria Tomásia, numa casa alugada, defronte para a casa do enfermeiro Antônio Arquelau. Acordava precisamente às 4 horas da madrugada. A primeira coisa que eu fazia, quando me levantava, era abrir os olhos, claro. Depois, partia para o banheiro todo estragado. Enquanto tomava um banho, com água muito fria, minha mãezinha (Gerarda Alves Lins) interrompia seu sono apenas para preparar meu café. Amor de mãe, o amor mais puro, mais sincero e mais forte que existe! Mamãe fazia um cafezinho gostoso, que eu tomava acompanhado por um pãozinho amanteigado. Que delícia! Após o café, eu vestia a calça e a camisa verdes, pertencentes ao Exército, colocava os dois coturnos (botas) pretos e o quepe (boné) preto. Exatamente, às 4h 30 da madrugada, eu abria a porta de entrada da casa, saindo, a pé, à esquerda, pela minha rua Maria Tomásia. Subia pela Avenida Boulevard Pedro II, hoje, Avenida Dr. Guarani. Passava pela Praça do Teatro São João, pegando a Avenida Dom José, e chegando à Praça Coluna da Hora. Dali, continuava caminhando pela Rua Coronel Ernesto Deocleciano, passando pelo Cine Alvorada e chegando ao prédio mais lindo de Sobral, o Palace Club, hoje, Palácio de Ciências e Línguas Estrangeiras, onde há uma pracinha. Dali, eu entrava na Rua General Tibúrcio e virava à direita, na Rua Anaihd Andrade, onde estava situado o Tiro de Guerra. Para fazer esse percurso, eu gastava uns 15 minutos, ou seja, chegava 15 minutos antes do horário estabelecido. Às 5 h 30, eu colocava meu grupo de soldados em ordem porque os sargentos chegavam às 6 horas da manhã. Os cabos estavam livres da faxina e do horário noturno. Sem que o sargento Alexandre soubesse, mudei isso. Eu era o único cabo que fazia faxina e, durante o plantão noturno, entrava na lista para ficar de vigia. Seria horrível de minha parte, ficar dormindo no alojamento, enquanto meus colegas permaneciam acordados durante algumas horas. Se estávamos no mesmo barco, deveríamos remar juntos e unidos. Durante dois dias na semana, havia a prática de inúmeros exercícios com as mãos livres, com bastão e com fuzil. Era uma relação extensa de exercícios. Eu memorizei todos e treinei bastante. Por isso mesmo, fui indicado para ser o guia. Nós colocávamos uma madeira longa sobre os cavaletes, defronte à porta do cemitério. Eu subia na madeira, ficando num nível mais elevado que meus colegas. A cada exercício que eu fazia, a turma me acompanhava. Haja garganta para produzir os gritos que deveriam ser altos. Enfim, guardo muitas recordações daquela época. Há muito o que escrever aqui acerca do que vivenciei ali. No final de novembro de 1975, concluímos o serviço militar. A festa de solenidade foi realizada na Praça Coluna da Hora. Foi armado um palanque. Nele, os 4 sargentos, o prefeito de Sobral (José Parente Prado) e outras autoridades. Na ocasião, eu mais 4 pessoas recebemos o diploma de honra “Ao Mérito” pelo excelente comportamento durante a prestação do serviço militar.

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