quinta-feira, 23 de maio de 2019

O HOMICÍDIO QUE ABALOU A CIDADE DE SOBRAL





Eustáquio


               Caro leitor,

              
               Sem dúvida alguma, a quase totalidade dos habitantes de Sobral não tem a menor ideia do homicídio que causou, até os dias de hoje, o maior impacto, a mais forte comoção na cidade.
               Na foto abaixo, o bispo católico sobralense Dom Francisco Expedito Lopes. Não o conheci. Ele nasceu no dia 8 de julho de 1914, no sítio Jerusalém, Vila de Meruoca, em Sobral, e faleceu no dia 2 de julho de 1957, isto é, quando Dom Expedito morreu, eu tinha apenas 8 meses de vida, já que nasci no dia 1º de novembro de 1956. Todavia, minha família o conhecia profundamente. Francisco Expedito Lopes, ainda adolescente, frequentava nossa casa alugada, situada na Avenida Boulevard D. Pedro II, ao lado do Arco de Nossa Senhora de Fátima, na entrada principal da cidade. Atualmente, o nome da avenida mudou: Avenida Dr. Guarani. E, hoje, infelizmente, a casa não existe mais porque foi demolida para dar lugar ao Colégio Luciano Feijão, o que causou profundo estrago na história de Sobral. Onde havia várias casinhas, atualmente uma parede extensa e sem vida do colégio já citado. E ainda dizem que Sobral foi tombada pelo Patrimônio Histórico. Como??? Foi mesmo, é??? Minha mãezinha, Gerarda Alves Lins, me dizia que o Francisco Expedito gostava muito de meu pai, João Lopes Lins. Que ele andava sempre lá por casa e que era um jovem muito inteligente, educado e amável. Extremamente religioso.
             Pois bem, caro leitor! O homicídio do qual foi vítima o bispo católico sobralense Dom Francisco Expedito Lopes foi o que teve maior repercussão na cidade de Sobral e até no Vaticano, em Roma. E esse homicídio não foi praticado em Sobral, mas bem distante dali. Antes de narrar esse fato muito triste, quero deixar aqui registrada uma coisa que poucos sobralenses devem saber: existe uma pequena cidade brasileira cujo nome é: Dom Expedito Lopes! Isso mesmo, caro leitor! Uma cidade cujo nome presta uma impagável homenagem a esse ilustre sobralense. Eu também não tinha ciência da existência dessa cidade. Somente há dois anos é que tive o prazer de conhecê-la, e a conheci sem querer. Eu estava indo de carro, de Brasília, onde moro, para Fortaleza. Quando entrei no Piauí, depois de passar por várias cidades bem pequenas, vi uma plaquinha com os seguintes dizeres: “Bem-vindo a Dom Expedito Lopes”. Eu gelei, caro leitor! Ao mesmo tempo, uma tristeza e uma alegria me invadiram. Tristeza por me lembrar do triste fim do bispo Dom Expedito, e alegria por saber que um povo do Piauí presta uma grande homenagem a um filho de Sobral. Eu segurei o choro. Entrei de carro na cidadezinha bem humilde. Vi uma pracinha e a prefeitura. Parei defronte a uma humilde lanchonete, com poucos produtos à venda. Desci do carro. Conversei com o proprietário de nome Sebastião. Eu disse a ele que, naquela cidade, estava me sentindo como se estivesse em Sobral. Eu estava bastante emocionado com aquela homenagem ao sobralense Dom Expedito, um conterrâneo meu, que teve um fim trágico e hediondo, que não merecia ter um final de vida daquele. O dono da lanchonete quase chora comigo. Ali, diante dele, um cearense que nasceu na terra de Dom Expedito, em Sobral. Eu, caro leitor, só não fui falar com o prefeito da cidade porque era dia de sábado, a prefeitura estava fechada. Atualmente, sempre vou a Fortaleza de avião, mas, se, em algum dia, eu for de carro, com certeza voltarei àquela cidade e almoçarei com o prefeito. Essa cidade fica a 288 km da capital Teresina. É quase a mesma distância de Fortaleza a Sobral. Possui hoje apenas 6.569 habitantes e sua área é de 219,072 km². Narrarei agora um pouco da vida desse ilustre sobralense.
                    Francisco Expedito Lopes, como já escrevi no início deste artigo, nasceu em Sobral, em 1914. Em 1938, com apenas 24 anos de idade, foi ordenado sacerdote em Roma. Em 1948, com 34 anos de idade, é sagrado bispo em Sobral. Nesse mesmo ano, ele vai para Oeiras, no Piauí. De 30 de agosto de 1948 a 24 de agosto de 1954, Dom Expedito atuou como o 1º bispo de Oeiras. Ele era tão querido, tão amado por essa gente, que criaram um município com o nome dele, como mostrei acima. A cidade Dom Expedito Lopes foi criada em 1963. É uma cidade quase vizinha de Oeiras. Dom Expedito Lopes, pois, passou 6 anos em Oeiras. Em 1955, foi para a cidade de Garanhuns, em Pernambuco, empossado como 5º bispo. E nessa cidade, coitado, encontrou-se com a morte, em 1957. Tinha apenas 43 anos de idade.
                 Ao chegar a Garanhuns, em 1955, com apenas 41 anos de idade, o bispo Dom Expedito teve a infelicidade de encontrar o padre Hosana de Siqueira e Silva, que era o pároco da cidadezinha de Quipapá, pertencente à diocese de Garanhuns. A fama de mulherengo do padre Hosana era muito grande. Não podia ver um rabo de saia que ficava todo excitado. Ele morava em Quipapá, na casa paroquial, com sua prima e amante Maria José Martins. Essa fama de raparigueiro do padre Hosana chegou ao conhecimento do bispo Dom Expedito. E Dom Expedito, obviamente, não poderia aceitar essa situação, já que a Igreja Católica Apostólica Romana proíbe relações sexuais praticadas por seus sacerdotes. Por isso mesmo, Dom Expedito solicitou ao padre Hosana que ele comparecesse ao Palácio Episcopal, em Garanhuns. E o padre foi. Chegando lá, foi bem recebido por Dom Expedito que comunicou ao padre que estava sabendo dos casos amorosos dele e que, inclusive, sua amante e prima Maria José Martins estava grávida. Ao ouvir o bispo, o padre Hosana fez o que qualquer acusado faz: mentiu muito! Padre Hosana disse ao bispo sobralense que ele não tinha mulher alguma, que tudo aquilo era invenção má do povo de Quipapá. Que padre safado! O bispo Dom Expedito, obviamente, não acreditou na conversa fiada do padre Hosana. Avisou a ele que, se continuasse com esse comportamento, seria suspenso de suas ordens sacerdotais. O padre Hosana, assim que chegou a Quipapá, retirou da casa paroquial sua amante e prima Maria José Martins, mandando-a para uma localidade próxima. Só que continuava mantendo relações sexuais com ela. E a Maria, obviamente, adorava fazer sexo com o sacerdote católico. Ela subia aos “céus” de tantos orgasmos! E o padre Hosana não se contentou com a Maria. Arranjou mais uma amante, mais bonita e mais nova. Com certeza, esse padre era mais mulherengo do que o cantor Fábio Júnior. Novamente, essas notícias chegaram ao conhecimento do bispo Dom Expedito. E o bispo sobralense, de novo, chamou o padre Hosana ao Palácio Episcopal, em Garanhuns. E o padre foi novamente. Dom Expedito disse a ele que, se não parasse com esse comportamento, seria obrigado a comunicar ao Vaticano. Deu ao padre Hosana 15 dias para ele criar juízo. Nesse momento, o padre ficou revoltado, espumando ódio em relação ao pobre bispo. E disse que jamais deixaria suas amantes, suas mulheres. E saiu gritando do Palácio.
                      No dia 1º de julho de 1957, data em que seria publicado o ato episcopal suspendendo suas ordens sacerdotais, o padre Hosana pegou o revólver taurus, calibre 32, dirigindo-se a uma rádio difusora de Garanhuns com a finalidade de mentir novamente, afirmando que não tem amantes. O pessoal da rádio não permitiu a entrada do padre porque já conhecia a peça. Com bastante raiva, padre Hosana deixou a rádio e foi em direção ao Palácio Episcopal, onde morava o bispo Dom Expedito. Bateu à porta, com força. Dom Expedito, com paciência, abriu a porta e viu, diante de si, o padre Hosana com um revólver na mão. Após proferir ofensas ao bispo, padre Hosana apertou o gatilho da arma por 3 vezes, à queima-roupa. O bispo Dom Expedito caiu ao chão, inconsciente. O padre fugiu, e Dom Expedito foi levado rapidamente ao hospital, mas faleceu na madrugada do dia seguinte, 2 de julho de 1957.
               Revoltante, não é mesmo, caro leitor? Que morte bárbara e hedionda a do bispo Dom Expedito que só propagava o amor, a misericórdia e a fraternidade! O miserável padre Hosana, alguns dias depois, foi preso e transferido para a casa de detenção em Recife. E foi também excomungado pela Igreja Católica. Passou por 3 julgamentos: no primeiro, foi condenado a apenas 2 anos e 6 meses de prisão. Que absurdo! Que diabo de país é este? Um cidadão mata outrem à queima-roupa, por pura maldade, e é condenado a menos de 3 anos de prisão. Não é à toa que o Brasil é um dos país mais violentos do mundo. E o pior vem agora: no segundo julgamento, o padre Hosana foi ABSOLVIDO! Não, caro leitor, não estou brincando! Isso é inacreditável, não é mesmo? No terceiro e último julgamento, padre Hosana foi condenado a 19 anos de reclusão, menos ruim, mas cumpriu pouco tempo na cadeia. Ao sair da prisão, ficou recolhido em sua fazenda a 9 km da cidade de Correntes, passando a viver da agricultura. Mas o bom mesmo, caro leitor, aconteceu em 7 de novembro de 1997. O padre Hosana estava com 84 anos de idade. Ele, em sua fazenda, vivo, e o pobre bispo Dom Expedito, morto, no cemitério. E o que ocorreu com o padre? Ora, foi assassinado a golpes de madeira na cabeça. Até hoje ninguém sabe quem foi o autor ou autores desse homicídio. Com certeza, fiéis que, revoltados com a injustiça gritante, resolveram agir com as próprias mãos.
                  Pobre bispo sobralense Dom Expedito Lopes!

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