Eustáquio
Antes
de analisarmos mais duas passagens bíblicas que estão em discrepância, façamos
uma rápida pesquisa na história do Brasil. A pergunta é a seguinte:
No dia 9 de janeiro de
1822, o que D. Pedro I disse aos liberais do Partido Brasileiro?
Se você,
leitor amigo, abrir todos os livros de História do Brasil encontrará a resposta
à pergunta formulada acima. Até mesmo algum historiador poderá dizer que não
foi bem assim, mas com certeza reproduzirá a fala de D. Pedro I que ficou
gravada assim:
“Se é para o bem de todos e
felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”
Repito,
caro leitor: você, em qualquer livro de História do Brasil, encontrará a mesma
fala de D. Pedro I. Por quê? Porque foi realmente um fato histórico, que
ocorreu de fato. Essa fala de D. Pedro I não sofre mudança alguma em todos os
livros. Permanece a mesma.
Saindo agora da História do Brasil, entremos no mundo da Bíblia,
recheado de lendas, mitos, alegorias, fábulas, contradições, discrepâncias e
erros de toda espécie. Antes, vejamos a mensagem de um especialista em Bíblia. O norte-americano Bart D. Ehrman
(teólogo, historiador, graduado em grego e hebraico, especialista em Novo
Testamento, escritor, professor de cristianismo há mais de 30 anos numa
universidade na Carolina do Norte (EUA), em seu livro “Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?”, 2010, editora Ediouro, nas
páginas 17 e 18, escreve:
“A Bíblia está
repleta de discrepâncias, muitas delas contradições inconciliáveis (...) Os
Evangelhos se contradizem em muitos pontos e incluem material não histórico.”
Façamos, pois, a
seguinte pergunta à Bíblia:
“Quando Jesus
ressuscitou, o que ele disse à Maria Madalena?”
Como
vimos acima, no caso da fala de D. Pedro I, que é a mesma em todos os livros de
História do Brasil, então, com certeza, a fala de Jesus também será a mesma nos
4 evangelhos do Novo Testamento, não é mesmo? Afinal de contas, foi a
primeira fala de Jesus após sua ressurreição, não é mesmo? Se você, leitor,
respondeu sim, errou profundamente. A fala de Jesus muda totalmente, não é a
mesma, porque não se trata de um fato histórico, mas de uma lenda reproduzida
livremente ao gosto de cada evangelista. Vamos comparar aqui apenas a fala do
Jesus ressuscitado no evangelho de Mateus e no evangelho de João. Por que
deixamos de lado os evangelhos de Marcos e Lucas? Simplesmente porque existem
mais discrepâncias: nesses dois evangelhos, Jesus nada fala para Maria
Madalena. Então, vamos ver apenas a fala do Jesus ressuscitado à Maria Madalena
em Mateus e João. No evangelho de Mateus, mais uma discrepância: o Jesus ressuscitado
fala para 2 mulheres: Maria Madalena e a outra Maria. Vejamos a fala de Jesus, no
capítulo 28, versículos 9 e 10:
“9 E eis que Jesus veio ao
encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhes os pés e
o adoraram.
10 Então, Jesus lhes disse: Não
temais! Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia e lá me verão.”
Muito bem! Segundo o relato de
Mateus, a primeira fala do Jesus ressuscitado à Maria Madalena e à outra Maria
foram 2: “Salve!” e “Não temais! Ide avisar a meus irmãos que se dirijam
à Galiléia e lá me verão.” Pois bem, caro leitor!
Será que essa fala do Jesus ressuscitado à Maria Madalena é a mesma que está no
evangelho de João? Tem que ser, não é mesmo? Então vejamos. No capítulo 20,
versículos 15 a 17:
“15 Perguntou-lhe Jesus: Mulher,
por que choras? A quem procuras? Ela, supondo ser ele o jardineiro, respondeu:
Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.
16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela,
voltando-se, lhe disse, em hebraico: Rabôni (que quer dizer mestre).
17 Recomendou-lhe Jesus: Não me
detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e
dize-lhes: subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus.”
Você, leitor, já percebeu que
a fala de Jesus que está em Mateus é completamente diferente da que está em
João, não é mesmo? Isso ocorre porque não estamos diante de um fato histórico,
mas de relatos lendários em que cada evangelista trabalha livremente, sem
compromisso algum. Nesses dois relatos, um mundo de contradições e
discrepâncias. No relato de Mateus, Jesus aparece primeiramente a 2 mulheres. E
as duas mulheres o reconhecem imediatamente. Já no relato de João, Jesus só
aparece primeiramente a 1 mulher, Maria Madalena. E Jesus não é reconhecido por
ela imediatamente. Maria Madalena olhava para Jesus, porém pensava que ele era
o jardineiro do sepulcro (por favor, não ria, caro leitor!). No relato de
Mateus, Jesus cumprimenta as 2 mulheres com um “Salve!”. E pede a elas que vão
aos onze discípulos para se dirigirem à Galileia a fim de se encontrarem com
Jesus lá. Já no relato de João, Jesus não cumprimenta Maria Madalena com um “Salve!”,
ao contrário, Jesus dirige uma pergunta a ela. E a recomendação de Jesus à
Maria Madalena não é para que ela vá aos onze discípulos a fim de eles se
dirigirem à Galileia. Jesus diz apenas que vai subir para o pai dele.
Percebeu, caro leitor, como
as falas atribuídas a Jesus em Mateus e João são completamente diferentes,
discrepantes? E por que esse fenômeno ocorre? Ora, porque não estamos tratando
de fatos históricos, realmente ocorridos, mas de lendas, relatos ingênuos
criados pela imaginação dos apreciadores de Jesus. Quem escreveu o evangelho de
Mateus não estava preocupado com o que estava nos evangelhos de Marcos, Lucas e
João, e vice-versa. Esses autores copiavam-se, mas mudavam os textos de acordo
com sua criatividade, daí as contradições e discrepâncias. Na verdade, Jesus
algum ressuscitou e reapareceu a quem quer que seja.
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