terça-feira, 7 de maio de 2019

O QUE JESUS DISSE À MARIA MADALENA?




Eustáquio




                Antes de analisarmos mais duas passagens bíblicas que estão em discrepância, façamos uma rápida pesquisa na história do Brasil. A pergunta é a seguinte:



                     No dia 9 de janeiro de 1822, o que D. Pedro I disse aos liberais do Partido Brasileiro?



                    Se você, leitor amigo, abrir todos os livros de História do Brasil encontrará a resposta à pergunta formulada acima. Até mesmo algum historiador poderá dizer que não foi bem assim, mas com certeza reproduzirá a fala de D. Pedro I que ficou gravada assim:



                 “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”



                  Repito, caro leitor: você, em qualquer livro de História do Brasil, encontrará a mesma fala de D. Pedro I. Por quê? Porque foi realmente um fato histórico, que ocorreu de fato. Essa fala de D. Pedro I não sofre mudança alguma em todos os livros. Permanece a mesma.
                  Saindo agora da História do Brasil, entremos no mundo da Bíblia, recheado de lendas, mitos, alegorias, fábulas, contradições, discrepâncias e erros de toda espécie. Antes, vejamos a mensagem de um especialista em Bíblia. O norte-americano Bart D. Ehrman (teólogo, historiador, graduado em grego e hebraico, especialista em Novo Testamento, escritor, professor de cristianismo há mais de 30 anos numa universidade na Carolina do Norte (EUA), em seu livro “Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?”, 2010, editora Ediouro, nas páginas 17 e 18, escreve:



                    “A Bíblia está repleta de discrepâncias, muitas delas contradições inconciliáveis (...) Os Evangelhos se contradizem em muitos pontos e incluem material não histórico.”



                       Façamos, pois, a seguinte pergunta à Bíblia:



                       “Quando Jesus ressuscitou, o que ele disse à Maria Madalena?”



                      Como vimos acima, no caso da fala de D. Pedro I, que é a mesma em todos os livros de História do Brasil, então, com certeza, a fala de Jesus também será a mesma nos 4 evangelhos do Novo Testamento, não é mesmo?  Afinal de contas, foi a primeira fala de Jesus após sua ressurreição, não é mesmo? Se você, leitor, respondeu sim, errou profundamente. A fala de Jesus muda totalmente, não é a mesma, porque não se trata de um fato histórico, mas de uma lenda reproduzida livremente ao gosto de cada evangelista. Vamos comparar aqui apenas a fala do Jesus ressuscitado no evangelho de Mateus e no evangelho de João. Por que deixamos de lado os evangelhos de Marcos e Lucas? Simplesmente porque existem mais discrepâncias: nesses dois evangelhos, Jesus nada fala para Maria Madalena. Então, vamos ver apenas a fala do Jesus ressuscitado à Maria Madalena em Mateus e João. No evangelho de Mateus, mais uma discrepância: o Jesus ressuscitado fala para 2 mulheres: Maria Madalena e a outra Maria. Vejamos a fala de Jesus, no capítulo 28, versículos 9 e 10:



                   “9  E eis que Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhes os pés e o adoraram.

                    10  Então, Jesus lhes disse: Não temais! Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia e lá me verão.”




                 Muito bem! Segundo o relato de Mateus, a primeira fala do Jesus ressuscitado à Maria Madalena e à outra Maria foram 2: “Salve!” e “Não temais! Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia e lá me verão.” Pois bem, caro leitor! Será que essa fala do Jesus ressuscitado à Maria Madalena é a mesma que está no evangelho de João? Tem que ser, não é mesmo? Então vejamos. No capítulo 20, versículos 15 a 17:



                  “15  Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, supondo ser ele o jardineiro, respondeu: Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.

                    16  Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, lhe disse, em hebraico: Rabôni (que quer dizer mestre).

                    17  Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus.”



                  Você, leitor, já percebeu que a fala de Jesus que está em Mateus é completamente diferente da que está em João, não é mesmo? Isso ocorre porque não estamos diante de um fato histórico, mas de relatos lendários em que cada evangelista trabalha livremente, sem compromisso algum. Nesses dois relatos, um mundo de contradições e discrepâncias. No relato de Mateus, Jesus aparece primeiramente a 2 mulheres. E as duas mulheres o reconhecem imediatamente. Já no relato de João, Jesus só aparece primeiramente a 1 mulher, Maria Madalena. E Jesus não é reconhecido por ela imediatamente. Maria Madalena olhava para Jesus, porém pensava que ele era o jardineiro do sepulcro (por favor, não ria, caro leitor!). No relato de Mateus, Jesus cumprimenta as 2 mulheres com um “Salve!”. E pede a elas que vão aos onze discípulos para se dirigirem à Galileia a fim de se encontrarem com Jesus lá. Já no relato de João, Jesus não cumprimenta Maria Madalena com um “Salve!”, ao contrário, Jesus dirige uma pergunta a ela. E a recomendação de Jesus à Maria Madalena não é para que ela vá aos onze discípulos a fim de eles se dirigirem à Galileia. Jesus diz apenas que vai subir para o pai dele.
                   Percebeu, caro leitor, como as falas atribuídas a Jesus em Mateus e João são completamente diferentes, discrepantes? E por que esse fenômeno ocorre? Ora, porque não estamos tratando de fatos históricos, realmente ocorridos, mas de lendas, relatos ingênuos criados pela imaginação dos apreciadores de Jesus. Quem escreveu o evangelho de Mateus não estava preocupado com o que estava nos evangelhos de Marcos, Lucas e João, e vice-versa. Esses autores copiavam-se, mas mudavam os textos de acordo com sua criatividade, daí as contradições e discrepâncias. Na verdade, Jesus algum ressuscitou e reapareceu a quem quer que seja.

                   

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