sexta-feira, 10 de maio de 2019

NORMAN GEISLER E OS DOIS LADRÕES AO LADO DE JESUS



Eustáquio



                 
                 O norte-americano Bart D. Ehrman (teólogo, historiador, graduado em grego e hebraico, especialista em Novo Testamento, professor de cristianismo há mais de 30 anos numa universidade na Carolina do Norte (EUA), em seu livro “Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?”, 2010, editora Ediouro, nas páginas 17 e 18, escreve:




                    “A Bíblia está repleta de discrepâncias, muitas delas contradições inconciliáveis (...) Os Evangelhos se contradizem em muitos pontos e incluem material não histórico.”



                     Muito bem! Neste artigo, mostrarei mais uma passagem bíblica que comprova a afirmação de Bart Ehrman. Antes, formulo a seguinte pergunta:


                     No Novo Testamento, os dois ladrões injuriaram a Jesus, ou apenas um ladrão injuriou a Jesus?


                    Os relatos acerca da crucificação de Jesus estão nos 4 evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João). Então a resposta à pergunta formulada acima deve ser procurada nesses livros, não é mesmo? Para ser mais claro ainda, eu quero saber se aqueles dois ladrões que estavam ao lado de Jesus na cruz o injuriaram, ou seja, blasfemaram contra ele, insultaram-no, ou foi apenas um ladrão que agiu assim? Pegarei primeiramente o evangelho de Marcos. No capítulo 15, versículos 27 e 32, está escrito:


               “27 Com ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda.”

                32 (...) Também os que com ele foram crucificados o insultavam.”


                Como você, leitor, vê facilmente, quem escreveu o evangelho de Marcos está afirmando que os dois ladrões insultaram a Jesus, blasfemaram contra Jesus, injuriaram a Jesus. Pegarei agora o evangelho de Mateus. Com certeza, a resposta será a mesma, não é mesmo? No capítulo 27, versículos 38 e 44, está escrito:


              “38 E foram crucificados com ele dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda.

                44 (...) E os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com ele.



              Você, leitor, vê também facilmente que, quem escreveu o evangelho de Mateus, diz a mesma coisa que o autor do evangelho de Marcos: os dois ladrões insultaram a Jesus, blasfemaram contra Jesus, injuriaram a Jesus. O evangelho de Marcos foi o primeiro a ser escrito. Quem escreveu o evangelho de Mateus copiou textos de Marcos, adulterando-os, mudando-os, daí as inúmeras contradições. Mas, nesse particular, não há contradição, discrepância. Pegarei agora o evangelho de Lucas. Quem escreveu o evangelho de Lucas também copiou muitos textos de Marcos, adulterando-os, mudando-os etc. No capítulo 23, versículos 33 e 39, está escrito:


               “33 Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda.
                39 Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também.”

               
              Como você, leitor, também vê facilmente, o evangelho de Lucas entra em contradição com os evangelhos de Marcos e Mateus. Em Marcos e Mateus, os dois ladrões blasfemaram contra Jesus, injuriaram a Jesus, insultavam a Jesus. Já em Lucas, apenas um ladrão insultou a Jesus, blasfemou contra Jesus, injuriou a Jesus. O outro ladrão, ao contrário, defendeu Jesus. Percebeu, leitor, a contradição clara e incontestável? E isso ocorre porque não se trata de um fato histórico realmente ocorrido. Por isso mesmo, os autores dos evangelhos tinham a liberdade de escrever o que queriam. Pegarei agora o último evangelho, o de João. No capítulo 19, versículo 18, está escrito:


               “onde o crucificaram e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.”


                Como também você, leitor, vê facilmente, o evangelho de João apenas menciona os dois ladrões, mas nada diz sobre o insulto de um ou dos dois.
                 No início deste artigo, citei um teólogo sério e comprometido com a verdade: Bart Ehrman. Ele sabe muito bem que a Bíblia não é a palavra de Deus e está recheada de lendas, mitos, alegorias, fábulas, contradições, discrepâncias e erros das mais variadas espécies. Trarei agora um teólogo fundamentalista cristão norte-americano que faz muito sucesso no mundo evangélico: Norman Geisler. O objetivo de Norman Geisler não é apresentar a Bíblia como ela é de fato, mas propagar a ilusão religiosa cristã, afirmando, por exemplo, que a Bíblia é a palavra de Deus, por isso isenta de contradições, lendas e erros. Por isso mesmo é que os livros de Norman Geisler levam leitores sérios ao riso, e leitores ingênuos ao erro. Veja, leitor amigo, a explicação do Geisler acerca da contradição bíblica apresentada acima. Aconselho você, leitor, a pegar um lenço para enxugar suas lágrimas porque certamente você vai rir bastante. Em seu livro “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘contradições’ da Bíblia”, 1999, 4ª edição, editora Mundo Cristão, na página 371, ele escreve:


            “SOLUÇÃO: Essa dificuldade é facilmente resolvida com a suposição de que inicialmente os dois injuriaram o Senhor, mas depois um deles se arrependeu. Talvez ele tenha ficado tão impressionado ao ouvir Jesus perdoando aqueles que o crucificavam (Lc 23:34) que convenceu-se de que Jesus era o Salvador e pediu-lhe para participar do seu reino que viria (v.42).”


              Tenho certeza de que você, leitor, está rindo muito da explicação do Geisler. Não poderia ser diferente. Aliás, livros evangélicos são os melhores almanaques de piadas que conheço. E aqui está mais um deles. O Geisler está dizendo a seus leitores evangélicos que não existe essa contradição bíblica nos evangelhos. Afirma ele que supostamente os dois ladrões inicialmente injuriaram a Jesus, mas em seguida um deles se arrependeu. Por favor, não ria, caro leitor, do contrário perderei minha concentração aqui). Geisler, completamente perdido diante dessa contradição bíblica, cria um monstro muito mais feio que o imaginário Corcunda de Notre Dame. Ele diz que “supostamente”, “supostamente”, “supostamente”, os dois ladrões injuriaram a Jesus, mas depois um deles se arrependeu. Eis mais uma deturpação bíblica de Geisler! Quando ele afirma essa loucura, está criando o 5º evangelho, o evangelho de Norman Geisler. Ora, os evangelhos de Marcos e Mateus dizem claramente que os dois ladrões insultavam a Jesus. Já o evangelho de Lucas diz claramente que apenas um ladrão insultou a Jesus, e que o outro ladrão o defendeu. Nesses dois evangelhos não existe esse negócio de “supostamente” e “inicialmente”, como insinua o Norman Geisler. Ele, para convencer leitores bobos, procura cabelo em ovo. Ele, portanto, despreza os evangelhos de Marcos, Mateus, João e Lucas, criando o 5º evangelho, o de Norman Geisler. Veja, leitor, novamente, o que está escrito em Marcos, capítulo 15, versículo 32:


           32 (...) Também os que com ele foram crucificados o insultavam.”


            O evangelho de Marcos diz que aqueles dois ladrões que foram crucificados com Jesus o insultavam. Ou seja, os ladrões já haviam sido crucificados com Jesus, já estavam mortos. Não houve arrependimento algum por parte deles. Da mesma forma, o evangelho de Mateus, capítulo 27, versículo 44:


           
                44 (...) E os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com ele.


                O evangelho de Mateus diz também que aqueles dois ladrões que foram crucificados com Jesus o insultavam. Ou seja, os ladrões morreram, e insultavam a Jesus. Não houve também esse ingênuo arrependimento inventado por Geisler.
              Já o evangelho de Lucas diz coisa diferente: apenas um ladrão insultou a Jesus; o outro ladrão o defendeu:


                “39 Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também.”


                 Enganar leitores ingênuos religiosos é uma tarefa muito fácil!

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