Eustáquio
O norte-americano Bart D. Ehrman
(teólogo, historiador, graduado em grego e hebraico, especialista em Novo
Testamento, professor de cristianismo há mais de 30 anos numa universidade na
Carolina do Norte (EUA), em seu livro “Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?”, 2010, editora Ediouro, nas
páginas 17 e 18, escreve:
“A Bíblia está
repleta de discrepâncias, muitas delas contradições inconciliáveis (...) Os
Evangelhos se contradizem em muitos pontos e incluem material não histórico.”
Muito bem! Neste artigo,
mostrarei mais uma passagem bíblica que comprova a afirmação de Bart Ehrman.
Antes, formulo a seguinte pergunta:
No Novo Testamento, os dois ladrões injuriaram a Jesus, ou apenas um
ladrão injuriou a Jesus?
Os relatos acerca da crucificação de Jesus estão nos 4 evangelhos
(Mateus, Marcos, Lucas e João). Então a resposta à pergunta formulada acima
deve ser procurada nesses livros, não é mesmo? Para ser mais claro ainda, eu
quero saber se aqueles dois ladrões que estavam ao lado de Jesus na cruz o
injuriaram, ou seja, blasfemaram contra ele, insultaram-no, ou foi apenas um
ladrão que agiu assim? Pegarei primeiramente o evangelho de Marcos. No capítulo
15, versículos 27 e 32, está escrito:
“27
Com ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda.”
32
(...) Também os que com ele foram crucificados o insultavam.”
Como você, leitor, vê facilmente, quem escreveu o evangelho de Marcos
está afirmando que os dois ladrões insultaram a Jesus, blasfemaram contra
Jesus, injuriaram a Jesus. Pegarei agora o evangelho de Mateus. Com certeza, a
resposta será a mesma, não é mesmo? No capítulo 27, versículos 38 e 44, está
escrito:
“38 E
foram crucificados com ele dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua
esquerda.
44
(...) E os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido
crucificados com ele.
Você, leitor, vê também facilmente que, quem escreveu o evangelho de
Mateus, diz a mesma coisa que o autor do evangelho de Marcos: os dois ladrões
insultaram a Jesus, blasfemaram contra Jesus, injuriaram a Jesus. O evangelho
de Marcos foi o primeiro a ser escrito. Quem escreveu o evangelho de Mateus
copiou textos de Marcos, adulterando-os, mudando-os, daí as inúmeras
contradições. Mas, nesse particular, não há contradição, discrepância. Pegarei
agora o evangelho de Lucas. Quem escreveu o evangelho de Lucas também copiou
muitos textos de Marcos, adulterando-os, mudando-os etc. No capítulo 23,
versículos 33 e 39, está escrito:
“33
Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem como aos
malfeitores, um à direita, outro à esquerda.
39 Um
dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o
Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também.”
Como você, leitor, também vê
facilmente, o evangelho de Lucas entra em contradição com os evangelhos de
Marcos e Mateus. Em Marcos e Mateus, os dois ladrões blasfemaram contra Jesus,
injuriaram a Jesus, insultavam a Jesus. Já em Lucas, apenas um ladrão insultou
a Jesus, blasfemou contra Jesus, injuriou a Jesus. O outro ladrão, ao
contrário, defendeu Jesus. Percebeu, leitor, a contradição clara e
incontestável? E isso ocorre porque não se trata de um fato histórico realmente
ocorrido. Por isso mesmo, os autores dos evangelhos tinham a liberdade de
escrever o que queriam. Pegarei agora o último evangelho, o de João. No
capítulo 19, versículo 18, está escrito:
“onde
o crucificaram e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.”
Como também você, leitor, vê facilmente, o evangelho de João apenas
menciona os dois ladrões, mas nada diz sobre o insulto de um ou dos dois.
No início deste artigo, citei
um teólogo sério e comprometido com a verdade: Bart Ehrman. Ele sabe muito bem
que a Bíblia não é a palavra de Deus e está recheada de lendas, mitos,
alegorias, fábulas, contradições, discrepâncias e erros das mais variadas
espécies. Trarei agora um teólogo fundamentalista cristão norte-americano que
faz muito sucesso no mundo evangélico: Norman Geisler. O objetivo de Norman
Geisler não é apresentar a Bíblia como ela é de fato, mas propagar a ilusão
religiosa cristã, afirmando, por exemplo, que a Bíblia é a palavra de Deus, por
isso isenta de contradições, lendas e erros. Por isso mesmo é que os livros de
Norman Geisler levam leitores sérios ao riso, e leitores ingênuos ao erro. Veja,
leitor amigo, a explicação do Geisler acerca da contradição bíblica apresentada
acima. Aconselho você, leitor, a pegar um lenço para enxugar suas lágrimas
porque certamente você vai rir bastante. Em seu livro “Manual
Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘contradições’ da Bíblia”, 1999, 4ª edição, editora Mundo Cristão, na
página 371, ele escreve:
“SOLUÇÃO: Essa dificuldade é facilmente resolvida com a suposição de que
inicialmente os dois injuriaram o Senhor, mas depois um deles se arrependeu.
Talvez ele tenha ficado tão impressionado ao ouvir Jesus perdoando aqueles que
o crucificavam (Lc 23:34) que convenceu-se de que Jesus era o Salvador e
pediu-lhe para participar do seu reino que viria (v.42).”
Tenho certeza de que você, leitor, está rindo muito da
explicação do Geisler. Não poderia ser diferente. Aliás, livros evangélicos são
os melhores almanaques de piadas que conheço. E aqui está mais um deles. O
Geisler está dizendo a seus leitores evangélicos que não existe essa
contradição bíblica nos evangelhos. Afirma ele que supostamente os dois ladrões
inicialmente injuriaram a Jesus, mas em seguida um deles se arrependeu. Por
favor, não ria, caro leitor, do contrário perderei minha concentração aqui). Geisler,
completamente perdido diante dessa contradição bíblica, cria um monstro muito
mais feio que o imaginário Corcunda de Notre Dame. Ele diz que “supostamente”,
“supostamente”, “supostamente”, os dois ladrões injuriaram a Jesus, mas depois
um deles se arrependeu. Eis mais uma deturpação bíblica de Geisler! Quando ele
afirma essa loucura, está criando o 5º evangelho, o evangelho de Norman
Geisler. Ora, os evangelhos de Marcos e Mateus dizem claramente que os dois
ladrões insultavam a Jesus. Já o evangelho de Lucas diz claramente que apenas
um ladrão insultou a Jesus, e que o outro ladrão o defendeu. Nesses dois
evangelhos não existe esse negócio de “supostamente” e “inicialmente”, como
insinua o Norman Geisler. Ele, para convencer leitores bobos, procura cabelo em
ovo. Ele, portanto, despreza os evangelhos de Marcos, Mateus, João e Lucas,
criando o 5º evangelho, o de Norman Geisler. Veja, leitor, novamente, o que
está escrito em Marcos, capítulo 15, versículo 32:
“32 (...)
Também os que com ele foram crucificados o insultavam.”
O evangelho de
Marcos diz que aqueles dois ladrões que foram crucificados com Jesus o
insultavam. Ou seja, os ladrões já haviam sido crucificados com Jesus, já
estavam mortos. Não houve arrependimento algum por parte deles. Da mesma forma,
o evangelho de Mateus, capítulo 27, versículo 44:
44
(...) E os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido
crucificados com ele.
O evangelho de Mateus diz também que aqueles dois ladrões que foram
crucificados com Jesus o insultavam. Ou seja, os ladrões morreram, e insultavam
a Jesus. Não houve também esse ingênuo arrependimento inventado por Geisler.
Já o evangelho de Lucas diz coisa
diferente: apenas um ladrão insultou a Jesus; o outro ladrão o defendeu:
“39
Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o
Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também.”
Enganar leitores ingênuos religiosos é uma tarefa muito fácil!
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