quinta-feira, 30 de maio de 2019

UM AMIGO DE SOBRAL EM BRASÍLIA




                                                    Eustáquio

                     Prezado leitor,

             Na foto abaixo, a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, capital do Brasil. Você, caro leitor, vê prédios à direita e à esquerda. São os ministérios. Ao fundo, no centro, você vê o Congresso Nacional. Sem dúvida alguma, a Esplanada dos Ministérios é o pedaço de Brasília mais visto por brasileiros e estrangeiros porque, todos os dias, exceto nos domingos, os jornais de televisão mostram essa esplanada, em razão de Brasília ser o centro político deste país. Direcione, agora, distinto leitor, seus olhos somente para os prédios que estão à direita. Você está vendo 7 prédios. Um deles é o Ministério do Trabalho. Esse ministério ficou marcado em minha vida porque foi meu primeiro local de trabalho, obtido, claro, por meio de concurso público. O fato real que ocorreu comigo e que vou narrar para você, leitor, está relacionado a esse ministério. Um famoso ditado popular diz assim:


            “MAIS VALE UM AMIGO NA PRAÇA QUE DINHEIRO NO BANCO”


              Esse ditado, às vezes, funciona. Outras vezes, não! Comigo funcionou! Eu, sem saber, salvei um ex-colega de trabalho da prisão e de um processo criminal. Até hoje, ele, quando se encontra comigo em “shoppings”, abraça-me com fervor e ainda diz o “muito obrigado”. Contar-lhe-ei agora, prezado leitor, o desenrolar desse fato real.
           Nasci em Sobral, em 1956, numa casinha alugada situada na Praça São João, defronte para a lateral do teatro que dá para a Rua Menino Deus. Atualmente, no lugar da casinha, funciona a melhor pizzaria da cidade. Vivi em Sobral durante 19 anos. No início de dezembro de 1975, minha família foi morar em Fortaleza. Minha irmã Graça Lins, que já morava na capital, chamou-nos para lá. E eu, claro, fui junto. Morei 9 anos em Fortaleza. Em abril de 1984, já bacharel em Letras pela inesquecível Universidade Federal do Ceará (UFC), com 27 anos de idade, deixei a capital cearense com destino a Brasília, com o objetivo de enfrentar concurso para professor, já que o salário era melhor que os salários pagos aos professores cearenses. No dia 12 de abril de 1984, entrei no terrível ônibus IPU-BRASÍLIA, numa quinta-feira, à noite, chegando a Brasília, dois dias depois, num sábado, por volta do meio-dia. Quando cheguei a Brasília, não havia concurso aberto para professor, mas inúmeros concursos para outras áreas. Já que eu estava desempregado, sem um tostão no bolso, matando calango a grito, então resolvi me submeter a 4 concursos para nível de segundo grau. Obtive aprovação nos 4. Com apenas 4 meses de Brasília, eu já estava com um emprego público federal garantido por meio de concurso público. Que maravilha! Exatamente no Ministério do Trabalho que aparece na foto abaixo. Quando estava trabalhando no Ministério do Trabalho, fui chamado pelos 3 órgãos para os quais fui aprovado também. Resolvi ficar no Ministério porque oferecia transporte gratuito, lanches pela manhã e à tarde e ainda um almoço de primeira qualidade. Fiquei ali apenas durante 8 meses quando saí para assumir um cargo, também por concurso público, em outro órgão que pagava um salário extremamente melhor.
                  No início deste texto, afirmei que, sem perceber, salvei um ex-colega de trabalho da prisão e de um processo criminal. Pois bem! Encontrei esse colega no Ministério do Trabalho. Não posso revelar seu nome porque hoje ele é um servidor público federal, bem sucedido. Naquele local de trabalho, fiz bastantes amigos. Eu entrava às 8h e saía às 18h. Às 12h, nossa turma saía da seção em direção ao lindo e luxuoso restaurante que funcionava no próprio prédio do Ministério. Eu comia de graça, e o governo pagava. Na verdade, o povo pagava por meio dos impostos. Após o maravilhoso almoço, 2 horas para o descanso. A turma ficava no salão de lazer, com televisores, sinuca, totó e baralho. Aquele meu amigo, que eu salvei anos depois, gostava de fumar um baseado, um cigarrinho de maconha. Ele, obviamente, não era um bandido, um drogado. Longe disso! Ao contrário. Um jovem bastante inteligente, alegre, de família rica, comprometido com o trabalho, enfim, uma pessoa muito agradável. Pois bem! Enquanto eu, Eustáquio, ficava vendo o jornal televisivo da Globo, meu amigo juntamente com outro saíam do prédio para fumar um cigarrinho de maconha, às escondidas. Às 14h, a turma voltava ao trabalho. E o meu amigo aparecia com os olhos avermelhados por causa da maconha. Eu apenas dizia a ele que tivesse cuidado, que ele fosse, por exemplo, ao banheiro para passar água no rosto. Convivi com ele durante 8 meses. No final de 1985, deixei o Ministério do Trabalho para assumir outro cargo público por meio de concurso público. Fui trabalhar na Polícia Civil do Distrito Federal, lotado na maior penitenciária do Distrito Federal, a famosa “Papuda”. Já havia surgido concurso para professor, mas eu desisti da profissão porque a Polícia Civil pagava bem melhor. Ao entrar na Polícia Civil, resolvi cursar Direito e o fiz na melhor faculdade de Direito do Distrito Federal (CEUB). Na penitenciária, eu trabalhava em regime de plantão: 1 dia de trabalho, e 2 dias de descanso. Eu entrava às 9 horas da manhã e saía às 9 horas da manhã do dia seguinte. Às 17h, eu deixava a penitenciária, no ônibus exclusivo da Polícia, e ia para a faculdade. Às 23h, quando terminavam as aulas na faculdade, um carro da penitenciária ia me buscar.
                Muito bem! Disse acima que deixei meu colega no Ministério do Trabalho no final de 1985. Fui para a penitenciária. E nunca mais tinha visto meu colega. Veja, caro leitor, como o mundo é pequeno. Passei 2 anos sem rever meu colega, sem ter notícia dele. Pois bem! Em 1987, 2 anos depois de ter deixado o Ministério do Trabalho, quando eu retornava da faculdade, no carro da Polícia Civil, com 2 policiais, avistamos um fusquinha parado sobre uma grama, ao lado de uma rodovia perto da penitenciária. A escuridão era total. Nós, policiais civis, só vimos o fusquinha porque os faróis do nosso carro o iluminaram. Ora, um carro parado sobre uma grama, totalmente às escuras, numa rodovia sem movimento, é um caso que exige uma investigação, não é mesmo? Por isso mesmo, resolvemos parar a viatura policial ao lado do fusquinha. Quando paramos o veículo policial, o motorista do fusquinha ligou o carro e saiu em disparada. Correndo feito louco! Fugindo de mim e de meus 2 amigos policiais. Com certeza, havia alguma coisa errada ali. O motorista da viatura policial, meu amigo, saiu em perseguição ao fusquinha. O outro policial, que estava na frente, pegou sua pistola e já queria atirar em direção ao fusquinha. Quando eu percebi que ele já ia efetuar os disparos, disse-lhe que ele não fizesse aquilo porque nós já estávamos bem próximos do fusquinha. Ainda bem que ele atendeu ao meu pedido. E não deu outra. O motorista do fusquinha, sem ter saída, parou o veículo perto de uma porteira que dava acesso a uma mansão lindíssima. E nossa viatura parou quase colada ao fusquinha. O motorista policial disse para mim e para o outro colega que iria prender o motorista do fusquinha por fugir e que também iria fazer a inspeção no calhambeque. Eu e meus 2 colegas policiais ficamos esperando o motorista do fusquinha. Ele abriu a porta do calhambeque e veio caminhando em direção à viatura policial para prestar esclarecimentos. Meus dois amigos policiais estavam bastante raivosos, indignados com o comportamento do motorista fujão. Quando o motorista do fusquinha se aproximou da porta da viatura policial onde estava o motorista, para tentar explicar por que fugiu correndo, eu imediatamente percebi que era aquele meu colega do Ministério do Trabalho, que adorava cigarrinhos de maconha. Antes que meu amigo policial lhe desse voz de prisão, já que estava com muita raiva, eu me adiantei e gritei o nome do meu amigo que adorava maconha. Ele virou-se para a direita, em direção ao banco traseiro da viatura, e, percebendo que era eu, o Eustáquio, gritou de alegria:


            --- Lins, meu amigo! Lins, meu amigo! É você, cara, que está aí?”


           Lembro-me como se fosse hoje. Como o mundo é pequeno! Jamais eu imaginaria reencontrar um ex-colega de trabalho numa situação daquela. Salvei meu amigo de uma prisão e de um processo criminal relativo a drogas. Quando meus 2 amigos policiais perceberam que o motorista do fusquinha era um amigo meu, ficaram então calmos, muito calmos. Na ocasião, esse amigo meu convidou a mim e os 2 amigos policiais para participar de um churrasco que iria haver na mansão no dia seguinte. Aquela mansão era do pai dele. E até hoje a família mora lá. Que coisa engraçada, não é mesmo, caro leitor? Depois de tudo, eu peguei o número dos telefones de meu amigo. No dia seguinte, quando cheguei à minha casa, liguei para ele. Nunca me esquecerei do que ele me disse:


              --- Lins, cara, você é o meu deus! Você me salvou da maior enrascada do mundo! Eu ia ser preso. Eu estava naquele fusca fazendo sexo com minha namorada. A gente estava fumando maconha e eu tinha quase um tijolo da droga no banco do fusca. Se aqueles policiais tivessem feito uma vistoria, eu estaria lascado. Muito obrigado, amigo! Porra, cara, se um dia você precisar de mim para alguma coisa, tô por aqui, cara.”


               Há 2 anos, reencontrei meu amigo em um dos “shoppings” de Brasília. Ele estava com sua esposa e um filhinho com 8 anos de idade. Eu com minha esposa, tomando um cafezinho gostoso com pães de queijo. Ele, com carinho, por trás de mim, bateu no meu ombro direito. Virei-me e tive a alegria de revê-lo. Bastante feliz, apresentou-nos sua linda esposa e seu lindo filhinho. Ele, apontando para mim, disse à sua esposa:


             --- Meu amor, tenho uma dívida impagável com esse cearense de Sobral.


             Olhei para a esposa dele e percebi que ela sabia do que se tratava. Depois do encontro, eu disse à minha esposa que aquele jovem era aquele amigo que eu reencontrei dentro de um fusquinha.

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