Eustáquio
Prezado leitor,
Na foto abaixo, a Esplanada dos Ministérios, em
Brasília, capital do Brasil. Você, caro leitor, vê prédios à direita e à
esquerda. São os ministérios. Ao fundo, no centro, você vê o Congresso
Nacional. Sem dúvida alguma, a Esplanada dos Ministérios é o pedaço de Brasília
mais visto por brasileiros e estrangeiros porque, todos os dias, exceto nos
domingos, os jornais de televisão mostram essa esplanada, em razão de Brasília
ser o centro político deste país. Direcione, agora, distinto leitor, seus olhos
somente para os prédios que estão à direita. Você está vendo 7 prédios. Um
deles é o Ministério do Trabalho. Esse ministério ficou marcado em minha vida
porque foi meu primeiro local de trabalho, obtido, claro, por meio de concurso
público. O fato real que ocorreu comigo e que vou narrar para você, leitor,
está relacionado a esse ministério. Um famoso ditado popular diz assim:
“MAIS VALE UM AMIGO NA PRAÇA QUE DINHEIRO NO BANCO”
Esse ditado, às vezes, funciona. Outras vezes,
não! Comigo funcionou! Eu, sem saber, salvei um ex-colega de trabalho da prisão
e de um processo criminal. Até hoje, ele, quando se encontra comigo em “shoppings”,
abraça-me com fervor e ainda diz o “muito obrigado”. Contar-lhe-ei
agora, prezado leitor, o desenrolar desse fato real.
Nasci em Sobral, em 1956, numa
casinha alugada situada na Praça São João, defronte para a lateral do teatro
que dá para a Rua Menino Deus. Atualmente, no lugar da casinha, funciona a
melhor pizzaria da cidade. Vivi em Sobral durante 19 anos. No início de
dezembro de 1975, minha família foi morar em Fortaleza. Minha irmã Graça Lins,
que já morava na capital, chamou-nos para lá. E eu, claro, fui junto. Morei 9
anos em Fortaleza. Em abril de 1984, já bacharel em Letras pela inesquecível
Universidade Federal do Ceará (UFC), com 27 anos de idade, deixei a capital
cearense com destino a Brasília, com o objetivo de enfrentar concurso para professor,
já que o salário era melhor que os salários pagos aos professores cearenses. No
dia 12 de abril de 1984, entrei no terrível ônibus IPU-BRASÍLIA, numa
quinta-feira, à noite, chegando a Brasília, dois dias depois, num sábado, por
volta do meio-dia. Quando cheguei a Brasília, não havia concurso aberto para
professor, mas inúmeros concursos para outras áreas. Já que eu estava
desempregado, sem um tostão no bolso, matando calango a grito, então resolvi me
submeter a 4 concursos para nível de segundo grau. Obtive aprovação nos 4. Com
apenas 4 meses de Brasília, eu já estava com um emprego público federal
garantido por meio de concurso público. Que maravilha! Exatamente no Ministério
do Trabalho que aparece na foto abaixo. Quando estava trabalhando no Ministério
do Trabalho, fui chamado pelos 3 órgãos para os quais fui aprovado também.
Resolvi ficar no Ministério porque oferecia transporte gratuito, lanches pela
manhã e à tarde e ainda um almoço de primeira qualidade. Fiquei ali apenas
durante 8 meses quando saí para assumir um cargo, também por concurso público,
em outro órgão que pagava um salário extremamente melhor.
No início deste texto,
afirmei que, sem perceber, salvei um ex-colega de trabalho da prisão e de um
processo criminal. Pois bem! Encontrei esse colega no Ministério do Trabalho. Não
posso revelar seu nome porque hoje ele é um servidor público federal, bem
sucedido. Naquele local de trabalho, fiz bastantes amigos. Eu entrava às 8h e
saía às 18h. Às 12h, nossa turma saía da seção em direção ao lindo e luxuoso
restaurante que funcionava no próprio prédio do Ministério. Eu comia de graça,
e o governo pagava. Na verdade, o povo pagava por meio dos impostos. Após o
maravilhoso almoço, 2 horas para o descanso. A turma ficava no salão de lazer,
com televisores, sinuca, totó e baralho. Aquele meu amigo, que eu salvei anos
depois, gostava de fumar um baseado, um cigarrinho de maconha. Ele, obviamente,
não era um bandido, um drogado. Longe disso! Ao contrário. Um jovem bastante
inteligente, alegre, de família rica, comprometido com o trabalho, enfim, uma
pessoa muito agradável. Pois bem! Enquanto eu, Eustáquio, ficava vendo o jornal
televisivo da Globo, meu amigo juntamente com outro saíam do prédio para fumar
um cigarrinho de maconha, às escondidas. Às 14h, a turma voltava ao trabalho. E
o meu amigo aparecia com os olhos avermelhados por causa da maconha. Eu apenas
dizia a ele que tivesse cuidado, que ele fosse, por exemplo, ao banheiro para
passar água no rosto. Convivi com ele durante 8 meses. No final de 1985, deixei
o Ministério do Trabalho para assumir outro cargo público por meio de concurso
público. Fui trabalhar na Polícia Civil do Distrito Federal, lotado na maior
penitenciária do Distrito Federal, a famosa “Papuda”. Já havia surgido
concurso para professor, mas eu desisti da profissão porque a Polícia Civil
pagava bem melhor. Ao entrar na Polícia Civil, resolvi cursar Direito e o fiz
na melhor faculdade de Direito do Distrito Federal (CEUB). Na penitenciária, eu
trabalhava em regime de plantão: 1 dia de trabalho, e 2 dias de descanso. Eu
entrava às 9 horas da manhã e saía às 9 horas da manhã do dia seguinte. Às 17h,
eu deixava a penitenciária, no ônibus exclusivo da Polícia, e ia para a
faculdade. Às 23h, quando terminavam as aulas na faculdade, um carro da penitenciária
ia me buscar.
Muito bem! Disse acima que
deixei meu colega no Ministério do Trabalho no final de 1985. Fui para a
penitenciária. E nunca mais tinha visto meu colega. Veja, caro leitor, como o
mundo é pequeno. Passei 2 anos sem rever meu colega, sem ter notícia dele. Pois
bem! Em 1987, 2 anos depois de ter deixado o Ministério do Trabalho, quando eu
retornava da faculdade, no carro da Polícia Civil, com 2 policiais, avistamos
um fusquinha parado sobre uma grama, ao lado de uma rodovia perto da
penitenciária. A escuridão era total. Nós, policiais civis, só vimos o
fusquinha porque os faróis do nosso carro o iluminaram. Ora, um carro parado
sobre uma grama, totalmente às escuras, numa rodovia sem movimento, é um caso
que exige uma investigação, não é mesmo? Por isso mesmo, resolvemos parar a
viatura policial ao lado do fusquinha. Quando paramos o veículo policial, o
motorista do fusquinha ligou o carro e saiu em disparada. Correndo feito louco!
Fugindo de mim e de meus 2 amigos policiais. Com certeza, havia alguma coisa
errada ali. O motorista da viatura policial, meu amigo, saiu em perseguição ao
fusquinha. O outro policial, que estava na frente, pegou sua pistola e já
queria atirar em direção ao fusquinha. Quando eu percebi que ele já ia efetuar
os disparos, disse-lhe que ele não fizesse aquilo porque nós já estávamos bem
próximos do fusquinha. Ainda bem que ele atendeu ao meu pedido. E não deu
outra. O motorista do fusquinha, sem ter saída, parou o veículo perto de uma
porteira que dava acesso a uma mansão lindíssima. E nossa viatura parou quase
colada ao fusquinha. O motorista policial disse para mim e para o outro colega
que iria prender o motorista do fusquinha por fugir e que também iria fazer a
inspeção no calhambeque. Eu e meus 2 colegas policiais ficamos esperando o
motorista do fusquinha. Ele abriu a porta do calhambeque e veio caminhando em
direção à viatura policial para prestar esclarecimentos. Meus dois amigos
policiais estavam bastante raivosos, indignados com o comportamento do
motorista fujão. Quando o motorista do fusquinha se aproximou da porta da
viatura policial onde estava o motorista, para tentar explicar por que fugiu
correndo, eu imediatamente percebi que era aquele meu colega do Ministério do
Trabalho, que adorava cigarrinhos de maconha. Antes que meu amigo policial lhe
desse voz de prisão, já que estava com muita raiva, eu me adiantei e gritei o
nome do meu amigo que adorava maconha. Ele virou-se para a direita, em direção
ao banco traseiro da viatura, e, percebendo que era eu, o Eustáquio, gritou de
alegria:
--- Lins, meu amigo!
Lins, meu amigo! É você, cara, que está aí?”
Lembro-me como se fosse hoje. Como o mundo é
pequeno! Jamais eu imaginaria reencontrar um ex-colega de trabalho numa
situação daquela. Salvei meu amigo de uma prisão e de um processo criminal
relativo a drogas. Quando meus 2 amigos policiais perceberam que o motorista do
fusquinha era um amigo meu, ficaram então calmos, muito calmos. Na ocasião,
esse amigo meu convidou a mim e os 2 amigos policiais para participar de um
churrasco que iria haver na mansão no dia seguinte. Aquela mansão era do pai
dele. E até hoje a família mora lá. Que coisa engraçada, não é mesmo, caro
leitor? Depois de tudo, eu peguei o número dos telefones de meu amigo. No dia
seguinte, quando cheguei à minha casa, liguei para ele. Nunca me esquecerei do
que ele me disse:
--- Lins, cara, você
é o meu deus! Você me salvou da maior enrascada do mundo! Eu ia ser preso. Eu
estava naquele fusca fazendo sexo com minha namorada. A gente estava fumando
maconha e eu tinha quase um tijolo da droga no banco do fusca. Se aqueles
policiais tivessem feito uma vistoria, eu estaria lascado. Muito obrigado,
amigo! Porra, cara, se um dia você precisar de mim para alguma coisa, tô por
aqui, cara.”
Há 2 anos, reencontrei meu amigo em um dos “shoppings”
de Brasília. Ele estava com sua esposa e um filhinho com 8 anos de idade. Eu
com minha esposa, tomando um cafezinho gostoso com pães de queijo. Ele, com
carinho, por trás de mim, bateu no meu ombro direito. Virei-me e tive a alegria
de revê-lo. Bastante feliz, apresentou-nos sua linda esposa e seu lindo
filhinho. Ele, apontando para mim, disse à sua esposa:
--- Meu amor, tenho
uma dívida impagável com esse cearense de Sobral.
Olhei
para a esposa dele e percebi que ela sabia do que se tratava. Depois do
encontro, eu disse à minha esposa que aquele jovem era aquele amigo que eu
reencontrei dentro de um fusquinha.
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