quinta-feira, 9 de maio de 2019

NORMAN GEISLER, DEUS E O CORAÇÃO DO FARAÓ



Eustáquio



                  Você, leitor amigo, sabe o significado do vocábulo “fundamentalista”? Quase todos os dias, você ouve essa palavra em jornais de televisão, principalmente em referência a atos de terrorismo praticados por fundamentalistas religiosos. Caso você não saiba o significado dessa palavra, então o aconselho a procurar um dicionário qualquer da língua portuguesa porque é uma fonte segura. Estou aqui agora com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 5ª edição, 2010, Editora Positivo. Na página 995, acerca da palavra “fundamentalista”, entre outras coisas, acentua:


                  “(...) Adepto do fundamentalismo.”


                  Até agora o dicionário ainda não definiu o significado da palavra fundamentalista. Restringiu-se a informar que o fundamentalista é um adepto do fundamentalismo. Sim, mas o que é o fundamentalismo? O mesmo dicionário, na mesma página, define no item 2:


                   “Observância rigorosa às crenças religiosas tradicionais, esp. em grupos protestantes dos Estados Unidos, depois da I Guerra Mundial, que enfatiza a interpretação literal das escrituras, a segunda ressurreição de Cristo, a virgindade de Maria etc.”


                  Você, leitor amigo, vê com facilidade que o próprio dicionário define a palavra fundamentalista, e cita, como exemplo de fundamentalistas, os cristãos protestantes nos EUA. Por quê? Porque eles fazem uma interpretação literal da Bíblia cristã, pregando, entre outras coisas, o nascimento virginal de Jesus, sua ressurreição, sua volta ao planeta Terra etc. E nesse grupo de fundamentalistas cristãos se incluem os evangélicos. E, neste artigo, trarei mais uma vez o teólogo fundamentalista cristão evangélico norte-americano Norman Geisler.
                  Em meu artigo recente “Deus endureceu o coração do Faraó egípcio”, fiz uma análise sobre um trecho da lenda bíblica acerca da saída do povo hebreu da escravidão egípcia, que está no livro de Êxodo, capítulo 4, versículo 21:


                     “Disse o Senhor a Moisés: Quando voltares ao Egito, vê que faças diante de Faraó todos os milagres que te hei posto na mão; mas eu lhe endurecerei o coração, para que não deixe ir o povo.”


                        Naquele artigo, apresentei as ingenuidades da narrativa lendária. O Deus hebreu procura um homem chamado Moisés para ser o intermediário entre ele e o mandante do Egito. Nas lendas e na imaginação popular, os deuses sempre necessitam da ação do homem porque, do contrário, nada podem fazer sozinhos. Deus algum existe, logo, sem a ação do homem, são inofensivos. Só para você, leitor, entender o que estou escrevendo aqui, veja, como exemplo, a ação terrorista de um fundamentalista adepto do islamismo. Esse fundamentalista religioso detona uma bomba presa em seu próprio corpo, suicidando-se e levando dezenas de pessoas inocentes à morte. Antes de acionar o explosivo, deixa um recado, afirmando que aquilo é obra do deus Alá. Percebeu, leitor, como os deuses precisam do homem? Se aquele terrorista não tivesse acionado aquela bomba, o deus Alá jamais o faria por si só. Repito: deus algum existe. É o homem que cria deuses, é o homem que age de acordo com sua própria vontade. Da mesma forma, o Deus hebreu. Na lenda, ele procura um homem chamado Moisés. Alguém poderia dizer: por que o Deus hebreu não agiu sozinho, por que não destruiu imediatamente o Faraó, que era o único responsável pela escravidão do povo hebreu? Por que o Deus hebreu perdeu tempo em procurar um homem? A resposta é simples: porque deus algum existe, deus algum age sozinho. Sempre precisa da ação humana. E alguém também poderia perguntar: por que o Deus hebreu deixou seu povo sofrendo no Egito durante quase 5 séculos de escravidão? Quantas gerações de hebreus desapareceram ao longo de quase 500 anos! Imagine você, leitor amigo, com um filho sequestrado, em poder dos sequestradores durante apenas 1 dia. Você, como pai, ficará desesperado com a escravidão de seu filho durante apenas 1 dia. Você, como pai, fará de tudo para libertar seu filho no mesmo dia, não é mesmo? Daí você vê a ingenuidade da lenda bíblica. E alguém também poderia dizer: na lenda, o Deus hebreu fez o homem Moisés de palhaço. Pediu a Moisés para mostrar ao Faraó os milagres, só que, por trás, o próprio Deus endureceu o coração do Faraó para que não atendesse ao pedido de Moisés. Por favor, caro leitor, não ria agora porque tirará minha concentração aqui. Deixe para rir depois de ler por completo o artigo. Foi isso mesmo que você leu, leitor. Na lenda, Deus pede a Moisés para convencer Faraó a deixar o povo hebreu sair do Egito. Só que esse mesmo Deus, agindo por trás, interferiu na vontade do Faraó. Deus, indiretamente, disse para si mesmo:


                    Vou mandar o Moisés para conversar com o Faraó, mas eu mesmo não permitirei que Faraó atenda ao pedido de Moisés.


                   Percebeu, leitor, a infantilidade do relato lendário bíblico? Se você, leitor, está rindo desde o início deste artigo, apesar de eu implorar que você não ria, então prepare-se para rir mais ainda com as explicações do teólogo fundamentalista cristão norte-americano Norman Geisler, que faz sucesso no mundo evangélico. Em seu livro “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘contradições’ da Bíblia”, 1999, 4ª edição, editora Mundo Cristão, nas páginas 71 e 72, Norman Geisler explica a passagem bíblica em que Deus endurece o coração do Faraó:



                 “SOLUÇÃO: Deus não endureceu o coração de Faraó contrariamente ao que o próprio Faraó por sua livre vontade determinou. A Escritura deixa claro que Faraó endureceu o seu coração. Ela declara que o ‘coração de Faraó se endureceu’ (Êx 7:13), que Faraó “continuou de coração endurecido’ (Êx 8:15) e que ‘o coração de Faraó se endureceu’ (Êx 8:19). Novamente, quando Deus enviou a praga das moscas, “ainda esta vez endureceu Faraó o coração’ (Êx 8:32). Esta frase, ou uma equivalente, é repetida vez após vez (cf. Êx 9:7, 34-35). De fato, exceto quando Deus predisse o que aconteceria (Êx 4:21), Faraó foi quem endureceu o seu próprio coração em primeiro lugar (Êx 7:13; 8:15, 8:32 etc.), e só mais tarde Deus o endureceu (cf. Êx 9:12; 10:1, 20, 27). Além disso, o sentido em que Deus endureceu o coração de Faraó é semelhante ao modo pelo qual o sol endurece o barro ou derrete a cera. Se Faraó tivesse sido receptivo às advertências de Deus, o seu coração não teria sido endurecido por Deus. (...) Deus não endurece o coração inicialmente, diretamente, contra o livre arbítrio da pessoa, como sua causa. Deus endurece o coração subsequentemente, indiretamente, por meio do próprio livre arbítrio, como seu efeito.).


                       Depois de ler as explicações acima do Norman Geisler, você, leitor, está rindo demais, não é mesmo? Bem que eu lhe disse! No início de suas explicações, Geisler diz:


                   Deus não endureceu o coração de Faraó contrariamente ao que o próprio Faraó por sua livre vontade determinou.”


                       Pode rir, caro leitor! Esses teólogos fundamentalistas brincam realmente com a boa-fé dos fiéis que frequentam igrejas principalmente evangélicas. Apenas mostrei um pequeno trecho da lenda sobre a saída do povo hebreu do Egito, com seu erro sobre o coração humano e as gritantes ingenuidades. Veja como o Norman Geisler deturpa os ingênuos textos bíblicos. Ele afirma primeiramente que “Deus não endureceu o coração de Faraó” e complementa “contrariamente ao que o próprio Faraó por sua livre vontade determinou.”. Na primeira parte, Geisler deturpa o texto bíblico, e na segunda parte afirma algo completamente sem sentido, que nada acrescenta. Em seguida, Geisler volta a deturpa o texto lendário bíblico:


               A Escritura deixa claro que Faraó endureceu o seu coração.”


                  Geisler deturpa o que está escrito em Êxodo, capítulo 4, versículo 21, última parte, quando Deus diz a Moisés que endurecerá o coração do Faraó para que não permita a saída do povo hebreu do Egito:


               mas eu lhe endurecerei o coração, para que não deixe ir o povo.”


                 A lenda é tão ingênua que Moisés deveria dizer ao Deus hebreu que não adiantaria ir ao encontro do Faraó porque, por trás, o próprio Deus haveria de interferir na vontade do mandante do Egito. Por mais que o Faraó quisesse libertar o povo hebreu, de nada adiantaria porque essa não era a vontade por enquanto do Deus hebreu. O que está nesse versículo é o encontro do Deus hebreu com Moisés. Passa a Moisés alguns milagres e ordena que vá mostrá-los a Faraó. Porém, afirma que endurecerá o coração de Faraó com o objetivo de não deixar o povo hebreu ir do Egito. Diz claramente que mudará a vontade de Faraó. E o Norman Geisler, mais uma vez, deturpa o texto bíblico, afirmando que foi o Faraó que, por vontade própria, endureceu seu coração. Que absurdo! Isso é brincar com a boa-fé dos fiéis que frequentam igrejas evangélicas. Mais à frente, Geisler escreve:


               Ela declara que o ‘coração de Faraó se endureceu’ (Êx 7:13), que Faraó “continuou de coração endurecido’ (Êx 8:15) e que ‘o coração de Faraó se endureceu’ (Êx 8:19)”


                Geisler leva seus leitores ingênuos ao erro quando invoca o que está em Êxodo 7:13, 8:15 e 8:19. Diz o Geisler que essas passagens provam que o Faraó é que endureceu seu coração, e não o Deus hebreu. Ora, esses versículos citados por Norman mostram apenas que o coração do Faraó se endureceu ou ficou endurecido justamente de acordo com o que o Deus hebreu afirmou no capítulo 4, versículo 21. O capítulo 4, obviamente, é anterior aos capítulos 7 e 8. No capítulo 4, na lenda, o Deus hebreu diz que endurecerá o coração do Faraó. Já os capítulos 7 e 8, citados por Geisler, estão apenas afirmando que o coração do Faraó se endureceu e ficou endurecido porque o Deus hebreu cumpriu o que havia dito no capitulo 4. O próprio Norman Geisler cita primeiramente o capítulo 7, versículo 13. Só que ele quebra a cara porque essa passagem diz claramente que  o coração do Faraó se endureceu porque realmente o Deus hebreu o tornou endurecido. Ou seja, o coração do Faraó não se endureceu por vontade dele, mas como ordem anterior do Deus hebreu. Veja a passagem:


               “Todavia, o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu, como o Senhor tinha dito.”


               Isto é, o coração de Faraó se endureceu, como o Deus hebreu, no capítulo 4, havia dito que o endureceria. O capítulo 8, versículo 15, citados também por Geisler dizem a mesma coisa:


              “Vendo, porém, Faraó que havia alívio, continuou de coração endurecido e não os ouviu, como o Senhor tinha dito.”


             Novamente aqui o Faraó continuou de coração endurecido, não da vontade dele, mas da vontade do Deus hebreu, como o Deus hebreu tinha dito no início, no capítulo 4, antes de Moisés ir ao encontro de Faraó. Deus disse que iria endurecer o coração de Faraó e, na lenda, endureceu mesmo. Os capítulos 7 e 8 estão apenas confirmando que o coração do Faraó ficou endurecido mesmo. Geisler deturpa tudo porque não tem saída. E ele cita também o capítulo 8, versículo 19. Ora, essa passagem confirma também que o coração do Faraó ficou endurecido porque Deus o endureceu:


                “Então, disseram os magos a Faraó: Isto é o dedo de Deus. Porém, o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu, como o Senhor tinha dito”.



              Ou seja, o coração de Faraó se endureceu porque o Deus hebreu havia dito muito antes que iria endurecer o coração do mandante do Egito, daí a expressão “como o Senhor tinha dito” E logo depois Geisler escreve:


              Deus não endurece o coração inicialmente”


                Norman Geisler, mais perdido que cego em tiroteio, já diz que Deus endureceu o coração do Faraó, mas não inicialmente. (um momento, caro leitor, porque estou rindo muito agora). Ora, na lenda ingênua, o Deus hebreu inicialmente, claro, no capítulo 4, disse que endureceria o coração do Faraó para que ele não deixasse o povo hebreu sair do Egito. E os capítulos 7 e 8 dizem que o coração do Faraó ficou endurecido justamente porque o Deus hebreu o endureceu.
                  Norman Geisler só faz sucesso no meio evangélico. É óbvio!

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