Eustáquio
Você, leitor amigo, sabe o
significado do vocábulo “fundamentalista”? Quase todos os dias, você ouve essa palavra
em jornais de televisão, principalmente em referência a atos de terrorismo
praticados por fundamentalistas religiosos. Caso você não saiba o significado
dessa palavra, então o aconselho a procurar um dicionário qualquer da língua
portuguesa porque é uma fonte segura. Estou aqui agora com o Dicionário
Aurélio da Língua Portuguesa, 5ª edição,
2010, Editora Positivo. Na página 995, acerca da palavra “fundamentalista”, entre outras coisas, acentua:
“(...) Adepto do
fundamentalismo.”
Até agora o dicionário ainda
não definiu o significado da palavra fundamentalista. Restringiu-se a informar que o fundamentalista é um adepto do fundamentalismo. Sim, mas o
que é o fundamentalismo? O mesmo dicionário, na mesma página, define
no item 2:
“Observância rigorosa às
crenças religiosas tradicionais, esp. em grupos protestantes dos Estados
Unidos, depois da I Guerra Mundial, que enfatiza a interpretação literal das
escrituras, a segunda ressurreição de Cristo, a virgindade de Maria etc.”
Você, leitor amigo, vê com facilidade que o próprio
dicionário define a palavra fundamentalista, e cita,
como exemplo de fundamentalistas, os cristãos protestantes nos EUA. Por quê?
Porque eles fazem uma interpretação literal da Bíblia cristã, pregando, entre
outras coisas, o nascimento virginal de Jesus, sua ressurreição, sua volta ao
planeta Terra etc. E nesse grupo de fundamentalistas
cristãos se incluem os evangélicos. E, neste artigo, trarei mais uma vez o
teólogo fundamentalista cristão evangélico norte-americano Norman Geisler.
Em meu artigo recente “Deus endureceu o coração do Faraó
egípcio”, fiz uma
análise sobre um trecho da lenda bíblica acerca da saída do povo hebreu da
escravidão egípcia, que está no livro de Êxodo, capítulo 4, versículo 21:
“Disse
o Senhor a Moisés: Quando voltares ao Egito, vê que faças diante de Faraó todos
os milagres que te hei posto na mão; mas eu lhe endurecerei o coração, para que
não deixe ir o povo.”
Naquele artigo, apresentei as
ingenuidades da narrativa lendária. O Deus hebreu procura um homem chamado
Moisés para ser o intermediário entre ele e o mandante do Egito. Nas lendas e
na imaginação popular, os deuses sempre necessitam da ação do homem porque, do
contrário, nada podem fazer sozinhos. Deus algum existe, logo, sem a ação do
homem, são inofensivos. Só para você, leitor, entender o que estou escrevendo
aqui, veja, como exemplo, a ação terrorista de um fundamentalista adepto do
islamismo. Esse fundamentalista religioso detona uma bomba presa em seu próprio
corpo, suicidando-se e levando dezenas de pessoas inocentes à morte. Antes de
acionar o explosivo, deixa um recado, afirmando que aquilo é obra do deus Alá.
Percebeu, leitor, como os deuses precisam do homem? Se aquele terrorista não
tivesse acionado aquela bomba, o deus Alá jamais o faria por si só. Repito:
deus algum existe. É o homem que cria deuses, é o homem que age de acordo com
sua própria vontade. Da mesma forma, o Deus hebreu. Na lenda, ele procura um
homem chamado Moisés. Alguém poderia dizer: por que o Deus hebreu não agiu
sozinho, por que não destruiu imediatamente o Faraó, que era o único
responsável pela escravidão do povo hebreu? Por que o Deus hebreu perdeu tempo
em procurar um homem? A resposta é simples: porque deus algum existe, deus
algum age sozinho. Sempre precisa da ação humana. E alguém também poderia
perguntar: por que o Deus hebreu deixou seu povo sofrendo no Egito durante
quase 5 séculos de escravidão? Quantas gerações de hebreus desapareceram ao
longo de quase 500 anos! Imagine você, leitor amigo, com um filho sequestrado,
em poder dos sequestradores durante apenas 1 dia. Você, como pai, ficará
desesperado com a escravidão de seu filho durante apenas 1 dia. Você, como pai,
fará de tudo para libertar seu filho no mesmo dia, não é mesmo? Daí você vê a
ingenuidade da lenda bíblica. E alguém também poderia dizer: na lenda, o Deus
hebreu fez o homem Moisés de palhaço. Pediu a Moisés para mostrar ao Faraó os
milagres, só que, por trás, o próprio Deus endureceu o coração do Faraó para
que não atendesse ao pedido de Moisés. Por favor, caro leitor, não ria agora
porque tirará minha concentração aqui. Deixe para rir depois de ler por
completo o artigo. Foi isso mesmo que você leu, leitor. Na lenda, Deus pede a
Moisés para convencer Faraó a deixar o povo hebreu sair do Egito. Só que esse
mesmo Deus, agindo por trás, interferiu na vontade do Faraó. Deus,
indiretamente, disse para si mesmo:
Vou mandar o Moisés para conversar com o Faraó, mas eu mesmo não
permitirei que Faraó atenda ao pedido de Moisés.
Percebeu, leitor, a infantilidade do relato lendário bíblico? Se você,
leitor, está rindo desde o início deste artigo, apesar de eu implorar que você
não ria, então prepare-se para rir mais ainda com as explicações do teólogo
fundamentalista cristão norte-americano Norman Geisler, que faz sucesso no
mundo evangélico. Em seu livro “Manual
Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘contradições’ da Bíblia”, 1999, 4ª edição, editora Mundo Cristão, nas páginas 71 e 72, Norman
Geisler explica a passagem bíblica em que Deus endurece o coração do Faraó:
“SOLUÇÃO: Deus não endureceu o coração de Faraó contrariamente ao que o
próprio Faraó por sua livre vontade determinou. A Escritura deixa claro que
Faraó endureceu o seu coração. Ela declara que o ‘coração de Faraó se
endureceu’ (Êx 7:13), que Faraó “continuou de coração endurecido’ (Êx 8:15) e
que ‘o coração de Faraó se endureceu’ (Êx 8:19). Novamente, quando Deus enviou
a praga das moscas, “ainda esta vez endureceu Faraó o coração’ (Êx 8:32). Esta
frase, ou uma equivalente, é repetida vez após vez (cf. Êx 9:7, 34-35). De
fato, exceto quando Deus predisse o que aconteceria (Êx 4:21), Faraó foi quem
endureceu o seu próprio coração em primeiro lugar (Êx 7:13; 8:15, 8:32 etc.), e
só mais tarde Deus o endureceu (cf. Êx 9:12; 10:1, 20, 27). Além disso, o
sentido em que Deus endureceu o coração de Faraó é semelhante ao modo pelo qual
o sol endurece o barro ou derrete a cera. Se Faraó tivesse sido receptivo às
advertências de Deus, o seu coração não teria sido endurecido por Deus. (...)
Deus não endurece o coração inicialmente, diretamente, contra o livre arbítrio
da pessoa, como sua causa. Deus endurece o coração subsequentemente,
indiretamente, por meio do próprio livre arbítrio, como seu efeito.).
Depois de ler as explicações
acima do Norman Geisler, você, leitor, está rindo demais, não é mesmo? Bem que
eu lhe disse! No início de suas explicações, Geisler diz:
“Deus não endureceu o coração de Faraó
contrariamente ao que o próprio Faraó por sua livre vontade determinou.”
Pode rir, caro leitor! Esses
teólogos fundamentalistas brincam realmente com a boa-fé dos fiéis que
frequentam igrejas principalmente evangélicas. Apenas mostrei um pequeno trecho
da lenda sobre a saída do povo hebreu do Egito, com seu erro sobre o coração
humano e as gritantes ingenuidades. Veja como o Norman Geisler deturpa os
ingênuos textos bíblicos. Ele afirma primeiramente que “Deus não endureceu o coração de Faraó” e complementa “contrariamente ao que o próprio Faraó por sua
livre vontade determinou.”. Na
primeira parte, Geisler deturpa o texto bíblico, e na segunda parte afirma algo
completamente sem sentido, que nada acrescenta. Em seguida, Geisler volta a
deturpa o texto lendário bíblico:
“A Escritura deixa claro que Faraó endureceu o
seu coração.”
Geisler deturpa o que está escrito em Êxodo, capítulo 4, versículo 21,
última parte, quando Deus diz a Moisés que endurecerá o coração do Faraó para
que não permita a saída do povo hebreu do Egito:
“mas eu lhe
endurecerei o coração, para que não deixe ir o povo.”
A lenda é tão ingênua que Moisés deveria dizer ao Deus hebreu que não
adiantaria ir ao encontro do Faraó porque, por trás, o próprio Deus haveria de
interferir na vontade do mandante do Egito. Por mais que o Faraó quisesse
libertar o povo hebreu, de nada adiantaria porque essa não era a vontade por
enquanto do Deus hebreu. O que está nesse versículo é o encontro do Deus hebreu
com Moisés. Passa a Moisés alguns milagres e ordena que vá mostrá-los a Faraó.
Porém, afirma que endurecerá o coração de Faraó com o objetivo de não deixar o
povo hebreu ir do Egito. Diz claramente que mudará a vontade de Faraó. E o
Norman Geisler, mais uma vez, deturpa o texto bíblico, afirmando que foi o
Faraó que, por vontade própria, endureceu seu coração. Que absurdo! Isso é
brincar com a boa-fé dos fiéis que frequentam igrejas evangélicas. Mais à
frente, Geisler escreve:
“ Ela declara que o ‘coração de Faraó se
endureceu’ (Êx 7:13), que Faraó “continuou de coração endurecido’ (Êx 8:15) e
que ‘o coração de Faraó se endureceu’ (Êx 8:19)”
Geisler leva seus leitores ingênuos ao erro quando invoca o que está em
Êxodo 7:13, 8:15 e 8:19. Diz o Geisler que essas passagens provam que o Faraó é
que endureceu seu coração, e não o Deus hebreu. Ora, esses versículos citados
por Norman mostram apenas que o coração do Faraó se endureceu ou ficou
endurecido justamente de acordo com o que o Deus hebreu afirmou no capítulo 4,
versículo 21. O capítulo 4, obviamente, é anterior aos capítulos 7 e 8. No
capítulo 4, na lenda, o Deus hebreu diz que endurecerá o coração do Faraó. Já
os capítulos 7 e 8, citados por Geisler, estão apenas afirmando que o coração
do Faraó se endureceu e ficou endurecido porque o Deus hebreu cumpriu o que
havia dito no capitulo 4. O próprio Norman Geisler cita primeiramente o
capítulo 7, versículo 13. Só que ele quebra a cara porque essa passagem diz
claramente que o coração do Faraó se
endureceu porque realmente o Deus hebreu o tornou endurecido. Ou seja, o coração do
Faraó não se endureceu por vontade dele, mas como ordem anterior do Deus
hebreu. Veja a passagem:
“Todavia,
o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu, como o Senhor tinha dito.”
Isto é, o coração de Faraó se endureceu, como o Deus hebreu, no
capítulo 4, havia dito que o endureceria. O capítulo 8, versículo 15, citados também
por Geisler dizem a mesma coisa:
“Vendo,
porém, Faraó que havia alívio, continuou de coração endurecido e não os ouviu,
como o Senhor tinha dito.”
Novamente aqui o Faraó continuou de coração endurecido, não da vontade
dele, mas da vontade do Deus hebreu, como o Deus hebreu tinha dito no início,
no capítulo 4, antes de Moisés ir ao encontro de Faraó. Deus disse que iria
endurecer o coração de Faraó e, na lenda, endureceu mesmo. Os capítulos 7 e 8
estão apenas confirmando que o coração do Faraó ficou endurecido mesmo. Geisler
deturpa tudo porque não tem saída. E ele cita também o capítulo 8, versículo
19. Ora, essa passagem confirma também que o coração do Faraó ficou endurecido
porque Deus o endureceu:
“Então,
disseram os magos a Faraó: Isto é o dedo de Deus. Porém, o coração de Faraó se
endureceu, e não os ouviu, como o Senhor tinha dito”.
Ou seja, o coração de Faraó se
endureceu porque o Deus hebreu havia dito muito antes que iria endurecer o
coração do mandante do Egito, daí a expressão “como o Senhor tinha dito” E logo depois Geisler escreve:
“Deus não endurece o coração inicialmente”
Norman Geisler, mais perdido que cego em tiroteio, já diz que Deus
endureceu o coração do Faraó, mas não inicialmente. (um momento, caro leitor,
porque estou rindo muito agora). Ora, na lenda ingênua, o Deus hebreu
inicialmente, claro, no capítulo 4, disse que endureceria o coração do Faraó
para que ele não deixasse o povo hebreu sair do Egito. E os capítulos 7 e 8
dizem que o coração do Faraó ficou endurecido justamente porque o Deus hebreu o
endureceu.
Norman Geisler só faz sucesso
no meio evangélico. É óbvio!
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