Eustáquio
Caro Alcides Santos,
Em meu vídeo “O
Albert Bitran e o ateu pilantra”, publicado no
dia 25 de setembro de 2016, recebi, ontem, quinta-feira, dia 16 de maio do
corrente ano (2019), dois comentários seus. Resolvi juntá-los aqui. Eis o teor:
Muito
bem, amigo Eustaquio!! Você é uma pessoa educada! Está provado, pois depois de
tudo que o Bitran falou, você ainda se prontificou a ajudá-lo!!! Eu nasci em
uma família Evangélica, mas desde pequeno que eu questionava algumas coisas que
eu ouvia falar, mas daí, é aquela coisa; tem sempre alguém que diz que quando
se trata de Deus e da sua palavra, a jente não deve falar nada; deve ficar
quieto. E assim, a jente fica com medo e não fala mais naquele assunto! Mas eu
também questiono muitas coisas que aprendi na religião que dizem ser a Verdade.
Deixa eu dizer uma coisa: Se realmente, Deus não existe, então também não
existe vida eterna!!!, Sendo assim, temos que combinar que somos os seres mais
infelizes da Terra, porque pense bem... O homem é um ser inteligente; ele cria
um computador, cria um avião, um carro..., Estuda e trabalha bastante; se
esforça bastante!!! Se tudo isso acabar debaixo de sete palmos de terra, ou
virar fedor, temos que combinar que a vida não tem muito sentido!!! O que você
acha??? Obrigado”
Alcides, inicialmente, muito obrigado por me achar uma pessoa educada. Se
mamãe e papai estivessem vivos, com certeza ficariam muito felizes por você ter
me elogiado. Coloco agora aqui a segunda parte de seu comentário:
“Eu nasci em uma família Evangélica, mas desde
pequeno que eu questionava algumas coisas que eu ouvia falar, mas daí, é aquela
coisa; tem sempre alguém que diz que quando se trata de Deus e da sua palavra,
a jente não deve falar nada; deve ficar quieto. E assim, a jente fica com medo
e não fala mais naquele assunto! Mas eu também questiono muitas coisas que
aprendi na religião que dizem ser a Verdade”
Você afirma que
nasceu em uma família evangélica, mas que, desde pequeno, já questionava
algumas coisas que ouvia em sua casa. Porém, não levou esse questionamento a
sério porque pessoas lhe diziam que, quando se trata de Deus, a gente não deve
falar nada, deve ficar quieto. Muito bem, Alcides! Você nasceu em um lar
cristão evangélico. Isso é normal aqui, no Brasil. A quase totalidade das
pessoas no Brasil nasce num lar cristão, evangélico ou católico. E por que
ocorre esse fenômeno? Será que ocorre porque o cristianismo é a religião certa?
Claro que não! Isso ocorre porque o cristianismo foi oficialmente trazido para
cá em abril de 1500 pelos portugueses que o transformaram em religião oficial. E
essa crença foi transmitida do Brasil-Colônia até os dias de hoje pelos pais.
De pai para filho. Eu, também, Alcides, nasci num lar cristão, só que católico.
Se você, Alcides, tivesse, por exemplo, nascido no Japão, com certeza estaria
escrevendo para mim, afirmando que nasceu num lar budista, em razão da
predominância dessa religião lá. Como se vê facilmente, é o lugar onde a gente
nasce que vai determinar em que deus acreditar e a que religião se filiar.
E você mesmo, Alcides, diz
que questionava sobre muitas coisas que ouvia de seus familiares evangélicos. E
que você deu uma freada nesse questionamento porque seus familiares lhe diziam
que, em se tratando de Deus, a gente não deve falar nada, deve ficar quieto, e
aí surge o medo. Você, Alcides, já reparou que esse conselho de seus familiares
evangélicos contribuem para o aumento da ignorância humana? Imagine, alguém
dizendo assim para você: “Seu Alcides,
o Senhor não pode questionar sobre a educação brasileira, a inflação, o governo
de Bolsonaro, o desemprego, o avanço da dengue etc.?” É fácil ver que não
se trata de um bom conselho. Está impedindo você de estudar acerca de
determinados assuntos que são importantes para o conhecimento. Se você,
Alcides, escuta alguém dizer que um determinado Deus existe e que a Bíblia é o
livro desse Deus, então é importante estudar esse Deus e o livro de sua
autoria. Do contrário, você nada saberá, não é mesmo? Apenas ouvirá dizer! E,
quando você apenas ouve dizer, agirá como um gravador, apenas reproduzindo
aquilo que ouviu, não é mesmo? Então, Alcides, para você conhecer esse Deus e
essa Bíblia, é preciso que você estude muito sobre história hebraica, judaica,
arqueologia bíblica, sociologia bíblica, teologia etc. Somente assim é que você
descobrirá que deus algum existe e que a Bíblia não é a sua palavra. E fique
certo de que deus algum vai castigar você por ser um estudante exemplar. Na
verdade, Alcides, algum espertalhão religioso não quer que você chegue a esse
estágio. Passarei a analisar agora a última parte de seu comentário:
“Deixa eu dizer uma coisa: Se realmente, Deus
não existe, então também não existe vida eterna!!!, Sendo assim, temos que
combinar que somos os seres mais infelizes da Terra, porque pense bem... O
homem é um ser inteligente; ele cria um computador, cria um avião, um carro...,
Estuda e trabalha bastante; se esforça bastante!!! Se tudo isso acabar debaixo
de sete palmos de terra, ou virar fedor, temos que combinar que a vida não tem
muito sentido!!! O que você acha??”
Muito bem, Alcides! Você faz o seguinte raciocínio: Se Deus não existe,
então também não existe vida eterna. E, se não existe vida eterna, então a vida
do homem na Terra não tem muito sentido. Logo de início, Alcides, quero lhe
dizer que esse ingênuo pensamento foi também o do espírita Allan Kardec (1804 –
1869). Em seu livro “O Evangelho segundo o espiritismo”, 1980, Editora
Lake, na página 84, Kardec diz:
“(...) Mas aquele que não crê na eternidade,
que pensa tudo acabar com a vida, que se deixa abater pelo desgosto e o
infortúnio, só vê na morte o fim dos seus pesares. Nada esperando, acha muito
natural, muito lógico mesmo, abreviar as suas misérias pelo suicídio.”
Viu aí, Alcides? Kardec
está dizendo que o ateu, aquele que não acredita na eternidade, na vida depois
da morte, leva uma vida na Terra totalmente sem sentido. E ele vai mais além.
Diz que o ateu não tem freios morais e facilmente se suicida. Esse pensamento
do Kardec é completamente falso e maluco. Argumentos religiosos não são
argumentos na pura acepção da palavra. Alcides, entre no “site” do IBGE e pegue
as estatísticas sobre suicídios no Brasil. E procure também outros órgãos
sérios que abordam o suicídio. Você verá facilmente que a quase totalidade das
pessoas que se suicidam no Brasil são cristãs, não porque sua religião leva a
isso, mas por causa do grande número de fiéis. Eu, Eustáquio, estou com 62 anos
de idade. Já presenciei muitos casos de suicídio em Sobral, em Fortaleza e
aqui, em Brasília. Em todos esses casos, cristãos se suicidaram. Nunca tive o
desprazer de ver um ateu vizinho meu se suicidando. Há alguns anos, no Gama,
cidade do Distrito Federal, onde eu morava, uma professora evangélica, amiga de
minha esposa, às vésperas do casamento, se suicidou em seu apartamento. Também
há alguns anos, no tribunal em que eu trabalhava, presenciei um suicídio de uma
defensora pública evangélica. Mostrei esse caso em um de meus vídeos. Alcides,
com certeza, alguém próximo de você, em sua rua, no seu trabalho, também já
cometeu suicídio. Procure descobrir se essa pessoa era ateia ou cristã. Com
certeza, era cristã. Então, não existe essa tendência de ateus em cometer
suicídios, como pregava o Kardec. Percebeu, Alcides, como é fácil anular
argumentos religiosos? Argumentos religiosos só fazem efeito na cabeça dos
fiéis porque não raciocinam.
Alcides, sou ateu. Deus
algum existe, e não existe vida eterna. A morte física será o meu fim. Mas isso
não me impede de ser feliz. Desde os 9 anos de idade que sou ateu. Aliás, o
único ateu da família. Mesmo sabendo que não existe vida eterna, eu, o único
ateu da família, fui o mais dedicado nos estudos. Sou o único membro da família
que possui curso superior. Mesmo consciente de que a morte física é o meu fim,
não deixei de estudar, trabalhar e lutar por uma vida melhor. E, com certeza,
sou o mais feliz de minha família. Duas irmãs minhas, cristãs católicas, sofrem
de depressão, com pensamentos negativos sobre a existência humana. São cristãs,
e não ateias. Sempre eu, o ateu, ligo para elas a fim de incentivá-las a viver,
de ver a alegria em sua vida. Alcides, você é um ser vivo. Não deve ficar
pensando no dia de sua morte. Você tem que pensar nos dias de sua vida. O
importante da vida é vivê-la intensamente. Quando você morrer, acabou-se. Você
não ficará com saudades da vida na Terra porque não existirá mais. Então, nem
você, nem alguém deve se preocupar com o dia da morte. Você deve, isto sim, se
preocupar com cada dia de sua vida, estudando, trabalhando, praticando o bem,
divertindo-se etc. Repito: sou ateu e sou uma pessoa bastante feliz. Nasci numa
família pobre, estudei com muito esforço, passei 8 meses de fome em Brasília,
trabalhei durante 35 anos, e hoje estou aposentado. Hoje tenho uma vida melhor.
Toda essa luta minha valeu a pena, pouco me importando que vou morrer algum
dia.
Kardec queria ser eterno. O homem sonha em
ser eterno, mas não é. Quando uma pessoa diz acreditar em vida eterna, está
apenas querendo ser uma coisa que não é. Kardec, repito, queria ser eterno, daí
procurou formular pensamentos para justificar essa vida eterna, só que esses
pensamentos são tolos, frágeis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário