Eustáquio
Caro leitor,
Na foto abaixo, o Cine Alvorada
da cidade de Sobral que infelizmente faleceu há muitos anos. Ah, que saudades! O
que é “saudade”? A mais curta e inteligente definição de “saudade” que conheço
é a de um poeta cujo nome neste momento foge de mim. Ele disse:
“Saudade é tudo aquilo que fica
daquilo que não ficou”
Parabéns,
nobre poeta! Isso mesmo! A mais curta, inteligente e correta definição de saudade. De
fato, saudade é tudo aquilo que fica daquilo que não ficou. Por exemplo, o Cine
Alvorada não ficou, não existe mais, porém a saudade existe e é muito forte.
Desde que me entendo por gente, desde minha adolescência em Sobral, adoro o
cinema. Estar numa sala de cinema, mergulhado no silêncio e na penumbra, é uma
das coisas que mais me fascina. Morei em Sobral, desde meu nascimento, em 1956,
até novembro de 1975, quando estava com 19 anos de idade. Em dezembro de 1975,
fui com minha família morar em Fortaleza. E fiquei na capital cearense até
abril de 1984, quando estava com 27 anos de idade. Naquele mês, sozinho, fui
para Brasília, onde moro hoje. Pois bem, caro leitor. Como você vê facilmente,
deixei Sobral e Fortaleza, mas jamais deixei o cinema. Jamais! Até hoje uma de
minhas paixões preferidas é ir a “shoppings” aqui, em Brasília. E, quando estou
ali, entro em uma das inúmeras salas de cinema. Ontem mesmo, quinta-feira, dia
23 de maio do corrente ano (2019), estava eu no “Terraço
Shopping”, um dos inúmeros “shoppings” de Brasília,
localizado bem pertinho de onde moro. Cheguei lá por volta das 16h 15m. O filme
começava às 16h 30m. Assisti ao “Kardec”, uma película cinematográfica acerca
da biografia do espírita francês Allan Kardec. O filme terminou exatamente às
18h 2m. Dirigi-me, juntamente com minha esposa, à Casa do Pão de Queijo, e ali
saboreei pães de queijo com um cafezinho puro, apenas com açúcar. Normalmente,
depois do cafezinho teria ido para casa, mas ontem não fui. Não fui porque o
“shopping” preparou um presente para os frequentadores. E que presente!
Precisamente às 21h, apareceu, no palco montado numa área espaçosa interna, o
grande cantor brasileiro Daniel Boaventura, com sua beleza física e voz
extremamente bela. Interpretou ali Elvis Presley (minha paixão desde a
adolescência), Frank Sinatra, Roberto Carlos e outros. Após o belíssimo
espetáculo, jantei em um dos inúmeros restaurantes e fui para casa. Mas o foco
deste artigo é o inesquecível Cine Alvorada de minha cidade natal Sobral.
Pois bem! Quero que você, leitor amigo, dê uma paradinha agora, na
leitura deste texto, e veja novamente a foto do Cine Alvorada. Na foto, aparece
um cartaz com os seguintes dizeres: “Vendo este prédio”. Ali,
onde está o cartaz, localiza-se o primeiro andar do prédio, justamente onde
ficava o cinema. No segundo e terceiro andares, ficavam lojas praticamente
vazias. Direcione seus olhos, caro leitor, para o primeiro andar. Você vê
facilmente duas varandas e, um pouquinho acima delas, fios elétricos de alta
tensão. Pois foi aí que meu inesquecível amigo Carlinhos sofreu o choque
elétrico que o levou tragicamente à morte, como narrei em outro texto. Ele
estava com seus pés apoiados na varanda à direita, colocando um cartaz, quando
a vara de ferro encostou nos fios de alta tensão.
Todos os sábados eu ia ao cinema. Na época, só havia dois em Sobral: o
Cine Alvorada e o Cine Rangel. O Alvorada era o mais procurado, o mais bonito,
o mais organizado, o mais preferido pela elite sobralense. Quando meu pai (João
Lopes Lins) faleceu, estava eu com apenas 9 anos de idade. Morávamos numa
casinha alugada na Avenida Boulevard Pedro II, onde fica o Arco de Nossa
Senhora de Fátima. O nome dessa avenida mudou. Hoje se chama Avenida Dr.
Guarani. Logo depois da morte de meu pai, pressionada pela falta de dinheiro,
minha família foi morar na Rua Maria Tomásia, que tem ligação com a avenida
supracitada. E a partir dali comecei a ir aos cinemas todos os sábados. Meu
irmão de criação (adotivo), José Maria Barreto, mais conhecido por Bibia, todos
os sábados, me dava o dinheiro da entrada do cinema. E eu saía feliz,
caminhando em direção ao mundo fantástico da cinematografia. Quando entrava no
Cine Alvorada, eu ficava na varanda esquerda que aparece na foto, aguardando o
início do filme. Da varanda, eu tinha a vista da pracinha, com a Igreja do
Rosário em destaque. Antes da morte de meu amigo Carlinhos, tudo normal, só
alegria. Depois da morte dele, quando eu estava na varanda à esquerda, olhava
para a da direita, vinha à minha lembrança o triste acidente pelo qual ele
passou. E uma tristeza gelada me inundava.
Muito bem! Muito tempo depois, minha irmã Graça Lins começou a namorar o
gerente do Cine Alvorada. Não me lembro do nome dele. Eu, um adolescente,
fiquei muito feliz com esse namoro porque, a partir dali, poderia assistir
gratuitamente aos filmes. E foi realmente o que ocorreu. Quase todos os dias,
eu estava no Cine Alvorada. Já que não pagava o ingresso, assistia até a um
mesmo filme por 3 vezes. Durante um bom tempo pude desfrutar dessa alegria. Até
que, num triste dia, o namoro de minha irmã teve fim. E aí o meu prazer de ir
ao cinema chegou ao fim porque meu irmão Bibia
já não morava mais em Sobral.
Cine Alvorada, como sinto saudades de você, meu camarada! Obrigado por
permitir que aquele adolescente de Sobral, carente de dinheiro, pudesse
saborear o espetáculo cinematográfico! Você, Cine Alvorada, me ensinou a entrar
no mundo ilusório, mas fantástico do cinema!
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