Eustáquio
Prezado Ronin,
Há dois dias, você postou em minha página
mais um comentário. Entre outras coisas, escreve:
“Olha Eustáquio, vc no seu último texto falou
de Lázaro. Quando eu tinha 19 anos eu entrei no túmulo desse cara. Segundo a
tradição existe um túmulo que foi desse tal de Lázaro. Pro cara entrar nele,
tem que se acocorar. Você entra e desce umas escadas bem estreitas pra chegar
lá. Lembra que te mostrei a história de Jabes? Pois é, não houve nada
extraordinário nessa história. Hoje em dia muta gente alega que pediu aos
deuses algo e receberam. Não tem como comprovar que foram os deuses, mas essas
pessoas de fato alcançaram o que queriam.”
Antes de qualquer coisa, daqui,
de Brasília, torço para que você consiga restabelecer sua saúde. Essa parte de
seu comentário pode ser dividida em 2. A primeira parte:
“Olha
Eustáquio, vc no seu último texto falou de Lázaro. Quando eu tinha 19 anos eu
entrei no túmulo desse cara. Segundo a tradição existe um túmulo que foi desse
tal de Lázaro. Pro cara entrar nele, tem que se acocorar. Você entra e desce
umas escadas bem estreitas pra chegar lá.”
Em um texto meu recente, fiz citação à lenda da ressurreição de Lázaro
que se encontra apenas no evangelho de João. E agora você diz que, aos 19 anos
de idade, entrou no túmulo que, por tradição, é considerado o de Lázaro. Ainda
bem que você fez uso da expressão “por tradição”. Essa
nomenclatura explica até onde vai o poder de criatividade das pessoas que
ingressam numa religião qualquer. Na verdade, você não entrou no túmulo de
Lázaro, e Lázaro evidentemente não ressuscitou após 4 dias em estado de
decomposição. A lenda acerca da ressurreição de mortos não foi uma invenção dos
cristãos primitivos. Ela já aparece nas escrituras hebraicas que hoje são
chamadas de Velho Testamento, que não é velho para os judeus. Quando os
primeiros cristãos apareceram, tiveram apenas o pequeno trabalho de copiar essa
fantasia. Em sua ignorância, os cristãos primitivos não deram ouvidos ao que
diziam na época os judeus saduceus:
“Pois os
saduceus declaram não haver ressurreição, nem anjo, nem espírito...” Atos dos Apóstolos 23:8
Como se vê, mesmo naquela época na Palestina, marcada pelo analfabetismo
e pobreza extrema, ainda apareciam pessoas que pregavam contra muita ignorância
da época, e os saduceus são um exemplo. Analiso, agora, a segunda parte de seu
comentário, Ronin:
“Hoje em dia
muta gente alega que pediu aos deuses algo e receberam. Não tem como comprovar
que foram os deuses, mas essas pessoas de fato alcançaram o que queriam.”
Ronin, Sigmund Freud
(1856 – 1939), judeu e ateu, em seu livro “O
futuro de uma ilusão”, 2010, L&PM POCKET, na página 110, sobre a
religião, escreve:
“Ela contém um
sistema de ilusões de desejo com recusa da realidade como apenas encontramos
isolado na amência, uma confusão alucinatória radiante.”
Essa verdade freudiana é
comprovada pelo que você informa em seu comentário. Você diz que muitas pessoas
pedem algo aos deuses e são atendidas. E afirma que não há como comprovar que
foram os deuses, mas os resultados aparecem. Sim, caro Ronin, o que você diz é
o triste quadro que se pinta. Essas pessoas que afirmam que foram atendidas por
seu deus ou deuses estão mergulhadas na crença religiosa, razão pela qual
recusam ver a realidade. É fácil ver que deus algum está por trás da realização,
ou não, dos desejos humanos. Quando uma pessoa religiosa afirma, por exemplo,
que ficou curada por obra de Deus, ela está em delírio. Deus algum existe, deus
algum cura alguém ou torna alguém doente. É muito fácil verificar que as “entidades
curadoras” mudam radicalmente de acordo com os mais variados tipos de crença. Qual
é, Ronin, a probabilidade de um cristão evangélico afirmar que Santo Antônio o
curou de uma doença grave? A probabilidade é zero porque Santo Antônio não
pertence à ilusão religiosa evangélica. Qual é a probabilidade de um cristão
alegar que ficou curado graças à intervenção do deus Alá? A probabilidade
também é zero porque o deus Alá não é parte integrante da ilusão religiosa
cristã. Cada pessoa religiosa, em sua imaginação, trabalha com as entidades “próprias”.
Quando um cristão católico afirma que foi curado por obra de São Francisco de
Assis, essa entidade imaginária foi citada porque a Igreja Católica colocou na
cabeça do fiel aquele “santo”. Já outro cristão católico devoto de Nossa
Senhora de Fátima a invoca como sua curadora pelo mesmo processo. Na verdade,
deuses e santos não existem e não curam.
E outro aspecto: assim como
as pessoas crentes, ateus também são curados, mas não invocam deuses e santos.
São curados porque, em muitas situações, o corpo reage às infecções. Não
existem deuses e santos que curam determinadas pessoas e deixam de curar
outras. Deus algum, por exemplo, cura de câncer um cristão adulto milionário e
não cura da mesma doença muitas criancinhas inocentes que morrem em hospitais
infantis no Brasil.
Um abraço!
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