sexta-feira, 31 de maio de 2019

UM HOMEM MORTO NA PISCINA



                                                    Eustáquio

                Distinto leitor,


             Na foto abaixo, eu, Eustáquio, em 1996, com 40 anos de idade, em uma das maravilhosas piscinas do “Clube Privé” na cidade de Caldas Novas, em Goiás.
             Leitor, narrar-lhe-ei mais um fato real ocorrido comigo que ficou gravado no meu baú cerebral de recordações. Esse fato ocorreu na cidade de Caldas Novas, em Goiás, a 360 quilômetros de Brasília. Amo essa cidade. Caldas Novas é uma cidade turística. Sua área é de 1.588 km², com população de 89.087 habitantes. É um pouco menor que a cidade de Sobral, minha terra natal. Só que Caldas Novas é uma cidade turística, com uma rede hoteleira de luxo, lindíssimos edifícios residenciais, inúmeros clubes sofisticados etc. E por que Caldas Novas é uma cidade turística? Ora, simplesmente por causa das águas termais, isto é, águas quentes. Essa cidade possui a maior fonte hidrotermal do mundo. As águas pluviais (de chuvas) penetram nas rochas da região, formando lençóis freáticos de águas quentíssimas. Os empresários furam o solo, colocando canos que conduzem esse mar de água quente para suas piscinas. Leitor, é o melhor banho do mundo! Imagine você dentro de uma piscina com água quente. Ninguém sai das piscinas porque é extremamente gostoso. E essa água aquecida pela Natureza é excelente para muitos problemas de saúde, com comprovação científica. Tenho dois amigos que, ao se aposentarem, foram morar lá só para desfrutarem todos os dias daquelas águas. Caldas Novas tem um aeroporto movimentadíssimo. A empresa aérea GOL tem voos de Brasília diretamente para lá. E tem voos também de São Paulo, Fortaleza, Rio de Janeiro, Florianópolis etc. Voos diretos para Caldas Novas. A empresa aérea LATAM também. Além disso, todos os dias chegam à cidade turistas dos EUA (terra do maluco Trump), Itália, França, Canadá etc. Como se vê, caro leitor, Caldas Novas é chique, e merece tudo isso porque tem muito a oferecer a seus visitantes. Sempre vou lá de carro. Umas 6 vezes por ano. Em cada ida, passo 3 dias. Não há coisa melhor! Veja, leitor, a foto abaixo. Essa foto data de 1996 quando eu estava com 40 anos de idade. Apareço aí em uma das piscinas do Clube Privé, um dos melhores da cidade. Por trás de mim, todas as pessoas dentro da piscina porque a água é quente. Se fosse fria, ninguém ficaria. Você, leitor, vê também uma cobertura com telhas dentro da piscina. Isso aí é um bar aquático. O banhista, sem sair da piscina, toma seu refrigerante, suco, cerveja, uísque, vinho, e come sanduíches, pastel, quibe etc. Faz tudo isso sem sair da piscina. Não se usa dinheiro. Na entrada, o visitante pega um cartão magnético, inserindo nele o valor que bem desejar. Na saída, devolve o cartão. Se ainda houver crédito no cartão, o troco é devolvido. Tudo funciona maravilhosamente bem.
               Muito bem! Agora vou narrar o fato muito triste que ocorreu comigo em 1996 quando eu estava com 40 anos de idade. Naquela minha estada em Caldas Novas por 4 dias, entrei em vários clubes, um deles o da foto. Só que o fato triste ocorreu em outro clube, o “Thermas Di Roma”, outro fantástico clube-hotel da cidade. Eu me encontrava numa das piscinas, brincando com uma bola juntamente com meu filho Elvis que estava com apenas 7 anos de idade. Coloquei esse nome nele em razão de, desde minha adolescência, adorar o inesquecível Elvis Presley. Pois bem! Eu jogava a bola para ele, e ele me devolvia. Num dado momento, meu filho apontou seu dedinho indicador direito para alguém que estava atrás de mim, também dentro da água, dizendo:


               --- Pai, pai, o homem mergulhou na água e não se levantou!


               Quando meu filho com apenas 7 anos de idade me disse aquilo, eu, rapidamente, virei-me em direção ao homem, e, numa fração de segundo, toquei no corpo submerso dele com meu dedo indicador direito. Como ele não se mexeu, então agarrei-o rapidamente pelo quadril, levantando-o bruscamente. Bastante preocupado, eu olhei para seu rosto branco, gelado. Vi um filete de sangue que saía de seu nariz. Naquele momento, veio a mim uma vontade de choro, porém dominei essa vontade. Era um homem gordo, mas o levantei facilmente. Quando o sustentei pela região do quadril, a cabeça dele repousou sobre meu ombro esquerdo. Caminhei dentro da piscina até a borda, colocando o corpo dele sentado, mas segurando firme porque ele estava inconsciente. Pedi a um jovem que passava por ali para chamar rapidamente o médico do clube. Em poucos segundos, apareceu o médico com dois ajudantes, trazendo uma maca. Colocaram aquele corpo inerte sobre a maca e o levaram. Fui junto. Na frente do departamento médico do clube, uma ambulância já aguardava o paciente. Levaram-no ao hospital. Retornei triste, muito triste, à piscina, onde estava meu filho. Ao me ver triste, meu filho perguntou-me:


                --- Pai, o homem morreu?


                Segurando o choro, eu lhe disse:


             --- Não sei, Elvis! Não sei! Ele foi levado para um hospital. Vamos torcer, meu filho, para que aquele pobre homem sobreviva.


                Neste momento, caro leitor, estou aqui, digitando diante de meu “notebook” com lágrimas escorrendo de meus olhos. É impossível não chorar. Depois do banho, fui almoçar com minha família. Após o almoço, dormi um pouquinho sobre uma gostosa grama, caindo depois em outras piscinas. Às 15h30, eu e minha família resolvemos deixar o clube. Antes, claro, passei pelo departamento médico para saber como estava aquele pobre homem que eu nem conhecia. Um dos enfermeiros me reconheceu. Perguntei-lhe pelo paciente. E ele me respondeu:


             --- Infelizmente, ele faleceu ao chegar ao hospital. Aquele Senhor estava hospedado aqui, no hotel. Amanhã, domingo, estaria completando 67 anos de idade. A esposa e dois filhos dele chegariam amanhã aqui para comemorarem seu aniversário.


             Recebi aquelas palavras do enfermeiro como se fossem facadas rasgando minhas entranhas. Pobre homem! Estava ali bastante feliz aguardando a chegada da esposa querida e de seus adoráveis filhos para aquele domingo a fim de comemorarem seu aniversário nas águas quentes de Caldas Novas. Uma comemoração que a morte trágica do aniversariante não permitiu.
             Uma pena!!!

quinta-feira, 30 de maio de 2019

UM AMIGO DE SOBRAL EM BRASÍLIA




                                                    Eustáquio

                     Prezado leitor,

             Na foto abaixo, a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, capital do Brasil. Você, caro leitor, vê prédios à direita e à esquerda. São os ministérios. Ao fundo, no centro, você vê o Congresso Nacional. Sem dúvida alguma, a Esplanada dos Ministérios é o pedaço de Brasília mais visto por brasileiros e estrangeiros porque, todos os dias, exceto nos domingos, os jornais de televisão mostram essa esplanada, em razão de Brasília ser o centro político deste país. Direcione, agora, distinto leitor, seus olhos somente para os prédios que estão à direita. Você está vendo 7 prédios. Um deles é o Ministério do Trabalho. Esse ministério ficou marcado em minha vida porque foi meu primeiro local de trabalho, obtido, claro, por meio de concurso público. O fato real que ocorreu comigo e que vou narrar para você, leitor, está relacionado a esse ministério. Um famoso ditado popular diz assim:


            “MAIS VALE UM AMIGO NA PRAÇA QUE DINHEIRO NO BANCO”


              Esse ditado, às vezes, funciona. Outras vezes, não! Comigo funcionou! Eu, sem saber, salvei um ex-colega de trabalho da prisão e de um processo criminal. Até hoje, ele, quando se encontra comigo em “shoppings”, abraça-me com fervor e ainda diz o “muito obrigado”. Contar-lhe-ei agora, prezado leitor, o desenrolar desse fato real.
           Nasci em Sobral, em 1956, numa casinha alugada situada na Praça São João, defronte para a lateral do teatro que dá para a Rua Menino Deus. Atualmente, no lugar da casinha, funciona a melhor pizzaria da cidade. Vivi em Sobral durante 19 anos. No início de dezembro de 1975, minha família foi morar em Fortaleza. Minha irmã Graça Lins, que já morava na capital, chamou-nos para lá. E eu, claro, fui junto. Morei 9 anos em Fortaleza. Em abril de 1984, já bacharel em Letras pela inesquecível Universidade Federal do Ceará (UFC), com 27 anos de idade, deixei a capital cearense com destino a Brasília, com o objetivo de enfrentar concurso para professor, já que o salário era melhor que os salários pagos aos professores cearenses. No dia 12 de abril de 1984, entrei no terrível ônibus IPU-BRASÍLIA, numa quinta-feira, à noite, chegando a Brasília, dois dias depois, num sábado, por volta do meio-dia. Quando cheguei a Brasília, não havia concurso aberto para professor, mas inúmeros concursos para outras áreas. Já que eu estava desempregado, sem um tostão no bolso, matando calango a grito, então resolvi me submeter a 4 concursos para nível de segundo grau. Obtive aprovação nos 4. Com apenas 4 meses de Brasília, eu já estava com um emprego público federal garantido por meio de concurso público. Que maravilha! Exatamente no Ministério do Trabalho que aparece na foto abaixo. Quando estava trabalhando no Ministério do Trabalho, fui chamado pelos 3 órgãos para os quais fui aprovado também. Resolvi ficar no Ministério porque oferecia transporte gratuito, lanches pela manhã e à tarde e ainda um almoço de primeira qualidade. Fiquei ali apenas durante 8 meses quando saí para assumir um cargo, também por concurso público, em outro órgão que pagava um salário extremamente melhor.
                  No início deste texto, afirmei que, sem perceber, salvei um ex-colega de trabalho da prisão e de um processo criminal. Pois bem! Encontrei esse colega no Ministério do Trabalho. Não posso revelar seu nome porque hoje ele é um servidor público federal, bem sucedido. Naquele local de trabalho, fiz bastantes amigos. Eu entrava às 8h e saía às 18h. Às 12h, nossa turma saía da seção em direção ao lindo e luxuoso restaurante que funcionava no próprio prédio do Ministério. Eu comia de graça, e o governo pagava. Na verdade, o povo pagava por meio dos impostos. Após o maravilhoso almoço, 2 horas para o descanso. A turma ficava no salão de lazer, com televisores, sinuca, totó e baralho. Aquele meu amigo, que eu salvei anos depois, gostava de fumar um baseado, um cigarrinho de maconha. Ele, obviamente, não era um bandido, um drogado. Longe disso! Ao contrário. Um jovem bastante inteligente, alegre, de família rica, comprometido com o trabalho, enfim, uma pessoa muito agradável. Pois bem! Enquanto eu, Eustáquio, ficava vendo o jornal televisivo da Globo, meu amigo juntamente com outro saíam do prédio para fumar um cigarrinho de maconha, às escondidas. Às 14h, a turma voltava ao trabalho. E o meu amigo aparecia com os olhos avermelhados por causa da maconha. Eu apenas dizia a ele que tivesse cuidado, que ele fosse, por exemplo, ao banheiro para passar água no rosto. Convivi com ele durante 8 meses. No final de 1985, deixei o Ministério do Trabalho para assumir outro cargo público por meio de concurso público. Fui trabalhar na Polícia Civil do Distrito Federal, lotado na maior penitenciária do Distrito Federal, a famosa “Papuda”. Já havia surgido concurso para professor, mas eu desisti da profissão porque a Polícia Civil pagava bem melhor. Ao entrar na Polícia Civil, resolvi cursar Direito e o fiz na melhor faculdade de Direito do Distrito Federal (CEUB). Na penitenciária, eu trabalhava em regime de plantão: 1 dia de trabalho, e 2 dias de descanso. Eu entrava às 9 horas da manhã e saía às 9 horas da manhã do dia seguinte. Às 17h, eu deixava a penitenciária, no ônibus exclusivo da Polícia, e ia para a faculdade. Às 23h, quando terminavam as aulas na faculdade, um carro da penitenciária ia me buscar.
                Muito bem! Disse acima que deixei meu colega no Ministério do Trabalho no final de 1985. Fui para a penitenciária. E nunca mais tinha visto meu colega. Veja, caro leitor, como o mundo é pequeno. Passei 2 anos sem rever meu colega, sem ter notícia dele. Pois bem! Em 1987, 2 anos depois de ter deixado o Ministério do Trabalho, quando eu retornava da faculdade, no carro da Polícia Civil, com 2 policiais, avistamos um fusquinha parado sobre uma grama, ao lado de uma rodovia perto da penitenciária. A escuridão era total. Nós, policiais civis, só vimos o fusquinha porque os faróis do nosso carro o iluminaram. Ora, um carro parado sobre uma grama, totalmente às escuras, numa rodovia sem movimento, é um caso que exige uma investigação, não é mesmo? Por isso mesmo, resolvemos parar a viatura policial ao lado do fusquinha. Quando paramos o veículo policial, o motorista do fusquinha ligou o carro e saiu em disparada. Correndo feito louco! Fugindo de mim e de meus 2 amigos policiais. Com certeza, havia alguma coisa errada ali. O motorista da viatura policial, meu amigo, saiu em perseguição ao fusquinha. O outro policial, que estava na frente, pegou sua pistola e já queria atirar em direção ao fusquinha. Quando eu percebi que ele já ia efetuar os disparos, disse-lhe que ele não fizesse aquilo porque nós já estávamos bem próximos do fusquinha. Ainda bem que ele atendeu ao meu pedido. E não deu outra. O motorista do fusquinha, sem ter saída, parou o veículo perto de uma porteira que dava acesso a uma mansão lindíssima. E nossa viatura parou quase colada ao fusquinha. O motorista policial disse para mim e para o outro colega que iria prender o motorista do fusquinha por fugir e que também iria fazer a inspeção no calhambeque. Eu e meus 2 colegas policiais ficamos esperando o motorista do fusquinha. Ele abriu a porta do calhambeque e veio caminhando em direção à viatura policial para prestar esclarecimentos. Meus dois amigos policiais estavam bastante raivosos, indignados com o comportamento do motorista fujão. Quando o motorista do fusquinha se aproximou da porta da viatura policial onde estava o motorista, para tentar explicar por que fugiu correndo, eu imediatamente percebi que era aquele meu colega do Ministério do Trabalho, que adorava cigarrinhos de maconha. Antes que meu amigo policial lhe desse voz de prisão, já que estava com muita raiva, eu me adiantei e gritei o nome do meu amigo que adorava maconha. Ele virou-se para a direita, em direção ao banco traseiro da viatura, e, percebendo que era eu, o Eustáquio, gritou de alegria:


            --- Lins, meu amigo! Lins, meu amigo! É você, cara, que está aí?”


           Lembro-me como se fosse hoje. Como o mundo é pequeno! Jamais eu imaginaria reencontrar um ex-colega de trabalho numa situação daquela. Salvei meu amigo de uma prisão e de um processo criminal relativo a drogas. Quando meus 2 amigos policiais perceberam que o motorista do fusquinha era um amigo meu, ficaram então calmos, muito calmos. Na ocasião, esse amigo meu convidou a mim e os 2 amigos policiais para participar de um churrasco que iria haver na mansão no dia seguinte. Aquela mansão era do pai dele. E até hoje a família mora lá. Que coisa engraçada, não é mesmo, caro leitor? Depois de tudo, eu peguei o número dos telefones de meu amigo. No dia seguinte, quando cheguei à minha casa, liguei para ele. Nunca me esquecerei do que ele me disse:


              --- Lins, cara, você é o meu deus! Você me salvou da maior enrascada do mundo! Eu ia ser preso. Eu estava naquele fusca fazendo sexo com minha namorada. A gente estava fumando maconha e eu tinha quase um tijolo da droga no banco do fusca. Se aqueles policiais tivessem feito uma vistoria, eu estaria lascado. Muito obrigado, amigo! Porra, cara, se um dia você precisar de mim para alguma coisa, tô por aqui, cara.”


               Há 2 anos, reencontrei meu amigo em um dos “shoppings” de Brasília. Ele estava com sua esposa e um filhinho com 8 anos de idade. Eu com minha esposa, tomando um cafezinho gostoso com pães de queijo. Ele, com carinho, por trás de mim, bateu no meu ombro direito. Virei-me e tive a alegria de revê-lo. Bastante feliz, apresentou-nos sua linda esposa e seu lindo filhinho. Ele, apontando para mim, disse à sua esposa:


             --- Meu amor, tenho uma dívida impagável com esse cearense de Sobral.


             Olhei para a esposa dele e percebi que ela sabia do que se tratava. Depois do encontro, eu disse à minha esposa que aquele jovem era aquele amigo que eu reencontrei dentro de um fusquinha.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

LULA ESTÁ APAIXONADO




                                                    Eustáquio

               Prezado leitor,

             Na foto abaixo, Lula e sua atual namorada, Rosângela Silva.
             A revista VEJA, de capa a capa, é contra o PT, contra o Lula. Já a revista CARTACAPITAL, de capa a capa, é a favor do PT, a favor de Lula. Só para você, leitor, ter uma vaga ideia, o Mino Carta, que é o editor-chefe desta revista, nunca escondeu sua amizade com o Lula. Ele mesmo afirma que, quando Lula se encontrava solto, todos os dias os dois conversavam por telefone.
               Muito bem! A revista VEJA desta semana, datada do dia 29 de maio do fluente ano (2019), nas páginas 54 e 55, traz uma matéria, referindo-se à namorada de Lula, com o título: 



                  A PRIMEIRA-DAMA DA LAVA-JATO”.



              Vê-se facilmente que o jornalista Thiago Bronzatto, autor da matéria, foi bastante infeliz na criação do título. Ora, um leitor qualquer que lê o título acima, sem dúvida alguma, concluirá antecipadamente que finalmente uma mulher foi pega pela Operação Lava-Jato. É público e notório que a Lava-Jato está caracterizada pela presença de machos (Marcelo Odebrecht, Eduardo Cunha, Lula, Sérgio Cabral, Fernando Pezão, Antonio Palocci, Léo Pinheiro e outros). Todos eles portadores de bolsa escrotal, contendo 2 testículos. E agora a revista VEJA traz uma mulher. Só que não é, caro leitor, nada disso. A namorada de Lula não é primeira-dama coisíssima alguma, nem jamais esteve envolvida na Lava-Jato.
                Já que a linha editorial de VEJA é contra o Lula, antes de começar seu texto, o jornalista supracitado coloca em destaque o seguinte:



              “Filiada ao PT, a nova namorada de Lula ganhou emprego em estatal, recebe 17 537 reais de salário e visita o presidente na cadeia em horário de expediente.”




                 O objetivo claro do jornalista é causar impacto diante dos leitores de Veja. Um leitor bobo, que é incapaz de interpretar um texto qualquer, lê que a namorada de Lula ganhou um emprego numa estatal, recebendo quase dezoito mil reais por mês, e fica indignado com o Lula por ter praticado tal ato, por fazer festa com dinheiro público. Ora, se você, caro leitor, fizer uma pesquisa no quadro de empregados de todas as estatais brasileiras, encontrará inúmeras pessoas que foram colocadas ali por vários políticos, sem a prestação de concurso público. O Lula, obviamente, não foi o primeiro político a praticar isso, e com certeza não será o último.  
                Rosângela Silva tem 52 anos de idade. Reside em Curitiba e é filiada ao PT desde 1980. Os dois já se conhecem há mais de 20 anos. Ela passou pela Eletrobras, no Rio de Janeiro, e hoje se encontra na Itaipu, em Curitiba.
                Diz o ditado popular que bunda de bêbado não tem dono. Assim também, caro leitor, o dinheiro público brasileiro. Os políticos fazem festa colocando em órgãos públicos um exército de incompetentes. São os cargos de livre nomeação e exoneração, sem o concurso público. Durante uma campanha eleitoral, várias pessoas trabalham para um determinado candidato. Quando esse candidato sai vitorioso, assumindo um cargo público (vereador, prefeito, governador, deputado estadual, deputado federal, senador e presidente da República), ele arranja um emprego para esse bando de incompetentes. E o pior: com salários muito elevados, maiores que os salários destinados aos cargos que exigem concurso público. Quando surge um concurso público, o salário geralmente é de apenas 1 salário mínimo, 2 ou 3. Concursos com salários maiores existem, mas são raros (Defensores públicos, promotores, delegados, juízes de Direito e outros). Assim, uma pessoa até mesmo com formação superior se submete a concursos públicos para ganhar um salário miserável. Já as pessoas apadrinhadas por políticos não precisam passar por esse teste de conhecimento. Mesmo atoladas na ignorância, conseguem salários maiores. Será que existe futuro para o nosso país?
                   O jornalista da revista VEJA sabe muito bem que não foi apenas o Lula que agiu assim. O problema é a linha editorial da revista que só vê o Lula, e olhe que o Lula é baixinho, imagine se fosse alto. Jair Bolsonaro é atualmente o nosso presidente. Pois ele fez e faz a mesma coisa. Quando foi deputado federal, em seu gabinete, colocou várias pessoas amigas nos cargos de livre nomeação e exoneração. Repetiu o ato agora na Presidência. E seus filhos políticos também fizeram e fazem a mesma coisa. Lotam seus gabinetes com pessoas que principalmente foram seus cabos eleitorais durante a campanha política. Tudo isso sem a prestação de concursos públicos. O cantor Cazuza (1958 – 1990) cantava assim:


              “Brasil, mostra a tua cara,
                  Quero ver quem paga pra gente ficar assim.”

terça-feira, 28 de maio de 2019

O TIRO DE GUERRA DE SOBRAL


                    


Eustáquio




                  Prezado leitor,

                Na foto abaixo, à esquerda, o Cemitério São José, e, à direita, a loja de compensados “O Tintão”, ambos situados na Rua Anaihd Andrade, no centro de Sobral, bem próximos do Mercado Municipal.
               Esse lugar me traz maravilhosas recordações. À sua direita, caro leitor, você vê hoje a loja “O Tintão”, frente a frente com a porta de entrada do cemitério. Em 1975, quando eu estava com 19 anos de idade, no lugar dessa loja, funcionava o Tiro de Guerra nº 10-011, uma unidade do Exército brasileiro destinada aos jovens que estavam prestando o serviço militar obrigatório. Comecei a cumprir ali o serviço militar no dia 6 de junho de 1975, terminando em 30 de novembro do mesmo ano.
                Eu desejava muito cumprir o serviço militar. Fiquei com bastante medo de ser dispensado, já que era muito magro. Porém, deu tudo certo. Naquele Tiro de Guerra, havia 4 sargentos: Alexandre, Passos, Eliel e Assis. Cada sargento ficava responsável por um determinado grupo de soldados. O responsável pelo meu grupo era o sargento Alexandre, homem de fino trato e muito amigo de meu irmão José Lins Neto, mais conhecido por Deca, que mora hoje na cidade de Imperatriz, no Maranhão. Na terceira semana de Tiro de Guerra, houve um concurso interno para o posto de cabo. Havia 4 vagas, ou seja, um cabo para cada sargento. 12 soldados concorreram, e eu fui um deles. A prova foi muito simples: uma redação sobre o serviço militar e conhecimentos gerais. Obtive o 1º lugar, e fui designado para trabalhar com o sargento Alexandre. Os 4 cabos e os soldados não recebiam remuneração, nem 1 centavo, nem 1 real. Uma pobreza danada. Todos os dias, de segunda a sexta, nós deveríamos estar na unidade às 5 horas da manhã. Eu morava com minha família na Rua Maria Tomásia, numa casa alugada, defronte para a casa do enfermeiro Antônio Arquelau. Acordava precisamente às 4 horas da madrugada. A primeira coisa que eu fazia, quando me levantava, era abrir os olhos, claro. Depois, partia para o banheiro todo estragado. Enquanto tomava um banho, com água muito fria, minha mãezinha (Gerarda Alves Lins) interrompia seu sono apenas para preparar meu café. Amor de mãe, o amor mais puro, mais sincero e mais forte que existe! Mamãe fazia um cafezinho gostoso, que eu tomava acompanhado por um pãozinho amanteigado. Que delícia! Após o café, eu vestia a calça e a camisa verdes, pertencentes ao Exército, colocava os dois coturnos (botas) pretos e o quepe (boné) preto. Exatamente, às 4h 30 da madrugada, eu abria a porta de entrada da casa, saindo, a pé, à esquerda, pela minha rua Maria Tomásia. Subia pela Avenida Boulevard Pedro II, hoje, Avenida Dr. Guarani. Passava pela Praça do Teatro São João, pegando a Avenida Dom José, e chegando à Praça Coluna da Hora. Dali, continuava caminhando pela Rua Coronel Ernesto Deocleciano, passando pelo Cine Alvorada e chegando ao prédio mais lindo de Sobral, o Palace Club, hoje, Palácio de Ciências e Línguas Estrangeiras, onde há uma pracinha. Dali, eu entrava na Rua General Tibúrcio e virava à direita, na Rua Anaihd Andrade, onde estava situado o Tiro de Guerra. Para fazer esse percurso, eu gastava uns 15 minutos, ou seja, chegava 15 minutos antes do horário estabelecido. Às 5 h 30, eu colocava meu grupo de soldados em ordem porque os sargentos chegavam às 6 horas da manhã. Os cabos estavam livres da faxina e do horário noturno. Sem que o sargento Alexandre soubesse, mudei isso. Eu era o único cabo que fazia faxina e, durante o plantão noturno, entrava na lista para ficar de vigia. Seria horrível de minha parte, ficar dormindo no alojamento, enquanto meus colegas permaneciam acordados durante algumas horas. Se estávamos no mesmo barco, deveríamos remar juntos e unidos. Durante dois dias na semana, havia a prática de inúmeros exercícios com as mãos livres, com bastão e com fuzil. Era uma relação extensa de exercícios. Eu memorizei todos e treinei bastante. Por isso mesmo, fui indicado para ser o guia. Nós colocávamos uma madeira longa sobre os cavaletes, defronte à porta do cemitério. Eu subia na madeira, ficando num nível mais elevado que meus colegas. A cada exercício que eu fazia, a turma me acompanhava. Haja garganta para produzir os gritos que deveriam ser altos. Enfim, guardo muitas recordações daquela época. Há muito o que escrever aqui acerca do que vivenciei ali. No final de novembro de 1975, concluímos o serviço militar. A festa de solenidade foi realizada na Praça Coluna da Hora. Foi armado um palanque. Nele, os 4 sargentos, o prefeito de Sobral (José Parente Prado) e outras autoridades. Na ocasião, eu mais 4 pessoas recebemos o diploma de honra “Ao Mérito” pelo excelente comportamento durante a prestação do serviço militar.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

O EDÉZIO DE SOBRAL


                                                                                                                                               Eustáquio 

                  Na foto abaixo, o Sr. Edézio Cordeiro de Araújo, que foi um ilustre morador de Sobral e um dos grandes amigos de meu pai (João Lopes Lins). Além disso, Sr. Edézio representa muito para mim, e você, leitor, saberá o porquê.
                  Em dezembro de 1969, eu estava com 13 anos de idade. Meu pai já havia falecido há 4 anos. Minha família morava numa casa alugada, ao lado do Arco, situada na Avenida Boulevard Pedro II, hoje, Avenida Dr. Guarani. Atualmente, a casa não existe mais porque foi demolida juntamente com outras para dar lugar ao Colégio Luciano Feijão. Assim, onde havia as casinhas, hoje apenas um muro longo e sem vida. Pois bem! O Sr. Edézio morava com sua família numa casa também alugada defronte à nossa. E naquele ano deixou Sobral, indo morar em Anápolis, em Goiás, pertinho daqui, de Brasília. Fiquei com bastante saudade daquela família que era tão amiga da nossa. Em dezembro de 1975, quando eu estava com 19 anos de idade, foi a vez de minha família deixar Sobral com destino a Fortaleza. Morei na capital cearense durante 9 anos. Em abril de 1984, entrei no terrível ônibus IPU-BRASÍLIA, com destino à capital federal, onde moro até hoje. São, portanto, 35 anos em Brasília. Preste bem atenção, caro leitor! O Sr. Edézio deixou Sobral em 1969, quando eu estava com apenas 13 anos de idade. A partir daí, nunca mais eu obtive notícias dessa família. Eu saí de Sobral e de Fortaleza. Cheguei a Brasília. Depois de 10 anos morando em Brasília, em 1994, é que tive a grande felicidade de reencontrar a família do Sr. Edézio morando aqui, no Distrito Federal. Como fiquei feliz! Desde 1969 que eu não via esse povo, ou seja, 25 anos. A partir daí, comecei a visitar com frequência o Sr. Edézio, e o faço até os dias de hoje. Há 30 minutos, antes de começar a fazer este texto, liguei para ele e hoje, segunda-feira, dia 27 de maio do corrente ano (2019), às 14h, irei visitá-lo novamente. Sr. Edézio mora atualmente na cidade do Gama, numa casa, com sua esposa sobralense Fransquinha, filha de Antônio Silvino e Raimunda Gonçalves. De onde eu moro até lá, são 27 km. Seus filhos e netos moram também no Distrito Federal.
                       Muito bem! Quero narrar aqui dois fatos muito importantes relacionados ao Sr. Edézio. O primeiro diz respeito à sua antiga profissão de caminhoneiro. Em Sobral, ele possuía um caminhão e fazia viagens por todo o país. Quando foi morar em Anápolis, em 1969, deixou o caminhão e foi dirigir um táxi. Quando o Sr. Edézio estava em Sobral, de folga, deixava mais felizes os adolescentes que eram seus vizinhos, inclusive eu. Ele colocava a meninada na carroceria de seu caminhão e dava um longo passeio, indo até Forquilha, bem perto de Sobral. Como era bom aquele ventinho que teimava açoitar os rostos dos meninos. Sr. Edézio sempre fazia isso apenas com o intuito de agradar. Até hoje sempre digo isso a ele. Ele fez muito por aqueles garotos pobres. Já o segundo fato importante relativo ao Sr. Edézio, trata-se da grande surra que ele deu num sobralense chamado Benedito. O Benedito era negro, alto e muito forte. O Sr. Edézio, baixinho, mas forte, muito musculoso, com uma força incrível. E o que aconteceu? Num certo dia, quando Sr. Edézio descansava em sua casa após o almoço, sua esposa Dona Fransquinha foi até a calçada para fazer alguma coisa. Nesse momento, ia passando o Benedito que deu uma cantada nela. Mulher séria, Dona Fransquinha ficou ofendida. Quando o marido acordou, ela narrou-lhe o ocorrido. No dia seguinte, o Benedito estava na calçada da bodega do Chicão que ficava ao lado da casa de seu pai, quase vizinha da casa do Sr. Edézio. O Sr. Edézio pegou aquelas cordas meio metálicas que amarravam a lona de seu caminhão. O Benedito nem imaginava o que estava para acontecer. Sr. Edézio aproximou-se lentamente do negão, e, com toda sua força, desceu a corda nas costas da vítima. O grito de dor do Benedito com certeza deve ter sido ouvido pelas pessoas que estavam no Beco do Cotovelo. Que dor terrível! O sangue jorrou de suas costas. Chorando de dor, Benedito correu rapidamente, pulando o balcão da bodega do Chicão. E o Sr. Edézio atrás dele. Nisso, o Chicão fica à frente do Sr. Edézio, dizendo-lhe:

                  --- Edézio, por favor, pare, senão você vai matar o homem!

                 Depois dessa surra, nunca mais vi o Benedito pelas redondezas.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

O CINE ALVORADA DE SOBRAL





Eustáquio


                  Caro leitor,
              
               Na foto abaixo, o Cine Alvorada da cidade de Sobral que infelizmente faleceu há muitos anos. Ah, que saudades! O que é “saudade”? A mais curta e inteligente definição de “saudade” que conheço é a de um poeta cujo nome neste momento foge de mim. Ele disse:


                “Saudade é tudo aquilo que fica daquilo que não ficou”


               Parabéns, nobre poeta! Isso mesmo! A mais curta, inteligente e correta definição de saudade. De fato, saudade é tudo aquilo que fica daquilo que não ficou. Por exemplo, o Cine Alvorada não ficou, não existe mais, porém a saudade existe e é muito forte. Desde que me entendo por gente, desde minha adolescência em Sobral, adoro o cinema. Estar numa sala de cinema, mergulhado no silêncio e na penumbra, é uma das coisas que mais me fascina. Morei em Sobral, desde meu nascimento, em 1956, até novembro de 1975, quando estava com 19 anos de idade. Em dezembro de 1975, fui com minha família morar em Fortaleza. E fiquei na capital cearense até abril de 1984, quando estava com 27 anos de idade. Naquele mês, sozinho, fui para Brasília, onde moro hoje. Pois bem, caro leitor. Como você vê facilmente, deixei Sobral e Fortaleza, mas jamais deixei o cinema. Jamais! Até hoje uma de minhas paixões preferidas é ir a “shoppings” aqui, em Brasília. E, quando estou ali, entro em uma das inúmeras salas de cinema. Ontem mesmo, quinta-feira, dia 23 de maio do corrente ano (2019), estava eu no “Terraço Shopping”, um dos inúmeros “shoppings” de Brasília, localizado bem pertinho de onde moro. Cheguei lá por volta das 16h 15m. O filme começava às 16h 30m. Assisti ao “Kardec”, uma película cinematográfica acerca da biografia do espírita francês Allan Kardec. O filme terminou exatamente às 18h 2m. Dirigi-me, juntamente com minha esposa, à Casa do Pão de Queijo, e ali saboreei pães de queijo com um cafezinho puro, apenas com açúcar. Normalmente, depois do cafezinho teria ido para casa, mas ontem não fui. Não fui porque o “shopping” preparou um presente para os frequentadores. E que presente! Precisamente às 21h, apareceu, no palco montado numa área espaçosa interna, o grande cantor brasileiro Daniel Boaventura, com sua beleza física e voz extremamente bela. Interpretou ali Elvis Presley (minha paixão desde a adolescência), Frank Sinatra, Roberto Carlos e outros. Após o belíssimo espetáculo, jantei em um dos inúmeros restaurantes e fui para casa. Mas o foco deste artigo é o inesquecível Cine Alvorada de minha cidade natal Sobral.
                     Pois bem! Quero que você, leitor amigo, dê uma paradinha agora, na leitura deste texto, e veja novamente a foto do Cine Alvorada. Na foto, aparece um cartaz com os seguintes dizeres: “Vendo este prédio”. Ali, onde está o cartaz, localiza-se o primeiro andar do prédio, justamente onde ficava o cinema. No segundo e terceiro andares, ficavam lojas praticamente vazias. Direcione seus olhos, caro leitor, para o primeiro andar. Você vê facilmente duas varandas e, um pouquinho acima delas, fios elétricos de alta tensão. Pois foi aí que meu inesquecível amigo Carlinhos sofreu o choque elétrico que o levou tragicamente à morte, como narrei em outro texto. Ele estava com seus pés apoiados na varanda à direita, colocando um cartaz, quando a vara de ferro encostou nos fios de alta tensão.  
                   Todos os sábados eu ia ao cinema. Na época, só havia dois em Sobral: o Cine Alvorada e o Cine Rangel. O Alvorada era o mais procurado, o mais bonito, o mais organizado, o mais preferido pela elite sobralense. Quando meu pai (João Lopes Lins) faleceu, estava eu com apenas 9 anos de idade. Morávamos numa casinha alugada na Avenida Boulevard Pedro II, onde fica o Arco de Nossa Senhora de Fátima. O nome dessa avenida mudou. Hoje se chama Avenida Dr. Guarani. Logo depois da morte de meu pai, pressionada pela falta de dinheiro, minha família foi morar na Rua Maria Tomásia, que tem ligação com a avenida supracitada. E a partir dali comecei a ir aos cinemas todos os sábados. Meu irmão de criação (adotivo), José Maria Barreto, mais conhecido por Bibia, todos os sábados, me dava o dinheiro da entrada do cinema. E eu saía feliz, caminhando em direção ao mundo fantástico da cinematografia. Quando entrava no Cine Alvorada, eu ficava na varanda esquerda que aparece na foto, aguardando o início do filme. Da varanda, eu tinha a vista da pracinha, com a Igreja do Rosário em destaque. Antes da morte de meu amigo Carlinhos, tudo normal, só alegria. Depois da morte dele, quando eu estava na varanda à esquerda, olhava para a da direita, vinha à minha lembrança o triste acidente pelo qual ele passou. E uma tristeza gelada me inundava.
                  Muito bem! Muito tempo depois, minha irmã Graça Lins começou a namorar o gerente do Cine Alvorada. Não me lembro do nome dele. Eu, um adolescente, fiquei muito feliz com esse namoro porque, a partir dali, poderia assistir gratuitamente aos filmes. E foi realmente o que ocorreu. Quase todos os dias, eu estava no Cine Alvorada. Já que não pagava o ingresso, assistia até a um mesmo filme por 3 vezes. Durante um bom tempo pude desfrutar dessa alegria. Até que, num triste dia, o namoro de minha irmã teve fim. E aí o meu prazer de ir ao cinema chegou ao fim porque meu irmão Bibia já não morava mais em Sobral.
                  Cine Alvorada, como sinto saudades de você, meu camarada! Obrigado por permitir que aquele adolescente de Sobral, carente de dinheiro, pudesse saborear o espetáculo cinematográfico! Você, Cine Alvorada, me ensinou a entrar no mundo ilusório, mas fantástico do cinema!

quinta-feira, 23 de maio de 2019

O HOMICÍDIO QUE ABALOU A CIDADE DE SOBRAL





Eustáquio


               Caro leitor,

              
               Sem dúvida alguma, a quase totalidade dos habitantes de Sobral não tem a menor ideia do homicídio que causou, até os dias de hoje, o maior impacto, a mais forte comoção na cidade.
               Na foto abaixo, o bispo católico sobralense Dom Francisco Expedito Lopes. Não o conheci. Ele nasceu no dia 8 de julho de 1914, no sítio Jerusalém, Vila de Meruoca, em Sobral, e faleceu no dia 2 de julho de 1957, isto é, quando Dom Expedito morreu, eu tinha apenas 8 meses de vida, já que nasci no dia 1º de novembro de 1956. Todavia, minha família o conhecia profundamente. Francisco Expedito Lopes, ainda adolescente, frequentava nossa casa alugada, situada na Avenida Boulevard D. Pedro II, ao lado do Arco de Nossa Senhora de Fátima, na entrada principal da cidade. Atualmente, o nome da avenida mudou: Avenida Dr. Guarani. E, hoje, infelizmente, a casa não existe mais porque foi demolida para dar lugar ao Colégio Luciano Feijão, o que causou profundo estrago na história de Sobral. Onde havia várias casinhas, atualmente uma parede extensa e sem vida do colégio já citado. E ainda dizem que Sobral foi tombada pelo Patrimônio Histórico. Como??? Foi mesmo, é??? Minha mãezinha, Gerarda Alves Lins, me dizia que o Francisco Expedito gostava muito de meu pai, João Lopes Lins. Que ele andava sempre lá por casa e que era um jovem muito inteligente, educado e amável. Extremamente religioso.
             Pois bem, caro leitor! O homicídio do qual foi vítima o bispo católico sobralense Dom Francisco Expedito Lopes foi o que teve maior repercussão na cidade de Sobral e até no Vaticano, em Roma. E esse homicídio não foi praticado em Sobral, mas bem distante dali. Antes de narrar esse fato muito triste, quero deixar aqui registrada uma coisa que poucos sobralenses devem saber: existe uma pequena cidade brasileira cujo nome é: Dom Expedito Lopes! Isso mesmo, caro leitor! Uma cidade cujo nome presta uma impagável homenagem a esse ilustre sobralense. Eu também não tinha ciência da existência dessa cidade. Somente há dois anos é que tive o prazer de conhecê-la, e a conheci sem querer. Eu estava indo de carro, de Brasília, onde moro, para Fortaleza. Quando entrei no Piauí, depois de passar por várias cidades bem pequenas, vi uma plaquinha com os seguintes dizeres: “Bem-vindo a Dom Expedito Lopes”. Eu gelei, caro leitor! Ao mesmo tempo, uma tristeza e uma alegria me invadiram. Tristeza por me lembrar do triste fim do bispo Dom Expedito, e alegria por saber que um povo do Piauí presta uma grande homenagem a um filho de Sobral. Eu segurei o choro. Entrei de carro na cidadezinha bem humilde. Vi uma pracinha e a prefeitura. Parei defronte a uma humilde lanchonete, com poucos produtos à venda. Desci do carro. Conversei com o proprietário de nome Sebastião. Eu disse a ele que, naquela cidade, estava me sentindo como se estivesse em Sobral. Eu estava bastante emocionado com aquela homenagem ao sobralense Dom Expedito, um conterrâneo meu, que teve um fim trágico e hediondo, que não merecia ter um final de vida daquele. O dono da lanchonete quase chora comigo. Ali, diante dele, um cearense que nasceu na terra de Dom Expedito, em Sobral. Eu, caro leitor, só não fui falar com o prefeito da cidade porque era dia de sábado, a prefeitura estava fechada. Atualmente, sempre vou a Fortaleza de avião, mas, se, em algum dia, eu for de carro, com certeza voltarei àquela cidade e almoçarei com o prefeito. Essa cidade fica a 288 km da capital Teresina. É quase a mesma distância de Fortaleza a Sobral. Possui hoje apenas 6.569 habitantes e sua área é de 219,072 km². Narrarei agora um pouco da vida desse ilustre sobralense.
                    Francisco Expedito Lopes, como já escrevi no início deste artigo, nasceu em Sobral, em 1914. Em 1938, com apenas 24 anos de idade, foi ordenado sacerdote em Roma. Em 1948, com 34 anos de idade, é sagrado bispo em Sobral. Nesse mesmo ano, ele vai para Oeiras, no Piauí. De 30 de agosto de 1948 a 24 de agosto de 1954, Dom Expedito atuou como o 1º bispo de Oeiras. Ele era tão querido, tão amado por essa gente, que criaram um município com o nome dele, como mostrei acima. A cidade Dom Expedito Lopes foi criada em 1963. É uma cidade quase vizinha de Oeiras. Dom Expedito Lopes, pois, passou 6 anos em Oeiras. Em 1955, foi para a cidade de Garanhuns, em Pernambuco, empossado como 5º bispo. E nessa cidade, coitado, encontrou-se com a morte, em 1957. Tinha apenas 43 anos de idade.
                 Ao chegar a Garanhuns, em 1955, com apenas 41 anos de idade, o bispo Dom Expedito teve a infelicidade de encontrar o padre Hosana de Siqueira e Silva, que era o pároco da cidadezinha de Quipapá, pertencente à diocese de Garanhuns. A fama de mulherengo do padre Hosana era muito grande. Não podia ver um rabo de saia que ficava todo excitado. Ele morava em Quipapá, na casa paroquial, com sua prima e amante Maria José Martins. Essa fama de raparigueiro do padre Hosana chegou ao conhecimento do bispo Dom Expedito. E Dom Expedito, obviamente, não poderia aceitar essa situação, já que a Igreja Católica Apostólica Romana proíbe relações sexuais praticadas por seus sacerdotes. Por isso mesmo, Dom Expedito solicitou ao padre Hosana que ele comparecesse ao Palácio Episcopal, em Garanhuns. E o padre foi. Chegando lá, foi bem recebido por Dom Expedito que comunicou ao padre que estava sabendo dos casos amorosos dele e que, inclusive, sua amante e prima Maria José Martins estava grávida. Ao ouvir o bispo, o padre Hosana fez o que qualquer acusado faz: mentiu muito! Padre Hosana disse ao bispo sobralense que ele não tinha mulher alguma, que tudo aquilo era invenção má do povo de Quipapá. Que padre safado! O bispo Dom Expedito, obviamente, não acreditou na conversa fiada do padre Hosana. Avisou a ele que, se continuasse com esse comportamento, seria suspenso de suas ordens sacerdotais. O padre Hosana, assim que chegou a Quipapá, retirou da casa paroquial sua amante e prima Maria José Martins, mandando-a para uma localidade próxima. Só que continuava mantendo relações sexuais com ela. E a Maria, obviamente, adorava fazer sexo com o sacerdote católico. Ela subia aos “céus” de tantos orgasmos! E o padre Hosana não se contentou com a Maria. Arranjou mais uma amante, mais bonita e mais nova. Com certeza, esse padre era mais mulherengo do que o cantor Fábio Júnior. Novamente, essas notícias chegaram ao conhecimento do bispo Dom Expedito. E o bispo sobralense, de novo, chamou o padre Hosana ao Palácio Episcopal, em Garanhuns. E o padre foi novamente. Dom Expedito disse a ele que, se não parasse com esse comportamento, seria obrigado a comunicar ao Vaticano. Deu ao padre Hosana 15 dias para ele criar juízo. Nesse momento, o padre ficou revoltado, espumando ódio em relação ao pobre bispo. E disse que jamais deixaria suas amantes, suas mulheres. E saiu gritando do Palácio.
                      No dia 1º de julho de 1957, data em que seria publicado o ato episcopal suspendendo suas ordens sacerdotais, o padre Hosana pegou o revólver taurus, calibre 32, dirigindo-se a uma rádio difusora de Garanhuns com a finalidade de mentir novamente, afirmando que não tem amantes. O pessoal da rádio não permitiu a entrada do padre porque já conhecia a peça. Com bastante raiva, padre Hosana deixou a rádio e foi em direção ao Palácio Episcopal, onde morava o bispo Dom Expedito. Bateu à porta, com força. Dom Expedito, com paciência, abriu a porta e viu, diante de si, o padre Hosana com um revólver na mão. Após proferir ofensas ao bispo, padre Hosana apertou o gatilho da arma por 3 vezes, à queima-roupa. O bispo Dom Expedito caiu ao chão, inconsciente. O padre fugiu, e Dom Expedito foi levado rapidamente ao hospital, mas faleceu na madrugada do dia seguinte, 2 de julho de 1957.
               Revoltante, não é mesmo, caro leitor? Que morte bárbara e hedionda a do bispo Dom Expedito que só propagava o amor, a misericórdia e a fraternidade! O miserável padre Hosana, alguns dias depois, foi preso e transferido para a casa de detenção em Recife. E foi também excomungado pela Igreja Católica. Passou por 3 julgamentos: no primeiro, foi condenado a apenas 2 anos e 6 meses de prisão. Que absurdo! Que diabo de país é este? Um cidadão mata outrem à queima-roupa, por pura maldade, e é condenado a menos de 3 anos de prisão. Não é à toa que o Brasil é um dos país mais violentos do mundo. E o pior vem agora: no segundo julgamento, o padre Hosana foi ABSOLVIDO! Não, caro leitor, não estou brincando! Isso é inacreditável, não é mesmo? No terceiro e último julgamento, padre Hosana foi condenado a 19 anos de reclusão, menos ruim, mas cumpriu pouco tempo na cadeia. Ao sair da prisão, ficou recolhido em sua fazenda a 9 km da cidade de Correntes, passando a viver da agricultura. Mas o bom mesmo, caro leitor, aconteceu em 7 de novembro de 1997. O padre Hosana estava com 84 anos de idade. Ele, em sua fazenda, vivo, e o pobre bispo Dom Expedito, morto, no cemitério. E o que ocorreu com o padre? Ora, foi assassinado a golpes de madeira na cabeça. Até hoje ninguém sabe quem foi o autor ou autores desse homicídio. Com certeza, fiéis que, revoltados com a injustiça gritante, resolveram agir com as próprias mãos.
                  Pobre bispo sobralense Dom Expedito Lopes!