sexta-feira, 12 de julho de 2019

O CRIME DA MALA DE 1908




Eustáquio



Caro leitor,


Na foto, Michel Trad, nascido em Beirute, capital do Líbano, em 1885.

Michel Trad era um homem alto, versado em línguas, que andava sempre com ternos e gravatas elegantes. De família rica, nascido em Beirute, no Líbano, chegou ao Brasil, a São Paulo, em 1906, com 21 anos de idade. Começou a trabalhar numa casa comercial situada na Rua Vinte e Cinco de Março, porém, poucos meses depois, o comércio entrou em liquidação. Foi trabalhar em um banco inglês, o River Plate Bank, permanecendo ali durante 5 meses. Deixou o banco para aceitar a proposta de Elias Farhat, a quem já conhecia há algum tempo, indo trabalhar em sua fábrica de calçados e casa comercial, na Vinte e Cinco de Março. Elias ajudou muito a Michel, só que havia um problema: a esposa de Elias, Carolina Farhat, era bem jovem e muito bonita. Quando a viu pela primeira vez, em 1908, Michel estava com 23 anos de idade, a mesma idade de Carolina. Já o Elias era 11 anos mais velho que sua esposa e muito feio.
Veja, amigo leitor, o que o ser humano é capaz de fazer. Elias ajudou, e muito, o Michel, mas este lhe retribuiu a ajuda com o mal. Michel passou a desejar a bela esposa de Elias. Começou a pensar que, matando Elias, ficaria com sua esposa e com todos os bens. Por outro lado, Carolina, a esposa de Elias, não correspondia a esse desejo de Michel. Nunca havia olhado para ele com essa intenção. Amava seu esposo, apesar de ser mais velho que ela e feio. Quando se ama verdadeiramente, a feiura se transforma em beleza. Pois bem! Michel, então, sozinho, passou a executar seu plano hediondo. Comprou uma mala grande de cor amarela, levando-a ao ferreiro Francesco Ascoli. Pediu-lhe que fizesse uma caixa de zinco que deveria caber na mala. Ora, Michel já pensava em colocar o corpo da vítima Elias nessa caixa de zinco para não permitir a saída dos gases do defunto. Que homem mau! O ferreiro Francesco, coitado, jamais imaginava que a intenção do Michel era aquela. Fez a caixa de zinco. Veja, leitor, que, enquanto Michel planejava matar Elias, quase todos os dias ia à casa da futura vítima, onde era bem recebido, bem tratado.
No dia 1º de setembro de 1908, Michel Trad, que ainda trabalhava no comércio de Elias Farhat, convidou-o para conversar acerca dos problemas da empresa num lugar mais calmo. Levou Elias para a morte, para o sobrado de nº 39 da Rua Boa Vista, onde morava em um quarto. Entrando no quarto, Elias se sentou numa cadeira oferecida por Michel. Michel se afastou, pegando uma corda de linho que estava escondida sob um móvel. Elias, coitado, nem imaginava o que iria lhe ocorrer. Num gesto rápido, Michel laçou o pescoço de Elias, que estava de costas para ele. Apoiou um dos joelhos nas costas de Elias, e foi apertando cada vez mais a corda. Elias, coitado, desesperadamente tentava se livrar da corda que o estava sufocando. Jamais esperava aquela ação de uma pessoa a quem só fez o bem. Michel só soltou a corda quando a cabeça da vítima pendeu para o peito. Pronto! Elias estava morto!
Veja, leitor, o que é o ser humano! Após matar covardemente Elias, o próprio assassino Michel foi a primeira pessoa a chorar diante da esposa da vítima pelo seu desaparecimento. E também foi a primeira pessoa a comparecer à delegacia de polícia para informar o desaparecimento de Elias. Ao retornar ao seu quarto, começou a esquartejar o corpo da vítima, colocando os membros dentro da caixa de zinco, e esta, dentro da mala. Chamou um carroceiro para levar a mala até à Estação da Luz, com destino a Santos porque iria colocá-la num navio, com destino ao Rio de Janeiro. No dia seguinte, Michel viajou para Santos, hospedando-se no Parque Balneário, o melhor hotel da cidade. Chamou novamente um carroceiro para pegar a mala, colocando-a no navio Cordillère, no qual ele embarcou. O objetivo do assassino era, durante a viagem, jogar a mala ao mar. O problema é que a mala exalava um fedor terrível, um mau cheiro insuportável. De nada adiantou o assassino ter mandado fazer uma caixa de zinco. A podridão do cadáver, com apenas 1 dia, já era insuportável. Pessoas que estavam no navio reclamaram do horrível cheiro. Michel lhes dizia que estava carregando na mala gêneros alimentícios e que alguns deviam ter estragado. Só que o tripulante Jean Joackim ficou meio desconfiado, passando a vigiar o comportamento do Michel. Com 1 hora de viagem, Michel levou a mala até à amurada do navio. Quando ia jogá-la ao mar, Jean Joackim o agarrou até à chegada do comandante do navio. Este pediu ao Michel que abrisse a mala. Michel, mentiu, dizendo que não tinha a chave. Arrombaram a mala, e o corpo esquartejado e podre do Elias estava lá. Michel foi preso. Julgado, foi condenado a 25 anos e 6 meses de reclusão. Ficou preso durante 18 anos, sendo, em 1927, posto em liberdade condicional e expulso do Brasil.

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