Eustáquio
Caro leitor,
Na foto, Michel Trad, nascido em
Beirute, capital do Líbano, em 1885.
Michel Trad era um homem alto, versado
em línguas, que andava sempre com ternos e gravatas elegantes. De família rica,
nascido em Beirute, no Líbano, chegou ao Brasil, a São Paulo, em 1906, com 21
anos de idade. Começou a trabalhar numa casa comercial situada na Rua Vinte e
Cinco de Março, porém, poucos meses depois, o comércio entrou em liquidação. Foi
trabalhar em um banco inglês, o River Plate Bank, permanecendo ali durante 5
meses. Deixou o banco para aceitar a proposta de Elias Farhat, a quem já
conhecia há algum tempo, indo trabalhar em sua fábrica de calçados e casa
comercial, na Vinte e Cinco de Março. Elias ajudou muito a Michel, só que havia
um problema: a esposa de Elias, Carolina Farhat, era bem jovem e muito bonita.
Quando a viu pela primeira vez, em 1908, Michel estava com 23 anos de idade, a
mesma idade de Carolina. Já o Elias era 11 anos mais velho que sua esposa e
muito feio.
Veja, amigo leitor, o que o ser humano
é capaz de fazer. Elias ajudou, e muito, o Michel, mas este lhe retribuiu a
ajuda com o mal. Michel passou a desejar a bela esposa de Elias. Começou a
pensar que, matando Elias, ficaria com sua esposa e com todos os bens. Por
outro lado, Carolina, a esposa de Elias, não correspondia a esse desejo de
Michel. Nunca havia olhado para ele com essa intenção. Amava seu esposo, apesar
de ser mais velho que ela e feio. Quando se ama verdadeiramente, a feiura se
transforma em beleza. Pois bem! Michel, então, sozinho, passou a executar seu
plano hediondo. Comprou uma mala grande de cor amarela, levando-a ao ferreiro
Francesco Ascoli. Pediu-lhe que fizesse uma caixa de zinco que deveria caber na
mala. Ora, Michel já pensava em colocar o corpo da vítima Elias nessa caixa de
zinco para não permitir a saída dos gases do defunto. Que homem mau! O ferreiro
Francesco, coitado, jamais imaginava que a intenção do Michel era aquela. Fez a
caixa de zinco. Veja, leitor, que, enquanto Michel planejava matar Elias, quase
todos os dias ia à casa da futura vítima, onde era bem recebido, bem tratado.
No dia 1º de setembro de 1908, Michel
Trad, que ainda trabalhava no comércio de Elias Farhat, convidou-o para
conversar acerca dos problemas da empresa num lugar mais calmo. Levou Elias
para a morte, para o sobrado de nº 39 da Rua Boa Vista, onde morava em um
quarto. Entrando no quarto, Elias se sentou numa cadeira oferecida por Michel. Michel
se afastou, pegando uma corda de linho que estava escondida sob um móvel.
Elias, coitado, nem imaginava o que iria lhe ocorrer. Num gesto rápido, Michel
laçou o pescoço de Elias, que estava de costas para ele. Apoiou um dos joelhos
nas costas de Elias, e foi apertando cada vez mais a corda. Elias, coitado,
desesperadamente tentava se livrar da corda que o estava sufocando. Jamais
esperava aquela ação de uma pessoa a quem só fez o bem. Michel só soltou a
corda quando a cabeça da vítima pendeu para o peito. Pronto! Elias estava
morto!
Veja, leitor, o que é o ser humano!
Após matar covardemente Elias, o próprio assassino Michel foi a primeira pessoa
a chorar diante da esposa da vítima pelo seu desaparecimento. E também foi a
primeira pessoa a comparecer à delegacia de polícia para informar o
desaparecimento de Elias. Ao retornar ao seu quarto, começou a esquartejar o
corpo da vítima, colocando os membros dentro da caixa de zinco, e esta, dentro
da mala. Chamou um carroceiro para levar a mala até à Estação da Luz, com
destino a Santos porque iria colocá-la num navio, com destino ao Rio de
Janeiro. No dia seguinte, Michel viajou para Santos, hospedando-se no Parque
Balneário, o melhor hotel da cidade. Chamou novamente um carroceiro para pegar
a mala, colocando-a no navio Cordillère, no qual ele embarcou. O objetivo do
assassino era, durante a viagem, jogar a mala ao mar. O problema é que a mala
exalava um fedor terrível, um mau cheiro insuportável. De nada adiantou o
assassino ter mandado fazer uma caixa de zinco. A podridão do cadáver, com
apenas 1 dia, já era insuportável. Pessoas que estavam no navio reclamaram do
horrível cheiro. Michel lhes dizia que estava carregando na mala gêneros
alimentícios e que alguns deviam ter estragado. Só que o tripulante Jean Joackim
ficou meio desconfiado, passando a vigiar o comportamento do Michel. Com 1 hora
de viagem, Michel levou a mala até à amurada do navio. Quando ia jogá-la ao
mar, Jean Joackim o agarrou até à chegada do comandante do navio. Este pediu ao
Michel que abrisse a mala. Michel, mentiu, dizendo que não tinha a chave.
Arrombaram a mala, e o corpo esquartejado e podre do Elias estava lá. Michel
foi preso. Julgado, foi condenado a 25 anos e 6 meses de reclusão. Ficou preso
durante 18 anos, sendo, em 1927, posto em liberdade condicional e expulso do
Brasil.
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