Eustáquio
Caro leitor,
Em 1994, aqui, em Brasília, por meio de
concurso público, ingressei no quadro de pessoal do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios, no cargo de analista judiciário, nível
superior, e comecei a trabalhar na 1ª Vara Criminal do Gama, uma cidade do
Distrito Federal, distante 37 quilômetros do centro de Brasília. Permaneci ali
durante 12 anos. Ao longo desse tempo, muita experiência na área criminal, em
processos criminais. Analisei a fundo uma infinidade de processos, de capa a
capa, razão pela qual tenho conhecimento acerca de inúmeros fatos criminais
horríveis ocorridos naquela cidade. Neste artigo, narrarei um desses fatos, o
da mulher Dinorá Veneroso que mandou matar seu marido.
No dia 27 de outubro de 1992, à noite,
por volta das 20h30, no Setor Oeste do Gama, na frente da Igreja Evangélica
Assembleia de Deus, um homem chamado Dorival da Mata levou 5 tiros e estava
agonizando. Foi rapidamente socorrido por populares e levado ao Hospital do
Gama, onde, dois dias depois, faleceu. E agora, caro leitor? Quem matou o
Dorival da Mata? E por que o matou? Obviamente, isso aí é trabalho de
investigação da polícia civil. A polícia investigou e descobriu tudo. É um
trabalho muito bonito e técnico, não é mesmo? A primeira coisa: quando um homem
casado é assassinado, a primeira suspeita é a própria esposa. Da mesma forma,
quando uma mulher casada é assassinada, a primeira suspeita é o próprio marido.
A polícia fez uma grande investigação.
A esposa da vítima, Dinorá Veneroso, negava que estivesse envolvida nesse
homicídio. Ela chorava diante dos investigadores, afirmando que amava muito o
Dorival da Mata. Como o ser humano mente na maior cara de pau! A prova mais
importante, caro leitor, foi a audiência com o filho menor do casal. O delegado
de polícia ouviu o menino com apenas 6 anos de idade. Ora, uma criança com
apenas 6 anos de idade dificilmente consegue mentir, inventar ou aliviar a
barra de alguém. Fala o que ouviu, ou o que viu. E essa criança revelou tudo,
mesmo sem perceber que estava mandando sua mãe para a prisão.
Dinorá Veneroso, a esposa, como afirmei
acima, negava tudo. Dizia para o delegado que amava o esposo e que jamais havia
olhado para outro homem. Pura mentira, que o próprio filho desmascarou. O
delegado perguntou àquela criança:
--- Meu filho, diga-me uma coisa: algum
homem aparece lá, na sua casa? Seu pai recebe a visita de algum amigo?
A criança, com apenas 6 anos de idade,
na maior inocência, disse ao delegado:
--- O papai não tem amigo. Minha mãe
tem um amigo que só aparece lá, em casa, quando o papai não tá.
E o delegado continuou:
--- E, meu filho, me diga outra coisa:
diga-me o nome desse amigo de sua mãe e me diga também se ele entra na casa de
seu pai. E o que ele faz lá?
E a criancinha respondeu:
--- O nome do homem é tio Francisco.
Quando ele entra lá, em casa, vai direto para o quarto com a mamãe e ela fecha
a porta.
Ora, amigo leitor, o próprio filho do
casal revelou tudo, toda a verdade. A esposa mentia absurdamente, dizendo que
nunca havia olhado para outro homem. O amante Francisco Antônio de Carvalho só
aparecia na casa quando o pobre esposo corno Dorival da Mata saía para o
trabalho. A polícia descobriu tudo: Dinorá Veneroso pediu ao seu amante
Francisco que matasse seu esposo. E assim foi feito. O objetivo dela era se
livrar do esposo, passando a viver com Francisco com a boa pensão deixada pelo
pobre marido. Como o ser humano é mau, caro leitor! Narrarei agora como foi
isso.
Naquele dia 27 de outubro de 1992,
Dinorá, em seu carro dado pelo esposo, que era evangélico, saiu de Taguatinga
em direção à cidade do Gama. Ela, na direção, e o marido, ao lado. Ele,
coitado, nem imaginava que estava a caminho da morte, e uma morte trágica
preparada pela própria esposa. Dinorá deixou o marido na frente da Igreja
Assembleia de Deus. Quando ele desceu do carro, ela saiu, indo para um
supermercado bem próximo. Tudo estava armado. O Francisco, seu amante, já
estava há muito tempo na frente da Igreja, só aguardando a chegada de Dinorá e
de seu esposo. Quando o esposo Dorival da Mata ia entrando na igreja, Francisco
deu-lhe 5 tiros, ou seja, descarregou o revólver, já que a Dinorá havia
determinado. Ela havia dito ao Francisco que era para descarregar o revólver
para que seu esposo não escapasse de forma alguma. O pobre esposo Dorival caiu
ao chão, agonizando. Nisso, o amante Francisco foge, desaparecendo na
escuridão. Dorival é levado ao hospital. Poucos minutos depois, a esposa Dinorá
volta ao local onde havia deixado o marido. Disseram a ela que um homem havia
levado tiros e que fora levado para o hospital. Dinorá correu para o hospital,
pura encenação, pura falsidade, e nada mais! Dorival estava numa maca, a
caminho da cirurgia. Dinorá, com a maior falsidade do mundo, disse a ele:
--- Meu amor, o que lhe fizeram?
E o pobre marido, com muitas dores,
disse a ela:
--- Oh, minha querida! Veja a desgraça
que fizeram comigo!
Pobre Dorival! Ele morreu sem imaginar
que aquela desgraça foi causada pela sua própria esposa. Pobre Dorival!
Dinorá Veneroso foi condenada a 18 anos
e 6 meses de reclusão, e seu amante Francisco, a um pouco mais. Os dois foram
presos. Só que foram soltos há muito tempo, em razão do cumprimento da pena.
No Brasil, caro leitor, o crime
compensa! Ora, Dinorá mandou o amante matar seu marido para ficar com os bens e
a pensão. O pobre esposo Dorival morreu, não existe mais. Dinorá e seu amante
Francisco, os criminosos, devem estar vivos. Pode ser que Dinorá atualmente
esteja vivendo com Francisco e com o filhinho dela, recebendo a pensão do
esposo e com os bens deixados por ele. Percebeu, leitor, como o crime compensa
no Brasil? Se houvesse pena de morte, a história seria outra: Dinorá e seu
amante Francisco não iriam desfrutar dos bens deixados pela vítima. Nunca!
Um abraço!
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