Eustáquio
Na verdade, todos os
brasileiros são a favor da prisão de criminosos, pouco importando a instância. É
hipocrisia alguém afirmar que é contra, por exemplo, a prisão em 2ª instância. Pura
hipocrisia!
Quando um brasileiro diz que é
contra a prisão de fulano de tal em 2ª Instância, você, caro leitor, pode
investigar que esse brasileiro admira o criminoso. Por exemplo, se um pai tem
um filho preso por decisão de 2ª Instância, com certeza fará propaganda no
sentido de que a prisão só pode ocorrer após o trânsito em julgado da sentença
penal condenatória. Esse mesmo pai, por pura hipocrisia, será a favor da prisão
em 2ª Instância se seu filho foi a vítima do crime. Esse pai não aceitará que o
criminoso seja preso apenas após o trânsito em julgado. Ele quer que o
assassino de seu filho seja preso de imediato. Percebeu, leitor, a hipocrisia?
Para seu melhor entendimento,
trago alguns exemplos. Veja, leitor, o caso do Bruno Fernandes de Souza, o
ex-goleiro do Flamengo. Ele foi um dos autores do homicídio da jovem Eliza
Samudio, em 2010. Em junho de 2010, Eliza desapareceu. A suspeita mais forte
recaiu sobre o goleiro Bruno. No mesmo mês, foi decretada sua prisão
preventiva. Ou seja, quando Bruno foi preso, ainda nem havia sequer denúncia,
muito menos condenação em 1ª ou 2ª Instâncias. Naquela época, devido à
repercussão do caso, todos os brasileiros eram a favor da manutenção da prisão
de Bruno. Todos! A primeira condenação ocorreu em 19 de novembro de 2012, dois
anos depois de sua prisão. Isto é, Bruno permaneceu preso desde a fase do inquérito
policial. Continuou preso após a condenação em 1ª Instância, e não apareceu um
brasileiro para criticar essa prisão. Em 24 de fevereiro de 2017, preso há 7
anos desde o inquérito, Bruno foi solto por decisão do ministro Marco Aurélio Mello,
sob a justificativa de não ter sido condenado em 2ª Instância. A população
brasileira ficou revoltada com essa decisão do ministro. O povo revoltado com a
liberdade de um criminoso que estava preso desde o inquérito policial. Em abril
do mesmo ano, a 1ª Turma do STF anula a decisão do ministro Marco Aurélio.
Bruno volta a ser preso, antes mesmo de uma condenação na 2ª Instância. E
nenhum brasileiro criticou essa prisão. Percebeu, leitor, a hipocrisia? Por
que, em relação ao Bruno, a prisão deve ser de imediato, e, em relação a fulano
de tal, só pode ser após o trânsito em julgado? Percebeu, leitor, a gritante
hipocrisia?
E trago aqui outro exemplo. O
caso da Suzane Von Richthofen. No dia 31 de outubro de 2002, ela abriu a porta
da mansão de sua família para que os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos matassem
os pais dela, e isso foi feito. A população brasileira em peso queria a
imediata prisão dos três, apenas na fase dos interrogatórios. E os três foram
presos preventivamente no mês seguinte. E ficaram sempre presos. A primeira
condenação só ocorreu em julho de 2006, isto é, após quase 4 anos de prisão. E
não apareceu um brasileiro para criticar essa prisão ocorrida antes mesmo da
denúncia.
Percebeu, leitor, a hipocrisia? O
doentio raciocínio funciona assim: se eu
tenho simpatia pelo criminoso, então sou contra a prisão em 2ª Instância; se eu
odeio o criminoso, então sou a favor da prisão de imediato, ainda na fase do
inquérito policial.
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