quinta-feira, 11 de julho de 2019

O CRIME DA GALERIA DE CRISTAL




Eustáquio




Caro leitor,

Na foto abaixo, Albertina Barbosa e Arthur Malheiros.
Minha mãe (Gerarda Alves Lins), já morando em Fortaleza, na Rua Conrado Cabral, adorava assistir a um programa policial televisivo que mostrava a violência assustadora da capital cearense. Enquanto assistia ao programa, ela lamentava:


--- Ai, meu Deus, que coisa horrível! Que violência terrível! Isso faz até mal a gente ver!


Eu olhava para ela, dizendo, com um sorriso aberto:


--- Se faz tanto mal assim, mãe, então por que a Senhora fica vendo isso?


Ela, obviamente, não tinha resposta para minha pergunta. Mas eu sei a resposta: assim como minha mãe, regra geral, as pessoas adoram assistir a programas policiais televisivos com bastante violência porque é um tema que fascina. Tenho larga experiência na área criminal: trabalhei durante 12 anos na 1ª Vara Criminal da cidade do Gama, aqui, no Distrito Federal. Ao longo desses anos, analisei a fundo inúmeros processos criminais. Além disso, antes de trabalhar na 1ª Vara Criminal, prestei trabalho durante 5 anos na maior penitenciária do Distrito Federal. Portanto, conheço o início da apuração de um crime (inquérito policial) e o seu final condenatório (penitenciária). Como a matéria é atraente, trarei neste artigo mais um crime que ficou muito famoso em nosso país.
Muito cuidado, caro leitor, ao magoar uma mulher! Muito cuidado! Na foto, a mulher Albertina Barbosa, ao lado de sua vítima, na época, o jovem advogado Arthur Malheiros. Esse crime bárbaro, que chocou o Brasil, ocorreu no dia 24 de fevereiro de 1909, uma terça-feira de Carnaval, num dos quartos do Hotel Bella Vista, situado na Rua Boa Vista, na capital paulista. O fato horrível ficou conhecido em todo o Brasil como “o crime da galeria de cristal” porque, antes de entrar no hotel, a vítima do homicídio, Arthur Malheiros, caminhou pela famosa Galeria de Cristal que ficava ao lado do edifício.
O crime ocorreu assim: Albertina Barbosa, com 22 anos de idade na época do fato criminoso, há 4 anos, havia tido um romance fervoroso com o jovem Arthur Malheiros, que lhe tirou a virgindade, deixando-a depois sem motivo aparente. Albertina era uma jovem professora, já o Arthur, na época do romance, era um estudante de Direito, um promissor advogado. Albertina só pensava em casar-se com ele, enquanto Arthur jamais desejava ser casado com uma simples professorinha. Ele, motivado pelo orgulho, queria algo mais, daí abandonou a garota com apenas 18 anos de idade. Albertina nunca esqueceu essa dor: a perda da virgindade e a rejeição.
 No dia do crime, Albertina estava casada com o jovem professor Eliziário Bonilha, com apenas 21 anos de idade. Ela já lhe havia contado o triste caso de amor que tivera com o jovem Arthur Malheiros. O casal, então, alugou o quarto nº 59 do Hotel Bella Vista a fim de praticar o horrível crime. Albertina pediu ao marido que fosse ao encontro do advogado Arthur, com apenas 25 anos de idade, para levá-lo ao hotel, onde ela estaria aguardando. Eliziário, seu marido, encontrou-se com o advogado Arthur, na esquina da Rua Líbero Badaró, no centro de São Paulo, bem perto do hotel. Mentiu para o advogado, dizendo que era um homem de negócios, do Rio de Janeiro, e que queria tratar de um assunto sério no hotel em que estava hospedado. Arthur Malheiros caiu na conversa fiada de Eliziário e resolveu ir com ele até o hotel, sem saber que estava caminhando em direção à morte. Quando o advogado Arthur entrou no quarto nº 59, deu de cara com a Albertina Barbosa, que segurava um revólver apontado para ele. Sem saída, gritou desesperadamente:


--- Perdão! Perdão! Perdão!


Albertina nada ouvia. Apertou 2 vezes o gatilho da arma. As balas atingiram o corpo de Arthur, que caiu ao chão. Em seguida, Albertina pegou uma faca e fez um corte profundo na garganta da vítima. Arthur Malheiros já era!
Albertina e seu esposo Eliziário foram presos, mas, por incrível que possa parecer, depois de alguns julgamentos pelo Tribunal do Júri, foram absolvidos. Absolvidos? Absolvidos? Absolvidos? Absolvidos? Que loucura! Que loucura! Ora, Albertina agiu por vingança, apenas por vingança! Sua ação não foi justificável porque, somente depois de 4 anos, é que resolveu agir. Vingança pura e nada mais! Em relação a seu marido Eliziário, o mesmo tom. Ele foi o coautor do crime, indispensável à realização do ato criminoso. Foi ele que levou a vítima à morte.
O problema, caro leitor, é o Tribunal do Júri, composto por pessoas comuns, que não conhecem o Direito e que são facilmente enganadas pelos discursos de advogados. Somente no Júri, a gente vê essas absolvições completamente malucas!

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