domingo, 5 de fevereiro de 2017

O ATEU SARAMAGO E A BÍBLIA ( V )






Dentre vários vídeos sobre José Saramago que circulam no mundo do “You Tube”, destaco um cujo título é:


“JOSÉ SARAMAGO GERA POLÊMICA”


Esse vídeo tem a duração de 7 minutos e 8 segundos. Analisarei aqui a fala de Saramago que se inicia a partir dos 3 minutos e 20 segundos e vai até os 5 minutos, com a fala do português Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa. Veja o vídeo!
Pois bem! Você acabou de ver e ouvir duas pessoas com posições antagônicas, contrárias: José Saramago (ateu) e Manuel Morujão (sacerdote católico português). Qual dos dois diz a verdade? Qual dos dois está correto quanto ao que diz?
José Saramago, durante o lançamento de mais um livro, em Portugal, numa coletiva, diz novamente que a Bíblia é um manual de maus costumes. Que ela está repleta de violência, carnificina, estupros, incestos, roubos, intolerância etc. E termina afirmando que ela não é um livro que os pais podem deixar à disposição das crianças.
Já o sacerdote católico português Manuel Morujão, ao saber dessas afirmações de Saramago, afirma que o escritor português mostra um grande desconhecimento da Bíblia, uma ignorância acerca do livro “sagrado” dos cristãos. Diz também que esse discurso do Saramago suja sua reputação porque desrespeita a crença religiosa dos outros e que traz desarmonia.
E agora quem realmente diz a verdade? Bom! O Saramago, que diz ser a Bíblia um manual de maus costumes, ou o sacerdote católico que insinua ser a Bíblia a “palavra” de um Deus bom e misericordioso? Para saber quem está com a verdade é fácil. Basta abrir a Bíblia e lê-la. Quem assim procede saberá que José Saramago está realmente com a razão. A Bíblia não reflete o mundo de hoje. Ao contrário. Mostra o quadro terrível de um mundo tribal. Mostra a sociedade dos hebreus (Velho Testamento) e a sociedade dos judeus (Novo Testamento). Os hebreus, como eram seres humanos, também criaram vários deuses. E adoravam vários deuses (Abraão, Jacó, Salomão e outros). Após o exílio na Babilônia, passaram a adorar um Deus único, que é hoje o mesmo Deus dos cristãos. Pois bem! O povo hebreu, igualmente a outros povos daquela época, era nômade, ou seja, vivia em longas caminhadas pelos desertos. Diz a lenda bíblica que Deus chamou a Abraão e deu-lhe ordens para sair de sua terra em direção a Canaã. Ao chegar ali, Abraão se apossaria de terras que já pertenciam a outros povos. Ou seja, Deus disse que iria tomar terras de outros povos para dá-las a seu povo. Isso se chama invasão de terras, roubo de terras. E aí surgiram as carnificinas, ao fio da espada. O povo hebreu era também intolerante. Não respeitava a liberdade de crença de outros povos. Daí, ao criar seu deus, transmitiu a ele essa intolerância. E o Deus hebreu se tornou também um deus intolerante. E essa maldade ficou registrada no que os cristãos chamam de 10 mandamentos. O primeiro é o pior de todos: “Não terás outros deuses diante de mim”. E aí o lendário Moisés levantava sua espada para matar outros hebreus que estavam adorando deuses outros. Mais carnificinas. E tudo isso sob o comando do Deus hebreu. E tudo isso, repito, está registrado na Bíblia, e está tão claro que até o cantor norte-americano Stevie Wonder consegue ler. E os estupros também estão lá. Nas lendas, hebreus invadiam aldeias, roubavam os pertences, matavam os homens e as mulheres casadas e ficavam com as jovens virgens. Repito: tudo isso devidamente registrado na Bíblia. E que pode ser lido também pelo Stevie Wonder. Em resumo, Saramago tem razão quando diz que a Bíblia está lotada de violência, carnificina, estupros, incestos, intolerância religiosa etc. A própria Bíblia confirma a afirmação de Saramago.
Por outro lado, o sacerdote católico Manuel Morujão diz simplesmente que José Saramago mostra uma ignorância profunda sobre a Bíblia. Segundo os dicionários, a palavra “ignorância” quer dizer desconhecimento. Ora, basta abrir a Bíblia para que alguém veja um mundo de barbaridades. E o sacerdote católico Manuel diz que o ignorante é o Saramago. Com certeza, a Bíblia do sacerdote católico não é a mesma que contém livros de Gênesis ao Apocalipse. Deve ser uma Bíblia ainda não revelada. E veja que o sacerdote não defende a Bíblia. Ele, ao contrário, passa a criticar o direito de Saramago de se manifestar verbalmente sobre o que não acredita. É sempre assim: como é impossível alguém defender a Bíblia ou qualquer livro religioso, o fanático ataca o direito de liberdade de expressão dos outros. Ora, Saramago tinha todo o direito de expressar sua descrença, como qualquer religioso tem o direito de expressar sua crença. Direitos iguais, pois, para os dois lados. Como o sacerdote cristão não consegue mostrar que a Bíblia é um manual de amor e solidariedade, então parte para o ataque pessoal que, infelizmente, não rende resultado algum.

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