domingo, 5 de fevereiro de 2017

O ATEU SARAMAGO E A BÍBLIA ( IV )



Circulam no mundo do “You Tube” inúmeras cópias de um vídeo com uma entrevista do ateu José Saramago, no Brasil, patrocinada pelo jornal Folha de São Paulo. Auditório lotado. Uma das cópias tem o seguinte título: 


              “JOSÉ SARAMAGO  ---  PRECISAMOS DE DEUS?”


Esse vídeo tem a duração apenas de 2 minutos e 59 segundos. Não deixe de assistir por completo. Para esse trabalho meu, vou analisar o início do vídeo. Você verá que o auditório cai na risada diante de cada explicação de José Saramago em relação às perguntas bobas com carga religiosa. Saramago era um gênio! Veja agora o início do vídeo.
Como você viu, o entrevistador lê uma pergunta feita por alguém que estava ali, no auditório. Eis o teor da pergunta:


“Após passar por um problema de saúde, o Senhor mudou a concepção que tem de Deus?”


O entrevistador estava se referindo ao problema de saúde pelo qual passou o escritor português. E José Saramago respondeu assim, levando o auditório ao riso:


“E porque que eu teria que mudar a concepção de Deus? Porque me salvou a vida, supostamente? É verdade, quem me salvou a vida foram os médicos e aquela senhora que está ali sentada. Então Deus se esqueceu de Santa Catarina? Não brinquemos com as coisas. Para mim, não quero ofender ninguém, Deus simplesmente não existe. Existe, ou melhor, existe na cabeça das pessoas, onde provavelmente também deva estar o Diabo. O mal, o bem, quer dizer, o cérebro que temos é de tal ordem que leva tudo dentro. Tudo, tudo!”


Que resposta linda e inteligente para uma pergunta idiota, não é mesmo? Freud já dizia que “a religião é uma neurose obsessiva coletiva da humanidade”. Aquela pessoa que estava no auditório, por meio do entrevistador, fez uma pergunta idiota com carga religiosa ao Saramago. Por que pergunta “idiota”? Porque, no mundo da religião, é comum afirmar que os deuses curam, que Deus cura. É comum também afirmar que se conhece a Deus por meio do sofrimento. Então, aquela pessoa do auditório queria saber se o José Saramago havia mudado a concepção de Deus depois do problema grave de saúde pelo qual ele passou. Diante daquela pergunta ingênua, Saramago disse claramente que quem o salvou foram os médicos e a esposa dele que estava ali no auditório. E isso é uma verdade! Deuses não existem. Deuses não curam a ninguém. José Saramago foi curado pelos médicos, pela medicina, pela Ciência. Sua doença foi extinta pela ingestão de medicamentos. Apesar de não ter sido um homem rico, ele tinha uma condição financeira favorável que o levou a um bom hospital. Se fosse um religioso qualquer, por exemplo, um cristão fervoroso sem dinheiro, teria morrido na calçada de um hospital qualquer por falta de atendimento médico, quadro esse muito comum na saúde pública do Brasil. Todos os dias, jornais de televisão mostram o sucateamento da saúde pública. Dói, e como dói presenciar o sofrimento de pessoas muito pobres que voltam para casa, para morrerem, porque não foram atendidas nos hospitais públicos. E Deus algum quer que aquelas pessoas sofram muito antes de morrerem. E veja que nesse universo de sofredores estão crianças e idosos. Já os ricos têm outro tratamento. Não ficam sem assistência médica. Diante de qualquer problema de saúde, correm para os hospitais mais caros do país: Albert Einstein e Sírio-Libanês. Já os pobres correm para os necrotérios. Portanto, Saramago livrou-se da doença por ação dos médicos, da medicina e também pelos cuidados de sua querida esposa.
E Saramago diz, com razão, que Deus algum existe. Que Deus é apenas uma criação do cérebro humano, o que é a mais pura verdade. O homem, desde as eras patriarcais, cria deuses à sua imagem e semelhança. Basta estudar a Pré-História, basta estudar a História. O homem, em sua profunda ignorância, criando seres imaginários ao sabor de sua cultura. E Saramago diz que, no cérebro, está também o Diabo. Acertou em cheio! No cérebro, somente no cérebro, estão os deuses, os demônios, os anjinhos, o céu, o Inferno, o purgatório, o lobisomem, o saci-pererê, o boitatá, a mula sem cabeça, o bicho-papão etc.
Saudades de José Saramago!

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