segunda-feira, 2 de novembro de 2015

SIGMUND FREUD E A ILUSÃO RELIGIOSA ( III )

SIGMUND FREUD E A ILUSÃO RELIGIOSA ( III ) Eustáquio 2/112015 Caro leitor, Este é o 3º artigo de uma série em que analiso alguns trechos do livro “O futuro de uma ilusão”, de autoria do austríaco judeu Sigmund Freud (1856 – 1939), o Pai da Psicanálise. A ilusão que consta do título é a religião. Freud foi o pioneiro em estudar a mente (psique) humana, daí ser chamado o Pai da Psicanálise. Já que Freud estudava a mente humana, estudou também a religião e os deuses porque a mente humana cria esses elementos. Assim, Freud escreveu muito sobre o fenômeno religioso. Seus principais livros acerca de religião são: “O futuro de uma ilusão” (1927), “O mal-estar na cultura” (1921) e “Moisés e o monoteísmo” (1930). Repito! Estou analisando alguns trechos do primeiro livro, ou seja, “O futuro de uma ilusão”. Na página 71, Freud, entre outras coisas, escreve: “Quando então o adolescente percebe que está destinado a ser sempre uma criança, que jamais poderá prescindir de proteção contra poderes desconhecidos, empresta-lhes os traços da figura paterna, cria os deuses, dos quais tem medo, que procura agradar, e aos quais, no entanto, confia a sua proteção. Assim, o motivo do anseio pelo pai é idêntico à necessidade de proteção contra as consequências da impotência humana; a defesa contra o desamparo infantil empresta seus traços característicos à reação contra o desamparo que o adulto é forçado a reconhecer, reação que é precisamente a formação da religião.” Você, leitor amigo, entendeu a lição acima do mestre Sigmund Freud, não é mesmo? Freud está mostrando o início da ideia religiosa, o início da ideia da fabricação de deuses pelo homem. Freud responde à pergunta: por que o homem cria religiões e deuses? Você, caro leitor, vai entender agora a lição do mestre. O homem quando nasce é um bebê. Depois cresce, transformando-se num adolescente. Depois cresce, e se torna um adulto. Depois cresce, e vira um idoso. Quando o homem é apenas um bebezinho, uma criança ingênua, passa a depender totalmente dos cuidados dos pais, não é mesmo? Um bebê que acabou de nascer, de sair do útero materno, depende totalmente da mamãe e do papai. Esse bebezinho vai mamar nos seios da mãe. Se a mãe não lhe der o peito, ele vai morrer de fome. É preciso que a mãe leve seu peito até o bebezinho porque ele não tem forças para caminhar até onde sua mãe se encontra. Percebeu, caro leitor, como o bebezinho depende totalmente da mamãe e do papai, não é mesmo? Se o bebezinho faz cocô ou urina, ele não tem condições de se limpar. Precisa da ajuda da mamãe e do papai. Ou seja, depende totalmente dos cuidados da mamãe e do papai. Quando esse bebezinho cresce um pouquinho mais, passa a ver seus pais como seus protetores. Por exemplo, uma criança com 6 anos de idade vê seus pais como seus protetores. Diante de qualquer problema, essa criancinha recorre a seus pais porque sabe que eles a socorrerão. Essa criancinha se sente feliz porque pode contar com a ajuda de seus pais. Já que ela não tem condições de resolver seus problemas, deixa tudo nas mãos dos pais. Ou seja, seus pais são seus salvadores, seus protetores. E essa criancinha cresce assim, vendo seus pais como seus salvadores, seus protetores. Até que chega à idade da adolescência. Por exemplo, com 12 anos de idade, aquela criancinha começa a entender que seus pais não podem mais ser seus salvadores, seus protetores. Ela vai enfrentar situações na adolescência que exigirão ação imediata, ou seja, não contará com a ajuda da mamãe e nem do papai. Aquela proteção total dos pais que ela tinha na fase da infância é transferida para os deuses. Já que os pais agora não estão mais ali para socorrê-lo, o adolescente passa essa proteção para os deuses. E os deuses serão aqueles que seus pais lhe passaram durante a infância. Entendeu, caro leitor? Na fase da adolescência, a pessoa sente que já perdeu aquela proteção dos pais. Ela tem que resolver pessoalmente seus problemas. Como se sente insegura, transfere para os deuses aquela proteção que antes era oriunda dos pais. E, nessa ilusão, os deuses passam a ser seus protetores, seus salvadores, em substituição aos pais. E o mestre Sigmund Freud se fixa na figura do pai. Por quê? Porque o pai, o macho, se destaca dentro de uma sociedade patriarcal. O mundo, infelizmente, é dominado pelo macho. Numa família brasileira, por exemplo, a figura do pai se destaca. Até a esposa conta com a proteção do esposo. Imagine os filhos. O pai, assim, é o protetor, o salvador, sob a visão da criança. Diante de um problema qualquer, a criança recorre ao pai porque, na visão dela, ele é mais forte que a mãe. Por essa razão, leitor amigo, Freud relaciona o pai aos deuses. Quando o adolescente percebe que seu pai não é tão forte assim como ele imaginava quando criança, busca agora a proteção dos deuses. E, nessa ilusão, os deuses que esse adolescente adorará serão aqueles que seus pais colocaram em sua mente quando ainda era uma criancinha. Se esse adolescente nasceu e vive numa família cristã brasileira, por exemplo, seu deus protetor e salvador será o Deus da Bíblia, o Deus criado pelo povo hebreu. É a relação pai – Deus. E, como a religião e os deuses são pura ilusão, pura fantasia e pura superstição, essa proteção divina não existe, não se realiza. Como os deuses só existem na imaginação do homem, diante de um problema qualquer, eles não atuam. Não socorrem. Por exemplo, é muito comum a gente vê, pelos jornais de televisão, crianças recém-nascidas caindo de edifícios. São imagens que chocam qualquer pessoa. Criancinhas inocentes, que se movimentam com o auxílio das mãozinhas e pezinhos em direção à morte. Se seus pais, reais protetores, não estiverem ali para evitar a desgraça, os deuses não farão essa tarefa porque não existem. E as criancinhas fatalmente morrerão. Na fase adulta, ocorre o mesmo. Os adultos, na sua ilusão religiosa, buscam ajuda dos deuses, mas ela não vem. Essa proteção divina é apenas uma proteção ilusória.

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