Domingo passado, 1º de agosto do corrente ano, assisti ao vídeo de Atenéia Araújo, com o título “Desconstruindo a onisciência do deus Javé”, com duração de 24 minutos e 29 segundos. Atenéia foi uma cristã evangélica fervorosa, mas, hoje, é uma ateia convicta. Anteontem, terça-feira, dia 3, fiz um vídeo sobre um trecho da exposição dela. E agora mais um vídeo, analisando outra passagem de seu vídeo. No tempo de 9 minutos e 5 segundos, Atenéia diz:
“Vamos falar também de outra história que contesta a onisciência divina. É a história do dilúvio, de que Deus teria resolvido lançar um dilúvio porque ele tinha se arrependido de ter criado a humanidade. Mas um Deus onisciente não saberia que a humanidade se tornaria má? Então, por que se arrepende?”
Ao longo de seu maravilhoso vídeo, Atenéia mostra mais uma fantasia bíblica, a de que o deus hebreu é onisciente, isto é, que tem ciência de tudo que vai ocorrer em qualquer tempo futuro. Como sempre digo, deus algum existe. É o homem que, na verdade, cria deuses conforme sua cultura. O deus que os cristãos adoram é o deus hebreu, criado pelos hebreus, fabricado dentro da cultura hebraica. Basta ver que esse deus tem a cara do povo hebreu, o formato que esse povo possuía há 6 mil anos, na região do Oriente Médio.
Atenéia apresenta mais uma característica do deus hebreu que anula sua onisciência: o arrependimento! Em toda a Bíblia cristã, o deus hebreu se arrepende do que fez, do que disse, razão pela qual fica extremamente triste. Por isso, Atenéia pergunta:
“Mas um Deus onisciente não saberia que a humanidade se tornaria má? Então, por que se arrepende?”
Atenéia é uma mulher inteligente! Ela percebe facilmente a incompatibilidade entre onisciência e arrependimento. São coisas que não podem existir concomitantemente, ao mesmo tempo. Onde está a onisciência, não pode estar o arrependimento e vice-versa. Um deus qualquer, criado pelo homem, sendo onisciente, jamais se arrependerá. Como assim? Ora, se, por exemplo, um deus, ao criar um homem, já sabe que esse homem será um estuprador daqui a 18 anos, esse deus não poderá se arrepender de tê-lo criado. Para que ocorra o arrependimento, exige-se o fator surpresa, algo não esperado. Ninguém se arrepende de algo que já é esperado, mas de alguma coisa que não foi visualizada antes.
Veja um exemplo na prática: há alguns anos, aqui, em Brasília, um pai pediu a um filho com apenas 6 anos de idade que fosse a um mercado bem próximo a fim de comprar um refrigerante. O pai estava assistindo a um jogo de futebol pela televisão, comendo pipoca, e aí sentiu vontade de tomar um refrigerante. Não queria, obviamente, perder um lance da partida, daí fez o pedido ao filho. O filho bastante obediente atendeu ao pedido do pai, pegando a bicicleta em direção ao mercadinho. Comprou um refrigerante de 2 litros, com vasilhame de vidro, colocou-o numa bolsa de plástico, retornando para casa. No meio do caminho, um carro bateu na bicicleta, e a criança foi ao chão. Com a queda, o vasilhame de vidro se quebrou, penetrando na garganta do menino, que teve morte instantânea. Quando o pai soube, desesperado, pegou uma faca para se matar, porém, foi impedido por amigos. Repito: esse fato ocorreu aqui, em Brasília. Eis, aqui, um exemplo de arrependimento. Aquele pai se arrependeu de ter pedido ao filho que fosse ao mercado. Ele, pai, um adulto, é que deveria ter ido. A desgraça que ocorreu com o filho dele foi uma surpresa, algo que o pai não esperava. O pai não imaginava que o acidente iria ocorrer. Daí o arrependimento! Ele se arrependeu extremamente porque ocorreu um fato que ele não aguardava: o acidente! O pai não era onisciente! Se ele fosse onisciente, isto é, se ele soubesse de antemão que seu filho sofreria o acidente, ele mesmo teria se deslocado ao mercadinho para comprar o refrigerante, e não seu filho. Entendeu, caro leitor?
Veja agora algumas passagens bíblicas. No primeiro relato lendário da criação, que está em Gênesis, capítulo 1, versículo 31, está escrito:
“Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.”
Na imaginação do escritor hebreu, o deus Javé estava muito feliz diante de sua criação: Terra, luz, águas, ervas, Sol, Lua, estrelas, animais irracionais, o homem e a mulher. Após cada criação, a afirmação: “E viu Deus que isso era bom!” Mais à frente, no mesmo livro, capítulo 6º, versículos 6 e 7, o arrependimento do deus Javé:
“Então, se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração;
Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito.”
Há muitas ingenuidades nos textos acima, mas vou me ater somente ao arrependimento do deus hebreu para que o vídeo não fuja do tema. A pergunta é: quando o deus hebreu fez o homem e a mulher, ele já sabia que iria se arrepender dessa criação mais à frente? A resposta a essa pergunta será de duas, uma:
Se você, leitor amigo, escolher o “NÃO”, estará afirmando que o deus hebreu não era onisciente porque realmente não sabia que sua criação iria tomar o rumo que tomou. Ele estava muito contente depois que criou o homem e a mulher. Jamais esperava que essa criação, mais tarde, iria decepcioná-lo a ponto de levá-lo a destruir uma parcela significativa de sua criação. Por causa da maldade do homem, o que se verificou muito tempo depois da criação, o deus hebreu se revoltou contra sua própria criação, arrependeu-se de ter feito o homem. Se ele tivesse a onisciência, a capacidade de conhecimento prévio, não teria feito o homem. A maldade do homem foi a surpresa, o resultado não esperado pelo deus hebreu, daí seu arrependimento.
Por outro lado, se você, leitor amigo, escolher o “SIM”, estará afirmando que o deus hebreu perdeu o juízo porque onisciência e arrependimento são incompatíveis entre si. Só para você ter uma ideia do absurdo, suponha o deus hebreu dizendo para si mesmo quando criou o homem e a mulher:
“Eu sou o Senhor! Vou criar agora mesmo o homem e a mulher, porém, sei desde já que eles, mais à frente, praticarão o mal, levando-me a extingui-los, conduzindo-me ao arrependimento, mas, mesmo assim, os criarei agora.”
Percebeu, leitor, o absurdo? A ingenuidade? No mundo da fantasia, um ser onisciente jamais se arrependerá de algo que faz porque já conhece de antemão o resultado que surgirá. Se o deus hebreu já sabia que o homem e a mulher iriam praticar maldades, então não se arrependeria porque esse resultado já era esperado, entendeu, leitor? Para você entender melhor, veja um exemplo fora da Bíblia. Recentemente, foi assassinado pela polícia do estado de Goiás o bandido Lázaro Barbosa, fato que ganhou notoriedade durante várias semanas. Lázaro havia matado cruelmente várias pessoas. Em Ceilândia, uma cidade do Distrito Federal, ele entrou numa casa, matando um pai e dois filhos adolescentes. Levou a esposa da vítima para dentro do mato, estuprando-a e, depois, executando-a. A mãe dele disse à imprensa que, se soubesse que seu filho iria praticar o que praticou, preferiria não tê-lo parido, ou seja, ela se arrependeu de ter esse filho. Por quê? Porque, obviamente, não é onisciente, não sabia que seu filho se transformaria num monstro. E se ela fosse onisciente, se ela, durante o parto, tivesse o conhecimento prévio de que, na fase adulta, seu filho seria um bandido perigosíssimo, ela ficaria arrependida? De forma alguma, porque o resultado já era esperado, aguardado.
E os textos bíblicos são tão ingênuos que o deus hebreu se arrepende até mesmo de ter se arrependido. E é justamente o exemplo bíblico acima. Nessa narrativa criada por um hebreu, o deus hebreu diz que vai fazer desaparecer da Terra o homem que ele criou. Vai exterminar o homem e a mulher. Só que voltou atrás, ou seja, se arrependeu de novo, se arrependeu do arrependimento, se arrependeu de ter dito que faria desaparecer o homem da face da terra, tanto é verdade que, no versículo 8, está escrito: “Porém Noé achou graça diante do Senhor”. Ou seja, o deus hebreu que, antes, havia dito que destruiria o homem da face da Terra, volta atrás, arrepende-se de ter dito isso, e não destrói mais o homem. Coloca Noé, sua esposa, filhos e noras na lendária arca.
Entendeu, amigo leitor?
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