Tenho certeza que o professor Eustáquio até prefere lidar com pessoas como você, do que algum possível bajulador que só sabe repetir frases ransosas e decoradas. Como bem diz o Litaiff "Surpreenda-me!"
E tenho certeza de que quando ele faz esse desafio saudável, ele não quer que apareçam com ideias prontas a concordar sempre com os comentários desse canal. Todos nós estamos cientes de que (repito), se você não tem dúvidas você está enganado. A dúvida é um dos melhores caminhos para chegarmos à verdade. "Certezas absolutas" podem ser traiçoeiras; as religiões estão aí para nos esfregar isso na cara.
Eu assisti com muito carinho o vídeo que você indicou. E talvez eu até poste esse texto aqui no canal daquela moça também.
Bom, não vou me alongar. Vejamos, Florisa: a principal referência "não bíblica" amplamente usada tanto pelos fiéis como pelos cientistas para defenderem seus pontos de vista é a de Flávio Josefo, um general e historiador judeu. Em sua colossal obra "Antiguidades Judaicas", Jesus aparece em duas passagens, ambas polêmicas. A primeira, por revelar a existência de um irmão de Jesus: "Ele (Ananias) reuniu o sinédrio dos juízes e trouxe perante eles o irmão de Jesus, o Cristo, cujo nome era Tiago, e alguns outros".
A segunda e mais longa e direta, revela: "Nesse mesmo tempo, apareceu Jesus, que era um homem sábio, se é que podemos considerá-lo simplesmente um homem, tão admirável eram suas obras".
Seria maravilhoso, mas não resiste a uma análise inicial. Josefo era judeu e -- a não ser que houvesse se convertido, o que não era o caso -- jamais consideraria Jesus como o messias previsto pelos profetas. É óbvio que houve acréscimos ao texto original. Só não é possível saber se o trecho todo foi acrescentado ou apenas os elogios e o reconhecimento por parte de um judeu de que ele era o Cristo. Só para você ter uma ideia, em anos recentes, os editores das obras de Josefo ousaram até incorporar a expressão "Terra de Israel" (que na verdade seria Canaã) à tradução dos textos. Lembrando que Josefo nasceu 8 anos após a morte de Jesus, e que se Jesus fosse tão extraordinário assim, em "Antiguidades Judaicas" -- com mais de 1.500 páginas -- o Cristo não mereceria apenas algumas linhas (menos de meia página). Além disso, a passagem apareceu pela primeira vez no livro, composto no século IV por Eusébio, um dos fundadores do catolicismo romano. Mas, estranhamente, no século anterior outro pai da Igreja, Orígenes, que também usou Josefo como referência, NÃO CITA tal passagem em nenhum momento!
O principal contemporâneo de Jesus, Filon de Alexandria (10-50 E.C.), que foi um grande estudioso das Escrituras e seitas judaicas, também ignorou o Cristo em seus escritos.
Enfim, a historicidade de Jesus se resume aos evangelhos, e neles há não apenas um lapso de tempo, que deixa em branco uma importante fase de sua vida, como também enormes inconsistências de datas. Se considerados apenas os textos bíblicos é impossível estabelecer até mesmo o ano de nascimento e morte de Jesus, bem como qualquer outro fato fora do campo da fé. E isso é compreensível, pois a Bíblia é um livro religioso, não histórico.
A infância e adolescência de Jesus não é contada na Bíblia. O evangelho apócrifo de Judas fala claramente sobre essa fase da vida do nazareno, mas, Florisa, aceite um conselho meu: nem queira saber (é de arrepiar, tipo "tal pai... tal filho, se é que você me entende). Não é a toa que os evangelhos de Marcos e o de João retratam somente Jesus como adulto, aparecendo de repente, já com trinta anos. Mateus e Lucas até relatam sobre o nascimento e alguma infância (aos 12 anos) de Jesus e só.
Eu já escrevi um texto falando sobre as provas de que nenhuma personagem bíblica do Novo Testamento existiu, nenhuma, nem mesmo Jesus e seus apóstolos. Há sim um consenso entre os arqueólogos de que João Batista e até Jesus existiram. Porém, a prova cabal seria se encontrássemos manuscritos em hebraico datando décadas antes e décadas depois de Cristo exatamente naquela região da Palestina, onde Jesus e seus seguidores viveram, afim de podermos confirmar suas existências. Seus problemas acabaram: os Manuscritos do Mar Morto datam exatamente entre 200 antes e 200 depois de Cristo. E adivinha? NADA sobre Jesus e também qualquer personagem bíblica do Novo Testamento. E mesmo em Massada -- onde morreram todos os últimos integrantes de uma comunidade judaica -- também não foi encontrado qualquer menção à qualquer personagem bíblica do Novo Testamento.
Portanto, a prova que seria de fundamental importância para a elucidação sobre se Jesus existiu ou não, serve, na verdade, para refutar sua existência.
E, a bem da verdade, os cristãos estão numa sinuca de bico com seu messias judaico-cristão. Vejamos: se encontrarmos provas de que Jesus existiu, isso será o fim do cristianismo. Porque ainda que encontremos manuscritos bem preservados (como os do Mar Morto), e houver relatos de seus milagres e ressurreição, não passarão de contos extraordinários contados sob a versão dos cristãos primevos, que obviamente seriam suspeitos. Se num futuro distante, a Ciência inventar meios de recuperar ossos e até DNA de Jesus... será pior ainda.
Pois a crença no "Filho de Deus", que morreu pelos nossos pecados virá abaixo -- e sabemos o por quê, certo? Porque a base do cristianismo é a crença na ressurreição de Jesus, e também em seu retorno aos Céus em carne e ossos, sacou?
Na verdade, tanto os apóstolos do passado, quanto o cristianismo de hoje, nunca estiveram interessados em contar sobre a vida do homem Jesus. Senão, a lenda desapareceria. E não é possível religião sem lendas e fantasias. A fé em algo desaparece quando a Ciência explica.
"A razão é a maior inimiga da fé"; Martinho Lutero.
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