sexta-feira, 19 de agosto de 2022

UM AGRESSOR DENTRO DE MINHA CASA

                                      Leitor amigo,

Nasci em Sobral, no estado do Ceará, terra do comediante Renato Aragão e do cantor Belchior. Na madrugada do dia 1º de novembro de 1956, mamãe me pariu nessa linda praça, numa casa alugada. À direita, você vê um pedacinho do Teatro São João. No centro, árvores e banquinhos. À esquerda, ao fundo, duas torres da Igreja Menino Deus. E, mais próximo, um imóvel comercial com o nome “Doce Cultura”. Nasci aí.  

Mamãe não foi uma mulher qualquer. De forma alguma! Foi uma máquina de reprodução humana! Pariu 19 filhos! Quando saí de seu fantástico útero, encontrei, apenas, 8 irmãos. Ela já havia perdido para a morte 10 filhos. Não é fácil uma mãe perder tantos filhos assim. Então, contando comigo, restaram 9 filhos. Quando eu estava com 16 anos de idade, ainda em Sobral, perdi um irmão, seu nome era Elcias. E, há 1 ano, mais uma irmã faleceu. Diz a Matemática, que nove menos dois é igual a sete. Assim, hoje, são 7 filhos vivos de mamãe. Papai e mamãe já faleceram. 

Tive a felicidade de ter nascido numa família feliz. Pobre, mas muito feliz! A violência nunca bateu na porta de nossa casa. Papai jamais agrediu minha mãe ou um dos filhos. Para haver respeito, ele nunca impôs o medo, a agressão física. Preponderavam sempre o diálogo, o carinho, o amor. Infelizmente, a notável atriz norte-americana Viola Davis não teve uma família igual à minha. Desde pequena, ela convivia com uma violência brutal dentro de sua família, com seu pai, o Dan, espancando diariamente sua pobre esposa Mae Alice Davis, mãe de Viola

Viola Davis nasceu em St. Matthews, uma cidade do estado da Carolina do Sul, nos EUA, no dia 11 de agosto de 1965. Sua mãe, Mae Alice Davis, pariu 6 filhos, na seguinte sequência: John Henry, Dianne, Anita, Deloris, Viola e Danielle. 1 homem e 5 mulheres. A mãe de Viola, repito, pariu 6 filhos. Ora, isso não é nada diante de minha mãe cearense, dona Gerarda, lá de Sobral. Mamãe pariu 3 vezes mais que a mãe de Viola. E outra diferença: mamãe jamais sofreu agressão física por parte de meu pai ou de qualquer pessoa. 

Mae Alice Davis, durante muitos anos, foi brutalmente espancada pelo esposo Dan, diante dos filhos ainda pequenos. Em várias partes do livro, Viola narra o horror familiar. Na página 35, ela diz que estava com 14 anos de idade, segurando sua irmãzinha Danielle, com apenas 1 ano e meio de idade, quando viu o pai agredindo a mãe. Ele pegou um copo de vidro, quebrando-o na lateral da cabeça de Alice. O sangue jorrou abundantemente. Imagine,leitor, o desespero das crianças, vendo o pai bater na mãe sem dó e piedade. 

Na página 79, mais agressões de seu pai. Sua mãe estava arrumando o cabelo da filha Dianne. Sem motivo algum, o pai novamente pegou um copo de vidro, arremessando-o contra a esposa, mas acabou atingindo a cabeça da filha Dianne. E se formou um rio de sangue. Viola diz que sua mãe, de tanto apanhar, vivia com os braços cheios de cortes, o rosto inchado e os lábios cortados. 

Na página 95, num certo dia, quando voltava da escola com a irmã Deloris, Viola viu, na calçada, gotas enormes de sangue. Ao abrir a porta da humilde casa, viu em desespero as irmãs Anita, Dianne e Danielle. A mãe e o pai não estavam em casa. As irmãs lhe disseram que novamente o pai havia agredido a mãe. Saindo da casa, Viola viu a mãe toda ensanguentada numa farmácia, com os olhos tão inchados que mal se abriam. Quando o pai, à noite, retornou ao lar, ainda procurou a esposa para matá-la, não conseguindo êxito. Além de violento com a esposa, ele era alcoólatra e raparigueiro. 







Com o passar dos anos, a transformação. Seu pai Dan transformou-se num homem gentil e amável, passando a tratar a esposa com carinho e amor, apesar de continuar alcoólatra. Tornou-se um avô exemplar, cuidando dos netos. Anos depois, após passar por uma cirurgia cardíaca, o câncer no pâncreas, que o levou a um sofrimento intenso, com sua consequente morte. 

Mae Alice Davis está com 78 anos de idade.

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