Leitor amigo,
Domingo passado, 28 de agosto do fluente ano, Fábio de Oliveira Lima, em seu canal Ministério da Razão, fez a “live” Lindos exemplos de família da Bíblia 2, com duração de 1 hora e 30 minutos. No início do vídeo, Fábio diz:
“Todo livro dito religioso, ele vai refletir a cultura da época em que foi escrito. Isso é fato!”
Como mostrei no primeiro vídeo, Fábio tem razão quando afirma que qualquer livro religioso reflete a cultura da época em que foi escrito. Isso mesmo, os livros, religiosos ou não, reproduzem a cultura da época em que foram escritos. E, como exemplo, estou analisando dois livros de épocas diferentes: Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e a Bíblia. Logo de início, uma diferença gritante entre os dois: Memórias Póstumas de Brás Cubas é um livro totalmente brasileiro, escrito por um dos maiores escritores do Brasil. A Bíblia, por sua vez, não é um conjunto de livros brasileiros. Só para se ter uma ideia, quando seus textos foram escritos, o Brasil, propriamente dito, nem existia ainda.
Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma obra de ficção, uma criação do genial Machado de Assis. A ação e os personagens são fictícios, fantasiosos, mas, os lugares são reais, existiram de fato. Quando você, leitor, estiver lendo esse romance, será transportado para o Brasil de 1881, data de sua publicação. Você verá como era nosso país há 141 anos, mais especificamente, como era a vida na capital Rio de Janeiro. No fundo, cada romance também é uma aula de História.
Vou trazer agora mais um ponto de comparação entre essa obra de Machado de Assis e a Bíblia. No romance, Brás Cubas, personagem principal, narra sua vida, os principais eventos que ocorreram desde sua infância até a sua morte. Só que existe um detalhe aí. Ele é um defunto escritor. Calma, leitor, vou explicar! Calma! Muita calma nessa hora! Brás Cubas narra sua vida a partir de sua morte. Isso mesmo, leitor. Brás Cubas morreu em agosto de 1869, com 64 anos de idade. Uma vez morto, passou a escrever suas memórias. É por isso que o título do romance é Memórias Póstumas de Brás Cubas. Você, leitor, pode até perguntar assim: como é possível um morto escrever? Morto nada escreve, não é mesmo? Sim, leitor, você tem razão! Um cadáver nada escreve, só que esse romance é uma obra de ficção, uma criação de Machado de Assis. Assim sendo, tudo é possível. No primeiro capítulo, logo no início, Brás Cubas escreve:
“(...) não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor…”
Viu aí, leitor? Um DEFUNTO escrevendo sobre relatos que marcaram sua vida. Em livros de ficção, isso ocorre. E aí você, leitor, pode perguntar: sim, mas o que isso tem a ver com a Bíblia? Ora, a Bíblia também está lotada de fantasias (lendas, mitos, fábulas, hipérboles). E tem também até DEFUNTO escritor. Você sabia disso, leitor? Não? Pois fique sabendo agora! O DEFUNTO bíblico que escreve se chama Moisés. Cristãos dizem que Moisés escreveu os 5 primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Na verdade, Moisés nada escreveu. Esse Moisés da Bíblia é um personagem fictício, tal qual o Brás Cubas no romance de Machado de Assis. Entendeu, leitor? Os reais escritores dos 5 primeiros livros da Bíblia são desconhecidos, ninguém sabe seus nomes.
Brás Cubas e Moisés têm pontos em comum: foram inventados e foram também DEFUNTOS escritores. Na Bíblia, em Deuteronômio, capítulo 34, versículos 1 e 5, está escrito:
“Então, subiu Moisés das campinas de Moabe ao monte Nebo, ao cume de Pisga, que está defronte de Jericó; e o Senhor lhe mostrou toda a terra de Gileade até Dã. (...) Assim, morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, segundo a palavra do Senhor.”
Viu aí, leitor? Moisés, morto, um cadáver, escrevendo? Os cristãos, repito, dizem que ele escreveu o que está em Deuteronômio, o último livro dos 5. E aí está Moisés escrevendo que ele mesmo subiu ao monte Nebo e morreu ali. Você, leitor, pode até perguntar assim: como é que pode alguém afirmar que morreu num lugar qualquer. Ora, quem morreu não escreve. Sim, leitor, você tem razão. Morto não escreve. Só que esses relatos sobre Moisés são fictícios também, inventados por escritores bíblicos. Escritores bíblicos inventaram Moisés, da mesma forma que Machado de Assis inventou Brás Cubas. E esses escritores, em sua fantasia, colocaram 2 cadáveres Brás Cubas e Moisés) narrando episódios fantasiosos.
E, no romance, Machado de Assis faz uma citação relativa ao Moisés bíblico. No início do capítulo 1º, ele escreve:
“(...) Moisés, que também contou a sua morte, não pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.”
Brás Cubas, personagem criado por Machado de Assis, diz acima que Moisés também contou sua própria morte, ou seja, o cadáver de Moisés escreveu. Da mesma forma, Brás Cubas. E mostra a diferença entre os dois. Na fantasia da Bíblia, Moisés narra sua história a partir de seu nascimento, que está no livro de Êxodo, indo até sua morte, em Deuteronômio. Brás Cubas age diferente: começa narrando sua vida a partir de sua morte. Para facilitar o entendimento, veja o quadro abaixo:
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