Leitor amigo,
No vídeo anterior “Deus, o homem e os animais”, afirmei que, na Bíblia, em Gênesis, existem 2 relatos sobre a Criação. E são relatos lendários diferentes e contraditórios. É fácil perceber que existem ali, no mínimo, dois escritores hebreus, com pontos de vista próprios, portanto, nada de Moisés. Apresentei ali uma contradição entre os dois autores hebreus, acerca do surgimento do homem e dos animais irracionais. Para esse vídeo, mostrarei mais uma contradição entre os 2 relatos. Eis a pergunta, amigo leitor:
De acordo com a Bíblia, o homem e a mulher foram criados no mesmo dia, ao mesmo tempo, numa sexta-feira, ou o homem, o macho, foi criado há muito tempo antes da mulher?
A resposta à pergunta acima, leitor, dependerá do relato a que você se refere. Se você recorrer ao 1º relato, dirá que o homem e a mulher foram criados ao mesmo tempo, numa sexta-feira. Se você recorrer ao 2º relato, dirá coisa diferente e contraditória: o homem (macho) foi criado primeiramente, muito antes da mulher. Para a coisa ficar mais clara, veja, leitor, o quadro abaixo:
Afirmei, no vídeo anterior, que alguém não precisa ter uma bagagem de conhecimentos para ser um ateu. Não, não há necessidade. Porém, para conhecer a Bíblia, sim, exige-se conhecimento. Da mesma forma que se exige conhecimento, por exemplo, para analisar as obras antigas de escritores brasileiros, tais como: Machado de Assis, José de Alencar, Jorge Amado, Joaquim Manoel de Macedo e outros.
Os textos que estão na Bíblia foram criados por escritores hebreus e são muito mais antigos que os textos de Machado de Assis, por exemplo. É preciso, então, conhecer o estilo literário deles para ter uma visão melhor de seu mundo. Uma pessoa que não conhece a análise literária crítica lê os textos bíblicos sem perceber o que está lendo. É a mesma coisa que ocorre, por exemplo, durante a exibição de um filme. Uma coisa é uma pessoa comum assistindo a um filme. Coisa bem diferente é um crítico de cinema assistindo ao mesmo filme. A pessoa comum não verá os defeitos presentes no filme. Não é mesmo, leitor?
No 1º relato bíblico, o escritor hebreu quis colocar em destaque o dia de sábado. Ao criar sua visão de mundo, após cada coisa criada, ele escreve: “Houve tarde e manhã, o primeiro dia.” E ele vai até ao 6º dia (sexta-feira): “Houve tarde e manhã, o sexto dia.” E aí ele chega ao que queria: dar destaque ao dia de sábado. Diz que o deus hebreu descansou no sábado, depois de tanto trabalho. Diante desse texto, um universo de pessoas diz que isso é um absurdo, como pode um deus ficar cansado! Aí está o problema. Esse texto é uma criação de um escritor hebreu, por isso ele escreve o que quiser de acordo com sua imaginação. Na verdade, deus algum existe, deus algum cria alguma coisa. Agora, na imaginação dos escritores, deuses são criados, da mesma forma que Machado de Assis criou seus personagens. Assim, no texto do escritor hebreu, o deus hebreu, depois de tanto trabalho, ficou cansado e resolveu descansar no dia de sábado. Nesse 1º relato, o escritor hebreu inventou que o deus hebreu criou o homem e a mulher no último dia da criação, numa sexta-feira.
No 2º relato, tudo diferente! Outro escritor hebreu colocou em sua história que o deus hebreu criou primeiramente o homem, o macho. Somente depois de muito tempo, é que teve a ideia de criar a mulher, a fêmea. E esse escritor, diferentemente do escritor do 1º relato, não quis dar destaque ao sábado, por isso não citou dia da semana algum. Ele não estava preocupado com isso.
Esse relato lendário é mais fiel que o primeiro porque mostra como era aquele mundo. A sociedade hebraica era patriarcal, com o homem, o macho, numa posição superior, em relação à mulher. Em toda a Bíblia, a mulher apanha, sofre, desespera-se, sendo tratada como mera propriedade do marido. Por isso mesmo, o escritor hebreu fez esse relato imaginário. Por isso mesmo, ele escreveu que o deus hebreu criou primeiramente o homem, o macho. Não estava nos planos divinos a criação da mulher, da fêmea.
Assim, em Gênesis, capítulo 2, versículo 7, o deus hebreu resolveu criar o homem, o macho. Depois criou os animais irracionais. E aí o homem Adão passou a conviver com esses animais, no Jardim do Éden. Até aqui não existia a mulher ainda. E, na ingênua lenda, Adão passou a colocar nomes em todos os animais. Alguém pode dizer que isso é um absurdo. Só que não percebe que isso é uma criação imaginária do escritor. Os escritores têm essa liberdade de escreverem o que bem entendem. Pois bem! Adão vivia, no Jardim do Éden, com os animais irracionais. Ele observava que os animais formavam casais, cada macho tinha uma fêmea, mas ele, não. E ficou muito triste. E o que aconteceu? O deus hebreu, vendo a tristeza do homem Adão por não ter uma companheira, resolveu fazer uma mulher para lhe servir de companhia. Entendeu, leitor? Nesse relato, diferente do primeiro, o deus hebreu criou primeiramente o homem, o macho. Somente depois de muito tempo, é que resolveu criar a mulher apenas para que o homem Adão não ficasse sozinho, que tivesse uma companheira.
É o retrato de um mundo extremamente machista. O homem, o macho, uma criação por excelência do deus hebreu. Já a mulher, a fêmea, uma criação acessória, apenas para servir de companhia ao homem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário