quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A ILUSÃO RELIGIOSA E A REALIDADE

Eustáquio 6/01/2016 Caro leitor, Sigmund Freud (1856 – 1939), o Pai da Psicanálise, judeu e ateu, estudou com eficiência o fenômeno religioso. Escreveu muito sobre o assunto. Dentre suas obras principais acerca do tema, destacam-se: O futuro de uma ilusão (1927), o mal-estar na cultura (1930) e Moisés e o monoteísmo (1939) Em seu fantástico livro “O futuro de uma ilusão”, L&PM editores, 2010, página 110, o mestre afirma o seguinte acerca da religião: “(...) ela contém um sistema de ilusões de desejo com recusa da realidade como apenas encontramos isolado na amência, uma confusão alucinatória radiante.” Percebeu, caro leitor, a verdade inatacável contida na afirmação acima do mestre Freud? Você, leitor, entendeu mesmo o que diz Freud? Ora, ele está afirmando que a religião é um sistema de ilusões de desejo que se recusa a aceitar a realidade. Ou seja, o homem religioso vive num mundo alheio à realidade, imerso em suas ilusões, em seus desejos. Segundo Freud, é tão forte esse sistema de ilusões que o homem religioso está mergulhado num estado de “amência”, ou seja, de demência, de alucinação radiante. Entendeu, agora, leitor, a verdade inatacável dita por Freud? E os fatos do dia a dia estão aí para comprovar a afirmação do mestre Freud. Veja, distinto leitor, o que o homem faz em nome da religião e dos deuses. Hoje, no planeta Terra, existem, no mínimo, 10 (dez) mil religiões e 2 mil deuses. Já que são religiões e deuses diferentes, as ilusões também são diferentes. Cada pessoa religiosa vê sua religião como a única certa, vê seu deus ou deuses como os únicos verdadeiros. E daí surgem os conflitos alimentados pelo fanatismo e intolerância. Neste artigo, leitor amigo, trago um dos casos de ilusão religiosa. No Brasil, a religião cristã é a que agrega o maior número de fiéis. Pois bem! É muito comum um cristão dizer que escapou da morte porque a divindade “espiritual” resolveu salvá-lo. Veja, leitor, o tamanho dessa ilusão religiosa! Que divindade “espiritual” resolveu salvar um cristão qualquer? Ora, isso vai depender da crença de cada cristão. Se esse cristão for evangélico, jamais ele vai alegar que a divindade “espiritual” que o salvou da morte foi, por exemplo, Nossa Senhora Aparecida. Por que ele não faz essa afirmação? Ora, não faz essa afirmação porque Nossa Senhora Aparecida não tem força alguma em sua crença. Ela não habita no mundo cristão evangélico. Da mesma forma, não vai afirmar que quem o salvou foi a divindade “espiritual” chamada São Francisco de Assis ou Padim Ciço, ou São Benedito, pelas mesmas razões. Coisa diferente se verificará, amigo leitor, no mundo da crença cristã católica apostólica romana. Se um cristão católico escapar da morte em algum acidente, a divindade “espiritual” invocada será aquela que habita sua crença. Se esse cristão católico, por exemplo, for um cearense morador de Juazeiro do Norte, fiel ao Padre Cícero Romão Batista, ele dirá que quem o salvou foi o Padim Ciço; se esse cristão católico não fosse fiel ao Padre Cícero, mas a Nossa Senhora de Fátima, iria alegar que foi essa divindade “espiritual” que o salvou, e não o Padim Ciço; se esse cristão católico for fiel a São Francisco de Assis, dirá que a divindade “espiritual” que o salvou da morte foi São Francisco de Assis, e não Nossa Senhora Aparecida e muito menos o Padim Ciço. Entendeu, caro leitor, como a divindade “espiritual” salvadora invocada vai depender da crença do fiel? Ou seja, vai depender de sua ilusão religiosa. A religião coloca na cabeça dos fiéis seus deuses e “santos” salvadores. E os fiéis trabalham com eles. Religiões diferentes, deuses diferentes, “santos” diferentes, ilusões diferentes.

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